30 novembro 2010

Duarte Pio apresenta reflexão estratégica

O Chefe da Casa Real classifica de “situação humilhante” o cenário em que Portugal se encontra actualmente, o que obriga a “reflectir sobre novos modelos de desenvolvimento económico e de vida em sociedade, inspirados na caridade”. É nesse campo que considera “desejável dinamizar as antigas tradições de voluntariado” e sobretudo que se recorra “aos beneficiários de subsídios do Estado, como condição para receberem esses subsídios”. “Receber subsídios sem dar a sua contribuição para a sociedade equivale a receber esmolas, o que não é bom”, aponta.

Outro factor de valorização da sociedade, aponta D. Duarte, é a educação, cujo sistema deve ser todo repensado, do pré-primário ao superior, “adaptando os cursos às necessidades profissionais actuais e futuras”, e criando condições para que as famílias com menos recursos possam escolher os estabelecimentos para os seus filhos frequentarem, sem que isso implique aumento de encargos para o Estado.

“Hoje é no mar e na lusofonia que a nossa atenção deve ser focada como áreas de eleição para realizar um projecto de futuro para o país” e para a CPLP, adianta, na mesma linha que o actual Presidente da República vem defendendo.

D. Duarte deixa também o seu apoio expresso à constituição de uma Confederação de Estados Lusófonos, “cuja adesão não comprometeria as alianças regionais existentes” – e exemplifica com o caso de o Reino Unido pertencer à Commonwealth e isso não prejudicar a sua participação na União Europeia, antes a “valoriza”.

PS: Duarte Pio compara, acertadamente, a situação que atravessamos aos tempos da 1ª República.

Zurueck zum Ursprung

Zurueck zum Ursprung ( de volta às origens)...
No Bundesbank já se estuda a saída do Euro.

multibanco "sem levantamentos"

Para o economista-chefe do Citigroup, não há volta a dar. Portugal está “insolvente” e terá muito provavelmente de se juntar à Irlanda e à Grécia e pedir ajuda externa.
Neste momento, o pedido de ajuda de Portugal à UE/FMI parece apenas dependente de factores políticos. Quando o Sr. Sarkozy quiser e estiver para aí viradoNão devemos esquecer, contudo, que quanto mais tarde pior.

multibanco

Amanhã de manhã, a República Portuguesa regressa aos mercados. Queremos levantar 500 milhões, que prometemos pagar dentro de 12 meses. A acompanhar.

já não há banqueiros

O futuro a curto prazo da banca portuguesa depende do sucesso na redução do défice público, enquanto meio para abrir o acesso aos mercados financeiros externos. Ao mesmo tempo, tal como toda a economia, a banca terá de reduzir a sua dívida, aumentar o capital e contrair a actividade. São as perspectivas gerais do Relatório de Estabilidade Financeira elaborado pelo Banco de Portugal.


PS: Conclusão, a estratégia da banca privada é definida pelo Banco de Portugal.

29 novembro 2010

o meu manifesto presidencial

Esta noite, o actual Presidente da República apresentou o seu manifesto eleitoral, com vista à sua reeleição no cargo. Mais uma vez, a exemplo de quando apresentou a recandidatura, o discurso foi caracterizado por um sem número de auto-elogios. Mas, com franqueza, já não há paciência! Eu já tomei a minha decisão: eu não votarei nas Presidenciais. E não votarei por duas razões.
Em primeiro lugar, porque não me revejo em nenhum destes homens. Alegre representa o socialismo que nos trouxe até aqui. Nobre é outra versão desse mesmo socialismo. Lopes é um anacronismo. Quanto a Cavaco, por mais auto-elogios que se faça, a sua prestação no cargo foi de uma inutilidade atroz, no preciso momento em que o país mais precisava de uma magistratura activa - aquela que o ainda Presidente agora promete - que disciplinasse uma classe política que, em especial nos últimos anos, se abandalhou em prejuízo da democracia e do povo. Acresce, ainda, outro aspecto não menos importante: tal como muitos comentam nos bastidores - mas que ninguém ousa comentar em público - eu sou da opinião de que o Presidente não parece estar bem de saúde. Todos têm o seu tempo e o tempo de Cavaco, porventura, já passou.
Não votarei porque, também, não me sinto representado neste modelo democrático. Seja nas Presidenciais, nas Legislativas, nas Autárquicas ou nas Europeias, esta política e estes políticos, em particular, deixaram-se corromper pelo poder. Iniciam-se, estabelecem-se e reformam-se na Assembleia da República. Não prestam contas. Nada os pára. Esta Democracia não merece ser sufragada. Pelo contrário, merece o nosso repúdio. A nossa absoluta indiferença. A nossa ausência. Merece que lhe voltemos as costas. Ora, é isso mesmo que eu vou fazer.

porra, negoceiem perdões de dívida!

Não é de excluir que o Parlamento irlandês não consiga aprovar o resgate financeiro que negociou este fim de semana com a UE/FMI. A aliança política que, até aqui, permitiu a implementação de programas de austeridade está em ruptura e a opinião pública está revoltada com o plano de resgate.
De facto, há, na ajuda financeira agora negociada, uma claúsula particularmente revoltante. Diz respeito à utilização do Fundo de Pensões Público para acudir aos bancos. Ou seja, em Portugal, seria o equivalente a utilizar o Fundo de Estabilização Financeira da Segurança Social (FEFSS) para tapar os buracos da banca. No nosso caso, o FEFSS vale cerca de 9 mil milhões de euros (mais de 5% do PIB) e, de acordo com as estimativas do Governo, só será necessário recorrer a ele lá para 2035. Até lá, através das contribuições dos portugueses activos e investindo na bolsa de forma conservadora, o fundo, em termos nominais, deverá crescer até aos 30 mil milhões.
Ora, na Irlanda, provavelmente, a situação não seria muito diferente, por isso, ao desbaratar as pensões dos irlandeses no resgate da banca, o Governo irlandês, a UE e o FMI incendiaram a população, que, na ausência de qualquer penalização dos credores directos dos bancos, protestam e protestam com muita razão. De facto, não há razão que justifique a utilização de 17,5 mil milhões de euros do Fundo de Pensões, 20% do total do resgate, quando aqueles que, directamente, deveriam sofrer as consequências de um eventual incumprimento sofrem zero. É um escândalo. É incompreensível. É imoral.

desafiando a História financeira

"The choices are still between default, deliberate devaluation and divorce from the euro", Kit Juckes, head of foreign exchange research at Societe Generale SA in London wrote in a report. "The weekend bailout offers a delay in making these choices rather than providing the answers markets were looking for. The bottom line is that the crisis is far from over.", Bloomberg News
Começa a ser inacreditável a forma como a União Europeia está a desafiar a lógica e, sobretudo, a desafiar a História financeira de séculos e séculos passados, nesta sua ânsia de tentar apagar um fogo com gasolina. Como é que é possível que, os defensores destes resgates financeiros, não se apercebam que este não é o caminho? Não é preciso ser professor catedrático para perceber que não é com mais dívida que se resolve um problema...de dívida a mais. E, enfim, esta lógica de que "não é viável, na prática, considerar outra alternativa que não esta" fará com que, quando a realidade se encontrar com a teoria, os ajustamentos sejam imensamente maiores e muito mais difíceis de encaixar.
Entretanto, os juros exigidos a Portugal parecem prontos para nova corrida aos máximos recentes. E os juros exigidos à Espanha já vão em 5,5%. Falta apenas a Itália, mas, depois do "mau" leilão de esta manhã, os 5% também já estão à porta...

é assim...

O ano de 2011 vai ser o início da mudança radical na realidade do sector da saúde. O corte orçamental superior a 6% sem planeamento, claramente imposto pelas finanças e não por um pensamento estratégico, vai resultar em processos extremamente complexos, conflituosos e que poderão parecer perfeitamente irracionais a nível local. Podem ter alguma racionalidade macro, mas depois as implicações pelo país fora serão difíceis de entender. Não tendo havido um debate alargado entre as várias forças políticas, não havendo um plano para os próximos anos com o que deve ser atingido, em que áreas, sacrificando o quê, concentrando onde, vai ser um processo perfeitamente improvisado num contexto de fragilidade política. Não será a melhor forma de entrarmos na grande mudança do serviço de saúde português. Mas acredito que daqui a quatro anos o sistema será completamente diferente, estará irreconhecível.
Entrevista de PKM ao ionline.

excelente

27 novembro 2010

custa a crer

All of us citizens of Europe have grown up with schoolbooks highlighting the reckless follies of the late 1920s, when a financial system gone mad coupled with miserable state management ushered in the most catastrophic economic collapse in the history of humanity, triggering a chain of events leading to the second World War and the Holocaust.

To many of us, including this commentator, the notion that folly on a near-similar scale would be repeated before our eyes, in our lifetime as responsible adults, in other words on our watch, would have seemed until very recently utterly preposterous.

