30 junho 2011

o roque e a amiga

Francisco Assis: "Estou chocado".
António José Seguro: "Estou profundamente chocado".

uma proposta para a reprodução científica

Já que a Segurança Social dá cursos para a adopção, o chamado Plano de Formação para a Adopção, que tal começar também a dar cursos para a reprodução. Poderia chamar-se Plano de Formação para a Reprodução.

Ver notícia no Público de hoje.

PS: O Estado Social, em Portugal, já não é do berço até à cova, é do espermatozóide e do óvulo até à cova.

Thanks

Thanks, João Miranda, that's the way to do it.

um discurso do passado

- Quando falamos do défice temos de decidir entre apoiar as crianças ou apoiar os trutas que andam de jactos privados.
Obama

2 notícias 2

Sócrates: E-mails eliminados

Sarah Palin: E-mails divulgados

29 junho 2011

I mean people

O LR conhece a Primeira Lei Arroja da Concorrência, mas não cita o autor (P. Arroja, Cataláxia, Porto: Vida Económica, 1994, destaque na contracapa). Se o autor fosse estrangeiro, ele citava. Não há nada mais fino em Portugal do que citar um autor estrangeiro, e nada mais reles do que citar um português.


These Portuguese people (I mean people, not elite) ... they are cute. They love foreign people. They depreciate their own.


LR, please, do me a favor, quote me for God´s sake. Just add to your post a little phrase: This is Arroja's First Law of Competition. Assim mesmo, em estrangeiro, porque os seus leitores vão dizer: Que grande intelectual é o LR. Ele até sabe falar em estrangeiro, e cita autores amaricanos.

perpetuar os erros

O actual sistema de saúde, especialmente o SNS, resultou de 30 anos de socialismo. Resultou de um planeamento central e de uma alocação de recursos que serviu apenas os interesses políticos do momento.
Se tivesse resultado de mecanismos de mercado seria necessariamente diferente, em quantidade e em qualidade.
Julgo que seria mais pequeno, que estaria mais concentrado nas grandes cidades, que teria uma qualidade mais variável, que disponibilizaria muito menos serviços, que empregaria menos pessoas e que seria mais económico.
Podemos discordar desta perspectiva, mas não podemos ignorar que existiriam diferenças abissais.
Ora, se partirmos da organização actual do sistema de saúde e nos limitarmos a aplicar princípios de gestão empresarial, estaremos a maximizar uma produção em que a oferta está desfasada da procura e em que o mix de serviços não corresponde às preferências dos clientes, mas à visão, ou falta dela, dos responsáveis políticos.
Em conclusão, a empresarialização cega só pode inflacionar os erros do passado e levar ao fim do SNS.
Espero que o governo compreenda este fenómeno.

jogos internacionais

Nos jogos internacionais não me parece curial sublinhar de que equipa são os jogadores. É necessária uma certa reserva, digo eu.

Director do i

Meu caro dr. Pedro Arroja,



Escreve-lhe o director do i, “jornal feito por adolescentes e para adolescentes”, mas, por acaso, e só mesmo por acaso, não “o democrata de vão de escada como o jornalista que fez esta peça e o director do jornal que a deixou passar” porque nesse dia estava no Porto e não na redacção. Mas se estivesse na Redacção deixaria passar a bela peça jornalística sobre a comparação entre as duas primeiras damas.

Li, como já percebeu, o seu comentário no Portugal Contemporâneo e até verifiquei que a maioria dos comentários eram no mesmo sentido da minha opinião – desta vez acho que o seu tiro foi muito ao lado.

Conhecemo-nos há uns anos no Porto, numa circunstãncia qualquer que já não recordo, temos amigos ou conhecidos comuns. Mas não é isso que vem ao caso. O caso é mesmo que Laura Ferreira pode bem ser comparada em muitas coisas a Michelle Obama, sobretudo porque ambas têm muita influência no marido, o que não me parece nada despiciendo, e ambas têm personalidade própria. Mais ainda, creio que a própria cor da pele é um elemento significativo num país como Portugal. Temos todos a ideia deste país de brandos costumes que fez o casamento de várias raças, mas na verdade em muitos pontos do país não é bem isso que se passa. Não é uma questão de South Shore, é uma questão de termos um primeiro-ministro que sai orgulhosamente de mão dada com a mulher da posse do governo, o que pode ser apenas uma imagem de propaganda, manipuladora, ou pode ser muito mais do que isso. E eu creio que é muito mais do que isso, se bem conheço PP Coelho.

Peço desculpa pelo tempo que eventualmente lhe tomei e pelo mail utilizado, mas foi o que vi na página institucional da empresa. E já agora parabéns pela magnífica vivenda que sempre admiro (sou do Porto, vivo no Porto e estou só em exílio temporário em Lisboa) quando passo na Foz.

Aceite um abraço

Manuel Queiroz

(Nota PA: Publicado com autorização do autor. O texto refere-se ao meu post "Laura Ferreira de Soth Shore")

nem desejável

Eu gostaria neste post de retomar o tema de "Portugal como Flórida da Europa" exposto pelo Ministro da Economia num dos seus livros e mais recentemente numa sua intervenção pública, primeiro para lhe fazer justiça, segundo, para o comentar e procurar demonstrar porque é que isso não seria possível - nem desejável.
Começo por salientar que o argumento é de natureza turística, e teria em vista fazer de Portugal na Europa aquilo que, do ponto de vista turístico, a Flórida é para a América do Norte (EUA e Canadá). Devo acrescentar também que, tendo vivido na América do Norte, eu próprio já defendi este argumento, mas hoje estou rendido à realidade - não é possível nem desejável.


E o que é que caracteriza a Flórida como destino turístico? O seguinte:


1. O clima da maior parte do território da América do Norte é mau, e imensamente frio no Inverno. Uma boa parte da classe média americana tira umas curtas férias no Inverno e vai para a Flórida, onde o clima é mais ameno, passar uma ou duas semanas, um break aos rigores do clima das cidades onde vive.


2. Mais importante do que isso - e penso que era este ponto que o Ministro tinha principalmente no espírito - uma parte da classe média americana, quando se reforma, vai viver para a Flórida. Este é o turismo ideal - ou mais propriamente a imigração ideal. Pessoas de idade, com algum poder de compra, que só gastam dinheiro e só consomem, e que não concorrem no mercado local de trabalho. Contribuem para criar empregos e riqueza enquanto, eles próprios, não tiram o emprego a ninguém.


3. Mas a característica principal destes movimento turistico e migratório para a Flórida é a de se tratar de um fenómeno de massa. Não são nem uma nem duas nem dez mil pessoas. São milhões. E é isto que torna o fenómeno inviável em Portugal.


Portugal não está feito para fenómenos de massa. A cultura portuguesa, o personalismo católico, é radicalmente avesso a fenómenos de massa, porque a massa anula a personalidade, tornando todos iguais uns aos outros.


Faça-se desembarcar um avião de alemães- basta um - em S. Martinho do Porto para gozarem a amenidades do seu clima de Inverno por duas semanas. Onde é que eles vão dormir? Não existem hoteis em S. Martinho do Porto. Apenas uma pequena pensão. E onde vão comer? No Inverno há apenas dois pequenos restaurantes abertos. Existem sempre quartos para alugar, mas dependem de conhecimentos pessoais, que não entram nos circuitos altamente massificados e profissionalizados do turismo.


Mesmo no pino do Verão, façam-se desembarcar uns milhares de turistas em Porto Santo, esse pequeno paraíso de cinco mil habitantes (sobe para 20 mil nos meses de Verão). O mesmo
problema. Não há alojamento para muitos milhares, menos ainda para milhões. E, à noite, fica-se horas à espera no restaurante para que a refeição seja servida. E, no caso de pessoas idosas, que podem precisar de cuidados de saúde urgentes, como fazer? São evacuadas de avioneta para o Funchal e, provavelmente, daí para Lisboa.


E as coisas são todas assim em Portugal, pequenas e limitadas, para que, em cada caso, possam ser apreciadas só por alguns, porque os portugueses não gostam de massas. O país, através de todas estas características, rejeita espontâneamente as massas. É como se a sua cultura dissesse aos estrangeiros: "Se é para virem multidões, não queremos".

jovens

Este governo possui ministros razoavelmente jovens. E a equipa de secretários de Estado parece ainda mais jovem. Será isto uma vantagem?

Não. Definitivamente não. A cultura católica não é compreensível a pessoas jovens. Para se compreender (e apreciar) a cultura católica é preciso tempo, muito tempo. Dificilmente alguém a compreende aos 30 ou 40 anos. O mesmo sucede com os países de cultura católica, como é Portugal. Enquanto jovens, precisamente porque não os compreendem, as pessoas indignam-se contra eles. Mais tarde, mais velhas e mais maduras, são bem capazes de achar que aquilo que de mais parecido existe na Terra com o paraíso é um país de cultura católica - como Portugal.

