31 janeiro 2012

todos

"Os pais fundadores da UE, o francês Robert Schumman (nascido no Luxemburgo), o alemão Konrad Adenauer e o italiano Alcide de Gaspieri - todos católicos que falavam alemão (...)"
(Philipp Bagus, A Tragédia do Euro, Lisboa: Actual, 2011, p. 30).

há magistrados a passar fome

Link do VA.

não acreditava nada

Se nos abstrairmos da natureza divina de Cristo, e nos concentrarmos apenas no homem cuja vida é descrita nos Evangelhos, aquilo que salta aos olhos é a figura de um propagandista, e de um propagandista de se lhe tirar o chapéu. Ele tem uma capacidade de persuasão absolutamente invulgar. Ele convence praticamente toda a gente que lhe aparece pela frente, ele cria um grupo de fiéis à sua volta, ele atrai seguidores, ele arrasta multidões.
Compreende-se que um homem rico ou poderoso consiga persuadir muita gente. As pessoas são atraídas a ele na esperança de aprenderem com ele e de se tornarem como ele. Mas aquele era um homem totalmente diferente, um pobretanas esfarrapado e a barba por fazer, que parecia não ter nada para oferecer a ninguém, excepto palavras. Quem se concentrar exclusivamente na figura humana daquele homem, aquilo que acaba por concluir é que ele era um grande propagandista, dos maiores que a humanidade já conheceu.
E é isso que fazem os protestantes. Eles concentram-se exclusivamente na figura daquele homem ("Solo Christus"), e não querendo saber da sua origem divina, eles acabam por se concentrar exclusivamente na figura humana de Cristo. E, seguindo-lhe o exemplo, acabam por se tornar como ele - exímios propagandistas. A cultura protestante é uma cultura de propagandistas.
E o que é um propagandista? É, em primeiro lugar, um homem que visa persuadir os outros, normalmente em benefício próprio, e independentemente dos méritos da sua mensagem, isto é, de ela ser verdadeira ou falsa. E, olhando bem, as instituições modernas que foram criadas pelo protestantismo, são instituições baseadas na propaganda. Estão neste caso, o Estado social-democrata ou Estado-Providência, que é uma criação do protestantismo germânico; e a ideia moderna de mercado que é um criação do protestantismo britânico.
Que o mercado, na sua visão moderna, assenta, em grande parte, na propaganda (ou marketing) é conhecimento de todos. O marketing visa persuadir as pessoas que uma certa coisa possui qualidades que ela não tem, ou que só em parte tem; que outra coisa visa satisfazer necessidades que as pessoas não têm, mas que deviam ter; que ainda outra coisa satisfaz melhor uma necessidade existente do que outra que ainda está em perfeitas condições de utilização.
O objectivo do marketing não é propriamente enganar as pessoas. É seduzi-las através de uma mensagem, e independentemente dos méritos dessa mensagem, de ela ser verdade ou mentira.
O moderno Estado democrático e socialista, ou social-democrata, depende ainda mais da propaganda, porque o luteranismo germânico despreza mais a verdade do que o anglicanismo. Ainda no domingo passado, numa entrevista à RTP-2, o Dr. Mário Soares foi interpelado pela jornalista, ainda jovem mas bem preparada, acerca dos seus discursos de extrema-esquerda nos anos 70, logo a seguir ao 25 de Abril. Ele sorriu, acenou afirmativamente coma cabeça, e disse: "Eu não acreditava nada naquilo que estava a dizer, mas tinha de o dizer, porque era o ambiente da época. Senão, como é que eu tinha ganho as eleições?", enquanto a jornalista sorria e o contemplava como se ele estivesse a relatar um acto heróico.
O político democrático moderno é o propagandista por excelência. Não se pode dizer que ele seja um homem mentiroso, porque às vezes ele fala verdade; não se pode dizer tão pouco que ele seja um homem verdadeiro, porque às vezes ele fala mentira. Aquilo que o caracteriza é o seu desprezo pela verdade, a sua capacidade tão depressa para falar verdade como logo a seguir para falar mentira, segundo os seus interesses pessoais e do momento.

um propagandista

Mas afinal o que é que esta história da Virgem, de Cristo e da Verdade tem que ver com a nossa vida de todos os dias? Imenso. Tudo. É mesmo decisiva para a nossa vida diária. E é isso que eu pretendo começar a exemplificar agora.
Pondo de lado a figura de Maria, os protestantes puseram de lado a Verdade. Não lhes interessa saber se Maria era virgem ou não. Mas não lhes interessando saber se Maria era virgem ou não, também não lhes interessa saber se Cristo era filho de Deus ou, pelo contrário, filho de um homem qualquer. Não lhes interessa saber se Cristo tinha uma origem divina ou não. Ora, a origem divina de Cristo é precisamente a Verdade essencial sobre a qual assenta toda a nossa civilização. Não interessando aos protestantes esta Verdade - a primeira e a mais importante de todas as verdades -, que outras verdades lhes podem interessar? Nenhumas, ou talvez só mesmo aquelas que lhes convenham.
O desprezo pela verdade, ou o seu aprço somente pelas verdades que lhe são convenientes, é uma característica essencial do protestantismo. Voltando a um post anterior e ao episódio do The Telegraph. Porque é que o jornal não publicou o meu comentário? Porque os protestantes desprezam a verdade, em primeiro lugar aquelas que não lhes convêm. E retomando o caso do académico americano, porque é que ele, que tinha começado a discussão com tanto entusiasmo, não a prosseguiu, puxando por mim, que me apresentei bem preparado, para explicar a alegada relação entre os PIGS e a superioridade da ética protestante face à ética católica? Porque ele não queria saber a verdade. Para ele era muito mais confortável manter-se no preconceito de que a ética protestante, que é a dele, é superior à ética católica, que é a nossa, e assim poder continuar a referir-se livremente a nós de forma depreciativa como PIGS.
Ao separar Cristo da Virgem Maria, os protestantes ficaram com quê? Ficaram apenas com a figura humana de Cristo. E que figura é aquela, quando vista apenas do ponto de vista da sua humanidade? Se me dessem os Evangelhos para ler, e me pedissem para me abstrair do carácter divino de Cristo e me concentrar apenas no seu carácter humano, como é que eu iria avaliar aquele homem? Diria que é um tipo que resolve formar uma seita e vai por ali fora pelas terras da Galileia a proselitar em favor de causas fracturantes ("Eu não vim ao mundo para trazer a paz, mas a espada"), sobre os pobres, as mulheres, os ignorantes, a verdade, a justiça e as grandezas de um reino imaginário. Um propagandista dos maiores, concluiria eu.
Até aqui, mantive a discussão a um nível puramente intelectual. Passo agora à prática, e elejo o nosso sistema de justiça como exemplo. Já utilizou os tribunais portugueses? Se não, pode vir a necessitar deles, embora eu sugira que os evite a todo o custo. Pior ainda, já foi alguma vez acusado indevidamente por um crime que não cometeu? Não está livre de o ser, a PGR até tem um site na internet onde encoraja as denúncias anónimas.
Porque é que o sistema de justiça é, de longe, o pior sector institucional da vida portuguesa, muito pior até do que a economia, a qual, como sabemos, não está nada famosa? Por causa da questão da Verdade, pelo facto de os protestantes não ligarem nada à Verdade, excepto talvez aquelas "verdades" que lhes são convenientes.
Aquilo que os nossos jovens juristas - aqueles que depois vêm a ser advogados, juizes, etc. - aprendem nas Faculdades de Direito é uma doutrina que os seus professores, por sua vez, foram aprender na Alemanha, conhecida pelo nome de positivismo jurídico. O pai desta doutrina - a doutrina que hoje preside à elaboração e interpretação das nossa leis, e à organização do sistema judiciário -, é um académico austríaco, e judeu, chamado Hans Kelsen. Entre outras coisas, Kelsen ficou famoso por dizer que Cristo veio ao mundo, não para dizer a Verdade, mas para fazer Justiça, e foi sob este lema que ele desenvolveu a sua teoria jurídica. Espero que esta frase já não o surpreenda a si. Aquilo que Kelsen diz é que isso da Verdade não interessa para nada, o que interessa é fazer Justiça.
Por isso, hoje em dia nos tribunais portugueses, por lei, pode-se mentir. Podem mentir os réus, podem mentir os advogados, por lei só as testemunhas é que não podem mentir, embora num ambiente generalizado de mentira, eu duvido que alguém se importe que elas mintam também.
Num julgamento que vise verdadeiramente fazer justiça procura-se julgar uma pesssoa, ou pessoas, que cometeram certos actos bem definidos, em tempo e circunstâncias bem precisas e determinadas - a chamada verdade da situação.
Porém, como a verdade não interessa para nada, e se pode mentir nos tribunais, em cada julgamento que hoje ocorre em Portugal, a verdade da situação é substituída por uma encenação que resulta de todas as mentiras que são proferidas por réus, testemunhas, advogados, agentes do ministério público, e que transforma tudo num verdadeiro teatro, no sentido mais fantasista da palavra. É sobre este cenário de fantasia que os juizes pronunciam o seu julgamento.
Peça a Deus nunca ser acusado de um crime que não cometeu. Pode ficar com a sua vida arruinada. Pelo contrário, se cometeu algum crime, este é o sistema judicial ideal para você se safar.

quem paga?

