30 setembro 2013

Crime e castigo

Rui A., pode explicar-me como depois de tantas interpelações e de ler a Ética da Liberdade, que é especialmente duro na análise de crimes consegue sugerir que o pensamento libertário defende o simples ostracismo contra crimes contra a propriedade ou vida, como o faz neste comentário:

"Por outro lado, tem vc. toda a razão quando afirma que eu acho que o ostracismo não é suficiente para impedir que pessoas de má índole, ou de insuficiente formação moral, pratiquem actos ilícitos e ponham em causa a vida e a propriedade das pessoas. Vc. acha que um ladrão, um psicopata homicida ou um crápula ficariam muito incomodados por estarem ostracizados de determinados ambientes sociais e que isso seria suficiente para dar segurança às pessoas e às suas propriedades? Está certamente a brincar, não está?"

Vamos lá pegar num trecho de Rothbard, desconfio que agora vêm aqui defender que o castigo é demasiado...

"Se então a proporcionalidade determina o limite máximo da punição, como podemos estabelecer esta proporcionalidade?  O primeiro ponto é que, em se tratando de punição, não deve ser enfatizado o pagamento de um débito à "sociedade", seja lá o que isso queira dizer, mas o pagamento de um "débito" à vítima.  Certamente, a parte inicial deste débito é a restituição.  Isto funciona nitidamente em casos de roubo.  Se Aroubou $15.000 de B, então a primeira parte, ou a parte inicial, da punição de A deve ser devolver aqueles $15.000 para as mãos de B (mais danos, custos policiais e judiciais e juros perdidos).   Suponha que, como na maioria dos casos, o ladrão já tenha gasto o dinheiro.  Neste caso, o primeiro passo da punição libertária apropriada é obrigar o ladrão a trabalhar e a atribuir o subsequente rendimento à vítima até que ela tenha sido indenizada.  A situação ideal, então, coloca o criminoso abertamente em um estado de escravidão perante sua vítima, permanecendo nesta condição de escravidão justa até que tenha reparado integralmente o mal que causou.[2]

Temos que observar que a ênfase dada à restituição punitiva é diametralmente oposta à punição praticada atualmente.  O que acontece hoje em dia é o absurdo seguinte: A rouba $15.000 de B.  O governo persegue, leva a juízo e condena A, tudo às custas de B, que é um dos muitos pagadores de impostos vitimados neste processo.  Então, o governo, ao invés de obrigar A a indenizar B ou a executar trabalhos forçados até que este débito esteja pago, obriga B, a vítima, a pagar impostos para sustentar o criminoso na prisão por dez ou vinte anos.  Onde é que está a justiça nisso?  A vítima não apenas perde seu dinheiro, mas paga ainda mais dinheiro para ter a emoção duvidosa de perseguir, condenar e então sustentar o criminoso; e o criminoso ainda fica escravizado, mas não com o justo propósito de recompensar sua vítima.

A ideia de priorizar a restituição à vítima tem grande precedente no direito; na verdade, ela é um antigo princípio de lei que vem se enfraquecendo à medida que o estado aumenta e monopoliza as instituições da justiça.  Na Irlanda medieval, por exemplo, um rei não era o chefe do estado, ele era um segurador de crimes; se alguém cometesse um crime, a primeira coisa que acontecia era o rei pagar o "seguro" para a vítima, e então se prosseguia para forçar o criminoso a pagar de volta ao rei (sendo a restituição à companhia de seguros da vítima completamente derivada da ideia de restituição à vítima).  Em muitas partes da América colonial, que eram muito pobres para propiciar a duvidosa vida luxuosa das prisões, os tribunais condenavam os ladrões a trabalhos forçados em benefício de suas vítimas, até que seu "débito" tivesse sido pago.  Isto não quer necessariamente dizer que as prisões iriam desaparecer em uma sociedade libertária, porém elas indubitavelmente iriam mudar drasticamente, já que o principal objetivo delas seria forçar os criminosos a prover restituição às suas vítimas.[3]

De fato, na Idade Média, em geral, a restituição à vitima era o conceito dominante de punição; somente ao passo que o estado foi se tornando mais poderoso é que as autoridades governamentais invadiram cada vez mais o processo de reparação, confiscando progressivamente uma proporção maior da propriedade do criminoso para eles mesmos e deixando cada vez menos para a desafortunada vítima.  Na verdade, ao passo que a ênfase transferiu-se da restituição à vítima, da compensação da vítima pelo criminoso, para a punição por supostos crimes cometidos "contra o estado", as punições exigidas pelo estado tornaram-se mais e mais severas."

ainda o aborto e abandono

O Rui A. e outros comentadores gostam de atacar toda uma obra que analisa do ponto de vista da filosofia do direito, que actos justificariam o uso da violência através do critério do direito de propriedade. E porquê? porque o julgamento moral pelo uso de inclusão/ostracismo não são pena suficiente, parece. Não vejo outra razão. A pesada espada da lei está ausente.

Depois, parecem chocados com a descrição de aborto: a expulsão do feto do corpo da mãe por esta o achar indesejável. Mas o aborto é outra coisa?

Aliás, Rothbard até vem em defesa do argumento católico:  
"Em primeiro lugar, devemos observar que a posição conservadora católica geralmente tem sido rejeitada muito rapidamente.  Esta posição afirma que o feto é uma pessoa viva e, portanto, que o aborto é um ato de assassinato e, por isso, deve ser declarado ilegal como qualquer outro caso de assassinato."
O Rui A. parece no entanto estar de acordo com Rothbard com a sua não-criminalização. Por isso não se entende bem contra quem está o Rui A. a lutar, será conta a descrição do acto? Será por expor com demasiada verdade crua do que se trata?

E até acha por bem apontar como de extraordinário que Rothbard afirme:
"O que nos interessa neste livro é o direito de as pessoas fazerem ou não fazerem diversas coisas, não se elas deveriam ou não deveriam exercer estes direitos.
O livro é sobre isto, não é um tratado de moral, esse seria outro, é um sobre a determinação da aplicação da violência legal, o que obriga a determinar o que está sob a alçada da ética, separando do julgamento moral. Porque se forem a mesma coisa, desculpem lá, estou a lembrar-me de muitos mais actos passíveis de criminalizar devido à sua imoralidade.

Mas sob que argumento pode o aborto não constituir um crime (posição, parece do Rui A. embora falte a justificação)? a única forma de justificar o não-crime do aborto será a capacidade da mãe em expulsar o feto porque... o corpo é propriedade da mãe, e a expulsão, apesar de constituir um acto imoral, e passível de assim ser julgada por terceiros com as devidas consequências sociais, não constitui causa para o uso da violência (exercício de uma pena).

Que o aborto e abandono são actos imorais parece claro, e como tal devem estar sujeitos ao julgamento moral que tem em conta também as circunstâncias particulares de cada caso, mas a aplicação da violência tem de ser correctamente justificada.

E na verdade, interpretando a relação de guarda como um acto voluntário, que no acto da concepção o torna implícito (existe a excepção no caso de violações) como tal, o aborto representa um abandono (por expulsão do corpo da mãe) muito mais gravoso que o abandono de uma criança nascida em condições de poder ser acolhida em guarda voluntária por terceiros.