Via IT

enfermeras de infarto

Projecto de Nuno Gama, para a farda das enfermeiras do Hospital de S.João, promete dar que falar.
O Estado Social também pode ser elegante e, acrescento eu, sexy. Ora tomem lá!

agir JÁ, diz o Presidente

Cavaco Silva ressuscita paixão pela educação.

26 novembro 2010

aéreos

O nosso Instituto de Gestão do Crédito Público anunciou há pouco que, na próxima semana, no dia 1/12, lá iremos novamente ao mercado levantar mais uns 500 milhões de aéreos em Bilhetes do Tesouro. Recorde-se que, da última vez que o fizemos, a 17 de Novembro, pagámos 4,81% por 750 milhões a um ano. Agora, a taxa não será muito diferente.
Entretanto, ontem jantei com uma pessoa amiga, ligada à Saúde, que comentou comigo que o Estado - central e local - não lhe paga desde Março! MARÇO!! Estado caloteiro. Provavelmente, é por isso que o défice primário deixou de crescer!

alternativas

Os mercados estão a ser fortemente penalizados por dois factores: 1) a escalada dos juros da Espanha e 2) a iminência de uma guerra entre as Coreias.
Quanto aos juros espanhóis, no espaço de apenas um mês, passaram de 4% a 10 anos para 5,25%. Escrito assim, pode não parecer muito, mas, graficamente, é um movimento exponencial que quebrou a resistência dos 4,80% e com o limiar dos 5% associado ao EFSF/FMI. O HSBC estima que um resgate espanhol poderá custar qualquer coisa como 350 mil milhões de euros, a fim de assegurar as necessidades de financiamento durante os próximos três anos. Ou seja, considerando que a Espanha precisa de 350 mil milhões, Portugal de 50, a Irlanda de 80 e que Grécia já teve direito a 110....tudo somado, são quase 600 mil milhões de euro - bem acima dos 450 do EFSF. E se além disso considerarmos ainda que quase todos os países de nomeada na zona euro (Alemanha incluída) terão de amortizar/refinanciar cerca de 20% da sua dívida bruta ao longo do próximo ano, facilmente, concluiremos que a ideia de aumentar a dimensão do EFSF, na prática, manter as práticas do passado inalteradas, é uma fuga para a frente que, mais cedo ou mais tarde, irá implodir em grande estilo. A crise do "subprime", ao pé do que se avizinha com esta crise de dívida soberana, será uma gota no oceano...
Portanto, na prática, as opções disponíveis para resolver esta alhada são as seguintes.
Alternativa A: Federalismo europeu, que permitisse iniciar a emissão de Eurobonds que, cubrindo os buracos existentes, posteriormente, fossem diluídos através de uma política monetária de "quantitative easing" equivalente à do FED. Mas, enfim, trata-se de uma hipótese que não está sequer em cima da mesa. As diferenças e divisões históricas não permitem sonhar com o conceito de Estados Unidos da Europa. Além disso, a solução desenhada atrás teria como desvantagens a inflação, a redução do poder de compra da zona euro e um reforçado ímpeto da guerra cambial para a qual muitos têm alertado recentemente.
Alternativa B: Fim do euro, nomeadamente através da (auto?) exclusão dos países mais afectados que, uma vez munidos de instrumentos de política monetária, diluiriam a sua dívida nominal. É que, segundo eu entendo, as emissões de dívida de, por exemplo, Portugal são pagas na moeda da República. Por isso, saindo Portugal do euro, a dívida soberana deixaria de ser paga em euros, passando a ser paga em Bentos (utilizando a designação do Pedro Arroja) e evitando, assim, que uma desvalorização cambial resultasse no aumento real da dívida. Inconveniente: o raciocício anterior talvez não se aplique à dívida emitida pela banca portuguesa...
Alternativa C: Negociação de perdões de dívida para os países mais afectados. Esta é a minha solução preferida e aquela que tenho vindo a sugerir em posts, artigos e intervenções recentes. É aquela que, verdadeiramente, é solidária, ou seja, em que devedores e credores, ambos, sofrem as consequências associadas a anos de desmazelo na contracção e na gestão do risco. E é aquela que não implica a implosão de nenhum país afectado, nem a implosão da própria zona euro. É, também, a única que, em última instância, não conduzirá a fenómenos de inflação excessiva nem a perdas dramáticas no poder real de compra (muito importante em face da demografia europeia, que está envelhecida); pelo contrário, deflacionará a economia europeia, representando a necessária ressaca depois de bebedeira creditícia da última década.
Portanto, venham e escolham. Como disse, eu voto na alternativa C.
Por fim, "last but not least", a Guerra entre as Coreias. Raios, não vem mesmo nada a calhar!

Cuidado (II)

Estou com mau "feeling" acerca disto. Acho que vai dar porrada da grossa.

Juros

7,0...7,1...

luz ao fundo do túnel III

Com a entrada do FMI, o PS não tardará a apear Sócrates

luz ao fundo do túnel II

O Banco Central Europeu e a maioria dos países da Zona Euro está a instar Portugal a recorrer ao fundo de resgate europeu, avança o "Financial Times Deutschland" na edição de hoje. O objectivo é salvar Espanha.

PS: Não é preciso instar muito. O nosso PM está sempre disposto a "baixar as calças" às instâncias internacionais. O socialismo esfumou o que restava da nossa soberania, mas nunca assumirá quaisquer responsabilidades. A culpa é dos mercados, do capitalismo sem rosto, dos especuladores, dos neocons, já sei: a culpa é do Bush.
Como eu disse num post anterior, a crise terminou, no sentido que terminou a incerteza.

comichão de honra

"Cavaco Silva fez um partido de consumidores e abdicou da bipolarização", afirma Júdice ao PÚBLICO, qualificando ainda o Presidente como "um grande político, que não é ideólogo, e que olha para a sociedade civil com uma certa suspeição". Entre 85 e 95, com duas maiorias absolutas, o então primeiro-ministro "aumentou o peso do Estado e apresentou-se como um líder autoritário, não permitindo a libertação da sociedade civil, como Sá Carneiro sempre defendera".

25 novembro 2010

now that I'm a Lord, I can voice my opinion

Estamos a criar um sistema em que as classes médias são desencorajadas de procriar porque sai caríssimo. Mas para os dependentes de benefícios há todos os incentivos. Ora isto não é muito sensato.
Lord Howard Fight, poucos dias depois de lhe soltarem a língua.

ora tomem lá

Aparentemente, os bancos norte-americanos não querem trabalhar com Angola. Escreve hoje o Jornal de Negócios que "um funcionário do Departamento de Estado norte-americano, citado pela revista Foreign Policy, diz que vários bancos, incluindo o Bank of America, consideram que é muito caro e complicado a manutenção de contas que têm de fiscalizar, para terem a certeza de que não estão a ser usadas para lavagem de dinheiro (...) o alerta sobre Angola surgiu após uma tentativa de transferência de 50 milhões de dólares do Banco Central angolano para uma conta privada". E, acrescento eu, é certo e sabido que, nos últimos anos, não terá sido a única!

Dilma da Silva? (II)

Em tempos, aqui escrevi um post elogiando o sistema bancário brasileiro que, ao contrário de quase todos os outros, soube defender-se do "subprime". O mérito foi de toda a equipa do Banco Central brasileiro, onde pontifica o seu governador Henrique Meirelles.
Infelizmente, a nova Presidente do Brasil, Dilma Rousseff, prepara-se agora para substituir uma das personalidades que mais contribuiu para credibilizar o país: o mesmo Henrique Meirelles. Enfim, não conheço que motivos estarão na base dessa decisão, mas, se for um "reshuffling" 100% político, será, porventura, um grande erro de política. Em suma, mais um elemento que eu vou coleccionando e que me fazem crer que a presidência de Dilma, mesmo com o vento pelas costas, será bastante desajeitada.

capitalismo alemão

SAP condenada a pagar US$ 1,3 B à Oracle.