Quem paga o orçamento do Banco de Portugal? São os "contribuintes", em sentido lato. São os milhões de clientes dos bancos a quem estas entidades passam a factura dos custos que têm com o regulador.
Deste modo, as receitas do Banco de Portugal são públicas e bem públicas. Deixemo-nos de tretas.

terceiro mundo

Banco de Portugal tem quinta com cavalos em Caneças, onde os filhos dos funcionários podem aprender equitação e os próprios trabalhadores da entidade reguladora nacional têm condições para gozar alguns dos seus momentos de lazer. O local acolhe também sessões de formação (1) bem como reuniões mais restritas da administração e entre esta e os seus directores.

1) A arte de bem montar toda a sela.

o sarilho financeiro

Banca tira dois mil milhões às empresas privadas e dá às públicas.

30 janeiro 2012

Perdem sempre

Imaginem-se dois homens que divergem radicalmente acerca de uma certa questão, e a respeito dos quais se aplica a cláusula ceteris paribus, são iguais em tudo (formação académica, estatuto social, experiência de vida, etc.), excepto num ponto - um deles foi nascido e criado numa cultura católica, o outro numa cultura protestante.

Estes homens decidem dirimir a sua divergência por debate intelectual. Quem vai prevalecer, quem tem razão no debate, quem possui a verdade?

Em princípio, será o católico. (Pelo contrário, se eles decidissem resolver a questão pela violência, em princípio ganharia o protestante).

Os protestantes separaram-se da comunidade universal (literalmente, igreja católica) e, portanto, do mundo. Separaram-se com uma atitude de superioridade moral, de que a comunidade universal (igreja católica) estava corrompida nas suas práticas e nas suas tradições. Não lhes interessava mais a comunidade universal (igreja católica), interessava-lhes apenas a sua comunidade local que eles iriam construir de novo e em forma pura e cristã. Não olhariam para o lado porque não tinham nada a aprender com tudo aquilo que existia à sua volta - a comunidade universal.

Assim surgiram as seitas protestantes - o luteranismo, o calvinismo, o anglicanismo, que mais tarde, sob os mesmos argumentos, se subdividiram em milhares de outras seitas.

O que é que caracteriza o espírito de seita? Em primeiro lugar e acima de tudo, a sua estreiteza de espírito, a sua obstinação em não olhar para o lado, a sua determinação em levar por diante o seu projecto até o fim, à revelia do mundo que considera corrompido.

O homem educado na cultura protestante é um homem assim, é um homem estreito de espírito, determinado e com um objectivo a atingir. O seu espírito é como uma avenida, que por mais larga que seja, é sempre estreita em relação ao mundo, e uma avenida que desemboca num largo sem saída. Quem garante que esse largo se chama o Largo da Verdade? Ninguém. Só por acaso se chamará assim.

Pelo contrário, o espírito de um homem educado na cultura católica é diferente, é um espírito aberto, universal, é um espírito que contempla o mundo. Ao contemplar o mapa do mundo, ele acaba por saber onde fica o Largo da Verdade e todas as ruas e atalhos que a ele conduzem.

O espírito protestante é um espírito de homem, fixo, determinado, fechado, que só olha para a frente, e por isso a cultura protestante é uma cultura masculina. Pelo contrário, o espírito católico é um espírito de mulher, aberto, amplo, flexível, que olha em todas as direcções, para a frente, para trás e para os lados, e por isso a cultura católica é uma cultura feminina.

Naquele seu percurso fixo, pré-deterrminado, sempre em frente, só por sorte o protestante chega ao Largo da Verdade. O católico, pelo contrário, antes de partir já viu o mapa todo, já localizou o Largo da Verdade, e quando avança é para lá chegar de certeza, e até escolhe o caminho.

O católico vai ganhar o debate, é ele que chega à Verdade. E isso explica porque é que os protestantes se recusam a debater com os católicos. Perdem sempre. Na melhor das hipóteses - se tiverem sorte - empatam, isto é, estão de acordo.

Significa isto que a Verdade está com as mulheres, é um atributo das mulheres, e não dos homens? Sim, também significa isso, a Verdade é um atributo feminino.
Ao separarem-se da Igreja Católica, os protestantes rejeitaram também o culto de Maria, para se concentrarem exclusivamente na figura de Cristo - o princípio protestante "Solo Christus". Ora, a figura de Cristo, separada da figura da Virgem, pode muito bem ser a figura de um impostor, de um charlatão, de um propagandista e de um aldrabão - e foi esse o significado que os judeus lhe atribuiram. Neste ponto, os protestantes aproximam-se da posição judaica, ou para lá caminham.
E esta convergência explica por que é que a seguir à Reforma os judeus se uniram aos protestantes na sua luta contra a Igreja Católica, a tal ponto que ainda hoje os judeus fora de Israel vivem sobretudo em países protestantes. Também é certo que acabaram por pagar um preço elevado por tão estreita amizade.
A Verdade em que assenta a civilização cristã, que é comum a católicos e protestantes, é a da divindade de Cristo, a de que Cristo era filho de Deus, e não de um homem qualquer - caso em que Ele não passaria, afinal, de um charlatão. Essa Verdade só uma pessoa a tem, e só ela a pode confirmar (ou infirmar). Essa pessoa é uma Mulher.

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Cerca de meio milhão de portugueses não tem actualmente médico de família, revelou hoje a ministra da Saúde, Drª Ana Jorge. Janeiro de 2011

Dois milhões de utentes fantasmas. Janeiro de 2012

Ou seja, se eliminarmos os doentes fantasma, todos os portugueses podem ter médico de família e ainda sobram vagas para mais 1,5 milhões. É altura de devolvermos os médicos cubanos ao remetente, digo eu.

Krugman

“Para restaurar a competitividade na Europa ter-se-ia de fazer com que, daqui a cinco anos, os salários baixassem nos países menos competitivos 20% em relação à Alemanha”.

fui eu que matei

No post anterior, argumentei que os protestantes ganharam o debate intelectual da Reforma religiosa por exclusão do adversário. Eles recusaram-se a jogar com o adversário em campo, excluiram-no e, sozinhos em jogo, acabaram, obviamente, por ganhar.

Escrevi também que foram vários os pequenos episódios que ao longo de muitos anos me levaram a esta conclusão. Mencionarei aqui três deles.

O primeiro - apenas pela ordem por que é mencionado - ocorreu quando me apercebi que na reunião fundadora da Mont Pelerin Society - uma espécie de Meca do liberalismo moderno - no final dos anos quarenta, o economista F.A. Hayek sugeriu que a organização se chamasse The Tocqueville-Acton Society. Ludwig von Mises e Frank Knight opuseram-se prontamente à ideia dizendo que não queriam dar à organização o nome de dois católicos aristocratas. A oposição triunfou. A sua mensagem era clara: "Tudo menos católicos", o que numa organização liberal não deixava de ser uma ironia.

A segunda ocorreu há dois ou três anos. O jornal britânico The Telegraph publicou um artigo acerca de um assunto cujos detalhes eu já não estou bem recordado, talvez a excomunhão ou outro castigo imposto a um padre da Igreja Católica. O articulista aproveitou a oportunidade para recordar a falta de liberdade que tradicionalmente existia na Igreja, a qual ele estendia também aos países de tradição católica.

Eu fui à caixa de comentários dizer que a excomunhão do padre, ou lá o que era, não reflectia nenhuma falta de liberdade na Igreja. O padre tinha-se comprometido voluntária e solenemente a obedecer e a respeitar uma doutrina e uma instituição. Não podia agora vir falar contra ela. Aquilo que o episódio reflectia era irresponsabilidade por parte do ex-padre, não falta de liberdade na Igreja.

E, logo de seguida, pondo por baixo do meu nome o país de onde escrevia, submeti um outro comentário em que dizia que não, que em Portugal, sendo embora um país católico, não havia falta de liberdade nenhuma, talvez houvesse era excesso. Por exemplo, apesar de católico, Portugal ainda recentemente tinha tido um Chefe de Estado que era judeu. Em Inglaterra é que era diferente, um homem nascido católico estava proibido de ser Chefe de Estado, ou sequer primeiro-ministro. O comentário nunca saiu publicado.