Portanto restam algumas posições possíveis:
1) só uma teoria de direitos de propriedade, que inclui a capacidade de praticar o acto imoral da expulsão, pode des-criminalizar o aborto. Esta via obriga ao seu defensor a ser coerente com os restantes direitos de propriedade. Coisa que em geral nem é, o que põe em causa o argumento inicial de muitos.
2) uma segunda via de não-criminalização menos ampla (a que resultou de publicações posteriores por rothbardianos) dirá que qualquer acto de expulsão ou abandono deve ser efectuado com os cuidados possíveis para a possível transferência de guarda em segurança, coisa que a tecnologia actual não permite, e assim, este acto de expulsão do feto, não constituirá crime devido à pouca ou nenhuma probabilidade de um terceiro poder evitar a morte do feto mesmo que assumindo a sua guarda. Algo, que um dia poderá vir a ser diferente. De igual forma, o abandono de uma criança poderá não constituir um crime, apesar de imoral, se efectuado com os cuidados devidos em potenciar a transferência da guarda por terceiros.
3) o aborto é sempre crime, porque, não havendo sequer possibilidade de ser providenciada uma transferência de guarda sem perigo, nas condições actuais, tal expulsão não pode ter lugar.
Devo dizer que o ponto 3) deve ser o defendido por cristãos e católicos e de resto assim é por muitos, que no demais concordam com as diferentes conclusões na obra de Rothbard.

O que fica por decidir é que espécie de pena deve ser exercida. Eu tendo a seguir a via que ainda que evitando a classificação de crime público que levanta muitos problemas, deve ser possível proibir o seu exercício a nível local, no âmbito da autonomia de regulamentação vária (que se deve estender a outros não-crimes do ponto vista civil, como a prostituição ou a droga). Adicionalmente, ainda pode a sociedade civil exercer, se o entender, actos de ostracismo (no caso da droga e álcool, existem por exemplo, os testes rotineiros por entidades empregadoras), que, numa outra ordem social menos estatizante, poderiam ser muito amplos.

A análise do abandono de guarda é muito mais fácil e menos gravoso. Se os pais pretenderem pôr fim à guarda que assumiram anteriormente, têm de tomar as medidas necessárias a permitir que terceiros (individuais ou colectivos) possam assumir a capacidade de guarda. Será assim crime, se estes cuidados não forem tido em conta. E desde sempre se abandonaram bebés e crianças à porta de instituições ou pessoas tidas como responsáveis. Corresponde ao "não querer alimentar". Na medida em que cada vez menos, tal possa suceder, ou que, como no caso do estatismo presente, sejam dificultadas as funções de acolhimento e transferência da guarda para terceiros, só estão a incentivar o aborto.  E isso parece-me imoral.

Devo também chamar a atenção para a acepção da "inação por não alimentar". Se tal for assumido sem mais, porque têm apenas os filhos de ser protegidos por tal interpretação? Pelo contrário, o socialismo tem toda a legitimidade e mais alguma para exercer toda a repressão violenta para que se dê uma transferência de rendimento para as pessoas necessitadas. Porque o contrário seria crime por inação.

onde está o multiplicador?

de um artigo do Camilo Lourenço: "Então veja: em 2000 gastávamos (depsesa do Estado) mais ou menos 49 mil milhões de euros. Em 2010 este valor tinha subido para cerca de 88 mil milhões."

 O multiplicador é a maior e mais embaraçante farsa académica, só possível pela confusão intelectual em que a ciência económica tem estado mergulhada com o empirismo-matemático moderno que se propõe descobrir relações causais a partir de medidas históricas e relações descritivas supostamente matemático-mecânicas da acção humana (uma de preferências subjectivas e ordinais nunca cardinais).

Mises tem de ser admirado por ter travado uma batalha intelectual sozinho, ignorado e afastado da a sua classe, mas tendo sempre a razão do seu lado.

incoerência hilariante

O último relatório do IPCC - Intergovernmental Panel on Climate Change - demonstra uma incoerência hilariante

Richard Lindzen, MIT

prémio do título mais surrealista

vai para o DE:

Passos perde eleições mas mantém austeridade

29 setembro 2013

a diferença entre a razão e o amor

... na ciência política, é a diferença entre a república e a monarquia. O amor no fim, vence, claro.

o aborto e abandono como crime - a guarda

A guarda de criança ou pessoa incapaz de providenciar a sua própria sobrevivência é uma escollha voluntária e que deve trazer uma obrigação. Que a decisão autonóma de pretender por fim a essa relação de guarda seja efectuada com os passos razoáveis necessários a que terceiros possam assumir a decisão de guarda.

Nesta perspectiva, o aborto deve ser crime, tal como o abandono displicente e sem cuidado. Se a decisão é livre, a obrigação de cuidar a transferência dessa guarda em condições razoáveis não é.

O aborto, sendo visto como decisão de expulsão do corpo da mãe, não permite essa transferência (talvez um dia a tecnologia o permita), como tal, nesta perspectiva deve constituir um crime.

Sendo assim, a criminalização não me choca. O que me parece contraditório é julgar o abandono efectuado os com cuidados necessários à transferência de guarda possa ser considerado mais imoral que o aborto. Seguramente não deverá constituir um crime, a não ser, como dito, que seja efectuado sem os cuidados necessários à transferência da guarda, coisa que o aborto não permite.

Ainda mais chocante, é que seja um acto subsidiado por quem o considera, com razoável argumento, um crime, tornando todos cúmplices. Mais ridículo ainda é ver a defesa do aborto com base na capacidade autónoma (propriedade) da mãe, por quem pouco dá por qualquer direito de propriedade. 

O que poderiam ser as eleições para uma Junta de Freguesia?

A eleição de um orgão de gestão des-partidarizado por quem paga IMI, cuja receita faria parte do orçamento. Os contratos de arrendamento poderiam passar essa capacidade aos arrendatários, por mútuo acordo. Nenhuma razão especial obrigaria a eleições simultãneas nacionais ou municipais, seria um acto corrente ordinário. As freguesias deviam também deter mais capacidade de gerir os seus interesses concretos, como património, segurança, limpeza, licenciamentos vários (como negócios comerciais nocturnos) e capacidades de veto várias contra licenciamentos municipais e imobiliários com impacto.

o amor II

A fome, o abandono, de todo o ser humano são imorais. Porque não ser eticamente (legalmente = sob ameaça da violência) obrigado (numa visão não-socialista-colectivista que vai desvanecendo) a providenciar protecção a quem de tal sofre?

Porque (felizmente) ninguém pode (por definição) ser obrigado sob ameaça da violência a dar amor. Nunca seria amor. O amor torna-se compulsivo por quem o sente, nada mais.

28 setembro 2013

Da guerra

"Da guerra os grandes culpados
Que espalham a dor na terra,
São os menos acusados
Como culpados da guerra." 

António Aleixo

amanhã

O protestantismo (e com ele a modernidade) desancorou a razão do amor, firmei eu num post anterior.

Tal equivale a dizer que o protestantismo (e, com ele, a modernidade) desancorou a razão da comunidade (porque sem amor não há comunidade), da tradição (que é a voz viva da comunidade), de Deus (porque Deus se exprime através da tradição).