(des)esperança

"Como qualquer regime político, a partidocracia que governa Portugal, e que nos levou ao buracão em que estamos metidos, tem os mais básicos instintos de sobrevivência (...) Mas o regime actual é apenas uma das muitas formas de democracia que podemos ter. E esta forma de partidocracia semi-presidencial feita à medida do PS e do PSD está esgotada. Fracassou (...) Para sobreviver, o regime procura encontrar culpados, um puro bode expiatório que salve a elite governante da década muito dura que Portugal tem pela sua frente (...) A nova versão do regime para explicar o atoleiro português é culpar a senhora Merkel. Acontece que ela é neste momento a única segurança contra o fim do euro que evidentemente teria consequência ainda mais nefastas para uma economia aberta e imensamente endividada como a nossa.", Nuno Garoupa, na edição de hoje do Jornal de Negócios.
Recomendo a leitura deste excelente artigo. Na minha opinião, o retrato que faz da clique política que nos governa é acertadíssimo, de onde resulta que, além de outros protagonistas, a democracia portuguesa terá de encontrar outro enquadramento institucional que a livre dos erros do passado recente. Quanto ao euro, a saída de Portugal da moeda única teria, de facto, um custo de curto prazo muito considerável. Porém, e é este o único ponto no qual discordo do Nuno Garoupa, após a absorção desse impacto imediato, o país teria de novo esperança num futuro melhor, coisa que, nos dias que correm, dificilmente, alguém de bom senso poderá sentir.

imbecis

Ao contrário do que afirma o FMI, as pessoas não recorrem ao crédito por serem pobres. A esses o sistema financeiro não empresta um tostão. As pessoas recorrem ao crédito quando são solventes e pretendem antecipar o consumo, estando dispostas a pagar um preço por isso (uma taxa de juro).
Se esse preço for baixo, em virtude de políticas expansionistas do banco central, então geram-se bolhas que eventualmente vão rebentar.

uma greve anedótica

Ontem, dia da greve geral, alguns líderes políticos fizeram questão de sublinhar que os trabalhadores estavam a exercer um direito fundamental, um direito sagrado.
Na minha opinião, tal não é verdade. A greve de ontem foi essencialmente uma greve política e as greves políticas não só não são um direito universalmente reconhecido como são estritamente proibidas em países muito mais democráticos do que o nosso. No R.U., por exemplo, a greve de ontem teria sido ilegal, os sindicatos teriam sido multados e os seus dirigentes responsabilizados judicialmente.
As greves políticas constituem uma anomalia nos regimes democráticos. São um meio de pressão política extra-democrático que procura favorecer interesses particulares de certos grupos profissionais sobre o interesse geral.
Nesse sentido, o apoio que alguns partidos (PCP e BE) deram à greve de ontem constitui uma verdadeira aberração. Estão a apoiar métodos políticos que subvertem as próprias instituições em que esses mesmos partidos estão representados. É uma anedota que diz muito sobre a confusão mental que afecta a "esquerda".

Ein Volk, ein Reich, ein Führer

"My father, as a Spitfire pilot, fought for freedom against Nazi domination of Europe," Bloom said afterwards. "As an MEP, I will fight against the destruction of democracy across Europe. Schulz is an unrepentant Euro nationalist and a socialist. He wants one currency, one EU state, one EU people. These Euro nationalists are a danger to democracy. These people are fanatics."

24 novembro 2010

outras considerações

A imprensa financeira de hoje traz-nos as últimas notícias referentes ao óbito do Banco Privado Português. Assim, escreve o Diário Económico que "o Estado português corre o risco de não conseguir reaver os 450 milhões de euros" com os quais "seis bancos financiaram o BPP no final de 2008, com garantia estatal" cuja contrapartida foram activos "colaterais então avaliados em 670 milhões"!
A propósito deste assunto, na altura, escrevi aqui que os chamados activos colaterais não podiam estar avaliados naquele montante. É simples: se estivessem, se existisse tamanho património dentro do BPP, para quê pedir um empréstimo? Ora, a prova de que não existia tal riqueza é o facto de, agora, o Estado não conseguir accionar os activos colaterais. Ou melhor, pode accioná-los, mas não consegue vendê-los por um preço que cubra minimamente os 450 milhões que lá foi enterrar. A avaliação foi um embuste. E pior, foi um embuste com a conivência de todos. Este episódio encerra uma lição: demonstra os efeitos nefastos que resultam daquilo a que os portugueses gostam de designar como outras considerações. Enfim...
Uma nota final para Teixeira dos Santos: por mais simpatia que tenha por aqueles que foram enganados pela máquina comercial do banco, o Ministro das Finanças tinha razão quando, numa primeira reacção, considerou que o banco não oferecia risco sistémico e que o Estado não se devia intrometer. Infelizmente, Teixeira dos Santos foi forçado a voltar atrás com a palavra. Com os resultados que estão à vista.

da greve geral

1. dos funcionários públicos contra os privados.
2. dos apparatchicks contra o lumpen.
3. das EP’s contra as E’s.
4. dos vitalícios contra os precários.
5. dos cotas contra os jovens.
6. dos sindicatos contra o País.

hoje não vou acompanhar as notícias, prefiro a Carmen

la racaille

PS aprova excepção aos cortes salariais à medida da Caixa e BdP

23 novembro 2010

para o raio que os parta!

As últimas notícias desta noite informativa mencionam a aprovação, no Parlamento, de um regime de excepção para os trabalhadores da CGD, que, ao contrário dos restantes funcionários do Estado, não terão reduções salariais. Há ainda a notícia de que, na discussão do OE2011, a proposta do CDS, tendo em vista a suspensão das grandes obras públicas, foi reprovada com os votos contra da esquerda (PS incluído) e com...a abstenção do PSD.
Brincamos ou quê?!

Leitura recomendada

problemas estruturais

Também ontem, o Banco de Portugal publicou o seu Boletim Estatístico referente ao mês de Novembro, no qual são visíveis algumas das principais lacunas da economia portuguesa.
A primeira evidência diz respeito à evolução dos preços. Assim, nos últimos doze meses, a taxa de inflação em Portugal, avaliada através do IPC, foi de 0,9% face ao período homólogo. Ora, esta taxa está bem abaixo da média para a zona euro (1,4%) e para a União Europeia (1,9%). Na realidade, apenas a Holanda (não sei porquê) e a Irlanda (fruto da austeridade induzida pela redução da despesa) registam leituras inferiores à nossa. É sinal de que a economia portuguesa não tem capacidade para aumentar os preços, o que, por sua vez, quer dizer uma de três: ou há uma retracção da Procura ou há Oferta em excesso ou há um pouco das duas. Ao mesmo tempo, sucede, no nosso país, outro fenómeno interessante, mas não menos inquietante: a assimetria de inflação entre distintos sectores da economia. Debrucemo-nos, pois, sobre este último ponto.
Recentemente, as intervenções do economista, e Conselheiro de Estado, Vítor Bento, cuja opinião muito estimo, têm incidido em especial sobre os preços praticados no sector dos bens não transaccionáveis (uma expressão horrorosa que, basicamente, se refere aos sectores protegidos da concorrência externa) em comparação com os preços praticados no sector dos bens transaccionáveis (aqueles sujeitos à concorrência internacional). A conclusão de Vítor Bento é essencialmente uma: em Portugal, os preços regulados (não transaccionáveis) estão acima do nível desejado. Ao invés, os preços dos transaccionáveis estão mais próximos do equilíbrio associado à posição competitiva do país. Pois bem, no dito relatório do Banco de Portugal observa-se o seguinte: os sectores onde os preços mais aumentaram nos últimos doze meses são precisamente aqueles onde os preços são sobretudo regulados (Água, Luz, Transportes, Tabaco via impostos, com aumentos de quase 4%) ou que, sendo transaccionáveis, nós pouco exportamos (os produtos energéticos, com um aumento de quase 9%). Já no que diz respeito aos produtos onde nós tradicionalmente nos posicionamos em matéria de exportações, os têxteis e o calçado, não há inflação, pelo contrário, há deflação (redução dos preços).
A segunda evidência estrutural, que os dados do Banco de Portugal permitem extrapolar, refere-se à nossa Balança Corrente. Neste capítulo, a economia nacional é muito débil, em especial no domínio do saldo comercial, sobretudo de bens (é certo que uma parte considerável é petróleo e afins), ou seja, no saldo negativo entre importações e exportações (problema grave do qual a Irlanda, por exemplo, não padece). E, infelizmente, além dos bens, também somos bastante deficitários nos Rendimentos, isto é, dependemos excessivamente do estrangeiro para nos financiarmos. Enfim, a coisa só não é pior porque, a título de Transferências Correntes, continuamos a receber uma generosa ajuda do exterior (UE), mas que representa uma rubrica em declínio, sendo até de esperar que dentro de alguns (poucos) anos se transforme numa responsabilidade líquida da Nação. A única rubrica da nossa Balança Corrente onde, de facto, somos competitivos é nos serviços. Mas tudo somado, no final deste ano o nosso défice de transacções correntes, na melhor das hipóteses, rondará os 7 a 8% do PIB.
Onde é que eu quero chegar? É simples. Se não eliminarmos as situações de (quase) monopólio que empresas públicas, ou privadas com participação pública (por exemplo, a EDP), possuem, sujeitando-as à concorrência externa, e não eliminarmos também o nosso défice comercial, em particular no segmento dos bens, não teremos chance. Por outras palavras, precisamos de 1) redireccionar a concorrência externa para sectores que até aqui têm estado numa boa (*) e 2) proteger os sectores que têm estado sobre maior pressão (como a nossa indústria, a tradicional ou outras onde se possa substituir importações por produção interna) dessa mesma concorrência externa. Agora, como é que isto se faz no enquadramento da zona euro? Não sei! Mas é sobre isto que temos de pensar e actuar.
(*) A propósito, na minha zona de trabalho, tendo a EDP deixado de possuir o monopólio, já há outras empresas, nomeadamente as espanholas, a propor tarifários de electricidade incomparavelmente mais baixos...

execução orçamental (relatório de Novembro)