O terceiro episódio é mais recente e tem a ver com este post. Eu cheguei lá através de um comentário da Elisabete Joaquim que escreve para O Insurgente, e onde ela me mencionava - o que, sendo raro, embora devido, aproveito para lhe agradecer. Comecei por notar a forma perfeitamente católica como ela se exprimia, começando por dizer: "Nós em Portugal também temos um autor...". Primeiro, falando no plural, ela estava a exibir o sentido comunitário que é próprio da sua cultura católica; segundo, ao anunciar que nós cá também temos disso, alguém que se ocupa das teses do Max Weber, ela exprimia o universalismo católico; finalmente, depois de apresentar a minha posição acerca do assunto, imediatamente se demarcou dela - uma manifestação típica de personalismo católico.

O autor do post é um académico americano (por ser estrangeiro, eu dei-lhe imediatamente mais importância) e o tema interessava-me muito. De maneira que fui à caixa de comentários contribuir para a discussão com um artigo que apresentara há cerca de ano e meio numa conferência numa Universidade Pontifícia em Roma. Nos dias seguintes fui lá ver se a discussão continuava, desejoso de participar. Mas não. Tudo o que obtive da parte do autor do post foi um agradecimento e a menção de um parágrafo do meu artigo que, sendo parte da Introdução, era marginal ao tema central. A discussão morreu ali. Fiquei decepcionado.

Hoje, estou convencido - a evidência assim sugere - que fui eu que matei o debate, que assim terminou inconclusivo. Um católico entrou em campo e o jogo terminou. Por que será, por que será que os protestantes se recusam a jogar com os católicos em campo?

Ciclo 24

Não há aquecimento global há 15 anos (Met Office e Universidade de East Anglia - ahahah) e é provável que estejamos no início de uma "Pequena Era Glacial".
Daria vontade de rir, se este embuste não fosse trágico.

29 janeiro 2012

deserta

Existe uma questão que eu trago no espírito há cerca de 30 anos, sem nunca a ter conseguido resolver. Foi quando, no início dos anos 80, li o livro do teólogo católico, Michael Novak, The Spirit of Democratic Capitalism (tradução portuguesa: O Espírito do Capitalismo Democrático), que teve uma profunda influência em mim.
Em certa passagem, referindo-se a Portugal e a Espanha no período da Reforma Protestante (início do século XVI), Novak escreve mais ou menos assim (cito de memória por não ter o livro à mão): "Naquela altura, a Espanha e Portugal eram países grandes e influentes no mundo. Mas os teólogos católicos não compreenderam o segredo íntimo que os levou tão alto. E, não fazendo caso disso, perderam-no. Para as suas colónias no Novo Mundo, assim como para os seus países de origem, isto foi uma calamidade" (isto é, ficaram pobres, em contraste com a protestante Inglaterra e as suas colónias no Novo Mundo - os EUA e o Canadá).
Ficou-me a convicção na altura de que a Reforma Religiosa se saldou por uma estrondosa derrota do catolicismo no campo das ideias. Mas como, se os grandes intelectuais da época estavam todos ligados à Igreja Católica, se as próprias universidades eram todas católicas porque tinham sido fundadas pela Igreja, e os seus professores eram, quase exclusivamente, padres católicos? Onde é que os protestantes foram buscar os recursos intelectuais para ganharem uma batalha que, à partida, parecia tão desigual em favor da Igreja?
Eu hoje continuo a pensar que os protestantes ganharam copiosamente a batalha das ideias. Mas o mistério acerca de como o fizeram está para mim desvendado. Foram muitas pequenas peças de evidência - às primeiras, eu nem sequer dei importância -, coleccionadas ao longo de todos estes anos, que me levaram à conclusão. Os protestantes ganharam a batalha das ideias porque impediram os católicos de nela participar. Excluiram-nos pela proibição legal nuns casos, pela força física, pela agressão e pela perseguição, noutros. Foi como um jogo de futebol em que uma das equipas, tendo impedido fisicamente a outra de entrar em campo, fica ali o tempo todo sozinha a marcar golos na baliza deserta do adversário.

uma maneira de ser

"O Catolicismo é, em primeiro lugar, uma maneira de ser humano, em segundo lugar uma maneira de ser religioso e, em terceiro lugar, uma maneira de ser cristão. O Catolicismo só pode ser compreendido neste contexto alargado".
(Richard P. McBrien, Catholicism, S. Francisco: Harper, 1994, p.17)
Esta declaração, feita por um padre católico, capta a maior incompreensão que existe acerca do catolicismo que é a de que o Catolicismo é, em primeiro lugar, uma maneira de ser cristão ou religioso. Não, o catolicismo é, em primeiro lugar, uma maneira de ser humano, uma maneira de viver. Um homem pode não ser religioso, menos ainda cristão, e ainda assim ser católico.
Mas, então, qual é a característica principal dessa maneira de viver, de ser católico? É uma maneira de viver que não exclui nada nem ninguém, aberta ao mundo e a tudo o que nele existe, uma maneira de viver universal que vê a humanidade como uma família.
E qual é o seu oposto? O oposto de católico não é protestante. O oposto de católico é sectário (de seita). Forme ou adira a uma seita (partido político, loja maçónica, causa fracturante, etc.) e você deixou de ser católico, seja ou não religioso, vá ou não à missa. A partir desse dia, você decidiu que uma parte da humanidade é sua adversária ou inimiga.

Alerta II

Tens of thousands of patients who received hip replacements are at the centre of a major health alert over concerns they are poisoning their bodies.

Alerta I

Around 50,000 British women were believed to have the implants filled with an unregulated industrial silicone. It is thought 3,000 of them were NHS patients who had the implants fitted after breast cancer surgery.

PS: Aparentemente (pesquisa na net), as próteses PIP vendiam-se em duas versões. Uma boa para as clínicas de luxo, com silicone de qualidade médica, a 650,00 € e uma genérica (que a PIP chamava "household"), com silicone industrial, a 165,00 €. O NHS terá comprado destas últimas.

28 janeiro 2012

conciliadores

Uma questão que me tenho posto recentemente de forma recorrente é a seguinte: como serão os homens e mulheres que vão reconstruir Portugal, a partir do Estado em que se encontra? Interessa-me sobretudo visualizar esses homens e mulheres no conteúdo das suas ideias. Como serão eles? Julgo que já identifiquei alguns traços. Tratarei aqui de um deles.
Serão conciliadores. Em primeiro lugar, eles vão ter de unir os portugueses, depois de quase quarenta anos de reino de ideias e instituições protestantes que só contribuiram para os dividir, na família, no trabalho, na política.
O protestantismo, com o seu modo dialéctico de pensar, utiliza a crítica para descobrir a diferença na igualdade. Kant utilizou a palavra de modo substantivo no título de duas das suas principais obras. A crítica é a principal arma intelectual do protestantismo. Importada na cultura católica, com a propensão que esta cultura tem para o exagero, crítica é sinónimo de dizer mal. E dizer mal de quê? De tudo e de todos. E é isso o que os portugueses neste momento fazem melhor, nos jornais, nas televisões, nos blogues e, presumo eu, nas suas próprias casas.
O protestantismo foi desde o início um ataque violento à ideia de comunidade (ekklesia, igreja). A crítica violenta à Igreja Católica por parte do luteranismo, separou o mundo cristão em dois mundos adversos e, mais tarde, inimigos. De um lado, os cristãos corrompidos - os católicos -, de outro os cristãos puros - os luteranos, o maniqueísmo moderno na sua expressão mais perfeita.
É claro que em breve o luteranismo estava a provar da sua própria medicina e ele próprio a ser alvo de críticas, levando ao seu fraccionamento em dezenas de seitas que se odiavam mutuamente. Depois de todos se terem criticado uns aos outros, o que é que resultou daqui? A Guerra dos Trinta Anos, para além de outras guerras religiosas menores, com os seus milhões de mortos. A crítica não deixou nada de pé. Depois foram duas guerras mundiais, sempre na pátria do protestantismo. Onde é que havia de ser?
É esta forma de pensar, que nós consideramos moderna, importada em primeiro lugar da Alemanha, onde ela nasceu, e só secundariamente da Inglaterra ou dos EUA, que temos vindo a praticar nos últimos trinta e tal anos, e que nos conduziu a este estado. É uma forma de pensar que divide, que separa, que cria inimigos e ódios onde eles antes não existiam, na família, no grupo de amigos, no trabalho, na política.
Os homens que vão restaurar Portugal vão ser católicos, não necessariamente do ponto de vista religioso, mas do ponto de vista cultural, na maneira como pensam. E isso significa serem conciliadores, meterem outra vez todos os portugueses debaixo do mesmo tecto, agregando as diferenças, ao mesmo tempo que esvaziam as instituições e fazem tábula rasa das ideias que só servem para os dividir.