Desancorada do amor, a razão deixa de estar orientada para a comunidade e para o bem comum.

Mas então, como é que um conjunto de pessoas - por exemplo, um país -, que agora já não formam uma comunidade podem viver em conjunto?

Por outras palavras, onde é que deve passar a estar ancorada a razão para que uma sociedade seja viável?

O protestantismo deu duas respostas a esta questão.

A primeira, do protestantismo anglo-saxónico ou calvinista - conhecida por liberalismo - foi a de que a razão deveria passar a estar ancorada no interesse próprio de cada indivíduo.

A segunda, do protestantismo germânico ou luterano - conhecida por socialismo - foi a de que a razão deveria estar ancorada no poder.

De uma e de outra resultaram as ciências sociais modernas, a ciência Económica do protestantismo anglo-saxónico, a ciência Política, a ciência do Direito e a Sociologia do protestantismo luterano.

Estas disciplinas pretendem demonstrar cientificamente como é possível uma sociedade viver e prosperar com base numa razão ancorada no interesse próprio, num caso, e no poder, no outro.

A mim, que não me fiz a mim próprio, calhou-me ser formado na primeira destas correntes, a da ciência económica e do liberalismo anglo-saxónico. Um homem muito influente na minha formação e, portanto, naquilo que eu sou, foi Adam Smith, o filósofo escocês, autor de A Riqueza das Nações, considerado o primeiro tratado de Economia (1776).

Adam Smith nasceu em Kircaldy, na Escócia e foi professor na Universidade de Glasgow que foi, por assim dizer, a primeira Meca dos economistas.

Amanhã, eu próprio vou a Kircaldy pedir contas a Adam Smith. Será que uma sociedade (não falo em comunidade porque isso não teria sentido para Smith), pode assim, sem mais, viver e prosperar quando as pessoas ancoram a razão no interesse próprio?

É que eu venho de uma cultura que diz que isso só é possível se a razão estiver ancorada no amor. 



O amor

Onde a razão, a ordem da razão, está mais ausente, e a anarquia prevalece e prevalecerá, é o amor. Será coincidência?

PS: não é certo que coisas como o direito ao sexo (não discriminatório entre géneros, claro) e , digamos, à afectividade (tipo "diteito à interactividade interpessoal"), não venham a ser estabelecidos pelo estado moderno, através do direito positivo e claro, incorporado na ética compulsiva (direito penal). Se (nessa altura) for (considerado amplamente) moral  porque não? Tudo depende do contexto e sentimento da altura, e para um certo conservadorismo, basta alguma coisa estar suficiente tempo estabelecida como "mainstream" para a considerar o resultado "natural" da evolução e assim comprovada pelo teste do tempo, para ser assumida...

Nessie

Passei a tarde à procura dele:
Mas ainda não o encontrei.

diferença

Para o CN:

A principal diferença entre a moral e a ética - e a diferença da qual emanam todas as outras - é que a moral está fundada no amor ao passo que  a ética está fundada na razão.

Os preceitos da moral são preceitos de amor ao próximo (v.g., um pai não pode abandonar o seu filho), ao passo que os preceitos da ética são preceitos da razão desligada do amor (v.g., um pai pode abandonar o seu filho, como na ética rothbardiana).

Onde é que está a verdade, na moral ou na ética?

É o mesmo que perguntar, onde é que está a verdade, no amor ou a razão?

Já respondi a esta questão. É no amor. Sem ele, nenhum de nós estaria cá muito antes mesmo de atingir a idade da razão.

27 setembro 2013

Voltando ao básico VI : existe moral num acto compulsório (sob ameaça de violência)?

Pode existir moral, onde a moral é exigida por ameaça de violência (criminalização)?

Desde muito cedo se percebeu que só o exercício do livre arbítrio (que insisto, é um tema caro à teologia católica) pode definir um ser como moral.

Só um acto livre pode ser moral ou imoral. Depois existem muitas graduações e que devem pertencer à consciência de cada um e do julgamento dos terceiros.

Só o exercício contínuo e a inter-accção social de julgamentos como acto voluntário pode tornar uma sociedade consistentemente moral. Assim é na caridade pela positiva, como pode ser pela punição social pela negativa.

A simples criminalização do que julgamos como imoral é um acto de preguiça e de des-responsabilização. É sempre mais fácil ter uma máquina anónima a exercer algo, que cada um de nós, assumir nos seus actos, a atitude mais pública ou menos, de julgar.

E tem outro problema: com esse "automatismo", a moral deixa de ser exercida e praticada. Como tal, tende a desaparecer. Isto ou aquilo não é bem/mal. É simplesmente proibido criminalmente ou não. E como a lei até é volúvel aos valores (moral) da época, umas vez é crime, depois deixa de ser, mais tarde passa a ser outra vez.

Voltando ao básico V: Ética versus regulamentação (ex: código da estrada)

Podemos mais ou menos definir como regulamentação pública toda a espécie de normas de organização que existiriam de igual forma (com toda a certeza com muito mais eficácia) num regime de propriedade privada (e que inclui formas colectivas de propriedade)..

Existe um código de estrada? também existiriam normais de circulação em estradas privadas (de resto, como muitas foram construídas privadamente). São exigidos seguros contra danos a terceiros? Também o existiriam como normas privadas, na verdade, a extensão da obrigatoriedade de um seguro de responsabilidade civil e penal seria extensível como elemento obrigatório para acesso a locais, circulação, actividades várias. E isso acarretaria uma avaliação e certificação por parte de cada seguradora.

E o não cumprimento dessas normas? nas normais públicas, a tendência crescente é a criminalização. E nas normas que seriam privadas? O não cumprimento de normas de adesão obrigatórias tendem a prevenir pela simples proibição de acesso, ou a estarem sobre a alçada do direito civil. Seguros seriam por isso crescentemente exigíveis, e o uso de cauções também.

O que interessa aqui, é não confundir o que pertence ao campo da regulamentação, com o edifício de Ética, na medida em que define e analisa os actos onde a violência pode ser exercida legitimamente.

Voltando ao básico IV

Outras formas de determinar o que pertence à Ética e à Moral que não a confrontação dos direitos de propriedade presentes num determinado problema:

- por votos
- a Zazie decide
- vamos deixar como está e não fazer muitas perguntas
- não há diferença entre Ética e Moral

Voltando ao básico III: Ética e Moral são a mesma coisa?

Se sim, podemos voltar a punir penalmente os adúlteros. Ou  o contrário. Numa ordem progressista o poli-amor será considerado "moral" e por isso reconhecido fiscalmente.

PS: agora deve surgir uma opinião ao centro - os campeões da confusão: tipo "umas vezes é, outra vezes não é, conforme. Sei lá, o que está agora está mais ou menos bem."

Voltando ao básico II

É preciso notar, que, é precisamente a sacralização do direito propriedade como norma que permite que os actos de inclusão/ostracismo sejam extremamente punitivos para os julgamentos morais, dado que o contrato livre e a capacidade de discriminação podem ser exercidos de forma livre e não condicionada pelo mesmo colectivismo que sem critério, e por mero acto de vontade geral, decide o que integrar como sancionável ou não, proibindo-se em seguida, quaisquer actos de discriminação.