Foi, ontem, divulgado o último relatório de execução orçamental da Direcção Geral do Orçamento (DGO). O documento diz respeito ao período de Janeiro a Outubro deste ano e mantém os traços essenciais do retrato dos últimos meses: a) as Receitas Fiscais (impostos) a crescer a ritmo superior ao estimado inicialmente (4,6% versus orçamentado de 1,2%) e; b) a Despesa Primária (aquela que verdadeiramente interessa analisar e que exclui pagamentos de juros) a crescer igualmente acima do esperado (2,5% versus orçamentado de 1,9%). Contudo, há um aspecto positivo que convém realçar. Sendo certo que o saldo global do Estado continua a agravar-se, a verdade é que o saldo primário estagnou! Por outras palavras, o crescimento extraordinário das Receitas Fiscais permitiu acomodar o crescimento da Despesa Primária, estagnando aquele desequilíbrio nos 6700 milhões de euros. Agora, será esta uma inversão da tendência negativa que tem caracterizado aquele agregado contabilístico? Se a Despesa Primária começar a cair talvez seja, sobretudo se a implementação do OE2011 se fizer de forma eficaz.
Para concluir, uma nota final que eu gosto sempre de vos deixar. Em todos os seus boletins informativos, a DGO informa acerca dos "organismos em incumprimento na prestação de informação" (página 12 ou slide 14). Ora, uma vez mais, pela enésima vez este ano, a Assembleia da República volta a constar dessa lista negra. Enfim, é simbólico, mas neste momento em que se pedem sacrifícios ao país, a Assembleia da República deveria ser a primeira a dar um exemplo de seriedade e de rigor. Infelizmente, com excepção deste vosso pobre escriba, ninguém parece ligar muito ao assunto e ninguém perguntou ainda ao Dr. Jaime Gama a que se devem estes sucessivos atrasos. É uma pena. Seria um exercício de cidadania.

Cuidado

Tensão militar na Península Coreana, a segunda do ano. A seguir com muita atenção.

os bravos do pelotão

já começou (na Irlanda)

Parangonas dos jornais ameaçam ex-banqueiros.
...
The retired Irish Nationwide chief executive and ex-Anglo Irish Bank chairman Sean FitzPatrick were both branded "gangsters" by a TD in a Dail debate. Fine Gael chief whip Paul Kehoe said the bankers were "two of the biggest gangsters ever involved in banking institutions".

cuidado...




Velma Hart, a mulher que se lamentou de estar exausta de defender Obama, foi despedida (de um emprego público).

22 novembro 2010

o comportamento mais racional

Suponhamos que C emprestou dinheiro a I e a P. C está preocupado com a solvência de ambos, mas entretanto a situação com I compôs-se. Um tio rico E, avalizou o empréstimo de I. Qual será o comportamento mais racional de C relativamente a P:
1. Continuar a emprestar dinheiro a P, com um risco crescente.
2. Renegociar o empréstimo de P, aceitando uma perda.
3. Solicitar a P um aval idêntico ao que recebeu de E (no caso de I).

as afirmações dos PM's

El primer ministro portugués, José Sócrates, salió este lunes en defensa de la economía lusa y pronosticó que superará la crisis sin ayuda.

Prime Minister Brian Cowen has insisted the Irish Republic does not need European Union assistance.

eis o k nos espera

Greece poised to accept tough bail-out terms.

limpar o buracão

Na sequência da ideia que tenho estado a tentar "vender", ou seja, que credores e devedores têm de se sentar para fazer contas de subtrair (e não de adicionar), estive agora a trocar impressões com um colega de outra sociedade a propósito da dívida bruta de um conjunto de países da zona euro e chegámos aos seguintes resultados:


Em suma, no próximo ano, apenas neste conjunto de países, as necessidades de refinanciamento (de dívida bruta) serão superiores à dotação do EFSF. Assim, o objectivo não poderá ser o de crescer em cima daqueles montantes. Pelo contrário, o objectivo tem de ser o de começar a limpar aqueles mesmos montantes. E, pelo caminho, pedir aos técnicos do Banco Central Europeu que, de uma vez por todas, encostem os políticos a um canto e que apurem, com o maior rigor técnico possível, qual é, afinal, o passivo dos bancos na Europa. É que, é sempre bom recordar, estes bancos irlandeses, que agora estão muito aflitos, foram os mesmos que ainda há poucos meses passaram naqueles famosos "stress tests" operados pelos reguladores europeus.

a verdadeira democracia

Ora, aí está: o "Green Party", que está coligado no poder com o "Fianna Fail" na Irlanda, acabou de pedir eleições antecipadas para Janeiro próximo. O partido reitera que ratificará o OE irlandês para 2011, que será votado no dia 7 de Dezembro, mas afirma que o resgate financeiro proposto pela União Europeia e pelo FMI terá de ser ratificado pelo eleitorado - através de novas legislativas de onde saia um Governo legitimado pelo voto -, uma vez que se trata de uma decisão extraordinária e que, até aqui, esteve sempre fora da agenda política irlandesa. Caros leitores, independentemente do que daqui sair, isto sim, é democracia.

malditas máquinas

O Jornal de Negócios noticia hoje que a Brisa prossegue no despedimento de portageiros, substituindo-os pelas horrorosas máquinas que, em alternativa, decidiu instalar nas suas portagens. Gostava, pois, de enviar um abraço a todos os portageiros e dizer-lhes, com toda a sinceridade, que sinto a falta deles.
Sem querer dar numa de saudosista, a verdade é que, parece-me, está-se a chegar ao 80, em matéria de tecnologia. Ou seja, não obstante a tecnologia ser a principal fonte de novos acréscimos de produtividade, há casos em que se vai longe de mais. É o que, na minha opinião, está a acontecer nas portagens.
Como já disse, detesto as máquinas que a Brisa lá meteu. Detesto, sobretudo, a "voz" que, invariavelmente, berra com tal ferocidade, que só apetece espetar-lhe um murro como resposta. Segundo, os cartões que a máquina teima em não ler. Outrora, o portageiro, recorrendo à sua experiência, lá conseguia registar a leitura magnética. Agora, se o cartão não funciona, só resta meter outro e outro e outro...e, no limite, meter dinheiro que, nem sempre, o utilizador traz consigo. Enfim, é um pesadelo. Por favor, alguém que faça regressar os portageiros!

a corda vai rebentar

A propósito das notícias deste fim de semana, relativas à abertura de um pedido formal de ajuda por parte da Irlanda, quer parecer-me que a coisa está longe de estar concretizada. E que, ao contrário do que sucedeu com a Grécia há meses, desta feita, as negociações serão muito prolongadas e muito difíceis. Por uma simples razão: salta à vista que os irlandeses, oposição política e população em geral, estão contra a ideia de perder a sua independência orçamental, nomeadamente o controlo sobre a sua política fiscal. E creio que até o primeiro ministro, Brian Cowen, não está nada certo daquilo que se prepara para negociar. Aliás, não ficaria surpreendido se o Governo irlandês caisse nos próximos dias ou nas próximas semanas sem acordo firmado.
Vejamos bem as coisas: a economia irlandesa tem fundamentos sólidos. Ao contrário do que por aí se tenta vender, o tigre celta não foi um produto exclusivo de uma bolha imobiliária. Pelo contrário, nos cinco anos anteriores a 2008, antes da crise, a Irlanda cresceu a 6% ao ano em termos reais (depois de ajustado o crescimento à inflação). E não foi um crescimento qualquer. Foi o crescimento económico que todos agora querem ter: suportado nas exportações, que representando quase 80% do PIB e excedendo as importações, geraram, ano após ano, avultados superávites comerciais. Mais, a economia irlandesa registou nesse período outra invulgar singularidade: o consumo privado (famílias/empresas) e o consumo público (Estado) quedaram-se pelos 50% e 15% do PIB, respectivamente, bem abaixo do que hoje se regista por norma no mundo ocidental - Portugal incluído. Ou seja, houve aforro. Não foi, assim, surpresa que, antes do início da crise, a Irlanda registasse um dos mais altos PIB per capita da Europa - cerca de três vezes o português - e, portanto, não foi surpresa que essa riqueza, em parte, tenha sido alocada ao sector imobiliário.
Porém, e é aqui que reside a dificuldade do momento, depois de ter aderido ao primeiro pacote de austeridade, de forma voluntária e em grande concertação social - a Irlanda foi mesmo o primeiro país a reduzir os salários da função pública -, agora, os irlandeses não dão mostras de querem vergar perante um monte de problemas que, em boa verdade, está confinado à banca irlandesa e à má supervisão que as entidades bancárias locais terão realizado nas última décadas. Por isso, será muito difícil convencer a Irlanda a abdicar de tantas coisas, nomeadamente o controlo sobre os seus impostos, a fim de salvar um problema para o qual a maioria das pessoas não estão sensibilizadas. Em suma, salta à vista que, certamente na Irlanda, não existe europeísmo que permita sonhar com qualquer União Política, sem a qual este projecto euro acabará por falhar.
A intransigência, de ambas as partes, provavelmente, tornará os obstáculos intransponíveis. Seria, pois, preferível que, em vez de contas de adicionar, as partes se encontrassem para fazer contas de subtrair. Ou seja, em vez de se forçar a Irlanda a aumentar o seu passivo, por contrapartida de um aumento do activo dos credores internacionais, aquilo que se deveria estar a fazer era encontrar uma forma de contribuir para que ambas as partes conseguissem reduzir os seus passivos e os seus activos, respectivamente. Neste momento, não é altura para tentar ganhar. É altura para tentar não perder por muitos. Por outras palavras, se os europeus e seus credores tentassem, no enquadramento do euro, estabelecer as bases que regulassem um perdão de dívida para com aqueles que, manifestamente, não têm capacidade para liquidar essas mesmas dívidas, todos perderiam um pouco, mas ninguém perderia tudo. Pelo contrário, na situação actual, em que todos estão a tentar esticar a corda para o seu lado, a corda acabará por rebentar. Infelizmente, estou hoje convencido que é uma questão de (pouco) tempo.