a imaginação católica

Numa altura em que a economia, as instituições e até a soberania portuguesas estão a ruir, e em que Portugal vai ter de renascer ou ressuscitar, e começar tudo de novo, que recursos nos oferece a nossa cultura par nos ajudar?
Um deles, de importância capital para esta tarefa, é a imaginação.
Os povos de cultura católica pensam por analogia, ao passo que os povos de cultura protestante pensam por diálise (uma palavra com origem no grego e que significa separação ou exclusão). O pensamento analógico procura as semelhanças nas diferenças, a unidade na diversidade, e por isso é um pensamento conciliador. Pelo contrário, o pensamento dialéctico procura as diferenças na igualdade, a diversidade na unidade, e por isso é um pensamento que separa, que divide e que exclui.
A origem desta diferença cultural é teológica. O catolicismo começa por aceitar as diferenças entre o homem e Deus, na pessoa de Cristo. Mas, tendo aceite as diferenças, depois também vê muitas semelhanças entre o homem e Deus (ainda na pessoa de Cristo). Daí a conclusão que o homem pode ser, ou pelo menos aproximar-se, de Deus. Na realidade, o catolicismo até possui uma classe de homens cuja fim na vida é serem iguais a Deus, na pessoa de Cristo - os padres.
O protestantismo, pelo contrário, começa por aceitar a igualdade entre o homem e Deus, ainda na pessoa de Cristo. Mas, tendo aceite esta igualdade, concentra-se depois exclusivamente na figura de Deus (Cristo) - o princípio protestante "Solo Christus" - e conclui que existe uma diferença radical entre Deus (Cristo) e os homens.
As consequências que daqui resultam são muito importantes. Talvez a principal é a de que o protestantismo conduz directamente ao conformismo ("Tu nunca serás como Deus..."), a ideia de que cada um terá de se contentar com a sua sorte, e que não há nada que ele possa fazer para a modificar. Pelo contrário, o catolicismo abre as portas à imaginação ("Tu podes ser como Deus..."), a ideia de que nada está vedado ao homem, a ideia de que ele pode conseguir tudo aquilo que a sua imaginação lhe ditar.
A tal ponto que, num livro que entretanto se tornou um clássico, David Tracey (The Analogical Imagination: Christian Theology and the Culture of Pluralism, 1981) fala mesmo de uma "Imaginação Católica", e caracteriza-a como sendo distintamente analógica - e o "análogo primário" é, evidentemente, o próprio Cristo (Deus).
Os portugueses têm na sua cultura um recurso - a imaginação - que lhes vai ser absolutamente indispensável para sairem da situação em que se encontram. E este é um recurso que os protestantes não têm, certamente que não no mesmo grau.

o livro de cheques

O Financial Times noticia hoje (a notícia é fidedigna porque é estrangeira) que a Alemanha impõe como condição para emprestar mais dinheiro à Grécia, ao abrigo de um segundo pacote de 130 mil milhões de euros, que os gregos aceitem renunciar ao controlo do seu orçamento, e que ele passe para o controlo da União Europeia.
Por outras palavras, a Alemanha empresta mais dinheiro à Grécia, desde que a Grécia fique sem o livro de cheques.
Portugal vai estar assim também dentro de um ano, se até lá a zona Euro não se desmembrar.

por questões de saúde

“Just 10 minutes of staring at the charms of a well-endowed female, is roughly equivalent to a 30-minute aerobics work-out,” says according to Dr. Weatherby.


Estudo patrocinado pela indústria dos lacticíneos?

2 notícias 2

Facebook presentará su OPV el miércoles con una valoración entre 57.000 y 76.000 millones.

Troika: empréstimo de 78 mil milhões de euros.

2 notícias que revelam tudo: o capitalismo cria valor, o socialismo destrói valor.

entrevista excelente




A liderança da Igreja tem de ser "menos classe média". E eu acrescentaria, qualquer liderança tem de ser "menos classe média".

27 janeiro 2012

Tourist Information Office

À distância de quatro anos, eu penso que identifiquei neste post, sem na altura o pretender e descontado o exagero, algumas das características culturais católicas que tornam Portugal e os outros PIGS, países menos produtivos que a Alemanha, a Suécia, a Holanda ou os EUA.

A primeira e, talvez, a mais importante, é a sua propensão comunitária que os leva a viverem todas as questões da vida em grupo (comunidade), e a que me referi extensivamente em posts mais recentes.

Mas existem outras. Logo no parágrafo inicial, a Cristina Keller, nas indicações que fornece ao JCD acerca de como proceder assim que chegasse a Portugal, introduz os taxistas do aeroporto como um bando de ladrões. Ainda por cima a coisa é dita a um turista que visita pela primeira vez o país e oriundo de uma cultura protestante, cujo espírito é propenso às generalizações. Se os taxistas do aeroporto são ladrões, porque é que os outros hão-de ser diferentes? E se todos os portugueses que são taxistas são, afinal, ladrões, porque é que os outros portugueses, que não são taxistas, não serão também ladrões? Conclusão: todos os portugueses são ladrões. Nada de mais produtivo para promover o turismo em Portugal.

A figura do José da Silva (Zeca) é talvez aquela que reune o maior número de características culturais portuguesas e católicas. Ele celebra os acontecimentos importantes em grupo (comunidade) e faz parte de uma família de 11 pessoas que veio expressamente de Torres Vedras. Era um dia de semana, aquele dia 23 de Abril, e ele pediu ao patrão que lhe desse a manhã para ir esperar o primo Leonel ao aeroporto (ele que experimentasse fazê-lo na Alemanha...).

A sua solicitude, a raiar a subserviência, para ajudar o próximo - especialmente se fôr estrangeiro - é enorme. Ele não consegue resolver o problema do JCD, mas rapidamente recorre a um familiar, que é assim desviado daquilo que estava a fazer. Chama o cunhado, de nome Chico. E como se o cunhado também não conseguisse resolver o problema, ele pega pelo braço de um açoreano que ia a passar com malas pesadíssimas nas mãos e desejoso de chegar ao seu destino.

A humildade, por vezes a falta de auto-estima ou o sentimento de incapacidade, que é característico de um povo de cultura católica, também está presente na personalidade do Zeca, e esse sentimento é produzido pelas mulheres. Quando a mulher se aproxima e se dirige a ele e ao irmão, basta-lhe uma frase aparentemente inócua - "Mas então vocês não conseguem ajudar o rapaz?" -, mas carregada de sentido - "Mas que raio de homens é que vocês são?" - para pôr os homens numa atitude defensiva. O Zeca torna-se imediatamente justificativo dizendo que ela sabe que ele de línguas não percebe nada, só das de vaca, e desde que sejam cozinhadas por ela - esta é também a maneira de a aplacar.

E desfere, em seguida, um golpe de morte sobre o cunhado, ao mesmo tempo que continua a justificar-se perante a mulher - "... o teu irmão é que tem a mania que sabe falar em estrangeiro...", reflectindo a pequena inveja que é própria de uma cultura fortemente comunitária. O Chico tinha a reputação - única na família - de saber falar estrangeiro. Com aquela pequena frase, como quem não quer a coisa, o Zeca manchou-lhe a reputação para sempre. Nessa altura, o Chico vai aos arames e com razão, porque a sua reputação de saber falar estrangeiro, que lhe custou uma vida a ganhar e era a razão da sua importância intelectual na família, acaba de ser desfeita ali, aos olhos de todos, e em poucos segundos. Ele bem tenta explicar a diferença entre o francês e o americano, mas ninguém quer saber. Aquilo que toda a gente viu é que ele não conseguiu falar com o estrangeiro.

A tendência de um povo de cultura católica para se afastar do essencial e divergir para o detalhe e o acessório, senão mesmo para o irrelevante, atravessa toda a cena. A questão central era a tradução da expressão El Jodillón de las Pampas para português, mas rapidamente os portugueses se dividem em grupos a discutir a localização das Pampas, o futebol, os aeroportos, a intensidade dos ventos, as políticas de educação, o Governo, e até a moral, na conversa das duas mulheres que encerram a história.

Esta falta de auto-confiança leva frequentemente os povos de cultura católica a recorrerem á autoridade para lhes resolver os problemas. Quando a autoridade é bronca - e num país de cultura católica isso pode acontecer - é tempo perdido e, por isso, totalmente improdutivo. Assim acontece quando as mulheres se dirigem ao polícia com o papelinho onde estava escrito El Jodillón de las Pampas e ele, consultando o roteiro de Lisboa, lhes responde que essa rua não existe.