Agora é engraçado tomar nota de duas posições: a des-criminalização de certos actos segundo este critério produz reacções pela falta aparente de punição. O que reparo é que quando convenço ainda que ligeiramente que a capacidade de ostracismo livre conduziria a formas de punição muito mais severas, recuam para trás. Conclusão: é a opinião conservadora do status-quo. Querem as coisas como estão, isso sim, é ajuizado e ponderado, de uma sapiência e bom senso ilimitado. Suponho que por isso Hayek não era "conservador" no sentido corrente do termo.

Portanto, é uma luta antiga minha, o conservadorismo e tradicionalismo têm de reencontrar o direito de propriedade e des-legitimar a vontade geral, utilizando a razão contra essa máquina de des-civilização que é o estado moderno.

PS: e agora o Rui, vai falar novamente das crianças. O aborto e o abandono como actos certamente imorais também podem ter contextos. E no contexto do menos imoral, muito mais moral será, para pais em dificuldades por alguma (muitas) razões a não prática do aborto e o abandono com guarda a terceiros. De resto, numa sociedade menos estatizada, a transferência da guarda de crianças seria infinitamente mais fácil que no presente, dado serem muitos os pais potenciais. A que temos de somar a sociedade civil, instituições religiosas e seculares com esse objectivo. A redução do aborto (e a sua crescente percepção como imoral) e a prática do abandono (visto como imoral, mas como mal menor, e até satisfazendo a procura de muitos pais potenciais) sim, parece-me uma boa causa moral.

Mas não vai ser assim, vai ser a esquerda e direita (há muita) progressista a invadir o espaço de soberania (para o bem e mal) dos pais sobre a guarda de crianças, e vai acabar até a proibir e reprimir o aborto por causa da sustentabilidade do estado social. E com isso vai educá-la também a ser um cidadão, obediente à vontade geral, para quem qualquer coisa a que se possa chamar de lei natural (um critério absoluto independente da vontade geral) será obviamente ridicularizado.

Voltando ao básico

Ética (no sentido de direito): O que se pode fazer/não fazer independentemente das considerações sobre dever não fazer/fazer. As violações de princípos éticos legitimam o uso da violência.

Moral: O que se deve fazer/não fazer apesar de ser legítimo não fazer/fazer. As considerações morais não justificam o uso (legítimo) da violência e a forma de premiar/punir a boa/má moral devem ser actos de inclusão/ostracismo social.

Agora, alguém tem um bom princípio sobre a sua divisão? Existe um, o dos direito de propriedade em presença. Que alternativas existem? 

Nada, parece-me, é  a arbitrariedade da opinião comum. É a legitimação da vontade geral (uma rendição do conservadorismo ao progressismo) para definir a realidade social, incluindo o do (suposto) uso legítimo da violência legal. O que conduz... a tudo o resto, não existem limites. O Estado Moderno ganha.

26 setembro 2013

a porca da política

Uma pessoa que subscreveu, enquanto membro do governo, o tal "enorme aumento de impostos" vem agora afirmar que é essencial baixar os impostos das famílias e das empresas.
É verdade que enquanto Ministro da Economia, o Álvaro já tinha sugerido uma diminuição do IRC, mas se o assunto era tão importante, como na verdade é, devia ter deixado claro que "só por cima do seu cadáver".
Foi frouxo e agora soa a falso.

25 setembro 2013

a good gardenière

Prêt à Manger, MacDonald's, Burger King, Eat, Kentucky Fried Chicken, Italian restaurants, Indian restaurants (there must also be a Portuguese restaurant here, actually two Portuguese restaurants, because they never do it alone).

What about Scottish food? In terms of food for the body this estrangeiro is an expensive shit.

What I really miss is a good gardenière.


como desinstalar o McAfee




Exclusive: John McAfee vows to make Internet 'impossible to hack' in Silicon Valley return

we love wars of liberation

um grupo de vigaristas

Caro Carlos Guimarães Pinto,

É verdade, ninguém lhes vai chamar fascistas, mas já lhes começaram a chamar vigaristas.
Os amigos da liberdade são cada vez menos, até nos EUA.

pum...pum...catrapum

An Expresso coffee at Starbucks for 1,45 pounds (almost 2 euros), served in a plastic cup. I couldn't believe. Am I really in estrangeiro?

For that price I can buy 3 morning coffees at Café S. João da Foz, served in a nice piece of tableware, plus two bacalhaus each morning, one form Mr. Rodrigues, the owner, the other from Mr. Fernando, the clerk.

Mr. Fernando takes the coffee from the machine with a soul: pum...pum...catrapum.
I like that. A real coffee should be taken from the machine with that sound pum...pum...catrapum.
I am very disappointed. There is no pum...pum...catrapum at Starbucks and no bacalhaus and no tableware. And you pay three times as much. What a shit this coffee estrangeiro.

toes

Tomorrow, I am going to Edinburgh to taste the toe of David Hume:
http://portugalcontemporaneo.blogspot.co.uk/2007/08/o-dedo-grande-do-p.html
It should taste good. Toes estrangeiros taste better than Portuguese toes.

Glasgow

I am here to confirm (or infirm) an old thesis of mine:
Were David Hume and Adam Smith really bichas?
http://portugalcontemporaneo.blogspot.co.uk/2007/08/dei-de-caras-com-adam-smith.html
If so, this must have played a major role in their common aversion to the Catholic Church and in their defense of a philosophy of moral liberalism.

consultores fiscais...

... no banco dos réus, por fraude fiscal. É caso para dizer que a PwC inspira confiança.

shit

My dear Portuguese weather.
This weather estrangeiro is a shit.

Um grupo de fascistas

Seria assim que chamariam a este grupo de pessoas fossem eles deputados portugueses a tentar retirar financiamento ao Sistema Nacional de Saúde. Independentemente das opiniões sobre o assunto o contraste é evidente: em Portugal aceita-se com facilidade retórica marxista, mas rejeita-se imediatamente qualquer desvio discursante para a direita da social-democracia. Apesar da degradação recente, nos EUA a retórica anti-despesista e em favor das liberdades individuais ainda vai tendo espaço público e escapando ao rolo compressor da imprensa e paineleiros televisivos.

24 setembro 2013

Ordem moral espontânea

TAs listas negras (a publicitação de nomes de devedores, ou de praticantes de determinados actos, etc.) foram dificultadas pelo estado moderno.

Não deixa de ser curioso no entanto que tenha sido o moralismo fiscal estatista que as tenha recuperado ao serem publicadas as listas de devedores fiscais (e proibindo estes de relações comerciais com o Estado).

Claro que as leis que supostamente protegem o direito ao bom nome, um direito inexistente, protege na verdade muitas pessoas de figurarem em tais listas dado estas poderem ficar sob a alçada de tal protecção artificial.

Vamos lá imaginar listas negras que seriam possíveis noutra ordem:

- devedores
- mulheres que praticaram aborto 
- pais que abandonaram os filhos
- ...