tigre celta em ameaça de extinção

Quem beneficia?
A Alemanha, a França e o R.U.
Quem perde? Os irlandeses (e todos os amantes da liberdade).

eurocratas regozijam-se com perda de competitividade da Irlanda

European Commissioner for Economic and Monetary Affairs Olli Rehn has reiterated that Ireland would no longer be a low tax economy.

21 novembro 2010

o inimigo público

Sucintamente, que regime seria este, essa democracia directa?
Não tenho isto bem escalpelizado, porque não existe esse regime em nenhum país do mundo. Encaro-o...
É por isso que eu lhe faço a pergunta.
E esse era o argumento dos meus camaradas - diziam: "Mas onde é que tu encontras em qualquer país do mundo esse regime?" Eu dizia: "Não encontro em nenhum, mas fazemos nós!"

Entrevista de Otelo ao DN

PS: + de 30 anos depois a coisa ainda não está bem escalpelizada...

best science based incubator

O Instituto Pedro Nunes está de parabéns.

20 novembro 2010

o fim dos Estados

O IMF propõe o fim da soberania dos Estados membros da UE em assuntos fiscais e laborais. Centralizar e harmonizar são as palavras de ordem.
Via Telegraph

os senhores da guerra

Nato aprova plano de Bush.

19 novembro 2010

Ryanair

CEO da Ryanair veste-se de agente funerário para receber responsáveis do FMI.

conclusões tardias

E necessário racionalizar os preços, os salários e as pensões - Fidel de Castro
...
É necessário que os preços reflictam a realidade do mercado (racionalizar?), assim como os salários e as pensões - Tribunal de Contas

PS: Fidel demorou 50 anos a chegar a uma conclusão que o TC não levou mais de 30 anos a descobrir.

o Estado controleiro

O Tribunal de Contas acusa o Ministério da Saúde de condicionar a autonomia das administrações hospitalares.
Parem! Parem e não digam mais nada. Então o governo não condiciona todas as administrações de todas as entidades em que está metido? Seja com posições maioritárias, como nos hospitais EP’s, seja com posições minoritárias, seja com “golden shares”.
Claro que este é um dos maiores problemas da nossa economia, mas não fica bem ao TC fazer de conta que não sabia de nada nem que não conhecia a extensão danosa do problema.

um clássico

Os homens, temos de reconhecer, pensam em rebanho; perdem o juízo em rebanho, enquanto demoram a recuperar e só o fazem um a um.
Charles McKay, 1841

PS: Não será difícil demonstrar que os portugueses atravessam um periodo alucinatório (que já leva 30 anos) do qual só irão recuperar lentamente e um a um.

18 novembro 2010

as armas e os varões assinalados

Dado que o SIED ostenta garbosamente um brasão, em vez de um simples e republicano logotipo, eu gostaria de sugerir que o próximo director desta nobre instituição fosse um aristocrata. Pelo menos um barão ou um duque. Assim dizia a cara com a careta.

17 novembro 2010

quem não tem dinheiro...

Os cigarros electrónicos... "são um pequeno brinquedo de luxo para países ricos e discriminatório socialmente para os países mais pobres", afirmou à Lusa Luís Rebelo, presidente da Confederação Portuguesa de Prevenção do Tabagismo .

PS: O que estaria o presidente da CPPT a fumar quando fez estas afirmações?

o pateta

O governo da China é melhor do que o governo dos EUA.
George Soros

16 novembro 2010

nada optimista

A Europa, nomeadamente o conjunto de países da zona euro, está a evidenciar sinais de grande desorientação. Nos últimos dias, a coisa assumiu até contornos, de certom modo, ridículos, com a Alemanha, a Espanha e, pasme-se, até Portugal (até onde irá a nossa grandiosa lata?!?), a pressionarem a Irlanda a accionar o EFSF/FMI, estando aquela a resistir ferozmente à pressão.
Já aqui escrevi e repito: 1) a Irlanda, ao contrários dos outros três países mencionados antes, não tem historial de incumprimento na sua dívida soberana, por isso, é natural que tente aguentar até ao limite; 2) a Irlanda não tem necessidades de financiamento até Junho do próximo ano, ao contrário de Portugal, por isso, pode aguardar; e 3) a Irlanda não tem um problema económico, tem, sim, um problema financeiro, em particular no que ao antigo maior banco privado diz respeito. Em suma, é natural que os irlandeses não se queiram subjugar à perda de soberania que a adesão ao EFSF/FMI representa. Pelo contrário, Portugal, mais uma vez, está a tentar escapar entre os pingos da chuva. Ou seja, ao pressionar Dublin na esperança de que uma vez estancado aquele problema possamos, nós, ir de novo, tranquilamente, ao mercado, endividarmo-nos mais barato a partir de Janeiro, estamos, outra vez, a fugir com o rabo à seringa. Se os nossos políticos, que andam entretidos com este joguinho, pensam que, com isto, estão a fazer um serviço à Nação, desenganem-se. Portugal só se safa quando largarmos essa droga chamada crédito, coisa que, com estes mesmos políticos, não será fácil de conseguir.
No meio de tudo isto, com ou sem EFSF/FMI, mais cedo ou mais tarde, estou convencido que não existirá alternativa à negociação de perdões de dívida para os países mais aflitos - Portugal incluído. De resto, as yields da Alemanha - isso mesmo, da Alemanha - estão hoje em forte alta, o que faz questionar se até mesmo os alemães terão capacidade para resgatar a zona euro se o recurso ao EFSF/FMI se generalizar. Começo a pensar que não, reforçando a minha ideia anterior de que os perdões de dívida - não apenas para aquela emitida depois de 2013, mas sim para toda a bola de neve que vem de trás - serão a única forma de, no curto prazo, salvar o euro, se tudo isto, por acaso, se desmanchar. Em suma, mais importante do que estar a olhar para a Irlanda, Portugal ou, até mesmo, para a Espanha, é estar a olhar para a Alemanha e para o próprio euro/usd.

a apanhar bonés

Se há coisa que eu detesto fazer é fulanizar, mas hoje vou abrir uma excepção: o António Mendonça é o ministro mais desorientado que eu alguma vez vi!

Corações ao Alto


O nosso caminhante chegou ontem à noite a Fátima.

uma opinião III

Mais um artigo excelente do Telegraph sobre a dívida dos PIIGS. Com algumas citações hilariantes de Teixeira dos Santos:

- Estamos à mercê de forças cósmicas... (tradução livre).

Caro TS, devem ser os "espíritos animalescos".

15 novembro 2010

restauração da independência

UE e FMI preparam-se para comemorar a Restauração da Independência em Portugal.

uma opinião (II)

Eu estou de acordo com a análise aqui produzida: creio que a situação de Portugal, ao contrário daquilo que diz o Presidente da República, é pior que a da Irlanda. Para além dos motivos já citados (endividamento total é superior em Portugal e não existe, entre nós, o excedente comercial que existe na Irlanda), acrescento outras três razões: 1) o historial português, em matéria de incumprimento de dívida é muito pior que o irlandês, naquele que, os especialistas, qualificam como o factor mais importante para determinar a probabilidade de uma intervenção externa; 2) a República Portuguesa terá de refinanciar e emitir nova dívida, num montante global significativo, logo no início do ano, ao passo que os irlandeses poderão esperar por Junho antes de ter de o fazer e 3) o PIB per capita nacional é muito inferior ao da Irlanda - a desigualdade de rendimentos, por sua vez, é muito maior entre nós -, pelo que, os programas de austeridade necessários para corrigir as contas públicas terão um impacto social muito mais significativo em terras lusitanas do que na terra da Guiness. Em suma, apesar da enorme pressão alemã sobre a Irlanda, creio que existem razões de facto para que seja Portugal a capitular primeiro. Por fim, last but not least, a coesão política na Irlanda, entre políticos e entre a política e os cidadãos, parece ser muito mais intensa lá do que em Portugal. Lá, ao contrário de cá, as pessoas reconhecem aos políticos alguma respeitabilidade, ajudando a mobilizar a população e a economia contra a crise.