Não é possível com esta cultura católica - comunitária, pronta para judar o próximo, com tendência para a divagação e a fantasia, feita de pessoas muito diferentes, e às vezes radicais, moralista, emotiva, e em que o tempo parece não ter valor -, ambicionar a produtividade que existe na Alemanha.

Então, e como é que se resolvia este problema na Alemanha? O alemão inteceptado no átrio do aeroporto de Frankfurt pelo JCD - no caso de aceder parar para o ouvir, algo que não é certo -, apontava-lhe a direcção do Tourist Information Office e ele que fôsse lá perguntar. Pelo contrário, na Portela estiveram parados mais de quarenta portugueses para prestar um serviço gratuito, que nem sequer conta para o PIB, ao passo que os serviços prestados pelo Tourist Information Office contam.

mandriões

A produtividade do trabalho em Portugal é metade da produtividade na Alemanha. Serão os portugueses mandriões?
Muitas vozes oficiais no estrangeiro, e algumas em Portugal também, já responderam a esta questão afirmativamente, e o mesmo têm feito em relação aos outros PIGS, chamando-lhes PIGS, Club Med e países da Dolce Vita.
Será verdadeira esta resposta? Não, não é, porque é baseada numa abstracção ("os portugueses") e numa generalização abusiva. "Os portugueses" só existem como ideia, não há nenhuma pessoa que seja "os portugueses", e as ideias, não sendo pessoas, não podem ter atributos que só as pessoas podem ter, como o de serem ou não mandrionas. Não há ideias mandrionas.
A menos que individualizemos os portugueses acerca dos quais estamos a falar, não é possível responder à questão de forma verdadeira. Só quando procedemos à individualização e identificamos, o Zé, o Manel, o Chico, etc. é que estamos no caminho da verdade.
E então, são ou não os portugueses mandriões? Olhe, o Zé é um mandrião irreformável, o Chico passa o dia e a noite a trabalhar, o Manel é assim-assim. Há de tudo entre os portugueses, desde um extremo ao outro do espectro, passando por todos os graus intermédios. Esta é que é a resposta verdadeira.
E aqui chegamos à dificuldade principal, que é a seguinte. Não é possível pensar um país de cultura católica, onde todos são diferentes, com uma mentalidade que é protestante. Mas é isso que fazem os protestantes (alemães, suecos, finlandeses, holandeses, etc.) e também alguns políticos e intelectuais portugueses que têm a mania que são protestantes - a figura do intelectual catante a que me referi noutras ocasiões. E isto é assim porque nas univeridades portugueses só se ensina protestantismo, embora laico, na Economia, no Direito, na Sociologia, até na História.
Como se já não bastassem os próprios protestantes, estes políticos e intelectuais acabam invariavelmente a produzir um julgamento que - embora indevido - é pejorativo para Portugal e os portugueses. E mostram, afinal, que não entendem nada acerca da própria cultura em que nasceram. Como o Ramalho Ortigão, citado no post anterior.

o cardeal

"Parabéns cordiais ao clero português pela elevação ao cardinalato de um dos seus membros, o Sr. D. Américo, bispo do Porto...
O que é de facto, ligeiramente, civilmente, experimentalmente, um cardeal?
Conhecem a célebre definição de caranguejo, segundo o dicionário de Morais - Peixinho vermelho que anda às arrecuas?
O cardeal é peixe por mutismo, porque o cardeal não fala ou fala em latim - o que é um modo erudito de estar calado.
O cardeal anda às arrecuas, seguindo à risca a letra dos dogmas em direcção oposta às demonstrações da ciência...
O cardeal, finalmente, é vermelho, tão vermelho como o caranguejo, posto que em condições menos árduas, porque o cardeal é vermelho em crú, ao passo que o caranguejo só avermelha cozido."
Eis aqui a forma analógica de pensar a que me referi no post anterior, e que é própria da cultura católica, expressa da forma mais bronca possível por um dos mais broncos intelectuais portugueses de todos os tempos - Ramalho Ortigão (in As Farpas). Talvez muito mais do que o cardeal que procura ridicularizar, Ramalho faz prova de ser um católico dos quatro costados.
Poder-se-à, porém dizer que todos os intelectuais portugueses são broncos, ou que todos os cardeais são como o caranguejo? Não, há de tudo.
O pensamento analógico, porque procura encontrar semelhanças naquilo que é realmente diferente, incorre sempre num enorme risco de raciocínio, que é o da generalização indevida. Pelo contrário, o pensamento protestante, que procura descortinar a diferença naquilo que é igual, tem precisamente o seu forte na capacidade de generalização. Uma vez dividido o mundo em duas classes A e B, qualquer elemento de A é igual a qualquer outro, e o mesmo se diga dos elementos de B.
A generalização é o caminho próprio do intelecto protestante. Pelo contrário, a individualização é o caminho próprio do intelecto católico. A generalização conduz à abstracção; a individualização à concretização.
Não é fácil pôr um homem de cultura católica a debater um assunto sério com um homem de cultura protestante. As suas respectivas mentes funcionam de modo totalmente diferente. Mas enquanto a questão se mantiver no domínio da palavra, e se forem ambos pessoas de boa-fé, acabará por prevalecer o católico, porque é dele a cultura racional, não a do protestante. Pelo contrário, se o debate se converte em violência, aí ganha o protestante que pode ser de uma brutalidade incrível, arrasa tudo.
Seria bom que as discussões no seio da UE acerca do Euro se mantenham no domínio da palavra. E aí o argumento racional (católico) é que, sendo países com cultura diferente (primeiro passo: a aceitação da diferença), os PIGS precisam de uma moeda diferente, e assim defender a saída dos PIGS da Zona Euro (segundo passo: a reconciliação).
Se deixamos isto nas mãos dos protestantes, o raciocínio que eles fazem não é o mesmo. Vão dizer que os PIGS são iguais aos outros (primeiro passo: a aceitação da igualdade), e depois vão estabelecer a diferença: aquilo que eles são é uma trupe de irresponsáveis e mandriões que não merecem qualquer consideração e precisam de ser castigados (segundo passo: a decoberta da diferença).

a minha luta

A imprensa estrangeira - e vindo do estrangeiro é certamente verdade - vai dando como certo que Portugal vai precisar de um segundo pacote de ajuda e de uma nova ronda de medidas de austeridade. Existe mesmo quem afirme que esse momento será o momento decisivo para o desmembramento da zona euro.
Embora não sendo estrangeiro, eu não creio nesta segunda parte da tese. A queda do Euro não vai ocorrer quando Portugal declarar a necessidade de um segundo pacote de ajuda. Vai ocorrer quando um dos grandes PIGS - a Itália ou a Espanha - declarar a necessidade de um primeiro pacote de ajuda.
Seja como fôr, até lá os PIGS vão continuar a ser estrangulados sem dó nem piedade.
A designação pejorativa de PIGS foi inventada na Alemanha, embora tenha sido popularizada pelo acrónimo inglês. O pensamento alemão (luterano) é um pensamento dialéctico - ele procura encontrar diferenças na igualdade. O pensamento católico, pelo contrário, é analógico - ele procura encontrar semelhanças na diferença. É isso que explica, por exemplo, a enorme estabilidade política dos países protestantes em comparação com os países católicos. As diferenças entre partidos políticos na Alemanha ou nos EUA ou no Canadá, por exemplo, são mínimas face à imensa igualdade que os une. É ao contrário num país católico como Portugal ou a Itália, existem bastantes semelhanças na extrema diversidade que os separa.
O pensamento católico analógico, ao procurar as semelhanças na diversidade, conduz à reconciliação. Pelo contrário, o pensamento dialéctico protestante, ao procurar as diferenças na igualdade, conduz à oposição - a tese e a antítese, os bons e os maus - e é a forma moderna do maniqueísmo. O pensamento alemão (luterano), em particular, é dominado pela ideia de luta. A luta (de classes) é a ideia central da tese de Karl Marx; e Hitler no seu livro A Minha Luta (Mein Kampf) deixava antever ao que vinha.
Para os alemães, os PIGS são os maus e são os extremos. E os maus precisam de ser castigados e os extremos suprimidos. Ninguém espere deles misericórdia ou piedade, poque isso são sentimentos primordialmente católicos. Por outro lado, ninguém espere dos países católicos compreensão para esta realidade e para os riscos que correm porque a sua forma analógica de pensar lhes mantém sempre viva a esperança de que as diferenças - entre alemães e PIGS - acabarão por ser reconciliadas. A determinação anunciada pela senhora Merkel (trato-a por senhora porque ela é estrangeira) em defender o Euro significa afinal a determinação que ela tem em castigar os PIGS e em os meter na ordem.

o crime do padre Massimo

O pároco de Besana Brianza, Pd. Massimo Donghi, resolveu tirar umas curtas férias com a família e disse aos paroquianos que ia para um "retiro espiritual". Ocultou, porém, que o merecido repouso e período de reflexão ia ter lugar a bordo do Costa Concórdia. Fez bem, em meu entender, porque um padre deve preservar uma imagem de austeridade que umas férias num cruzeiro no mediterraneo pode beliscar. E depois, porque tudo o que o bom povo de Besana Brianza necessita de saber é que o seu cura foi "recarregar as pilhas", para ter paciência para os ouvir e ajudar.