E vamos imaginar que seria possível, condomínios, empresas e associações expressamente e publicamente ostracizarem (rejeitarem, não contratarem, etc.) contra pessoas constantes de listas (publicadas por entidades especializadas em avaliação de caracter, etc) - e assim, estando livres das leis que proíbem a discriminação ou de atentado ao bom nome.

E agora por favor, digam lá, onde é que a "moralidade" que tem estado a ser apregoada como o supra-sumo do conservadorismo contra a suposta amoralidade de uma ordem natural rothbardiana, se concretizaria?

Desconfio que nem supostos conservadores quereriam tanto conservadorismo.

Estou a falar apenas de um mecanismo possível. Existem muitos outros, como a mais que provável exigência de seguros de responsabilidade civil e criminal que certificariam o carácter das pessoas, e cuja exigência passaria pela avaliação personalista que incluiria aspectos pessoais.

Pois, a moral espontânea gerada seria certamente conservadora.


Ostracismo social

A ordem moral espontânea. 

Parece que acabou de ser declarada uma excomunhão.

Diogo Morgado - Jesus Cristo e concorrência

Diogo Morgado faz aqui, em breves palavras, uma muito razoável defesa da concorrência livre entre pessoas e actividades mas também de Jesus Cristo. Um pequeno grande feito.

A importância dos pós-escolásticos para a Escola Austríaca

http://www.mises.org.br/Article.aspx?id=1694
imgsalamanca2.jpg1. Introdução
O primeiro capítulo do excelente livro editado por Randall G. Holcombe, "The Great Austrian Economists" (Ludwig von Mises Institute, 1999, iBooks), escrito por Jesús Huerta de Soto, começa com a seguinte frase: 
A pré-história da escola austríaca de economia pode ser encontrada nas obras dos escolásticos espanhóis, mais especificamente em seus escritos no período conhecido como o "Século de Ouro espanhol", que decorreu de meados do século XVI até o século XVII.
(...)

3. A Escola de Salamanca e os pós-escolásticos (ou escolásticos tardios)
Feita essa pequena digressão histórica, imprescindível para os fins a que me proponho neste artigo, posso agora ir ao em tema principal, a Escolástica Tardia, os pós-escolásticos com destaque para Juan de Mariana e sua importância para a Escola Austríaca de Economia.
Murray Rothbard, em seu excepcional tratado de História do Pensamento Econômico, "Economic Thought Before Adam Smith - An Austrian Perspective on the History of Economic Thought", dedica o capítulo 4 do volume I a uma minuciosa descrição da importância daqueles pensadores dos séculos XIV, XV e XVI. Inicia mostrando que agrande depressão de longo prazo do século XIV e da primeira metade do século XV começou a dar lugar para a recuperação econômica na segunda metade do século XV. Espanha e Portugal, os exploradores líderes dos novos continentes, tornaram-se estados nações dominantes e impérios no século XVI.
Lentamente, porém inexoravelmente, as cidades-estados italianas, que representavam a vanguarda do progresso econômico e da cultura no período do Renascimento, começaram a ser deixadas para trás frente ao avanço do poder econômico e político ibérico derivado da era dos grandes descobrimentos.

(...)

2.jpg


(...)
Observando como evoluiu o pensamento econômico desde São Tomás e principalmente com os escolásticos tardios, vemos claramente praticamente todas as características da Escola Austríaca de Economia:

- subjetivismo
- individualismo
- inflação e dos ciclos econômicos como fenômenos causados por distúrbios monetários
- propriedade privada
- mercados como processos
- princípio da ação humana
- interdisciplinaridade
- preferências intertemporais
- união entre Ética, Política e Economia (interdisciplinaridade)
- ordens espontâneas
- liberdade de preços
- livre comércio
- informações insuficientes, dispersas e interpretadas subjetivamente
- tempo real (não newtoniano)

Como vemos, São Tomás é a origem de tudo e o mundo latino e católico não tem por que padecer de qualquer complexo de inferioridade quando se trata de Teoria Econômica.

cortar na despesa

Telefonemas da Comissão Europeia, recados do presidente do Banco Central Europeu (BCE), ameaça de suspensão da tranche pelo Fundo Monetário Internacional e restante ‘troika', mais telefonemas de embaixadas europeias em Portugal, desconfiança dos técnicos do fundo de resgate europeu e um aviso da principal agência de ‘rating'. Destinatário de tanta atenção: o Governo português.
DE

Comentário: Afinal o interesse de equilibrar as contas é de quem?

23 setembro 2013

a cultura alemã


A cultura é fruto da natureza e da educação – o que em estrangeiro se chama nature & nurture. A parte natural é uma expressão dos genes e a “educação” é o resultado da interação da natureza com a sociedade em que nascemos e crescemos.
Os intelectuais têm debatido, até à exaustão, o papel da natureza e da educação na formação humana. O que é hereditário e o que é adquirido? Há traços que sabemos que dependem da hereditariedade, como o QI, mas até estes só se desenvolvem plenamente num ambiente propício.
Quando apontamos o dedo a um povo, ou a uma cultura particular, para o elogiar ou criticar, eu penso logo se estamos a falar de hardware – genes – ou de software – educação.
Na primeira hipótese estaríamos a subscrever as teorias raciais que tão triste memória deixaram no século XX e que nunca foram comprovadas. Os seres humanos estão tão miscigenados que não há raças puras identificáveis e, se as houvesse, a plasticidade genética é tão grande que seria difícil prever as respectivas consequências. Uma previsão, contudo, poderíamos desde já aceitar como verdadeira, as raças ditas superiores sentiriam uma espécie de ascendente moral para governar as inferiores. Foi isso que pensaram os nazis, se é que é possível chamar pensamento às suas ideias.
Na segunda hipótese, aceitamos que a cultura resulta mais da geografia e da história do que de quaisquer factores genéticos. Eu identifico-me com esta perspectiva.
Neste sentido, a cultura portuguesa, por exemplo, está adaptada ao rectângulo em que vivemos, à nossa demografia e à nossa história. Importar ideias do estrangeiro – como tem referido o PA – pode dar mau resultado. Mas igualmente, tentar exportar a nossa cultura para outras latitudes e longitudes não é o mais aconselhável.
Será que os finlandeses conseguiriam sobreviver à portuguesa? Duvido.
Cada cultura evolui ao longo de milénios e, o mais provável, é que seja a melhor para o povo que a desenvolveu. A cultura alemã, aque me referi neste post, não é Má, é Excelente... só me faltou esclarecer, mas esclareço agora, que é excelente mas é para os alemães, especialmente os que vivem na Alemanha. É por isso que surgiu lá e não cá.