Não surpreende que assim seja. A doutrina católica é feita e sancionada pela elite da Igreja - os cardeais e, em última instância, o Papa. Basta atentar na idade deles para concluir que esta é uma doutrina feita por homens que já viram muito na vida e que tiveram toda uma vida para reflectir sobre aquilo que viram. A doutrina católica não é feita por meninos nem para meninos. É feita por pessoas maduras e para pessoas maduras. E, por isso, uma comunidade católica (a Igreja ou um país) só funciona bem quando governado por pessoas maduras. Trata-se de uma condição necessária, embora, obviamente, não suficiente. (Convém talvez reparar na idade média dos ministros de Salazar e Marcello Caetano, o último período da história de Portugal em que o país foi bem governado).

Um país de cultura católica governado por pessoas jovens? Não vai dar nada. Vai falhar. Na sua maior parte, eles não compreendem ainda a cultura do seu país. E o Ministro da Economia (39 anos), talvez por ser aquele que mais obra tem publicada e, por isso, está mais exposto, é o caso mais nítido. Ele não se deu sequer conta da importância do factor cultura, e no entanto é o factor cultura que vai minar toda a sua actividade. Ele está convencido que tudo isto se resolve com soluções técnico-científicas, que são um traço maior e distintivo da cultura protestante, mas não da cultura católica.

Tornar Portugal a Flórida da Europa? (sugere ele, numa comparação que bem portuguêsmente deprecia Portugal). Mas Portugal é cinquenta vezes melhor do que a Flórida. A Flórida é que talvez gostasse de se tornar o Portugal da América.

uma péssima ideia III

- Uma despesa de 398.273,52 € e nem sequer deram comida aos acompanhantes... 

uma péssima ideia II

- Esses f. da p. recusaram-se a internar o avô para ver se poupam algum que da última vez a despesa passou dos 300.000,00 €. Cabrões!
- Processa esses animais!

uma péssima ideia

Os cidadãos vão receber uma factura com a despesa que dão ao Estado de cada vez que recebem um qualquer cuidado de saúde. A ideia há muito defendida por especialistas será agora posta em prática, segundo o Programa de Governo apresentado hoje na Assembleia da República.
Esta medida visa “sensibilizar os cidadãos para os custos associados à prestação de cuidados de saúde através da disponibilização da informação sobre o custo suportado pelo Estado em cada acto prestado”.


Eis uma medida que parece bondosa mas que vai dar um resultado exactamente contrário ao que se pretende. Como os "utentes" pouco pagam no acto de consumo, o conhecimento dos verdadeiros custos apenas vai contribuir para aumentar o grau de exigência e de conflitualidade. Os médicos terão mais dificuldade em recusar tratamentos inúteis, para não serem acusados de economicismo e os "utentes" passarão a aferir os resultados em função do preço.
O resultado, está bom de ver, vai ser um aumento da despesa.

28 junho 2011

o bordel



O Ministro Álvaro Santos Pereira, ou simplesmente Álvaro, devia ter ficado onde estava - na Universidade - e a fazer o que fazia - pensar e escrever de forma independente. A Universidade é a instituição cuja função principal é a procura independente da Verdade. Portugal necessita destas pessoas como de pão para a boca. Já políticos, não lhe faltam. O Ministro perdeu a independência no dia em que pisou os corredores do ministério.

O Ministro sabe que na tradição canadiana, onde ele é professor, um homem que saia da Universidade para a política, já não volta. Passou-se do mundo da Verdade para o mundo dos Interesses e tudo aquilo que agora possa dizer ou ensinar está suspeitadamente tingido pelos interesses que defendeu e em que, inevitavelmente, se deixou enredar.

É certo que em Portugal a tradição não é a mesma, e o Ministro, logo que saia do Governo, vai ter lugar em alguma Universidade portuguesa. E infelizmente porque, desde o Marquês de Pombal, e com raros períodos de excepção, a Universidade tornou-se um bordel de políticos desempregados e de principiantes da política. Ainda recentemente um candidato a deputado se anunciava como sendo professor em duas universidades, quando, na realidade, não passa de um mero assistente. E o ex-ministro Teixeira dos Santos, depois de seis anos na governação, afirmou que iria voltar para a academia. Vai certamente voltar a ensinar a cadeira de Finanças Públicas na Faculdade de Economia da Universidade do Porto. Mas agora com o subtítulo: "Como Arruinar um País".

a raínha



Sempre dado a exageros, porque o povo não possui julgamento nem o sentido do equilíbrio, Portugal andou nos últimos anos a acumular empresas públicas, nacionais e sobretudo municipais, que não servem para nada. Agora que a troika ordenou a privatização das empresas públicas, corre-se o risco de passar ao outro extremo e privatizar tudo sem critério.

Existem, pelo menos, três empresas públicas que na minha opinião, e de forma absoluta, não devem ser privatizadas. Refiro-me aos CTT, à CGD e à RTP1. Tratarei aqui dos CTT.

Nos inquéritos de opinião conduzidos junto da população acerca das empresas públicas, os CTT surgem invariavelmente em primeiro lugar, como a empresa pública pela qual os portugueses têm mais simpatia. Eu partilho essa simpatia. Os CTT são talvez a única empresa pública que se tornou uma verdadeira instituição nacional.

Quem saír de Lisboa e Porto, e de outras cidades do litoral, e desejar conhecer o interior de Portugal, vai ver que muitas vilas e pequenas cidades do país se mantêm de pé, e não se transformaram ainda em vilas e cidades-fantasma, devido à presença do Estado. Lá está em primeiro lugar o distintivo estabelecimento vermelho dos CTT, mais a dependência da Caixa Geral de Depósitos, e depois também a Repartição de Finanças, a Segurança Social e obviamente a Câmara Municipal.

Ao longo da sua história, os CTT têm sido a instituição através da qual o Estado faz chegar qualquer serviço à mais recôndita vila ou aldeia de Portugal. Para além do serviço de distribuição postal, os CTT asseguram, ou já asseguraram, serviços financeiros, serviços fiscais, pagamentos de portagens (SCUT's) e a venda e distribuição de múltiplos bens e serviços.

Privatizar os CTT iria significar fechar os seus balcões nos locais onde não existe mais nada nem ninguém que os substitua - as pequenas vilas e cidades de Portugal. Seria uma pequena tragédia para a economia local destas vilas e cidades. E seria também uma perda emocional para muitos portugueses que nutrem uma genuína simpatia pela instituição. Os CTT são a raínha das empresas públicas portuguesas. Não se privatiza a raínha. A raínha é de todos. É um símbolo de unidade nacional, talvez mais ainda do que a bandeira.

27 junho 2011

Laura Ferreira de South Shore




Eu gostaria de ilustrar o ponto essencial do meu post anterior com esta peça jornalística do i, esse jornal feito por adolescentes e para adolescentes. A mulher do primeiro-ministro de Portugal, Laura Ferreira, é comparada a Michele Obama, mas o padrão da comparação é obviamente Michele, e não Laura. Laura é uma imitação de Michele, ainda por cima de Massamá.

Nunca teria ocorrido ao jornalista, ou a quem estabeleceu a comparação, chamar a Michele Obama a Laura Ferreira de South Shore, um pobre bairro negro de Chicago onde Michele nasceu e cresceu.

Mas a comparação é ainda mais capciosa do que aparenta, porque aquilo que estas duas mulheres têm obviamente em comum é a côr da pele. Se ninguém ainda tinha reparado na côr da pele da mulher do primeiro-ministro, o jornal i veio lembrar-lhe.

Portugal está cheio de democratas de vão-de-escada como o jornalista que fez esta peça, e o director do jornal que a deixou passar. Não passaria em qualquer jornal decente dos EUA. Seria considerada ofensiva. Em Portugal não, porque ofender o próximo, ou depreciá-lo, é um desporto muito popular no país e, evidentemente, o traço cultural mais anti-democrático que um povo pode ter.

Vai pagá-las

Num país de tradição profundamente católica, como é Portugal, para que se faça justiça à sua cultura universal, todas as características humanas e todos os comportamentos humanos hão-de estar representados, cada um deles de um extremo ao outro do espectro.

Num país assim existe um código de comportamento, uma espécie de Constituição implícita, que é a Bíblia, com ênfase no Novo Testamento, segundo a interpretação que lhe é dada pela Igreja Católica. As pessoas são encorajadas a seguir os princípios prescritos nesse código, mas, na realidade, só algumas o conseguem fazer - a elite. O paradigma da figura de elite é Cristo, representado pelo padre católico.

O princípio mais importante deste código católico é o princípio do amor ao próximo ou caridade, que se exprime genericamente em querer bem ao próximo, não cometendo agressões contra ele, não o desvalorizando, não o depreciando. E os padres católicos dão o exemplo, no sentido em que não se imagina um padre a agredir, a insultar ou a desvalorizar alguém.

Porém, para que esta cultura seja verdadeiramente católica ou universal, para além das pessoas - os padres e outros homens de elite - que praticam este princípio à perfeição, havemos de encontrar nela outros homens que o praticam apenas assim-assim e outros que não o praticam de todo. São o povo, e tanto mais povo quanto mais se afastam da prática deste princípio (e dos outros que o código prescreve).