O jornal "El País", não perdeu foi a oportunidade de expelir o seu fel anti-clerical, a propósito desta história.
¿Pero el tío, nuestro Don Massimo, no estaba de retiro espiritual? Pues no exactamente. O tal vez sí, pero desde luego no en un monasterio apartado del mundanal ruido ni mucho menos en una cueva del desierto alimentándose de langostas, sino en el Costa Concordia, 17 pisos de lujo y fiesta continua, casino y bañeras de hidromasaje, un capitán llamado Schettino, una misteriosa moldava rubia…

Ora sinceramente... o que é que "a misteriosa moldava rubia do comandante Schettino" tem a ver com o Pd. Massimo?

26 janeiro 2012

Fazer número

Na história anterior, quem acaba por juntar as peças do puzzle e articular a solução final ao problema é um homem que até ali se tinha mantido calado e um pouco afastado da multidão, que não tinha participado activamente na procura da solução, e que estava ali só a ver. O típico mirone.
Numa cultura com um forte sentido de comunidade, como é a cultura católica e portuguesa, o mirone tem uma função social importante. Acontece um acidente na estrada, um incêndio na rua, um idoso tropeça no passeio, um turista precisa de ajuda, e junta-se logo uma pequena multidão de portugueses. Para além daqueles que estão activamente a tentar resolver o problema, há outros que estão lá só para ver. São os mirones. Eles parecem não estar ali a fazer nada. E, no entanto, estão.
Nesta cultura as soluções aos problemas difíceis encontram-se em comunidade, não individualmente. Cada português sabe instintivamente, por força da sua cultura, que um português individualmente não vai conseguir resolver um problema difícil. Mas que, se se juntarem muitos portugueses, a solução vai aparecer. E é essa a função do mirone, emprestar o seu sentido de comunidade à resolução do problema. Por outras palavras, estar ali, fazer número.
No caso do problema posto pelo JCD no aeroporto da Portela, acaba mesmo por ser um mirone a tornar-se o herói. Não porque ele soubesse resolver o problema por si próprio, mas porque é ele que põe em conjunto as peças que os outros lhe vão fornecendo. Acerca dele, eu gostaria de dizer uma palavra mais.
Ele faz preceder o anúncio da solução ao problema de um expletivo - merda. O expletivo tem aqui dois sentido. O primeiro é o de produto final, de fim de ciclo e é nesse sentido que ele o utiliza para anuciar que a festa acabou, o problema está resolvido, ele já encontrou a solução. Mas o expletivo tem um segundo sentido, que é o de coisa desprezível, sem valor, vulgar, e ele também lhe empresta este sentido.
No fim, todos deviam ter sido capazes de chegar à solução como ele chegou, porque a coisa era bastante banal, mesmo óbvia - uma merda. Mas não. Foi ele. Deus só o iluminou a ele naquele momento, não aos outros. Por um momento na vida, ao menos por um momento, ele foi o eleito de Deus - o personalismo católico na sua máxima expressão. Um dia ele vai contar esta história aos netos.

toca a ilegalizar, ahahah

O Jornal "The Guardian", parceiro do Jornal de Negócios, afirma hoje que Merkel pretende ilegalizar Keynes.
Se fosse verdade... já não era sem tempo. Aliás, o melhor seria ilegalizar por atacado. Eu sugiro Marx, Engels, Lenine, Stalin e Mao para possível ilegalização.

25 janeiro 2012

caridade católica

Eu gostaria de retomar neste post um tema que aflorei num post anterior - o elevado sentido comunitário da cultura portuguesa e católica. Na altura afirmei que os portugueses são melhores quando agem unidos e em comunidade. Numa cultura católica, como Portugal, não existe coisa ou talento no mundo que algum português não tenha. Uma população católica, quando está unida, acaba por ser o próprio mundo. Consegue tudo. Às vezes, até parece milagre.

É esta característica da cultura católica, e o seu modus operandi, que pretendo ilustrar neste post. Hesitei acerca do modo como o havia de fazer, citando episódios da história de Portugal, ou seguindo por outra via. Acabei por decidir citar-me a mim próprio numa altura em que decidira escrever em estrangeiro para, colocando-me dentro de outra mentalidade ou cultura, ser mais capaz de captar os traços relevantes da cultura portuguesa.

E isso leva-me de volta à história da Cristina Keller, cujo resumo interrompi aqui.

Tudo começou na última noite que o JCD passou na fazenda da família Calderón, em San Antonio de Aresgo, antes de regressar a Austin, Texas, no avião da manhã da United Airlines. A Cristina havia partido na véspera com a Iberia, de volta à Chamusca, Ribatejo, via Madrid.

Nessa noite, o casal Calderón já dormia a sono solto, Esteban até roncava, quando a sua filha Estela entrou silenciosamente no quarto do JCD queixando-se de insónias. Acabaram os dois por não pregar olho durante toda a noite. E foi então, no alvor dessa madrugada argentina, já só faltavam duas horas para avião, que a Estela, num assomo de caridade católica, o confortou ao ouvido: "Deja cariño... no te esfuerzes más ... es un jodillón ... el jodillón de las pampas...".

Nos meses seguintes, já em Austin, no Texas, o JCD não queria outra coisa. Chegava a interceptar pessoas desconhecidas na rua só pelo prazer de se apresentar: "Hi, pleased to meet you. My name is John Culvert Dwight, also known as El Jodillón de las Pampas".

Naquela manhã de Abril, o JCD contemplava pela primeira vez o sol e a luminosidade única de Lisboa, enquanto o avião da Continental Airlines cruzava o Tejo e percorria a final sobre o casario da cidade. Sentado do lado direito, olhando pela janela, entreteve-se por um momento a contar as igrejas que desfilavam à velocidade de 300 quilómetros por hora sob o seu olhar. Já ia em 27 - mesmo se a posição do avião ainda não lhe permitira vislumbrar a Igreja de Nossa Senhora de Fátima, a da Praça de Londres, a do Campo Grande, a de S. João de Brito, a de Arroios e a Capela do Cemitério do Alto S. João -, quando teve um sobressalto.

Veio-lhe à lembrança aquela tarde no Jardim de la Recoleta, no centro de Buenos Aires, quando ele passeava com a Cristina e a Estela Calderón. Aquele seu cabelo loiro, o seu ar esbelto e elegante, a roupa colada ao corpo, as feições quase perfeitas, o andar meneando o rabo e aqueles gestos amaneirados a falar, chamavam logo a atenção num país cuja cultura era, na aparência - embora só na aparência - puro machismo. Ainda por cima num jardim público. E foi assim que um argentino de meia idade, camisa esbragalada e a barba por fazer, ao passar por eles, não pôde conter a sua raiva e gritou a plenos pulmões o sentimento de desigualdade católica que lhe ia na alma: "Carajo!...Un maricón con dos chicas más buenas ... y yo aqui sin ninguna...".

O JCD ficou imobilizado. Será que tinha ouvido bem, estaria ali aquele nome forte, em espanhol e terminado em ón, que ele procurava, e que era a razão de ser da sua viagem à Argentina? Perguntou à Estela o que é que o homem tinha dito. A Estela olhou para o ar e disse que não tinha percebido: "It's a fool, John, don't pay attention to him". Antes que o JCD pudesse reagir, a Cristina, do outro lado, agarrou-lhe o braço e voltou-o para ela, enquanto a Estela afogava entre as mão um riso incontido.

A Cristina falou então sem parar durante mais de meia hora sobre as enormes diferenças entre a língua espanhola e a língua portuguesa, até a pergunta do JCD se perder no tempo. Explicou-lhe tudo, com todas as minudências. Disse-lhe que o espanhol e o português eram línguas muito, muito diferentes: "Very, very different, John", enquanto a Estela, do outro lado, acenava afirmativamente com a cabeça. E até lhe deu exemplos. "Look, John, in Spanish they say hombre, man; in Portuguese we say homem. The Spanish say mujer, woman; the Portuguese say mulher". Abrindo os braços e olhando o céu, exclamou em português: "Muitíííssimo diferentes". "Muchíííssimo, Cristina", concordou a Estela em castelhano. Depois daquela explicação detalhada, no espírito do JCD ficou a convicção de que a diferença entre o espanhol e o português era maior, muito maior, do que a diferença entre a sua língua materna, o inglês, e o mandarim.