caminhada espiritual (II)


As últimas informações colocam o nosso solitário peregrino às portas de Leiria...

uma opinião

Portugal is in worse shape than Ireland. Total debt is 330pc of GDP. The current account deficit is near 12pc of GDP (while Ireland is moving into surplus). Portuguese banks rely on foreign wholesale funding to cover 40pc of assets.
The country has been trapped in perma-slump with an over-valued currency for almost a decade. Successive waves of austerity have failed to make a lasting dent on the fiscal deficit, yet have been enough to sap the authority of the ruling socialists and revive the far-Left.
Former ministers are already talking openly of the need for an EU-IMF rescue. It is hard to see how Portugal could avoid being sucked into the vortex alongside Ireland. Europe and the IMF would then face a cumulative bail-out bill of €200bn or so. That stretches the EFSF to its credible limits.
Via Telegraph

14 novembro 2010

contributo cívico

No último ano, a Jerónimo Martins, através da sua Fundação Francisco Manuel dos Santos (FFMS), tem contribuído, e de que maneira, para a discussão de ideias no nosso país. Primeiro, através da sua base de dados sobre Portugal Contemporâneo (!), o Pordata, dando a conhecer, pela evidência estatística, a realidade do país. Segundo, mais recentemente, através das suas publicações, pequenos ensaios de cento e poucas páginas, relativos aos grandes domínios da Nação, escritos numa linguagem simples e acessível a todos. Os livros estão disponíveis nas lojas Pingo Doce, pelo preço de 3,15 euros, e representam um louvável esforço no sentido de combater os preconceitos que apenas a ignorância permite alimentar.
Hoje, tendo iniciado a leitura dos livros já publicados pela FFMS, concluí o magnífico ensaio do Luciano Amaral, intitulado "Economia Portuguesa, as últimas décadas", e que recomendo vivamente a todos aqueles que queiram saber mais acerca do ponto de partida, ponto de chegada e ponto de destino da economia nacional. Vale a pena. O livro. E a iniciativa da Fundação. Parabéns ao Luciano, ao António Barreto e à Jerónimo Martins. Portugal precisa de mais contributos destes.

Pobres, mas não mal agradecidos

A notícia, aqui linkada pelo Joaquim, de que Timor Leste partirá em auxílio da República Portuguesa, comprando-nos dívida pública, não deixa de causar um certo constrangimento, uma certa humilhação nacional. O próprio Presidente da República, questionado pelos jornalistas sobre se não estaríamos a passar a imagem de um "país de mão estendida", não conseguiu esconder um desconfortável esgar, tentando depois, através das palavras, desdramatizar a situação. A realidade, porém, é que, hoje, qualquer português, posto perante as imagens de pobreza e miséria extremas de Timor Leste, deve ter-se sentido embaraçado. Infelizmente, como ainda não batemos no fundo, muito pelo contrário (terá Ramos-Horta feito as contas?!), isto vai ficar ainda pior. Vale-nos, pois, que, apesar de pobres, não somos mal agradecidos, por isso, toda a ajuda é bem vinda. Valha-nos isso.

lorosa'e

Timor pode ser um lorosa'e para Portugal, um "sol nascente".

as causas do desemprego

Uma funcionária que trabalha numa empresa há cerca de dois anos despede-se por ter conseguido um “emprego melhor”. A gerência pede à contabilidade que lhe tire a conta para saldar os seus compromissos com a referida pessoa.
No post anterior resumo a informação recebida da contabilidade. A pessoa em causa trabalhou 9 dias úteis em Novembro. Tem a receber o valor correspondente a esses 9 dias, o proporcional do subsídio de Natal de 2010 (perfeitamente justo, na minha opinião) e ainda o proporcional do subsídio de férias de 2011 e o proporcional das férias de 2011 (perfeitamente injusto, na minha opinião).
Independentemente do valor que o trabalhador representa para a empresa, penso que este exemplo explica porque é que ninguém contrata ninguém.

contabilidades


Conforme solicitado junto envio o recibo de vencimento de Novembro/2010.
 
Os cálculos efectuados foram:
 
Salários hora (4,04 euros)
 
 - Vencimento Nov. - 290,88 euros (9 dias úteis x 8 horas x 4,04)
 - Prop. Ferias        - 606,67 euros (10,40 meses /12 meses) - 10,40 = 10 meses + 12dias/30 dias Nov.
 - Prop. S.Ferias     - 606,67 euros (10,40 meses /12 meses)
 - Prop. S.Natal      - 606,67 euros (10,40 meses /12 meses)

Total: 2.110,89 €
 
 
 
Cumprimentos,

PS: Explicação no post seguinte.

13 novembro 2010

Desiderata

últimas

IRLANDA RECORRE AO FUNDO DE ESTABILIZAÇÃO FINANCEIRA EUROPEU (EFSE).

juiz coloca Alenquer no mapa

É uma medida radical de contestação e já está a causar polémica. O juiz presidente do tribunal de Alenquer decidiu trabalhar menos, porque vai passar a ganhar menos.
Afonso Dinis Nunes fez as contas e percebeu que as medidas de austeridade lhe vão retirar 600 euros por mês da carteira. E se vai ter menos salário, vai apresentar menos trabalho.
O juiz decidiu trabalhar menos duas horas por dia, menos 44 horas por semana, menos quatro dias e meio por mês. Em suma, menos 46 dias de trabalho por ano.
«O signatário terá forçosamente de reduzir (de modo a possibilitar que o seu agregado familiar honre os compromissos financeiros anteriormente assumidos) o seu horário de trabalho (extraordinário e não remunerado) em cerca de duas horas diárias», pode ler-se nos despachos que enviou aos advogados.

mas os cortes estão à vista III

E depois os resultados são catastróficos:

mas os cortes estão à vista III

Por vezes as despesas aumentam porque não se investe na prevenção:

mas os cortes estão à vista II

Camas hospitalares para tratamento de doentes agudos:

Portugal - 2,8 camas / 1000 habitantes = 28.000 camas
Espanha - 2,5

Conclusão: Podem ser encerradas 3.000 camas hospitalares, sem prejuízo da qualidade. Este facto é mais relevante devido ao desenvolvimento da cirurgia ambulatória.

mas os cortes estão à vista I

conflitos de interesse

Especialistas que vivem do SNS afirmam que não é possível cortar na despesa da saúde.

12 novembro 2010

catolicismo, conservadorismo & socialismo

Nem todos os conservadores são católicos mas todos os verdadeiros católicos são conservadores. Julgo que este princípio não necessita de qualquer explicação.
Um socialista, por outro lado, nunca pode ser um bom católico porque o socialismo está nos antípodas do catolicismo.

aleluia

"Merkel tem dito coisas sensatas", disse hoje Fernando Ulrich, presidente do BPI.
Finalmente. É caso para dizer que até que enfim que alguém com voz relevante na vida activa portuguesa disse aquilo que está certo. Porque é evidente que a Alemanha, para cima de quem está a ser empurrado o ónus de salvar a união monetária das asneiras dos outros, tem que iniciar o debate acerca das regras que, em primeiro lugar, conduzam à responsabilização dos credores dos países com dívidas públicas ingovernáveis. Se nós portugueses estivéssemos no lugar dos alemães faríamos o mesmo! E se não fizéssemos seríamos idiotas em não fazê-lo.
Tem-se criticado muito o "timing" das declarações de Angela Merkel, mas, em bom rigor, dado que não se tratou do assunto antes do tema eclodir, ou seja, antes de ter sido necessário o resgate à Grécia, deixou de existir um "timing" perfeito para introduzir o assunto. Não tenhamos dúvidas: em face da dimensão da dívida dos países periféricos, esta é uma crise que não terminará de um dia para o outro, por isso, quanto mais depressa se definirem as regras associadas ao "default" dos países mais soterrados em contas para pagar tanto melhor. Em suma, Ulrich, ao contrário - estranhamente... - de Ricardo Salgado, falou e falou muito bem. Caro Fernando: apoiado!

caminhada espiritual


O peregrino chegou ontem a Ovar.

no terreno

O INE divulgou há pouco que, no terceiro trimestre, a economia cresceu 0,5% em cadeira, 1,5% face ao período homólogo, em ambos os casos, acima da estimativa média dos analistas. Sem mais detalhes, uma boa notícia, portanto.
Por mais que se discutam os mercados financeiros, em última instância, é a economia real que interessa. Oxalá, aquela taxa de crescimento se tenha traduzido em melhorias visíveis na vida real das empresas e que não tenha resultado apenas de estímulos públicos artificiais. É que, apesar de algumas notícias que colocam certas empresas portuguesas imunes ao risco da República, as condições de financiamento estão mais difíceis para todos. Com excepção daqueles que não precisam de financiamento, ninguém escapa. Assim, é bom que as coisas realmente melhorem e que não seja apenas cosmética contabilística.