Na realidade, numa sociedade de cultura católica, aquilo que define o povo, por oposição à elite, é que o povo possui um conjunto de valores e de comportamentos que se afastam dos da elite e que, no limite, são exactamente opostos aos da elite. E um homem é tanto mais povo quanto mais os seus valores e comportamentos se afastam dos da elite. Por isso, uma das características de comportamento do povo de cultura católica não é ele tratar bem o seu semelhante. Não. É tratá-lo mal. O povo português, fora do círculo restrito da família e dos amigos, trata-se mal a si próprio, deprecia-se mutuamente. O povo português, no espaço público, só trata bem quem ele não vê como povo, quem ele não vê como seu igual. Num pais de cultura católica, o povo não tem respeito por si próprio. O povo só respeita quem ele vê acima dele, e com poderes sobre ele (ainda que seja um patife).

Ora, o ministro da Economia quer parecer povo. Vai pagá-las. Verá como o povo lhe vai retribuir.

não é ministro não é nada



Desde que os nomes dos ministros foram conhecidos que eu penso que o primeiro dos ministros a abandonar o governo será o ministro da Economia, Álvaro Santos Pereira. E já cometeu o primeiro erro, quando aparentemente disse aos jornalistas que o tratassem por Álvaro.

O ministro é um académico que vem do Canadá directamente para o governo português. Está obviamente desaculturado e isso vai-lhe ser fatal. No Canadá um ministro pode dizer aos jornalistas que o tratem pelo primeiro nome porque o Canadá é um país de cultura imensamente democrática. Os jornalistas vão entender isso com toda a normalidade, e tratar o ministro com a mesma deferência, porque ministro e jornalistas se vêem como iguais e como povo, a única diferença sendo que o primeiro se encontra temporariamente investido de funções de representação popular.

Não é assim que os jornalistas vêem um ministro em Portugal porque os jornalistas, tal como o povo, não possuem uma cultura democrática. Os jornalistas vêem o ministro como uma autoridade ou, mais precisamente, como um homem de poder, um homem que está colocado acima deles. Quando o ministro lhes sugere que o tratem pelo primeiro nome, pondo-se ao nível dos jornalistas, os jornalistas ficam desconcertados. Afinal, o ministro é como eles, está ao nível deles, é igual a eles. Mas, se é assim, então "este homem não é ministro não é nada". É apenas um tipo como eles.

Perdem-lhe o respeito. Vão abusá-lo. E não vai demorar muito.

choque fiscal

Até nos EUA já se fala de reduzir as taxas sociais.

um meio de produção

Para o Director Geral de Saúde, os médicos são um meio de produção:
- A saída de médicos tem implicações ao nível da produção, ou seja, tendo menos médicos o número de consultas é menor.
Infelizmente, esta linearidade só existe para o DGS. Qualquer bacharel de economia sabe que a bendita produção depende da optimização dos recursos e não do número absoluto, por exemplo, de operários. Acima do número óptimo, a produção pode diminuir em vez de aumentar. Ora como temos um grande excesso de médicos...

26 junho 2011

Medina Carreira



O Professor Medina Carreira tem-se tornado conhecido nos últimos anos pelo seu diagnóstico extraordinariamente pessimista da economia e da sociedade portuguesa e pelos seus constantes apelos a uma governação responsável.

O diagnóstico que ele faz da sociedade portuguesa é, basicamente, certeiro. Porém, o mínimo que se pode dizer acerca dos seus apelos é que têm sido largamente ineficazes. Esta entrevista ajuda a esclarecer o erro essencial de Medina Carreira. Ele acredita na democracia e até foi membro do PS até há poucos anos. Já pensou em candidatar-se a Presidente da República, mas abandonou a ideia. A razão só pode ser uma: porque não acredita que o povo português - a democracia - alguma vez elegesse para o cargo uma pessoa responsável como ele.

Este é o erro. Em Portugal, não se pode acreditar na democracia, e ao mesmo tempo esperar, a prazo, uma governação responsável. Nem em Portugal, nem em qualquer outro país de tradição católica (ou ortodoxa). Alguém conhece, no presente ou no passado, um país de tradição católica (ou ortodoxa), vivendo em democracia, e conseguindo, a prazo (digamos, ao fim de cinquenta anos de democracia) ter uma governação reponsável? Eu não conheço.

Medina Carreira, certo embora no diagnóstico, apela a um mundo fantasioso, um mundo que a experiência tem repetidamente mostrado ser impossível - um mundo católico e, a prazo, bem governado em democracia - e o seu pensamento acaba assim por ser mero wishful thinking.

Uma palavra final acerca de Salazar. Salazar não era apenas um bom gestor. Era um homem de elite, e isso faz toda a diferença. Mas também não convém exagerar as suas capacidades porque os seus êxitos só em parte se devem à sua pessoa. Ele foi para primeiro-ministro chamado pelos militares do 28 de Maio e teve sempre o poder dos militares pelas costas. Nestas condições é muito mais fácil governar um país católico, embora Salazar tenha tido o mérito de saber como o fazer - um mérito que, por exemplo, o Marquês Pombal, com poderes semelhantes, não teve de modo sequer comparável (porque o Marquês de Pombal era um retinto homem do povo). Na realidade, Salazar foi chamado ao poder para tirar o país da ruína ou da desgovernação em que a democracia mais uma vez, desde 1820, o tinha deixado.

as primeiras vítimas

Os jornais de "grande circulação" vão ser as primeiras vítimas da austeridade que aí vem. Continuam agarrados ao passado, como se pode ver pela preocupação do Público com as agências de rating.

25 junho 2011

jornalismo partidário

PM of indebted Portugal flies economy to set example.

Passos não poupou dinheiro porque o Governo não paga bilhetes na TAP.

Enquanto a imprensa internacional valorizou o comportamento de PPC, a "imprensa" nacional apressou-se a desvalorizá-lo.
Claro que PPC poupou dinheiro à TAP, mesmo que o Estado não pague directamente os bilhetes e claro que PPC deu um bom exemplo. Os "jornalista", pelo contrário, deram um mau exemplo.

propriedade privada

Os inimigos da propriedade privada são inimigos de toda e qualquer forma de civilização, sendo também, obviamente, inimigos da Igreja Católica.

demagogia

No livro que citei no último post, pergunta-se a certa altura:

- Quantos pobres são necessários para fazer um rico?

Implicitamente, a pergunta afirma que a pobreza de muitos é o resultado da ambição e riqueza de alguns. Trata-se de uma visão Marxista da criação de valor como resultado da exploração do homem pelo homem. Uma teoria completamente ultrapassada tanto em termos teóricos como prácticos. Basta pensar um pouco para perceber que é nos países onde há mais ricos que há menos pobres, pobres em termos absolutos.

pouco Católico

Cada um, na sua individualidade e liberdade de crente, tem obrigação diante de si próprio e diante de Deus - na forma como O concebe - de ser fiel às suas formas de celebrar a sua fé e de celebrar a vida.
Frei Fernando Ventura

PS: Salvo melhor opinião, esta perspectiva é mais protestante do que católica.

24 junho 2011

a laranja mecânica

Um Presidente da Comissão Europeia
Um Presidente da República
Uma maioria da AD
Um governo da AD

interessante

Barroso expressou por seu lado “confiança e apoio” a Portugal, num dos “momentos mais difíceis da história contemporânea”.
“Sei que o governo tudo fará para cumprir o programa de reformas” e para construir um futuro mais próspero e mais justo para os portugueses”, frisou. A visita da troika a Portugal esta semana resultou numa “avaliação positiva” e “espero que se mantenha esse espírito e essa cooperação nas tarefas adiante”, afirmou. Barroso expressou ainda a “vontade de trabalhar muito directamente durante os próximos meses” com Portugal, porque “há questões em que efectivamente essa cooperação próxima pode fazer a diferença”.
O presidente da Comissão sugeriu mesmo a possibilidade de destacar para Portugal alguns dos seus peritos para prestar “assistência técnica” ao Governo na execução do programa de ajustamento. “Se o Governo português também quiser algum apoio de assistência técnica em termos de destacamento de alguns dos nossos peritos, com certeza que podemos encarar essa hipótese”, afirmou, acrescentando: “Posso dizer até que já estamos a discutir em concreto algumas dessas possibilidades”.

Espanha perde autonomia

As recomendações para a Espanha incluem a introdução de um tecto de despesas em todos os níveis de governo e o cumprimento dos objectivos de consolidação orçamental que o país estabeleceu para este ano e para o próximo.

Solicita ainda à Espanha que assegure os compromissos de reduzir o défice em 2011 e 2012, tomando "medidas adicionais" se não se atingirem as metas de crescimento económico definidas pelo governo.

Além disso, adverte que os governos de algumas regiões ultrapassaram as metas de despesas definidas e convida Espanha para por em prática a reforma das pensões e fazer actualizações regulares para a idade de aposentação e cálculo de prestações em linha com as mudanças na esperança de vida.