22 setembro 2013

politics first

Em directo: Obama aproveita o funeral das vítimas do Naval Yard para promover a sua agenda política, no que se refere ao controle da venda e porte de armas.
Atendendo a que o tiroteio partiu de um militar e ocorreu em instalações militares, é difícil perceber como é que esse controle poderia ter afectado esta tragédia.

um discurso terceiro-mundista

“El actual sistema económico nos está llevando a una tragedia. Vivimos las consecuencias de una decisión mundial, de un sistema económico que tiene en el centro a un ídolo que se llama dinero. Pero Dios ha querido que en el centro estén el hombre y la mujer y que lleven adelante al mundo con su propio trabajo. ¡Pero aquí manda el dinero! ¿Y qué sucede? Para defender a este ídolo se amontonan todos al centro y caen los últimos, caen los ancianos, porque en este mundo no hay un puesto para ellos. Se trata de una eutanasia escondida: no los cuidamos, no los tenemos en cuenta…”.
Francisco

Comentário: O actual sistema económico, o capitalismo, está a tirar biliões de seres humanos da miséria. O discurso do Papa é o discurso de um Lula da Silva, um discurso pré-globalização num mundo globalizado. Um discurso particular, na boca de um líder de uma Igreja que se quer Universal.

uma valente estalada

Ontem fui ver o filme Gaiola Dourada de um jovem realizador português filho de emigrantes.

Gostei muito. O filme trata de um tema que me interessa.

É a história de uma família portuguesa emigrada em Paris, José e Maria, oriundos de uma aldeia no Douro, mais os seus dois filhos nascidos em França. O filme retrata o conflito entre a cultura portuguesa e a cultura francesa - um conflito que é protagonizado pelos filhos.

É o conflito entre a cultura católicaou tradicional e a cultura protestante ou moderna (de que a França é o país fronteira entre as duas) - o conflito entre uma cultura da razão ancorada no amor e no serviço ao próximo, protagonizada pelo Zé e pela Maria, e uma cultura da razão auto-centrada, protagonizada pelos patrões de ambos.

Deste ponto de vista, o momento mais alto do filme é aquele em que o pai dá uma valente estalada à filha.

No fim, prevalece a cultura portuguesa. A estalada parece ter sido decisiva.

seitas

Bento Domingues, na sua crónica de hoje no Público, já conseguiu identificar dois partidos dentro da Igreja Católica: os Católicos não Cristãos (o PCNC) e os Católicos Cristãos (PCC).
Estes últimos são os que “têm a mania de ver o mundo a partir dos pobres e excluídos”, como o Francisco e o Gutiérrez. Os não Cristãos são os fundamentalistas, como o Cardeal de Lima, Luís Cipriani, que veem o mundo pela óptica do poder.
Julgo que estes partidos, por enquanto dois, se vão digladiar publicamente e criar mais danos à Igreja Católica do que os chamados "temas fracturantes".
Aguardemos para ver. Para já, Bento Domingues confessa-se incapaz de "ver algo de bom" no membros do PCNC. Será que isso faz dele um fundamentalista, beligerante e intransigente?
Se assim for teremos um terceiro partido, o dos Católicos Cristãos que se comportam como os Católicos não Cristãos. Será o PCCCNC, e o nosso Bento será secretário-geral. As siglas já fazem lembrar o PREC.

os holandeses descobrem a caridade

Basada en la solidaridad y la iniciativa privada, cuenta con las familias para hacerse cargo de sus mayores y dependientes. De los ayuntamientos y los propios vecinos, espera a su vez que regulen servicios antes generales. En suma, un modelo social con menos subsidios y ayudas más costosas, en lugar del Estado de bienestar levantado durante los últimos sesenta años.

El País

Uma característica dos países do Norte que muita falta nos faz é a adaptabilidade. Os holandeses constataram que o Estado Providência não era sustentável e toca a mudar de paradigma. O novo chama-se ‹‹sociedade participativa›› e assenta na caridade - embora lhe chamem ‹‹solidariedade directa››.

Nos países do Sul esta adaptabilidade não existe. Também precisamos de abandonar o Estado Providência mas não conseguimos gerar o consenso necessário para o fazer. O resultado é ficarmos com um Estado Providência isquémico e impotente, e comprometermos o desenvolvimento económico e a independência nacional para os próximos 20 anos.

Notem que na Holanda são os socialistas que lideram a mudança.

21 setembro 2013

a cultura alemã não é Má


O Henrique Raposo, na sua crónica de hoje no Expresso, revela uma xenofobia tão intensa que seria repulsiva se correspondesse a um pensamento original. Felizmente não, felizmente o Miguel apenas papagueia um lugar-comum. A opinião de que os alemães, por serem um povo ordeiro e respeitador das leis, têm uma particular propensão para acatar e executar ordens superiores, sem questionar a sua moralidade.
O Holocausto, descobriu recentemente o Henrique, não foi executado por ‹‹doentes mentais ou psicopatas››, foi executado por gente comum com ‹‹um grau doentio de ordnung››, pessoas ‹‹tão racionais que acabam na irracionalidade››.
Não gosto de desapontar ninguém e muito menos o Henrique Raposo, por escrever ao lado do Rui Ramos e do lado oposto ao Daniel Oliveira, mas os alemães não são nem mais nem menos racionais do que os outros povos do mundo e não manifestam nenhum traço psicopático ou obsessivo que seja mais prevalecente por lá do que por cá.
São seres humanos como nós, com uma cultura diferente da nossa porque vivem num ambiente diferente, mas em tudo o mais parecidos connosco. São indivíduos que Deus criou e pôs na Terra para o Bem, mas que têm livre-arbítrio e são capazes do Mal.
O Holocausto representou, no século XX, o Mal absoluto. Infelizmente esse Mal absoluto não é, nunca foi e nunca será um monopólio dos alemães. Dadas as circunstâncias adequadas pode emergir em qualquer parte do mundo. Na Síria, no Irão, e até em Israel, por paradoxal que possa parecer.
Já nos esquecemos dos 65 milhões de vítimas do Maoismo e dos 20 milhões de vítimas do Estalinismo? Tal como Hitler, Mao e Stalin foram ajudados por cidadãos comuns, pelo povo.
Comparando a cultura portuguesa com a alemã, o Miguel Raposo afirma que ‹‹a desordem portuguesa pode ser mais humana e civilizada do que a ordem germânica››.
- Diga isso, Henrique, aos 800.000 desempregados que temos em Portugal e aos 150.000 imigrantes que se piraram de tão humana e civilizada Pátria.

A primeira Igreja Ateísta

20 setembro 2013

não há almoços grátis

CLEVELAND, Sept 18 (Reuters) - The world-renowned Cleveland Clinic said on Wednesday it would cut jobs and slash five to six percent of its $6 billion annual budget to prepare for President Barack Obama's health reforms.

apocalypse now

“I see the church as a field hospital after battle,” Francis said. “It is useless to ask a seriously injured person if he has high cholesterol and about the level of his blood sugars. You have to heal his wounds. Then we can talk about everything else.
NYT

O Papa Francisco vê a Igreja como ‹‹um hospital de campanha depois de uma batalha››. Diz que ‹‹é urgente sarar as feridas››, antes de falar sobre tudo o resto.
Trata-se de uma visão quase apocalípica que parece desligada da realidade. Onde estão os feridos? Onde foi a batalha? Quem é o inimigo?

19 setembro 2013

ginginha de Óbidos

Logo que a V. chegou, avisei-a que não deveria ver Portugal com olhos de alemã, caso contrário não iria apreciar. Iria ver muitas igrejas católicas e esse era o símbolo mais representativo da cultura portuguesa.Em Portugal, há de tudo, em todas as variedades, para todos os gostos e para todas as bolsas. Existem locais em Portugal onde praticamente é possível viver sem dinheiro. São locais onde parece que o tempo parou.