E agora, como é que ele se iria apresentar aos pais e aos amigos da Cristina, com um nome que eles não compreendiam? Podia até parecer má educação. Por isso, ao pisar o átrio do aeroporto da Portela, a sua primeira preocupação foi a de saber como se dizia El Jodillón de las Pampas em Português.

A história está contada aqui, em estrangeiro.

Passando por cima dos vários episódios, aos quais voltarei mais tarde, a conclusão principal a tirar - a verdadeira moral da história - tem duas componentes. Primeira, Nenhum dos portugueses que se juntam à volta do JCD - e chegam a juntar-se mais de quarenta -, sabe, individualmente, resolver o problema de como traduzir aquela expressão para português. Porém, em conjunto - em comunidade -, eles acabam por lá chegar.

Segunda, não apenas acabam por chegar à solução, como a solução emerge quase que por milagre. E o momento crítico é aquele em que um deles, que está envolvido numa bruta discussão acerca da localização das Pampas - se é na Venezuela ou é no México -, depois de tratar o outro respeitosamente por senhor, o manda f. sem qualquer cerimónia.

A solução para os problemas difíceis dos portugueses encontra-se em comunidade e, aí, ela acaba sempre por aparecer, às vezes como se fosse um milagre.

5 Séculos de espera 5

“Foram cinco séculos de espera. Mas agora Portugal poderá estar prestes a desempenhar de novo um papel central na economia global”.

The Freak Out List


Edgard Varese "Ionisation" (Royal Concertgebouw Orchestra)
"Deserts" (Asko Ensemble)

Arnold Schoenberg "Verklarte Nacht, op.4" (Berliner Philharmonik; Herbert von Karajan)

Anton Webern "Passacaglia For Orchestra, op.1" & "Im Sommerwind" (Berlin Philharmonik; Pierre Boulez)

Igor Stravinsky "Firebird Suite" (1945 version) (Columbia Symphony Orchestra; Igor Stravinsky)

Karlheinz Stockhausen "Kontakte" (David Tudor & Christoph Caskel)

Pierre Boulez "Le Marteau Sans Maitre" (Ensemble InterContemporain w/ Hilary Summers)

Maurice Ravel "Bolero" (Berliner Philharmonik; Karajan)

Charles Ives "The Unanswered Question" & "Central Park In The Dark" (NY Philharmonic; Leonard Bernstein)

John Cage "Indeterminacy Pt. 4" (John Cage w/ David Tudor) & "Mushroom Haiku" (1972)

Compositores que influenciaram Frank Zappa e que constam da famosa Freak Out List.

quando se acaba o dinheiro dos outros

O rol de dívidas que a empresa de Catherine Monteiro de Barros, nora do empresário Patrick Monteiro de Barros, acumulou chega a perto de quatro milhões de euros.

Grupo refinador de Patrick Monteiro de Barros falhou negociações para garantir financiamento que permitisse cumprir obrigações de 1,4 mil milhões.

24 janeiro 2012

vem aí o reviralho

FMI: Corte do défice em 2011 ficou aquém das expectativas.

Risco de bancarrota de Portugal é o que mais sobe no mundo.

quanto custa?

Se Vªs Exªs me dão licença, deixem-me perguntar, se não for muito incómodo:

- Quanto custa implementar o "Manual da Assistência Espiritual e Religiosa Hospitalar"? E quem é que determinou que isto era uma prioridade, quando se estão a aumentar as taxas moderadoras e o custo dos medicamentos para os utentes?

PA tem razão, de facto Portugal é um país de excessos!

Manual da Assistência Espiritual e Religiosa Hospitalar

... os budistas acreditam no poder de cura da oração, concentrada... sobre o órgão doente.

animais de unha fendida

O enterro de um praticante da Fé Bahá’í deve acontecer a menos de uma hora do local onde tiver acontecido a morte. Os monges budistas não comem a seguir ao meio-dia. No islamismo, o cabelo do recém-nascido deve ser imediatamente cortado. Os mórmones não bebem chá e os hindus põem água do Ganges na boca dos doentes moribundos. A Direcção-Geral da Saúde publicou recentemente o “Manual da Assistência Espiritual e Religiosa Hospitalar”. Ao longo de 16 páginas, os profissionais de saúde aprendem os procedimentos a ter em conta quando lidam com doentes de 11 religiões, do momento do nascimento ao da morte, passando pelas exigências relacionadas com a comida e com os tratamentos.

Ionline

o capitalismo é necessário

A caridade não chega, o capitalismo é necessário para resolver os problemas mundiais.
Bill Clinton

23 janeiro 2012

mãos atadas?

O Governo comprometeu-se (com a UGT) a não diminuir a TSU sem a nossa concordância.
João Proença, em entrevista.

FMI espera que redução da TSU «continue na agenda» do Governo.

igualdade

Num post anterior citei Tocqueville na observação de que a cultura católica é bem capaz de ser aquela que melhor predispõe as pessoas para a igualdade e, portanto, para a democracia. E isso deve-se ao facto de, na comunidade religiosa, os dogmas da fé serem iguais para todos, o pobre e o rico, o poderoso e o fraco, o sábio e o ignorante. É assunto não negociável, todos comem da mesma comida espiritual, não há excepções.

A que tipo de igualdade Tocqueville se refere? Não certamente à igualdade económica, de poder ou de sabedoria, porque nessas matérias os católicos aceitam desigualdades e das grandes, e o próprio Tocqueville as menciona. Aquilo que a cultura católica não aceita é desigualdades de tratamento, não de tratamento formal, que um seja tratado por Dr. e o outro não, porque essa ela também aceita. Não aceita é desigualdades na dignidade humana, que uns sejam filhos e outros enteados.

A cultura católica aceita que o Presidente ganhe mais que os outros, aceita que ele tenha mais poder que os outros, aceita até que ele seja mais sábio que os outros, é capaz até de o tratar de uma maneira que mais ninguém o trataria no mundo, Sua Excelência, o Presidente da República, Professor Doutor fulano de tal. Mas aquilo que ela radicalmente não aceita é que todos, no âmbito do sector público, sejam chamados a fazer o sacrifício de serem privados dos subsídios de férias e de Natal, e o Presidente da República, que também é um funcionário público, seja uma excepção. Isso ela não aceita. Por isso, não passarão muitos dias até que o Presidente renuncie aos subsídios. Mas o mal já está feito. Devia tê-lo feito há mais tempo.

rendas garantidas

“Os sectores protegidos, com rendas garantidas, desviam capital: tem de se reduzir a atractividade destes negócios e desviar capital para os exportadores”.
Rasmus Rueffer, do Banco Central Europeu

Em Portugal, muitos dos sectores protegidos, com rendas garantidas, são públicos: saúde, educação e segurança social.

22 janeiro 2012

comunhão

Até aqui eu tenho invocado o personalismo como uma característica central da cultura católica. Eu pretendo agora introduzir uma outra - o sentido de comunidade ou comunhão. Como sempre, o meu objectivo é laico - tem a ver com a Economia -, e não tem quaisquer pretensões teológicas.

O personalismo católico - a ideia de que cada um tem uma relação pessoal e única com Deus - está na base da ideia de diferença e de diversidade, que é uma das marcas distintivas da cultura católica. Porém, se não fôr exercido em comunhão com os outros, conduz à pior foma de individualismo, que é a ideia que cada um é diferente dos outros, quando afinal são todos iguais. Foi por esta via que seguiu o protestantismo.

Eu tenho uma relação pessoal com Deus, que é única, e é isso que me torna diferente dos outros. Os outros pensam o mesmo acerca de si próprios e da relação que cada um mantém com Deus. Porém, se eu, e cada um dos outros, nos fecharmos nesta relação, e não a comunicarmos uns aos outros, que garantia temos nós que elas não sejam, afinal, todas iguais?

Para que o personalismo seja a fonte formadora da diferença e da personalidade, cada pessoa precisa da companhia dos outros, precisa de estar com os outros, e de falar com eles, porque só aí ela pode definir e avaliar as suas diferenças em relação aos outros. Nunca o conseguirá ficando sozinho a falar com Deus. É por isso que, para o catolicismo não há relação com Deus, por mais intensa ou profunda que seja, que possa dispensar inteiramente o contexto comunal. A cultura católica possui um grande sentido de comunidade.

Ao contemplar a história de Portugal, eu fico com o sentimento que os melhores períodos foram aqueles em que os portugueses estavam animados de um grande sentido comunitário e, embora eu não seja um historiador, toda a lógica aponta para isso. Os portugueses têm uma cultura universal, não existe talento no mundo que algum português não tenha. Quando estão juntos, eles são o mundo, não há nada de que não sejam capazes. Conseguem tudo, às vezes até parece milagre.