23 junho 2011

um título muito engraçado

O presidente da ANF lamenta-se que as farmácias estão a ficar nas mãos dos credores. Uma situação bem conhecida da ANF que durantes décadas tem sido credora do Ministério da Saúde.

o sono da razão

O sono da razão produz monstros.
Goya

a importância da liberdade de escolha

Direcção-Geral da Saúde refere que menos um milhão de utentes foi à consulta em 2009.

Os centros de saúde fizeram menos 3,8 milhões de consultas em apenas um ano, dos quais quase 1,4 milhões foram primeiras consultas, de acordo com o relatório Centros de Saúde e Unidades Hospitalares do SNS de 2009, da Direcção-Geral da Saúde, a que o DN teve acesso.
Apesar de o decréscimo da produção não ter de significar problemas de acesso, a quebra nas primeiras consultas do ano significa "que houve menos um milhão de pessoas a ir aos centros de saúde em 2009 do que no ano anterior".


A minha explicação para este fenómeno é muito simples, os portugueses receiam faltar ao trabalho com medo de serem despedidos. É o que me dizem os doentes.
Trata-se de uma situação deplorável e até vergonhosa. Como a maior parte dos Centros de Saúde só funciona no horário laboral e os doentes não podem escolher outro local de atendimento, ficam sem alternativa.
É o socialismo no seu esplendor.

22 junho 2011

Portugal não é a Grécia I

Uma auditoria da Inspecção-Geral das Finanças às despesas da Justiça detectou pagamentos em excesso de subsídio de compensação a magistrados jubilados já falecidos.

eliminar o salário mínimo

Para combater o desemprego o governo deve eliminar o salário mínimo. Um Secretário de Estado do Emprego com boa formação académica não terá, certamente, qualquer dúvida sobre a eficácia desta medida.

impossível (II)

Tal como o Joaquim aqui defende, a mim também me parece impossível que, da despesa do Estado com medicamentos, 40% seja atribuível a eventuais prescrições fraudulentas. De resto, creio que terá havido alguma ligeireza na forma como se extrapolaram os resultados do estudo da Inspecção Geral das Finanças que faz referência a "um valor de comparticipação do SNS de três milhões de euros, [dos quais] cerca de 1,2 milhões de euros (40% daquele valor) foi identificado como potencialmente irregular". Ora, como o próprio artigo do DE também refere, em 2010, a despesa do Estado com medicamentos foi de 1.600 milhões de euros. Ou seja, a base amostral, cuja significância estatística não é apresentada pelo DE, não chega a 0,2% do total facturado. É pouco, para tamanha conclusão.

Bão Espetar-se

Quando as organizações não têm uma visão para o futuro, caem inevitavelmente no conflito de personalidades. É o que está a acontecer com o BE. "Bão Espetar-se".
Eu sugiro que se deixem de merdas e que procurem, antes de mais, uma visão para proporem aos portugueses. Comecem por criar um grupo de reflexão, convidem independentes para debates e quando souberem o que querem, então será altura de escolher os líderes que melhor interpretem a mensagem.
O BE, na minha opinião, nunca deu um único contributo válido à sociedade portuguesa e, por este andar, vai finar-se sem o fazer.
É a "bida".

impossível


Num ano negro para a despesa do Estado com remédios, 40% é atribuída à fraude.
Se compararmos a despesa com medicamentos em Portugal com a média da OCDE, verificamos que não há margem para 40% de fraude. O DE não deve publicar tudo o que lhes põem à frente do nariz.

21 junho 2011

uma das primeiras

Esta é uma das primeiras medidas administrativas de controlo da economia e das finanças do país. É uma medida absolutamente necessária: os bancos excedem-se na oferta concorrencial de taxas de juro para captar depósitos, põem em risco a sua solidez financeira e, se ficarem aflitos, recorrem ao bailout do Estado, com o dinheiro dos contribuintes.

Outras medidas de controlo administrativo da economia e das finanças serão absolutamente necessárias em breve (v.g., barreiras às importações de certos bens e serviços e controlos dos movimentos de capitais). Não agrada ao liberais. Pois não.

Mas os portugueses já deram provas de não saberem viver numa economia liberal nem num regime político de democracia-liberal. Arruinaram o país. O regime económico adequado para eles não é o liberalismo mas o mercantilismo, uma economia gerida a partir de cima pelo Estado. Pensar de outro modo, são fantasias a que, por sinal, os portugueses são muito dados.

a aldeia já lá não está

Não compreende, minha senhora? A aldeia já lá não está!
Thomas Sowell

o desgoverno não acaba com a saída do Euro

Há uns meses recebi uma proposta de crédito do Unibanco. Pretendiam oferecer-me um crédito de 20.000,00 € a pagar em 5 ou 6 anos.
Se eu tivesse aceite esta proposta de empréstimo e, decorridos uns meses, verificasse que não tinha meios de pagamento, a culpa do sucedido era minha ou do Unibanco?

Se aplicarmos estes pressupostos do Filipe Faria chegamos à conclusão de que a culpa do “default” teria sido do Multibanco. Obviamente, eu não estou de acordo com esta conclusão.

No caso da adesão de Portugal ao Euro, as consequências desastrosas do crédito barato poderiam ter sido evitadas através de uma política fiscal correcta e de uma boa supervisão do Banco de Portugal.

???

Como é que a saída do Euro vai resolver o problema da má governação? Nas duas intervenções anteriores do FMI não estávamos no Euro.

20 junho 2011

de PIG a PEG

"Admito que seja preciso um empréstimo de 30% do PIB. A nossa saída do euro deve levar a uma depreciação cambial na ordem dos 30%. Daria entre 50 a 60 mil milhões de euros. Ou usaria o actual empréstimo ou haveria um novo veículo, com prazo mais longo", argumenta João Ferreira do Amaral, para quem "a hora da verdade está iminente" porque "a Grécia servirá de cobaia para o que se seguirá"
Ferreira do Amaral considera que "Deixamos apodrecer esta situação e já nos estão a impor juros de 12%. Infelizmente, como o plano que [a troika] nos impõe não irá dar resultado ao nível de crescimento, significa que mal acabe esse financiamento vamos deparar com taxas de juros dessa magnitude".
O custo dessa eventual saída do euro "será brutal" mas "penso que ainda estamos a tempo de negociar uma saída com apoio comunitário", defendeu o economista.


Cheguei a este artigo através deste post do Ricardo. Em resumo, penso que a proposta do FA consiste numa reestruturação da dívida, na ordem dos 30% e na saída do Euro.
Fico com a seguinte dúvida: se nos perdoarem 30% da dívida para que é que precisamos de sair do Euro? Para voltarmos ao "crawling peg"?

uma opinião que se está a generalizar

The greatest gift to the Greeks might be to let them go it alone.

be happy

19 junho 2011

o futuro

O futuro de Portugal (e da Grécia, Itália, Espanha e, provavelmente, da Irlanda) depende agora daquilo que seria um plano a cinco anos com três grandes objectivos acompanhados de três timings precisos.

1. Saída do Euro daqui por dois anos e meio (a 1 de Janeiro de 2014 seria rentroduzida uma moeda nacional em Portugal).

2. Saída imediata do Mercado Único, permitindo a Portugal (e aos outros países nas mesmas condições) reintroduzir imediatamente barreiras às importações de bens e serviços onde possui capacidade produtiva (agricultura, pescas, texteis, vestuário, calçado, e uma multiplicidade de outras indústrias tansformadoras).

3. Renegociação da dívida externa, com a ajuda da UE e do FMI, ao longo dos próximos cinco anos.

Algumas observações acerca das medidas e dos timings.

a) Na origem dos problemas financeiros de Portugal está o défice crónico das contas externas, cerca de 10% do PIB. Todos os anos saem para o estrangeiro, para pagar este défice, meios de pagamento correspondentes a 10% do PIB. Durante este tempo foi possível pedir este dinheiro emprestado ao estrangeiro. Agora, o estrangeiro não só não empresta mais como temos os credores externos à perna. Enquanto não fôr estancado o défice externo não há solução ao problema financeiro português. Daí a necessidade imediata de barreiras às importações e o abandono da ideia do Mercado Unico com a sua liberdade de circulação de mercadorias, pessoas, serviços e até capitais.

b) O abandono do Euro será a medida decisiva para pôr cobro ao défice das contas externas. A nova moeda nacional, reflectindo a produtividade nacional, irá depreciar, diminuindo as importações e estimulando as exportações.

c) Porém, não é possível abandonar o Euro de imediato sem graves perturbações para Portugal ou a Grécia, e mesmo para os países credores, como a Alemanha ou a França. Um prazo de dois anos e meio até lá parece suficiente para que tudo possa ser preparado com tempo, minimizando as perturbações sobre o sistema bancário e os mercados financeiros.

d) Nem nós nem os gregos vamos ser capazes de pagara dívida externa que temos. Um plano de cinco anos para renegociação da dívida levaria, por um lado, a UE e o FMI a darem-nos dinheiro para pagar uma parte (coisa que já estão a fazer), ao passo que a outra parte teria os seus prazos estendidos e seria, assim, suavizada, ao longo dos anos.