E foi depois de dois dias de praia estendida ao sol de Agosto em S. Martinho do Porto que eu expliquei à V. por que é que lá na Alemanha dizem que nós fazemos parte do Club Med, ou somos um dos PIGS, uma sigla britânica, mas com origem na Alemanha.

Na véspera, tínhamos jantado em minha casa  e  a V. já tinha sido introduzida nos prazeres da ginginha e da doçaria conventual da região. Naquele dia iríamos jantar ao Casalinho, na Nazaré.

A V. gostou muito de S. Martinho do Porto - um paraíso, disse-lhe eu, em certas épocas do ano. S. Martinho do Porto, expliquei, é uma estância turística e que vive sobretudo do turismo em dois meses de Verão, Julho e Agosto. Este Verão estava cheio. No resto do ano, não há ninguém, uma autêntica parvónia, e é na Primavera e no Outono que se torna um verdadeiro paraíso.

S. Martinho do Porto é caro e fechado. Existem famílias que veraneiam em S. Martinho do Porto há gerações, sobretudo vindas do Ribatejo, e várias famílias de toureiros. É raro uma dessa famílias não invocar uma marquesa, uma condessa ou um conde como  seus antepassados. A tal ponto que a baía de S. Martinho do Porto, e a própria vila,  também é conhecida como o Bidé das Marquesas. Com tanta aristocracia,  a V. continuava a perceber por que é que a democracia não era fácil de vingar em Portugal.

Pelo contrário, a Nazaré, apenas a 15 quilómetros de distância, não era nada aristocrática. Também era uma estância de veraneio, mas era uma estância de veraneio do povo. Havia muita gente sempre na rua, tudo era mais barato, mais barulhento e divertido e frequentemente melhor.

Nós somos grandes comedores de peixe - disse eu à V. -, os terceiros maiores do mundo, pescamos há muitas gerações, a Nazaré é, ela própria, uma terra de pescadores; fomos os primeiros a construir barcos de grande porte e que cruzavam os oceanos, os nossos cozinheiros ganham prémios internacionais a cozinhar peixe, como ainda recentemente em Nova Iorque. Mas queria a V. saber a última novidade? Actualmente, importamos mais de metade do peixe que consumimos.

-Não estou a ver que isto pudesse acontecer na Alemanha.

A V. concordou.

A Nazaré era, na minha opinião, o local de Portugal onde se come melhor peixe e mais barato. Nessa noite, comemos arroz de marisco, porque a V. nunca tinha comido. Éramos quatro à mesa e eu era o único homem. Disse-lhe que Portugal tinha uma cultura feminina  e isso, entre outras coisas, significava que eram sempre os homens a pagar. E, embora existisse de tudo, ela que reparasse como as mulheres se arrebicavam, mais em S. Martinho que na Nazaré, porque aqui era mais povão. Eu disse-lhe, então,  sem ofensa, que, emboraela fosse da minha idade, eu nunca quereria a senhora Merkel para minha mulher, ainda por cima filha de pastor luterano.

A V. concordou.

No fim, disse ao empregado, que já conheço há muitos anos:

-Esta menina é alemã e nossa convidada  e eu disse-lhe ontem que, em Portugal, cada terra tem uma bebida especial da sua região.

- Claro, ginginha, disse o empregado enquanto se voltava para ir buscar quatro.

A V. arregalou os olhos. E eu afiancei-lhe que as ginginhas iriam ser oferta da casa e não iriam ser incluídas na conta.

Quando, dias depois, viajou de regresso a Munique, a V. levava no espírito um projecto de negócio: representar na Alemanha uma marca de ginginha de Óbidos que é servida em cálices de chocolate.

Na despedida, e enquanto ela me falava sobre o  projecto, eu disse-lhe:

-Se gostaste de Portugal e dos portugueses é a melhor coisa que podes fazer para os ajudar. Promover os produtos portugueses na Alemanha. Porque nós,  portugueses, infelizmente, não o sabemos fazer. E precisamos deseperadamente de quem o faça.

E eu fiquei a imaginar, daqui por muitos anos, 90 milhões de alemães a beberem ginginha de Óbidos como digestivo ao jantar.

Foi promovido;

Para veres o ónus que a democracia partidária representa em Portugal, vou-te contar um episódio recente.

O ministro dos Negócios Estrangeiros, que é também o líder do segundo partido da coligação governamental, demitiu-se do governo de forma irrevogável.

A Bolsa de Lisboa caiu com estrondo, as acções de um banco estiveram nesse dia a cair 65%, e nunca mais recuperaram; as taxas de juro sobre os títulos de dívida pública subiram em flecha, acrescentando um ónus adicional sobre o contribuinte português; o Governo teve de pedir à Troika um diferimento da próxima avaliação, o que também significou o diferimento da entrada em Portugal da próxima tranche do empréstimo.

-Depois de tudo isto, sabes o que é que lhe aconteceu?

A V. olhava para mim de olhos fixos, e abanou ligeiramente a cabeça.

-Foi promovido a vice-primeiro-ministro

orgulho

Foi durante a viagem para Lisboa, quando eu repisava a ideia de que os portugueses depreciam Portugal e os portugueses, ao passo que os alemães gostam da Alemanha, que a V. me interrompeu para dizer:

-Não é que os alemães gostem da Alemanha. Os alemães gostam dos alemães, têm orgulho nos alemães.

-Pois é exactamente isso. Os portugueses não têm orgulho nenhum nos portugueses, concluí eu.

democratas

Foi quando eu disse à V. que o principal problema de Portugal era a democracia partidária, e que daí é que derivavam todos os outros, como os económicos, é que ela ficou a olhar para mim de olhos muito abertos.

Eu gostaria de lhe contar um episódio recente, antes de entrar em generalizações.

Existe em Portugal um jornalista, que também é escritor, uma figura pública, chamado Miguel Sousa Tavares (MST, para os amigos). Recentemente, o MST deu uma entrevista a um jornal e disse que o Presidente da República era um palhaço e isso saiu publicado na primeira página do jornal.

A Lei portuguesa prevê que os insultos ao Presidente da República são punidos com pena de prisão. Acontece que o MST não só não foi para a prisão, como o caso nem chegou aos tribunais.

-Estás a ver a conta em que os portugueses têm a Lei, concluí eu.

Mas este não era o aspecto principal que eu queria fazer ressaltar. O MST é um socialista e um democrata, um social-democrata, uma ideologia também importada da Alemanha. Portuguese left-wing intelectuals eat all the shit that comes from Germany. Se nós telefornarmos ao MST - e podemos fazê-lo, se tu quiseres, porque eu conheço-o e ele vai-nos atender - a perguntar-lhe se ele é um democrata, ele vai responder enfaticamente que sim. Vai-nos dizer que, claro que é um democrata, toda a família dele é uma família com tradições democráticas, pais, avós, tios, primos e por aí fora.