o génio de Laffer

Se o governo pagar a quem não trabalha e taxar quem trabalha, será assim tão difícil de compreender porque é que o desemprego é tão alto?
Via WSJ - Artigo de Arthur Laffer, o homem da curva.

erros capitais

O presidente da Conferência Episcopal Portuguesa, Jorge Ortiga, erra quando clama por medidas que “ponham cobro à atribuição de remunerações, pensões e recompensas exorbitantes, ao lado de pessoas a viver sem condições mínimas de dignidade”.
1. Erra porque a redistribuição dessa riqueza não melhoraria as condições de vida de ninguém.
2. Erra porque a economia não é um jogo de soma zero. O esforço dos melhores, devidamente recompensado, cria riqueza para todos.
3. Erra porque, se aceitarmos que 1 e 2 são pressupostos verdadeiros, as referidas afirmações apenas incentivam a inveja. Um pecado capital.
4. Erra porque o esbulho fiscal do património dos ricos nunca irá parar ao bolso dos pobres.
5. Erra porque o assalto à propriedade privada constituí uma ameaça à vida. Daí que o roubo seja outro pecado capital.
6. Por fim, erra porque nada impede os que têm mais de ajudar os que têm menos, chama-se a isso caridade – uma das maiores virtudes Católicas. A CEP pode e deve dirigir-se directamente aos ricos e solicitar-lhes apoio para as suas obras sociais. Animar o verdugo responsável pela miséria do País a castigar ainda mais, não me parece de todo sensato.

soma zero

As pessoas, mesmo que façam bom trabalho e tenham bons resultados, não poderão ter pensões, remunerações ou recompensas exorbitantes” que retirem a possibilidade de “dar dignidade a outras pessoas”, disse.
Jorge Ortiga (via Insurgente)

As remunerações meritocráticas (bom trabalho e bons resultados...) não prejudicam ninguém. Pelo contrário, elevam as perspectivas de todos.

11 novembro 2010

contra os canhões marchar, marchar

O PSI20 cai há 7 dias consecutivos. Os juros das OT's persistem em subir. E nenhum partido parece estar com muita pressa em implementar o OE2011. O Governo entretém-se com comunicados. Mas o Tesouro não aguenta sem os mercados.

luz ao fundo do túnel

A crise terminou. Terminou no sentido em que já não comporta incertezas. A UE vai telegovernar Portugal via FMI, Sócrates está de malas aviadas e o partido socialista prepara-se para a travessia de um deserto com muito poucos oásis.
O corte na despesa que nos vão impor vai provocar uma profunda recessão económica que poderá ultrapassar os 5% do PIB. O desemprego vai rondar os 20% (embora nos dados oficiais possa não passar dos 14 ou 15%). Alguns grandes bancos poderão voltar para as mãos do Estado ou serem vendidos ao estrangeiro e as empresas que vivem à mesa do orçamento vão ter de ir depenicar noutras gamelas (Angola, talvez?).
Os portugueses vão começar a cair na real, vão arregaçar as mangas e fazerem-se à vida, como sempre fizeram ao longo dos séculos. Uma coisa, porém, vai mudar, pelo menos para a próxima geração – nunca mais vão querer ouvir falar de social-democracia, de socialismo ou de comunismo.
Creio que podemos vislumbrar uma luz ao fundo do túnel. Pelo menos o cancro foi identificado, está em vias de ser extirpado e o “doente” tem um óptimo prognóstico. Em vez de serem os governantes a mendigar que os deixem trabalhar, vão ser os portugueses a exigir que os deixem em paz.
Não há mal que nunca acabe!

sinais do tempo

Os noticiários de ontem à noite evidenciaram a delicadíssima situação do país real. Em Gaia, fechou a Valsans. Mais a norte, à MacTrading, a antiga Maconde, sucedeu o mesmo. E, no Algarve, a Groundforce decidiu descontinuar a operação no aeroporto de Faro. Num só dia, apenas nestes três incidentes, foram mais de 500 pessoas para o olho da rua...
Os exemplos anteriores realçam vários tipos de crise. Em primeiro lugar, a crise económica que inviabilizou a actividade de cada uma daquelas empresas. Em segundo lugar, a crise de valores que, no caso da Valsans e da MacTrading, se traduz em insolvências abruptas e sem escrúpulos, ao arrepio dos direitos legais dos trabalhadores. E, em terceiro lugar, a crise cultural que, infelizmente, também contribui para afundar o país. Gostaria de me focar nesta última e no caso específico da Groudforce.
Na minha opinião, o exemplo da Groundforce é sintomático. Trata-se de uma novela que tenho vindo a acompanhar e que merece destaque. Desde há muito que os responsáveis da TAP, accionista da Goundforce, realçam a operação de Faro como insustentável e geradora de metade dos prejuízos de uma empresa que, sucessivamente, com estes e, também, com outros accionistas, tem sido sempre deficitária. Ontem, houve alguém, um senhor chamado Fernando Melo, que lhe pôs um ponto final. E fê-lo muito bem. Mandou pagar a conta (11 milhões, em indemnizações), mas pôs ordem na situação. Quebrou uma cultura de irresponsabilidade e laxismo (* erro corrigido!) que os seus antecessores lhe tinham deixado e que o sindicato de "handling" queria perpetuar. Entretanto, deixou um aviso: há que rectificar o Acordo de Empresa e as suas extraordinárias disposições.
De acordo com o Diário Económico de hoje, o Acordo de Empresa da Groundforce, entre outras coisas, estipula o seguinte "cada trabalhador tem direito a 20 dias de absentismo por ano e a progressão na carreira obriga a aumentos de 7% por ano". Vejam só: não são 20 dias de férias, são 20 dias de absentismo!! Quanto à progressão na carreira, presumo, deve assentar num sem número de progressões automáticas, provavelmente sem grandes critérios de mérito - como acontece no sector público - premiadas a 7% por ano. Tudo isto numa economia que não chega sequer a crescer...Enfim, é, também, na manutenção desta cultura, resultado das euforias pós-revolucionárias, que está uma parte do problema do país. É, pois, preciso quebrar esta cultura. Por outras palavras, precisamos de mais Fernandos Melos e de menos sindicalistas "esquerda caviar" como o rapaz da melena que ontem na TV defendia os "handlers" de Faro. Só assim se conseguirá aumentar a nossa produtividade e, por consequência, aumentar a nossa competitividade.

poster de 1939

até ao dia...

Novo dia e mais do mesmo: às 10h20 da manhã, o meu terminal Bloomberg piscava 7,23% nos juros da dívida pública portuguesa. O prémio de risco face à dívida alemã já vai em quase 5 pontos percentuais...
Entretanto, leio na imprensa as reacções dos responsáveis do Instituto de Gestão do Crédito Público, garantindo que o leilão de ontem foi um sucesso. Afinal, diz Alberto Soares, o Presidente do IGCP, foram os bancos estrangeiros - e não os portugueses - que ficaram com mais de 70% da emissão. O Diário Económico cita ainda a Cristina Casalinho, economista chefe do BPI, cuja opinião eu muito estimo, em que aquela afirma que "quando o preço chega a estes níveis, aproximamo-nos da taxa de indiferença, mas no caso da Grécia, por exemplo, o problema não foi o preço, foi a desertificação dos leilões". Por outras, enquanto houver procura, sobretudo se for proveniente do estrangeiro, não será dramático.
Infelizmente, eu tenho uma opinião diferente. O nosso drama é, precisamente, o facto de continuar a existir procura a estes preços. Por uma simples razão: os riscos associados à espiral de juros são neste momento superiores aos riscos associados à dieta orçamental prevista. Mais, comparar o momento que vivemos hoje em Portugal com aquele que vivia a Grécia na altura em que também atingiu os 7% não faz sentido. Porque, ao contrário de então, hoje, os investidores sabem que existe um plano B - o fundo europeu (EFSF) -, coisa que não existia em Maio, e sabem também que existe grande resistência dentro da UE à criação de regras - como se vê pelas reiteradas críticas a Angela Merkel - que sirvam de guião à reestruturação de dívida soberana no enquadramento da zona euro. Em suma, há actualmente um incentivo para ir aos leilões e satisfazer a oferta do Estado português - mesmo na presença de juros agiotas que qualquer Estado responsável deveria rejeitar -, pois, em última instância, os contribuintes da zona euro hão-de pagar a conta. Até ao dia em que a Alemanha bater com a porta...
Aproximam-se mudanças radicais.

virar a página

Almeida Santos revela que o secretário-geral do PS se tornou num pato manco (tradução insossa de lame duck).

a couple of freaks

No Público de hoje, um “casal” internacional de académicos debita um conjunto de opiniões que me levou a pensar se não estaria a ler o Inimigo Público. Os simpáticos humoristas freakonómicos, o João e o Nuno, propõem o seguinte:
1. Face à ameaça de uma reestruturação da dívida organizada pelos nossos credores, apontada como causa do recente aumento das taxas de juro, Portugal (...) deve responder com a ameaça de uma reestruturação da dívida por si organizada.
2. Suspensão das exigentes regras do mercado interno europeu por forma a permitir ajudas aos sectores inovadores nacionais.
3. Protecção face às importações.
Ahahahahahah. Só mesmo do meio académico é que podiam surgir estas ideias. O João e o Nuno consideram-se economistas e investigadores universitários mas na realidade não passam de ladrões de bicicletas.