e) Aquilo que o novo governo de Portugal se propõe fazer é continuar a lutar dentro do actual quadro político-institucional para salvar Portugal da situação em que se encontra, como se isso fosse possível. Mas não é, como a Grécia está aí para mostrar. Tendo recebido mais de 100 mil milhões de euros em Maio do ano passado, não conseguiu progresso praticamente nenhum, e precisa agora de mais dinheiro, na realidade, outro tanto (cf. aqui). O dinheiro vem acompanhado de medidas de austeridade ainda mais duras e que incluem o despedimento de 150 mil funcionários públicos (cerca de 20% do total - a Grécia possui, como Portugal, cerca de 750 mil funcionários públicos). Isto é uma barbaridade absolutamente intolerável. A troika está claramente a abusar na Grécia. O povo grego começa a ter razão nos seus protestos.

f) A UE e os EUA têm interesse em ajudar Portugal e a Grécia nesta transição. Ainda esta semana, a tranche do empréstimo do FMI à Grécia estava retida porque os gregos não tinham cumprido as metas a que se haviam comprometido, e a UE não se entendia sobre o novo pacote de ajuda. Até que, na Quarta-feira, as Bolsas cairam com estrondo por causa da situação na Grécia, incluindo a Bolsa de Nova Iorque. Na Quinta de manhã, quase que por milagre, surgia a notícia de que, afinal, o FMI ia avançar com a tranche à Grécia (Nota: a sede do FMI fica em Washington mesmo ali perto da Casa Branca e quem manda nele são os americanos. Com os sinais de pânico na Bolsa de Nova Iorque por causa dos gregos, o Presidente Obama , ou alguém a seu mando, lá terá feito um telefonema para o FMI: "Dêem lá o dinheiro a esses tipos para ver se eles se calam". E assim foi feito. E as Bolsas voltaram a subir).


mauzão

Eu não partilho muito a opinião do Joaquim de que este é um Governo de liberais. Na realidade, um liberal não deseja ser ministro, A menos que seja para destruír o Ministério.

Aquilo que me parece ter acontecido é que, para as pastas mais críticas, aquelas onde as medidas de austeridade se farão sentir com mais intensidade (Finanças, Economia, Saúde e Educação), os políticos de carreira se puseram ao fresco, e foram convidar independentes que, voluntariosos talvez, mas também não sem alguma ingenuidade, aceitaram os lugares, certamente convencidos de que vão vingar.

Mas não vão. Os problemas de Portugal (financeiros e outros) não têm solução dentro do actual quadro político-institucional. os ministros independentes vão ser a cara da austeridade (da mesma forma que o ministro grego das Finanças o foi e que, por isso, já foi afastado). Enquanto isso, um político de carreira, como Paulo Portas, nos Negócios Estrangeiros, anda lá por fora a tratar dos problemas externos de Portugal, e não tem nada que ver com isso.

O facto de terem livros escritos, ou escreverem activamente na imprensa, não melhora a popularidade dos ministros independentes. Bem, pelo contrário. Assim, no Público, o principal destaque que era atribuído a Vítor Gaspar era ser admirador de Milton Friedman, o que, em Portugal é, na realidade, um ónus. A Álvaro Santos Pereira é atribuída a defesa do argumento de baixar em 15 pontos a taxa social única. Nuno Crato vai ter de tirar o eduquês das escolas, se o tempo que lhe sobrar a defender-se dos doze sindicatos dos professores lhe permitir. E Paulo Macedo parece-me o típico mauzão português (um durão quando tem o poder pelas costas, um santinho sem ele), que agora vai pagar as favas, todas por atacado, porque ser Ministro da Saúde envolve muito menos poder efectivo do que ser Director Geral dos Impostos. (Aqui a história, contada em estrangeiro, de quando este anjinho foi a chorar para casa, queixar-se à mulher e aos filhos, por causa de um e-mail de um contribuinte indignado)

contra-intuitivo

A Alemanha deve sair do Euro.

18 junho 2011

fritos

Nos países de tradição católica (e ortodoxa) aquilo que se discute publicamente nunca é realizado, e aquilo que é realizado nunca é discutido publicamente. Discute-se agora, depois da nomeação do novo Governo, a implementação das medidas acordadas com a troika.

Não vão ser cumpridas, independentemente da competência técnica e política e do voluntarismo dos novos ministros. Os ministros vão ser fritos, especialmente os que possuem um perfil técnico e razoavelmente independente dos partidos (Finanças, Educação, Saúde, Economia) e o Governo não dura, incólume (isto é, sem pelo menos uma demissão, ou remodelação), até ao final do ano.

A questão verdadeiramente importante, estratégica, para Portugal (e também para a Grécia, a Espanha, a Itália e, provavelmente, a Irlanda) é como saír do Euro e, por implicação do Mercado Único Europeu, voltando a uma moeda nacional e a uma economia protegida. É indispensável a ajuda dos principais países da UE (Alemanha, França) e também dos EUA, que têm muito interesse em que os países periféricos não operem esta mudança de forma brusca e radical.

Em suma, a questão importante para o futuro de Portugal é: Como saír da União Europeia? (Mas não diga nada a ninguém).

todos os momentos são bons




Todos os momentos são bons para privatizações. Medina Carreira está errado quando afirma que "este não é o momento para fazer privatizações, porque o Estado vai perder dinheiro".

Santos da casa

Há quem pense que o voto deveria ser obrigatório e há quem pense que, pelo menos, deveria ser obrigatório para todos os que solicitassem quaisquer benefícios fiscais ou sociais. Quem não tivesse votado não teria acesso a estes benefícios. Nicolau Santos subscreve esta ideia a “Cem por Cento” e até aplaude. Ahahahah!
Não ocorre a estas mentes brilhantes que se assim fosse o Estado ficaria refém das “sanguessugas”, perdoem-me a expressão.
Eu tenho uma sugestão muito diferente: quem solicitar ou receber qualquer benefício fiscal ou social deve ficar impedido de participar no ato eleitoral enquanto esse benefício durar.
Assim teríamos uma cidadania mais livre e menos políticos a “comprar eleições”.
Ele há cada um...

precisamos de uma visão clara

O governo de PPC é, sem dúvida, o mais liberal dos últimos 37 anos. E não poderia ser de outro modo porque está comprometido com um programa, o memorando da Troika, que é essencialmente liberal.
Todos os membros do novo governo, sem excepção, têm o perfil adequado para os cargos que vão desempenhar e, nesse sentido, formam uma equipa de excelência.
O único obstáculo que antevejo é que parecem faltar, por enquanto, objectivos de longo prazo que permitam nortear a acção governativa. É necessário definir o futuro papel do Estado na sociedade, a dimensão do “Estado Social”, o espaço para as organizações privadas de solidariedade social, etc.
Sem esta visão, o virtuosismo tecnocrático torna-se impotente e a governação pode tornar-se impossível. Vamos ver!
O tiro de partida está dado.

um governo liberal

debtocracy




A crise vista pela esquerda grega.

17 junho 2011

in

out

para a tomada de posse...

"Juro, por minha honra,cumprir com lealdade o programa da Troika".

16 junho 2011

um primeiro-ministro reaccionário

Pelos mesmos motivos que Obama também não passa de um reacça. Pararam no tempo.

ser reaccionário é viver do passado e comprometer o futuro

O Futuro

Aos Domingos, iremos ao jardim.
Entediados, em grupos familiares,
Aos pares,
Dando-nos ares
De pessoas invulgares,
Aos Domingos iremos ao jardim.
Diremos nos encontros casuais
Com outros clãs iguais,
Banalidades rituais
Fundamentais.
Autómatos afins,
Misto de serafins
Sociais
E de standardizados mandarins,
Teremos preconceitos e pruridos,
Produtos recebidos na herança
De certos caracteres adquiridos.
Falaremos do tempo,
Do que foi, do que já houve...
E sendo já então
Por tradição
E formação
Antiburgueses
- Solidamente antiburgueses-,
Inquietos falaremos
Da tormenta que passa
E seus desvarios.

Seremos aos domingos, no jardim,
Reaccionários

Reinaldo Ferreira

um presidente reaccionário

Obama, um presidente reaccionário.

15 junho 2011

chamem os coronéis

Primeiro-ministro grego apela à formação de governo de salvação nacional.

agora é oficial

Os indignados vão ter de começar a levar cobertores para os acampamentos, por causa do arrefecimento global.

candidata republicana

When I go on vacation and I lay on the beach, I bring von Mises.
Michele Bachmann

Parc de la Ciutadella



Ver entrevista com portuguesa indignada, logo no 1ª minuto.
Seria útil que o governo avisasse os portugueses para que não se envolvam em manifestações políticas no estrangeiro.

14 junho 2011

um tsunami com data marcada


Portugal deverá deixar a zona euro nos próximos 5 anos

deitadas no Rossio

"As pessoas que têm estado connosco, mas que não têm penetrado, que se deitem connosco".
Ver vídeo aos 30 seg. 

it's friday night

13 junho 2011

mentes inquietas

45.000 portugueses concorreram a 15 vagas para a Casa dos Segredos.