Pelo contrário, quando as circunstâncias da vida e as instituições (partidos políticos, separação de poderes, concorrência económica, etc.) os separaram, e os dividiram, nunca conseguiram fazer nada. Sozinhos são insignificantes - eles próprios se vêem como insignificantes e, por isso, se desvalorizam mutuamente -, e Portugal vai ao fundo. Como agora.

O Rei

Portugal é um país de cultura católica.

Nesta fase de crise nacional, onde tudo ameaça ruir, desde o sistema político ao sistema económico, qual o regime político (ou económico) que a Igreja ou a doutrina Católica teria para recomendar? Todos, todos os que existem no mundo e mais aqueles que entretanto possam ser inventados. Mas nenhum em particular.

A respostas parece excessivamente vaga. Todos e nenhum. Todos porque o catolicismo é uma filosofia de tudo, considera que em tudo, todas as pessoas, todas as coisas, todas as obras humanas, sejam elas físicas ou do intelecto - como por exemplo, um regime político -, existe um toque (graça) de Deus. Nenhum em particular, porque todas as pessoas são diferentes, todas as comunidades humanas são diferentes umas das outras - o personalismo católico - e, portanto não existe um regime político (ou económico) único que sirva igualmente a todas.

Aquilo que a Igreja nos recomendaria é que olhássemos para dentro de nós próprios, enquanto comunidade com características únicas e distintivas - a comunidade dos portugueses -, em lugar de andar por aí a imitar os outros, e víssemos quais eram verdadeiramente as nossas tradições: "As vossas tradições estão na vossa história.Vejam a vossa história que já tem quase 900 anos, vejam qual o regime político sob o qual conseguiram tirar melhor partido de vós próprios, aquele sob o qual tenham conseguido os maiores feitos e o maior bem-estar para todos e até, talvez, tenham sido a admiração do mundo. Escolham esse regime e, depois, adaptem-no às condições da vida moderna".

Seria assim. E fica assim também respondida a questão que desde há vários dias deixei em suspenso. Quem, em Portugal, deve escolher o primeiro-ministro? O povo? Não. Um conselho de sábios? Também não. A Tradição? Sim. E o que é que isso significa?

O Rei. Se ele próprio quiser ter funções executivas, será ele o primeiro-ministro. Caso contrário, designa outro.

play-off

Lá consegui levar a equipa ao play-off, evitando a despromoção automática.
Como o objectivo era estrangeiro - o play-off -, esforcei-me mais.
É por isso que eu agora ando mais pelo Algarve.

o Chico Timoneiro

As instituições parecem estar a entrar agora numa fase acelerada de degradação. O fim do regime parece aproximar-se. Os trabalhadores já não estão contra os patrões mas contra os próprios trabalhadores. E o Presidente da República vai perder o respeito da população a uma velocidade acelerada. É que esta instituição - a República -, não é propriamente da nossa tradição. Os mortos não devem estar a lamentar esta investida contra o Presidente que, de resto, ele bem merece. É um extremista, colecciona reformas do Estado como eu coleccionava cromos de futebol na minha criancice.

O que estará, por exemplo, a dizer disto o Chico Timoneiro?

Os mortos não falam? Falam, falam ... falam através de nós.

inspiring

Dutch teenager Laura Dekker has sailed into harbour on the Caribbean island of St Maarten - becoming the youngest sailor to complete a solo circumnavigation of the world.

21 janeiro 2012

colonialistas

Tinha eu acabado de redigir o post anterior quando vi aqui na margem direita do PC o título de um post que me interessou no blogue "Delito de Opinião". Fui ver. É este.

Ele ilustra à perfeição a natureza da cultura protestante. Atribui aos católicos os defeitos que ela própria tem, e chama a si as qualidades que pertencem aos católicos.

Então, a Inglaterra tem uma colónia em território argentino (também tem outra em território espanhol), e os argentinos é que são colonialistas?

Isto precisava de um vigoroso combate intelectual. Eles estão a abusar, na realidade, eles andam a abusar há séculos. Mas combates intelectuais por parte dos católicos ... só se fôr uns com os outros... e quem fica a ganhar é o inimigo.

o ouro

A cultura católica parece ter, pelo menos em algumas alturas, uma enorme facilidade em entregar o ouro ao bandido. Mas eu ainda não compreendi porquê. Então se o bandido fôr estrangeiro, até lhe leva o ouro a casa. Abandonam facilmente aquilo que é seu, entregam de mão-beijada aquilo que lhes custou séculos a fazer.

Todo o crédito pelos desenvolvimentos da modernidade está hoje em dia nas mãos dos estrangeiros (protestantes), mesmo se foram invariavelmente os católicos a lançarem as bases desses desenvolvimentos.

Já, em tempos, um historiador observou que no século XIX as colónias espanholas da América Latina caíam como fruta madura nas mãos de qualquer grupo de rufias que decidisse organizar-se. E as nossas não foi muito diferente, com o 25 de Abril.

Trago desde há dias um tópico no espírito que tenho de ir investigar. Em criança eu era um grande adepto do futebol, talvez até uma fanático do Benfica. Lia tudo sobre futebol e dessas leituras ficou-me a certeza que o futebol tinha sido inventado pelos ingleses. Ainda agora fui à internet, e lá está, o futebol foi inventado pelo ingleses.

Pois bem, eu hoje tenho a certeza que o futebol não foi inventado pelos ingleses. Terá sido inventado em algum país católico, provavelmente a Itália. Eu acredito que tenham sido os ingleses a promover o futebol no mundo, porque os católicos não conseguem promover coisa nenhuma e entregam facilmente o ouro ao bandido. A própria palavra por que o desporto é conhecido no mundo (foot ball) tem origem inglesa. Mas não foram eles de certeza a inventá-lo. Também o vinho do Porto é conhecido no mundo por Port wine.

Tenho alguns indícios. Qual é o melhor clube do mundo, o clube com o mais extenso currículo? É o Real Madrid. E por países? É o Brasil. E o melhor jogador de sempre? Para mim é o Maradona, e depois o Eusébio, ao lado do Pelé. E o treinador com o melhor currículo no mundo? Apesar de ser novo e de estar ainda longe de terminar a carreira, é bem capaz de ser já o Mourinho. Então a protestantada inventa o futebol e depois são os católicos que são os melhores na coisa?

não inventaram nada

"A Ética Protestante goza de um estatuto quase sagrado entre os sociólogos, mesmo se os historiadores económicos rapidamente invalidaram a monografia surpreendentemente não-documentada de Weber, sob o argumento irrefutável de que o desenvolvimento do capitalismo precedeu a Reforma Protestante.

Assim, Hugh Trevor Ropper explicou que «a ideia de que os capitalismo industrial de larga escala era ideologicamente impossível antes da Reforma é negada pelo simples facto de que ele já existia. Apenas uma década após a publicação de Max Weber, o célebre Henri Pirenne, inventariou uma vasta literatura que «estabelecia o facto de que todos os aspectos essenciais do capitalismo - iniciativa individual, avanços no crédito, lucros comerciais, especulação, etc. - se podem encontrar a partir do século XII nas cidades-república da Itália - Veneza, Génova e Florença.

Uma geração mais tarde, o igualmente célebre Ferdinand Braudel lamentou-se que "todos os historiadores se têm oposto a esta ténue teoria (a Ética Protestante, de Weber), embora não tenham conseguido libertar-se dela de uma vez por todas. Ela é claramente falsa. Os países do norte apenas tomaram o lugar que antes tinha sido longa e brilhantemente ocupado pelos antigos centros capitalistas do Mediterrâneo. Eles não inventaram nada, quer em tecnologia, quer em técnicas de gestão».

Mais ainda, durante o seu período crítico de desenvolvoimento económico, os centros do capitalismo no norte da Europa eram católicos, não protestantes. A Reforma religiosa ainda estava muito distante."

(Rodney Stark, The Victory of Reason - How Christianity Led to Freedom, Capitalism and Western Success, New York, Random House, 2005, pp. xi, xii)

uma cultura de mulher

Peter Seewald: "Se bem compreendi, o centro da Igreja não é o Vaticano, nem o papa, mas uma mulher ..."

Papa Bento XVI: "A identificação da Igreja com uma mulher remonta aos tempos mais remotos do Antigo Testamento ... em Maria concretiza-se o que é a Igreja. E o significado teológico de Maria representa-se na Igreja ... Maria é a Igreja em pessoa; e a Igreja é, na sua totalidade, aquilo que Maria, na sua pessoa, antecipou...

Penso que esta redescoberta da relação entre Maria e a Igreja, da personalidade da Igreja em Maria ... é uma das descobertas mais importantes da teologia do século XX".

(ibid., p. 300)