Na realidade, porém, o MST não é um democrata. Porque um verdadeiro democrata não insulta um Presidente da República democraticamente eleito. As consequências daquilo que o MST disse acerca do Presidente são óbvias. O povo escolheu aquele Presidente da República. O Presidente a República é um palhaço. Logo, o povo não sabe escolher Presidentes da República, escolhe palhaços. (Fica-se a imaginar quem saberá escolher Presidentes da República, muito provavelmente o MST)

 Ele não acredita na democracia.Ele só aceita os resultados da democracia, quando são a seu favor, quando a democracia escolhe o seu candidato. Porque, quando a democracia escolhe outro candidato, ele não acredita nas escolhas do povo. É caso para tirar de lá o povo, e pôr o MST a escolher  os Presidentes da República.

Como conciliar esta contradição aparente,  um democrata que, afinal, não é democrata?

Não é difícil. Existe o MST que todos nós conhecemos, o MST público que escreve no Expresso, escreve romances, e comenta na televisão. Este é o MST democrata.

E depois existe um outro MST, ou alguém que age através dele, e que lhe diz ao ouvido em voz firme e poderosa, quase como um comando: "Não acredites na democracia partidária, porque esse regime político não é um regime universal, um regime que sirva para todos". Este é o MST não-democrata, o MST aristrocrata. Este MST, o verdadeiro, o genuíno, representa, no palco público, o personagem do outro, o MST democrata.

-Estás a ver, V., com democratas deste quilate não há democracia que resista.

o segundo

Vem aí o segundo e, sendo dito por estrangeiros, é verdade com certeza.

do que a eles próprios

Nas primeiras horas após a chegada a M. estava visivelmente contraída, um sentimento que se foi desvanecendo à medida que o tempo passou. Não era caso para menos. Mal tínhamos saído do aeroporto e eu já estava a falar em católicos e protestantes, portugueses e alemães.

Apesar da sua idade a M. é muito viajada e a certa altura, e por mais do que uma vez, já tinha tocado num ponto a que eu não dei seguimento. Foi só nessa tarde, quando estávamos já a chegar a Lisboa, que eu decidi dar seguimento ao assunto que ela me queria transmitir, e a tranquilizei.

Fiquei a pensar se não teria sido explícito demais.

-Sim, V., como tu própria deves saber, os alemães não são populares em nenhuma parte do mundo, excepto na Alemanha. E mesmo aí...

Procurei compor as coisas com uma explicação para este sentimento que ela já tinha recolhido das suas viagens anteriores.

A Alemanha foi o centro da revolta protestante. Dividiu a Igreja Católica, mas depois foi vítima da sua própria medicina: as seitas luteranas dividiram-se a si próprias e guerrearam-se umas às outras.

Nos últimos cinco séculos saíram da Alemanha  alguns dos maiores avanços à civilização, na tecnologia, na ciência, na arte, na filosofia (aqui, eu pus todas as reticências). Mas a verdade, também, é que as grandes catástrofes que a humanidade experimentou neste período, e que foram as maiores catástrofes de sempre,  tiveram origem na Alemanha - as três guerras mundiais, de que a Guerra dos Trinta Anos foi a primeira.

Por isso, os alemães são vistos pelos outros com um misto de admiração e de apreensão - o que é que pode vir dali? Pode vir o melhor e o pior, o mais fino talento literário ou musical, ou a maior brutalidade.

Mas que não se preocupasse com isso em Portugal. Os portugueses adoram estrangeiros. Muito mais do que a eles próprios.

o hostal

Em Lisboa, a M. e a V. ficaram num hostal na rua do Crucifixo.

No dia seguinte, em português, perguntei à M. que tal era o hostal. Ela apontou pelo menos três defeitos, era caro (30 euros por noite), a comida não prestava e ainda um outro que já não me ocorre.

Depois, em estrangeiro, fiz a mesma pergunta à V.

-Foi o melhor hostal onde já fiquei,

respondeu a V. que, tal como a M., tem experiência de hostais.

Fiz depois notar, perante as duas, a diferença nas respostas. A resposta da M era tipicamente portuguesa e o traço cultural que exibia representava para nós um ónus extraordinário do ponto de vista económico. (Nota: o hostal em questão tinha sido recentemente premiado num concurso internacional).

roda de tractor

A certa altura fomos comprar fruta a um quiosque de rua que existe em S. Martinho do Porto. Eu já tinha explicado à V. que esta era uma região conhecida pela qualidade da sua fruta. Havia muitas variedades. Reparei nuns pêssegos que pareciam uma roda de tractor e perguntei à D. Olinda que pêssegos eram aqueles.

-São do Paraguai, respondeu a D. Olinda.

-Estás a ver, V., um país falido, mas com pêssegos do Paraguai ao preço dos pêssegos portugueses, numa zona produtora de fruta por excelência, e não estamos numa loja Gourmet. Estamos no quiosque de rua da D. Olinda e do senhor Rafael em S. Martinho do Porto.

Perguntei à V. se já tinha provado pêssegos do Paraguai, e ela disse que não.

-Então, vais provar - disse eu, entusiasmado.

E o meu entusiasmo era real. Eu poderia lá passar uma vida sem provar pêssegos em forma de roda de tractor, tendo-os ali mesmo à mão.

os mitos do ensino


A SABIS é uma rede internacional de escolas primárias e secundarias. Está em 15 países e tem 65.000 alunos.
O CEO, Carl Bistany, paquistanês, diz que a SABIS destruiu 4 mitos educacionais bastante difundidos:
1.     A educação em turmas pequenas é melhor
2.     A educação de qualidade não pode ter fins lucrativos
3.     Quanto mais dinheiro o Estado investir na educação melhor
4.     A memorização não é importante na aprendizagem
O segredo de uma boa educação é ensinar um conceito de cada vez, praticar e avaliar. O tamanho das turmas não conta.
Sem o incentivo do lucro, não é possível melhorar continuamente o ensino. Carl Bistany pede-nos que imaginemos o que seria o software se a Microsoft e a Apple não tivessem fins lucrativos.
Uma educação austera pode ser melhor que uma educação a nadar em recursos. O que conta não são o número de livros da biblioteca, diz, mas o número de livros que os alunos leem.
A memorização é fundamental. Memorizar sem compreender não é bom, mas depois de compreender é necessário memorizar.
Thanks Carl

Já só resta um terço do tempo habitável na Terra

Equipa britânica calcula que restem no máximo 3,25 mil milhões de anos de condições habitáveis na Terra, e no pior dos cenários, que podem agravar-se com alterações climáticas, só 1,75 mil milhões de anos. A boa notícia é que entretanto (falamos de 1,5 mil milhões de anos) Marte pode tornar-se um lugar mais agradável.
Estudo dos vigaristas cientistas de East Anglia

Até para os mais morcões se vê logo que estamos perante uma notícia totalmente alarmista. Os autores chegam a afirmar que não sabem qual o impacto de quaisquer alterações climáticas no tempo habitável da Terra, mas isso não impede os jornalistas de sugerir que pode ter um impacto catastrófico.

Imaginemos o pior cenário possível: só nos sobram 1,75 mil milhões de anos. Os dinossauros desapareceram há cerca de 60 milhões de anos, estamos a falar de 30 vezes esse período. O Homo Sapiens tem 200.000 anos e a civilização humana tem pouco mais de 10.000 anos. Quantas civilizações podem aparecer e desaparecer nesse período?
Tenham juízo.