Dá que pensar, mais do que o número de candidatos ao Mestrado Integrado em Medicina da Universidade de Aveiro. Isto, num País que tem excesso de médicos.

the comedy of the year

Link do ccz. Obrigado.

Zapatero é o cancro da Espanha

Se Zapatero não abandonar rapidamente o poder, muito gente vai pensar em liquidá-lo. 

democracia verdadeira já

Notícias que nunca iremos ler:
Movimento Democracia Verdadeira Já organiza maratona pela "justiça social" e pela "democracia verdadeira".
Movimento Democracia Verdadeira Já organiza desafio amigável de futebol pela "justiça social" e pela "democracia verdadeira".
Notícias que iremos ler:
Deitados pela "justiça social" e pela "democracia verdadeira".
Sentados pela "justiça social" e pela "democracia verdadeira".
Acampados pela "justiça social" e pela "democracia verdadeira".
Despidos pela "justiça social" e pela "democracia verdadeira".

na horizontal

É de uma evidência cristalina que as pessoas que se deitaram para pedir mais "justiça social" e mais "democracia verdadeira" se marimbam completamente para a justiça e para a democracia.

até os cubanos

"Los gastos en la esfera social deben estar en consonancia con las posibilidades reales, y ello impone suprimir aquellos de que es posible prescindir, pueden tratarse de actividades beneficiosas y hasta loables, pero simplemente no están al alcance de la economía".
Raul Castro

o papel do BE

Com a queda do BE, quem é que vai agora conter a juventude mais impulsiva?
MRS, ontem na TVI

Google de hoje

12 junho 2011

o sobrolho

Os portugueses não se podem queixar da má imagem que deles passa para o estrangeiro porque são eles próprios que a criam. Geralmente pouco dados ao estudo, com pouco respeito pela verdade e uma grande propensão para a fantasia, gostando de fazer parecer mal o seu país e os seus, frequentemente agarrados a ideologias que lhes são culturalmente estranhas, fazendo uma separação radical entre o mundo das ideias e o mundo da realidade, cada vez que um português abre a boca para emitir uma opinião sobre o seu país, não será caso para puxar da pistola, mas é certamente altura para franzir o sobrolho. Que fantasia é que vai saír dali?

Barry Hatton, talvez por viver há muitos anos em Portugal, está suficientemente aportuguesado para repetir os mitos e os clichés do povo, mesmo quando eles são formulados por intelectuais que tinham o dever de se guiar por outros padrões. E o maior cliché do seu livro Os Portugueses é o de que o período do Estado Novo foi um período de atraso e pobreza. É claro que ele não está sozinho. Ainda anteontem no Público, o Vasco Pulido Valente, que é historiador, repetia o mesmo cliché pela n-ésima vez, na realidade, ele repete-o quase todas as semanas, quer referindo-se ao Portugal actual quer ao período do Estado Novo. Não surpreende que um jornalista inglês o repita também.

Hatton apresenta o Portugal de Salazar como um país atrasado e pobre, ao mesmo tempo que escreve que o crescimento económico chegou a atingir 11% ao ano na década de 60 (na realidade, o crescimento de 11% foi em 1973, enquanto o crescimento da década de 60 foram uns admiráveis 6 a 7% ao ano). O Estado Novo, ao contrário do que se diz dele, foi uma extraordinária máquina de crescimento económico e de progresso social. O ponto de partida, herdado da I República, é que era muito baixo. A I República, que não o Estado Novo, é que foi um período de empobrecimento atroz. E para que, na comparação com a Inglaterra, Portugal alguma vez saia bem, no período do Estado Novo Portugal cresceu a uma taxa média anual que foi mais do dobro da inglesa.

Tomando uma analogia do ciclismo. Em 1926, Portugal estava muito atrás do pelotão de países da Europa Ocidental, mesmo junto ao carro-vassoura. Entre 1926 e 1974 pedalou vigorosamente para se aproximar do pelotão (foi o país que mais cresceu na Europa Ocidental entre 1926 e 1974), a tal ponto que em 1974, embora ainda na cauda da Europa Ocidental, já estava junto ao pelotão da frente. Tivesse o regime continuado, com o seu crescimento económico impressionante, e Portugal seria hoje muito provavelmente o camisola amarela, em lugar de estar outra vez a aproximar-se, mas do carro-vassoura.

Entre os cientistas sociais, o Indice de Desenvolvimento Humano (IHD), publicado anualmente pela ONU, é o indicador consensual para as comparações internacionais do desenvolvimento. Neste quadro, está a comparação do IDH para os diferentes países do mundo entre 1975 e 2005, ordenados pelo ranking de 2005, em que Portugal era 29º.

É possível, a partir do quadro, inferir a posição de Portugal no ranking de 1975, o primeiro ano para o qual o IDH foi calculado. Dispensando-me de apresentar os detalhes desta inferência, Portugal era então o 24º país mais desenvolvido do mundo. Para todos os países, o Índice é calculado com base nos indicadores económicos e sociais dos dois anos anteriores. No caso do Índice de 1975, ele foi calculado com base nos indicadores económicos e sociais de 1973 e 1974, coincidentes com o fim do Estado Novo. Deixar o país como o 24º país mais desenvolvido do mundo, num universo de perto de duzentos países, é deixar o país atrasado? Não, não é. Só é na mente do Vasco Pulido Valente e de outros políticos e intelectuais portugueses - e, como se estes não bastassem, também agora na mente de um jornalista e autor inglês -, os quais, provavelmente, utilizam indicadores de desenvolvimento que só eles conhecem e que não revelam a ninguém, permanecendo segredos muito bem guardados.

Em 1975 Portugal era o 24º país mais desenvolvido do mundo. Em 2005 tinha caído para 29º, regredindo, mas ainda assim continuando a ser um dos países mais desenvolvidos do mundo. E em 2010, a última vez que o IHD foi publicado? Continuava a ser um dos países mais desenvolvidos do mundo, porque o Índice não varia radicalmente de um ano para o outro. O problema é que já vai em 40º (cf. aqui). Portanto, a verdade é esta: o Estado Novo deixou Portugal como um dos países mais desenvolvidos do Mundo (24º). A democracia é que o tem atrasado e agora ele é apenas 40º. A este ritmo, qualquer dia será considerado com propriedade um país atrasado. Está em queda livre.

O Jornal das Moças



É sobretudo quando se refere ao período do Estado Novo e de Salazar, especialmente o capítulo 6, que as pretensões académicas, se é que ele as tinha, do livro Os Portugueses, de Barry Hatton, caem por terra.

Em lugar de uma investigação séria e imparcial sobre o regime, o autor descreve o período do Estado Novo através de um número inusitado de pequenas histórias, provavelmente contadas à mesa do restaurante por amigos portugueses - como a da licença de isqueiro e a das Três Marias -, não se dando conta que, para além dos traços culturais que lhes identificou, os portugueses do povo possuem outros, como a tendência para falar por histórias, a incapacidade de pensamento abstracto, uma enorme falta de julgamento, e uma grande propensão para a fantasia.

O período do Estado Novo é apresentado como um período atrasado e pobre (cf. próximo post). Mas, na minha opinião, o tema mais saliente deste capítulo, é a situação em que ele coloca a mulher portuguesa durante o período do Estado Novo a tal ponto que, embalalado na leitura e até ser despertado para a realidade, por um momento eu cheguei a ter vergonha da minha própria mãe. Ainda antes de me recompôr, eu não recomendaria a mim próprio, nem ao autor, casar com uma mulher portuguesa nascida durante o período do Estado Novo, ou filha de uma mulher portuguesa nascida durante esse período, mas provavelmente o conselho já chegaria atrasado.

O parágrafo seguinte resume bem o pensamento do autor sobre o assunto, releva as suas fontes, e nem esquece a comparação com a Inglaterra de onde Portugal, para não variar, se sai obviamente mal. Diz ele:

"As revistas femininas da altura oferecem alguns coloridos exemplos do machismo prevalecente. A revista Querida, em 1955, pisava a tecla do governo: «O lugar da mulher é em casa; trabalhar fora torna as mulheres masculinas». Dois anos mais tarde, O Jornal das Moças listava algumas recomendações para as suas leitoras: «Não aborreçam os vossos maridos com ciúmes e dúvidas»; «Uma casa de banho suja convida os vossos maridos a ir tomar banho a outro sítio»; «Terem sempre bom aspecto para o vosso marido é essencial». E, em 1962 - o ano em que a Grã-Bretanha teve a sua primeira mulher juíza e a sua primeira mulher embaixadora - os conselhos de Cláudia eram os seguintes: «Se uma mulher suspeitar que o seu marido é infiel, deverá redobrar os seus esforços para ser terna e carinhosa» ..." (pp. 157-8)

Tomemos o caso do Jornal das Moças. Eu não sabia que tinha existido em Portugal um Jornal das Moças, sinal de que as moças afinal não estavam assim tão amordaçadas como o autor pretende fazer querer. Eu não sabia sequer que o Jornal das Moças tinha emitido essa opinião sobre casas de banho sujas em relação com os maridos. Aquilo que eu estou certo é que no Jornal das Moças, ou em qualquer outro jornal, nem que fosse clandestino, se se procurar convenientemente, ou se se tivesse a possibilidade de inquirir mulheres da época, alguma iria emitir sobre o mesmo assunto uma opinião radicalmente oposta. E que, procurando com persistência, no Jornal das Moças ou em outros jornais, ou, existindo a possibilidade, inquirindo mulheres da altura, se iriam encontrar ainda, sobre o mesmo assunto, todas as opiniões possíveis, nas suas diferentes gradações, entre essas duas opiniões extremas. Porque isso é que é Portugal, o país onde os consensos são impossíveis, o país onde, sobre qualquer assunto, existem todas as opiniões possíveis e imaginárias, de um extremo ao outro do espectro.

Tomar aquela opinião do Jornal das Moças como sendo representativa do que pensavam as mulheres portuguesas da altura sobre a relação entre casas de banho sujas e maridos é uma barbaridade que não tem relação com a realidade.

a crise da social-democracia

Esto puede ser consecuencia de la dificultad de los Gobiernos de izquierda para diferenciar su respuesta a la crisis de las recetas conservadoras. El intento de Gordon Brown de aplicar estímulos keynesianos, imitado aquí por Zapatero con su plan de obras municipales, no solo no produjo resultados apreciables sobre el empleo sino que tuvo a posteriori efectos electorales favorables a la derecha (que enarbolaba la bandera de la austeridad). A su vez, esa dificultad de diferenciación ha provocado un desdibujamiento de la identidad de izquierda, con efectos en una mayor abstención electoral (ejemplo: España), y un reforzamiento del tópico de que la derecha gestiona mejor la salida de la crisis (y la izquierda, la redistribución posterior).

En todo caso, la experiencia de los últimos 20 años demuestra que los partidos socialdemócratas que adaptaron sus políticas a las nuevas realidades (en materias como la fiscalidad, las reformas de los mercados, incluyendo el laboral, y la racionalización del Estado de bienestar) tuvieron mejores resultados, sociales y electorales que los que no lo hicieron.


El País

11 junho 2011

Os Ingleses



Barry Hatton é um jornalista inglês que vive há vinte e cinco anos em Portugal. É casado com uma portuguesa e tem três filhos portugueses. É autor do livro The Portuguese - a Modern History, traduzido em português sob o título Os Portugueses (Clube do Autor, 2011). O livro dirige-se primeiramente aos leitores anglo-saxónicos e pretende ser um retrato do Portugal moderno e um filme, ainda que breve, da sua história.


O livro contém a mesma mensagem central de The First Global Village (A Primeira Aldeia Global), de Martin Page. Aquele país - Portugal -, que aos olhos de um cidadão inglês parece à primeira vista desorganizado, caótico, burocrático, senão mesmo sujo e feio, acaba por se revelar com o tempo, um país simpático, acolhedor, tranquilo e doce, donde não se quer saír.


O autor capta bem alguns dos traços distintivos dos portugueses, esses "anarquistas suaves", como ele lhes chama: a hospitalidade, a generosidade, o gosto pela comida, a tendência para complicar tudo o que é simples, a indisciplina, a pessoalidade, a incapacidade para formar consensos, e o livro acaba por ser, de uma maneira geral, um retrato simpático de Portugal e dos portugueses.


Porém, o livro tem pretensões académicas, como o seu subtítulo claramente indica e, neste aspecto ele merece alguns sérios reparos. Tratarei aqui de um deles, ficando outro para o próximo post. O primeiro refere-se a essa força oculta, que age em nós sem nos apercebermos, e que se chama cultura. Se perguntarmos a um português se ele acha que é indisciplinado, anárquico, burocrático, com tendência para complicar tudo, o mais provável é que ele responda, indignado, que não. Da mesma forma que se perguntarmos a um inglês se ele acha que é isento na análise de uma cultura diferente da sua, o mais provável é que ele responda, convicto, que sim.


Mas não é. De facto, não são apenas os portugueses que possuem traços culturais distintivos, e que os tornam um povo singular. Os ingleses também os têm. E ambos não dão por isso. E o mais marcante dos ingleses é a sua tendência para se considerarem acima de outros povos e culturas, e os criadores da cultura moderna que, na sua opinião, é a melhor de todas, e o padrão pela qual todas as outras têm de ser aferidas. Barry Hatton não consegue fugir a este preconceito, que é permanente em autores britânicos, claramente quando escrevem sobre Portugal. Aquela condescendência, aquele sentimento de superioridade da Inglaterra em relação a Portugal está patente no livro, e é um traço cultural tão irritante, pelo menos, quanto a tendência dos portugueses para complicarem tudo o que é simples.


Depois de ler o livro fica-se com a ideia de que Portugal foi ao longo da sua história uma espécie de protectorado britânico e que, se não fossem os ingleses, o país provavelmente já não existia. O papel de D. Filipa de Lencastre é sublinhado nos Descobrimentos e, provavelmente, se não fosse ela, os Descobrimentos nunca teriam acontecido. Fica-se também com a ideia de que, se não fossem os ingleses, os portugueses ainda hoje estariam sob o domínio das tropas de Napoleão. Porém, é nos detalhes que está o diabo, diz o autor, e é numa pequena passagem relativamente pouco importante do livro que este preconceito da superioridade ou condescendência britânica em relação aos portugueses atinje os auge, ao ponto do exagero.


Depois de comentar que, apesar de Portugal ter um passado colonial de miscigenação com outros povos, não existirem negros nas profissões de maior destaque social no país, nem ministros nem deputados negros, o autor salienta que o único negro apreciado em Portugal é o Eusébio. E escreve assim: "(Eusébio) tornou-se um herói nacional depois da derrota por 2-1 nas semi-finais do Campeonato do Mundo [1966] contra o país anfitrião, a Inglaterra, quando abandonou o campo em lágrimas, destroçado." (p. 85)


Até para tornar o Eusébio famoso os portugueses precisaram da Inglaterra, ainda por cima num jogo em que ele perdeu - o Eusébio, que nessa altura já tinha sido campeão da Europa e recebido A Bola de Ouro em 1965 (tendo ficado em segundo lugar em 1962).

Le Portugais

Georges Braque - quadro de 1911

o amigo da sofia

Arruinei um país, logo existo.

10 junho 2011

PhD

Então Sócrates vais para Paris estudar filosofia... É assim mesmo, aposto que esse interesse pela filosofia deve ter surgido quando se apercebeu que aquelas letrinhas, PhD, que alguns amigalhaços colocam depois do nome, significam Philosophiæ Doctor.
Assim, se estudar filosofia, Sócrates poderá passar a usar:
Eng. José Sócrates PhD

o perigo da agricultura biológica

Bean sprouts are often prime suspects in E.coli outbreaks around the world, and health experts say it is no surprise the hunt for source of the lethal strain that has killed 22 people and made more than 2,200 sick has led to an organic bean farmer.
Some say the case raises questions about the future of organic growing methods.
"Bean sprouts are very frequently the cause of outbreaks on both sides of the Atlantic. They're very difficult to grow hygienically and you have to be so careful not to contaminate them," said Paul Hunter, a professor of public health at Britain's University of East Anglia.
"And organic farms, with all that they entail in terms of not using ordinary chemicals and non-organic fertilizers, carry an extra risk."
Hunter said he personally bought organic fruits and vegetables, but steered clear of organic raw salad foods "for precisely that reason."
The original source of the contamination in Germany is highly likely to be manure, farm slurry or feces of some sort, since the Shiga toxin-producing Escherichia coli or STEC found in this outbreak are known to be able to lurk in cattle guts.

confusionismo

The Tibetan spiritual leader said Marxism has "moral ethics, whereas capitalism is only how to make profits."
However, he credited China's embrace of market economics for breaking communism's grip over the world's most populous country and forcing the ruling Communist Party to "represent all sorts of classes."
Capitalism "brought a lot of positive to China. Millions of people's living standards improved," he said.
The Dalai Lama, 74, giving a series of lectures at the Radio City Music Hall in central Manhattan until Sunday, struck a strikingly optimistic note in general, saying that he believed the world is becoming a kinder, more unified place.

Telegraph

PS: Interessante como o pensamento do Dalai Lama parece primário e até contraditório.

save the planet

Kill a camel.

falar para o galinheiro

"Durão Barroso fez mal em se demitir do governo português para ir para a Comissão Europeia, porque ganhava mais".

Mário Soares

09 junho 2011

citações com piada

Os homens nunca sacrificam as putas.

2 notícias 2

Submarinos: Justiça investiga contas suspeitas na Suíça

Equipas formadas para as negociações

Quando a esquerda submerge os submarinos emergem.

o arcebispo vermelho

He warns that the public is gripped by “fear” over the Government’s reforms to education, the NHS and the benefits system and accuses David Cameron and Nick Clegg of forcing through “radical policies for which no one voted”.
Openly questioning the democratic legitimacy of the Coalition, the Archbishop dismisses the Prime Minister’s “Big Society” as a “painfully stale” slogan, and claims that it is “not enough” for ministers to blame Britain’s economic and social problems on the last Labour government.
The comments come in an article he has written as guest editor of this week’s New Statesman magazine.


PS: As posições de Rowan Williams, para quem não o conhece, correspondem às do BE em Portugal.

08 junho 2011

1976

Perdido no Facebook...
Eu, com 25 anos.
Foto do RAVE

um partido inválido

Portugal não vai poder contar com o PS durante largos anos. Em primeiro lugar porque, na oposição, vai ter de subscrever as políticas da Troika. Em segundo lugar porque não se vê qualquer reflexão, ou debate, sobre os últimos seis anos, nem qualquer estratégia para o futuro.
A intelligentsia socialista continua ferrada numa lógica de protagonismos que se sobrepõe a quaisquer princípios.
A pressa com que pretendem eleger um novo líder, no momento que o País atravessa, revela um défice intelectual maior do que o défice que nos deixaram. É uma táctica reles que serve apenas o principal interesse do ex-líder, que é sair de cena o mais sorrateiramente possível, como se nada tivesse acontecido.
Os líderes políticos são muitas vezes acusados de dizerem exactamente o oposto do que pensam. O “adoro-vos” é isto mesmo, o que o chefe queria dizer é: cozam-se!

TSU em Espanha

But Elena Salgado, Spanish finance minister, challenged one of the main recommendations – that Spain considers lowering social security contributions to reduce labour costs and increase value added tax or energy taxes to compensate.

07 junho 2011

o psi factor

O taxista que me trouxe, esta tarde, da Boavista para Matosinhos era doido varrido. Todo o trajecto protestou contra as corridas de automóveis do Rui Rio, que era um desperdício de recursos, que se gastava dinheiro quando o País estava de tanga, que era tudo corrupção...
Eu fui atalhando que era um espectáculo para a populaça, que as elites se piravam para as quintas do Minho e que tal e coisa...
Mas o homem estava possesso e não desarmava, digo, “desarmaba”...
Pensando bem, até que os testes psicológicos aos taxistas não são uma má ideia. E porque não, também, aos jornalistas, aos bancários, aos médicos, aos líderes partidários... seria muito útil.
A Troika precisava de testes psicológicos por acreditar que somos capazes de cumprir o memorando e a Ana Gomes também, por confundir o PP com o DSK.
Fico apenas com uma dúvida, quem vai fazer testes psicológicos aos psicólogos? Depois de um dia inteiro a ouvir taxistas, vão precisar. Ai isso é que vão!

para quando testes aos políticos?

Todos os taxistas vão mesmo ter de fazer testes psicológicos, até janeiro do próximo ano, depois do Provedor de Justiça ter considerado que a lei que o determina não é inconstitucional, segundo representantes desta profissão.
A decisão do Provedor de Justiça surgiu após a Associação Nacional dos Transportadores Rodoviários em Automóveis Ligeiros (ANTRAL) ter solicitado um parecer com o objetivo de requerer ao Tribunal Constitucional a apreciação da constitucionalidade da lei que obriga todos os motoristas a submeterem-se a testes psicológicos.

colaboracionistas

Quem continuar a dar cobertura, nos meios de comunicação social, a Ana Gomes, deve ser considerado co-responsável moral da campanha de difamação que ela desencadeou contra Paulo Portas.

Lamentável

sem papas na língua

Belmiro de Azevedo criticou duramente o trabalho de José Sócrates, acusando-o de "não ser um primeiro-ministro" mas sim o "chefe de um grupo de empregados".
Questionado sobre o ministério com pior desempenho durante o mandato de José Sócrates, Belmiro de Azevedo foi peremptório: "Todos. Porque só havia um ministro: José Sócrates". "Até o Teixeira dos Santos ultrapassou e ignorou", acusou Belmiro de Azevedo.
Para o empresário "não há exemplo de alguém ter feito tanta coisa tão mal feita em tão pouco tempo. Ele [José Sócrates] vai para o Guinness", afirmou.

06 junho 2011

um desastre

"This investigation has been a disaster," Michael Osterholm, director of the Center for Infectious Disease Research and Policy at the University of Minnesota, told The Associated Press.

"This kind of wishy-washy response is incompetent," he said, slamming German authorities for casting suspicion on cucumbers and sprouts without firm data.

But the European Union's Health Commissioner defended German investigators, saying they were under extreme pressure as the crisis kept unfolding.

"We have to understand that people in certain situations do have a responsibility to inform their citizens as soon as possible of any danger that could exist to them," John Dalli said in Brussels.

German Agriculture Minister Ilse Aigner on Monday reiterated the warning against eating sprouts, as well as tomatoes, cucumbers and lettuce.

o seu a seu dono

Com as eleições de ontem, completou-se um ciclo político que se iniciou em 2004, quando Jorge Sampaio dissolveu a AR. Nestes 7 anos, Portugal delapidou 100.000 M€ e perdeu a independência.
É útil, neste momento, relembrarmos a figura do ex-presidente e o impacto que as suas decisões tiveram no pesadelo que vivemos.

até que enfim

A imprensa internacional veicula boas notícias sobre Portugal:

Portugal election: Socialists admit defeat

quem gosta de miséria é intelectual

O povo odeia a miséria
Sócrates provocou a miséria do País
Logo, o povo odeia Sócrates

O ódio a Sócrates não vem das elites, as elites apenas desprezam o homúnculo. O ódio a Sócrates está no coração da populaça.

05 junho 2011

03 junho 2011

organic-government conservatism

What we believe in is people-driven, choice-filled, dynamic, flexible, equal-opportunity self-government. We should call it organic government. Want to know what your government is going to look like 20 years from now? Ask your children. They will say it will look a lot less like General Motors and a lot more like MySpace. The Internet is an education for us all, a place where people self-organize and govern themselves with maximum freedom. In its reflection, we can see more than the future of technology and communications; we can see the promise of democracy.

Conservatives believe that we govern our society more often, and better, through the private sector than through the public sector. We govern our lives in our churches, communities, bowling leagues, and neighborhoods. We govern our most altruistic impulses through charities. The PTA governs. The Chamber of Commerce governs. Facebook governs. The Invisible Hand governs.

A CHOICE, NOT AN ECHOING VOID
Conservatives need to abandon the old debate in which we ask voters to choose between big government in Washington or nothing. We will not do well in the political marketplace if our sales pitch is “we have zero to sell,” or if, with no product of our own, Republicans remain faux Democrats, selling lower-calorie versions of liberal failure. We need a new dynamic in which we offer a choice between old, lazy, big government in Washington and new, energetic, private-sector self-government in the real world.

Sure, conservatives believe we should have a department of education, bigger and better than ever. But instead of its being a big bureaucracy in Washington, we believe the department of education should be found at the end of every American driveway. Even Marion Barry, the former mayor of Washington, supports school vouchers in D.C., saluting “moms, dads, aunts, uncles, and other guardians in my community” who are “working to make the right choices for their children.” That is our kind of government.

In his victory speech after the North Carolina primary, Barack Obama echoed Bill Clinton by saying, “Government can’t solve all our problems — and we don’t expect it to” (at which point the applause in his Democratic audience noticeably dimmed). He went on to say, “That’s how we’ve always changed this country — not from the top down, but from the bottom up.” O.K., Senator Obama, where do you want the education money? Do you want in the hands of parents, bringing change from the bottom up? Or in the hands of education bureaucrats and trickle-down government in Washington?

That is Barack Obama’s opportunity, as it is ours. If Obama seizes it, wins the election, and transforms Washington — moving government to the thriving, innovative, problem-solving private sector from the decaying, old, industrial public sector — he and his party can snatch the future and govern America for the next 25 years. Conservatives may want to get there first.

Conservatives do have solutions. Our answer is not “no government”; our answer is a government that is more natural. Choice and diversity, if entrusted to people, require — and create — economic freedom. Conservatives need to learn the language of the environmental and civil-rights movements, not only because it is more marketable, but also because it more accurately reflects the organic liberty and self-government we cherish.

Our theme, our brand, our identity? How about this: Republicans are the not the party of a decaying, old, static, industrial-age, top-down government in Washington. We are the communications-age party of genuinely democratic, dynamic government — of, for, and by real people. We want to get money and power out of Washington and into the hands of the people — not because we want no government, but because we believe people who live in liberty create the best government when they are trusted to govern themselves. Ours is a purpose-driven populism, determined to change Washington, because if we do that, Americans can achieve anything in the world.

Fellow conservatives, let’s learn to say it: We need more government, lots of it, but we need the kind that actually works: Bottom-up self-government by a mature people. And we need that government in our hands — because it is not natural, efficient, or beneficial to leave something so powerful in the hands of anyone else.


Um texto de Alex Castellanos, citado aqui.