10 novembro 2010

a peregrinação

As peregrinações nunca são apenas uma viagem. São mais uma caminhada espiritual, uma aventura interior.
Chesterton considerava que as aventuras, pela sua própria natureza, são eventos que vêm ao nosso encontro. São “coisas” que nos escolhem, não são “coisas” que nós possamos escolher. Nesse sentido, todas as peregrinações encerram em si o milagre de terem escolhido o peregrino.
A peregrinação do PA a Fátima é a continuação de uma viagem espiritual que temos tido o privilégio de acompanhar. Um privilégio que nos desafia a vivermos em pleno as aventuras que Deus nos venha a conceder.
Aqui fica um abraço amigo para o PA e os meus votos de uma boa “caminhada”.

Ryanair passa a(s) perna(s) à TAP

6,806%

Acabaram de ser divulgados os resultados do leilão de hoje do IGCP: vendemos cerca de 1200 milhões de euros em dívida a 6 e 10 anos por 6,16% e 6,81%, respectivamente. O "bid-to-cover", ou seja, a procura face à oferta final, baixou para metade comparado com o que havia sucedido na última emissão de dívida pública.

um grão de areia na engrenagem

Tendo chegado aqui, depois de andar por ali e por acolá, não resisti a destacar esta referência científica à mulher-ampulheta.
O autor apenas se esqueceu de mencionar que as mulheres-ampulheta também são mais apetecíveis para as páginas centrais da Playboy e para alguns calendários, uma informação útil para muitas professoras com ambições.

09 novembro 2010

incompreensível

Por que razão é que o Governo não anunciou ainda a suspensão da emissão de dívida de amanhã? Neste momento crítico, com juros de 7% a dez anos (DEZ ANOS!), por que razão se insiste numa emissão que, materialmente e simbolicamente, tanto nos vai prejudicar quando não temos crescimento económico que justifique pagar esses custos exorbitantes...para quê? Para manter o orgulho?

flexibilidade inflexível

A partir de Janeiro do próximo ano, o sistema de saúde dos funcionários públicos deixará de ser obrigatório e passará a ser voluntário. Significa isto que os actuais funcionários públicos que beneficiam da ADSE (Direcção-Geral de Protecção Social dos Funcionários e Agentes do Estado) podem "a todo o tempo" deixar o sistema e que os novos funcionários já não serão obrigados a inscrever-se.

A mudança está prevista numa proposta de decreto-lei ontem enviada aos sindicatos e faz com que a ADSE passe a funcionar como um seguro de saúde, cabendo a cada funcionário decidir se quer ou não beneficiar do sistema que comparticipa consultas, cirurgias e medicamentos.

No artigo 17.º da proposta a que o PÚBLICO teve acesso prevê-se que "os beneficiários podem, a todo o tempo, renunciar a essa qualidade" e acrescenta-se que essa "renúncia tem natureza definitiva" e impossibilita uma nova inscrição. Além disso, os beneficiários podem optar por outros sistemas de protecção de saúde integrados na administração pública, desde que o cônjuge ou pessoa a viver em união de facto dele beneficie. Mas também neste caso a decisão será irreversível. Já os novos funcionários terão seis meses, contados a partir do momento em que entram para a função pública, para se inscrever na ADSE.

Via Público

PS: Escusado será dizer que nenhum funcionário público vai abandonar a ADSE, porque essa decisão seria definitiva. Por outro lado, quem entrar de novo para a função pública não vai deixar de se inscrever na ADSE porque se não o fizer nos primeiros seis meses nunca mais o poderá vir a fazer. Conclusão: tudo ficará na mesma devido à inflexibilidade desta medida de flexibilização.

separar as árvores da floresta (III)

Analisando em detalhe os balanços dos quatro maiores bancos nacionais (CGD, BCP, BES e BPI), e tendo em conta que o principal risco financeiro (embora não imediato) a que o país se sujeita é o incumprimento do Estado no pagamento da nossa dívida soberana, a conclusão é a de que, ao contrário de 2008, o banco menos seguro é neste momento a CGD!
A razão é simples: se considerarmos o peso dos recursos dos bancos centrais no balanço dos quatro bancos referidos no total do passivo daquelas entidades, observa-se que a maior exposição relativa (e, também, absoluta) é da CGD. Ou seja, os recursos de bancos centrais na CGD, para os quais esta tem de entregar activos que sirvam de garantia e que em geral são títulos de dívida pública (onde, hoje, está concentrado o maior risco), representam 11% do seu passivo, tendo no último ano quase duplicado de valor para mais de 13 mil milhões de euros. Quanto aos demais, no BES essa componente também duplicou de valor, mas, para já, representa uma percentagem menor (9%). E, por fim, no caso do BPI e do BCP as respectivas leituras não ultrapassam os 5% e os 2%.
Acrescente-se, ainda, que, no universo analisado, a CGD é também o banco que apresenta maior rácio de crédito com incumprimento no total de crédito concedido: 3,2%. Em suma, os principais bancos privados não estão tão mal quanto agora os pintam. Porém, também é verdade que, enquanto as incertezas quanto à sustentabilidade do país não desaparecerem, não se poderá, evidentemente, esperar que a banca nacional se fortaleça. As suas realidades vão a reboque da realidade do país. Mas, ao contrário da Irlanda, não são os bancos que estão no centro da crise; é o Estado.

separar as árvores da floresta (II)

"Portugal não tem um problema com os seus bancos, os seus bancos é que têm um problema com Portugal. O estado da economia portuguesa, frágil e deprimida, agrava as perspectivas dos bancos que vão fazendo controlo de danos no malparado e aguentando sectores como a construção e o imobiliário para evitar males maiores.", Pedro Santos Guerreiro, na edição de hoje do Jornal de Negócios. Em linha com o que aqui escrevi ontem.

qual é o significado da palavra significado?

O ex-ministro das Obras Públicas, Joaquim Ferreira do Amaral, escreve hoje um extraordinário artigo no Diário Económico que começa com um igualmente extraordinário parágrafo: "A propósito da má fama das Parcerias Público Privadas (PPP), já vi escrito que a sua criação data da Ponte Vasco da Gama e da instalação do comboio na Ponte 25 de Abril. Tudo teria começado aí. Não é verdade. Nem a Ponte Vasco da Gama nem o comboio na 25 de Abril configuram PPP's, pelo menos com o significado que o conceito veio a adquirir". O nosso estimado senhor engenheiro acrescenta ainda que "as PPP's, no seu significado actual, nasceram com as famigeradas SCUT". (o bold é meu)

08 novembro 2010

separar as árvores da floresta

A Fitch reviu hoje em baixa a notação de risco dos quatro principais bancos privados portugueses. Na sequência do anúncio, o BES decidiu cortar relações institucionais com a agência. E o BCP, num registo mais suave, disse que a análise da Fitch não tem fundamento. Mas de acordo com o comunicado daquela notação de risco, a decisão teve por base o aumento do risco de financiamento e liquidez dos quatro bancos envolvidos, bem como o aumento do recurso ao Banco Central Europeu.
Ora, pela primeira vez desde há muito, não vejo mérito na avaliação da Fitch no que toca às entidades agora avaliadas. Pelo contrário, creio que a indignação do BES e do BCP é justificada. Citando de memória - nos casos do BES, BCP e BPI - os recursos de bancos centrais, nomeadamente do BCE, não representam mais do que 6% do total do passivo (o BES é o mais exposto). E no caso dos recursos representados por títulos, ou seja, dívida emitida pelos próprios bancos nos mercados doméstico e internacional, o mais exposto é o BCP que nesta rubrica concentra cerca de 20% do seu passivo. Enfim, a economia portuguesa não está bem, mas, na ausência do risco de um "default" imediato da República Portuguesa - que no actual enquadramento institucional europeu não ocorrerá, pelo menos, não sem antes se accionar o FMI e o EFSF - não há razão para tanto alarme no que diz respeito aos bancos portugueses.
Há, contudo, um problema de credibilidade que, nos próximos dias, estes mesmos bancos terão dificuldade em combater: a escalada dos juros da dívida pública portuguesa, que, agravando a imagem do país no exterior, tornará impossível separar as árvores da floresta.

no fio da navalha

Os juros da dívida pública estão perto dos 7% de Teixeira dos Santos. A situação não é ainda de ruptura, porém, como já aqui escrevi há dias, se passarmos dos 7,75%, segundo as minhas contas, a despesa implícita com pagamento de juros subirá ao patamar de 20% da receita fiscal prevista na proposta de OE 2011 e, então sim, ficaremos sem alternativa ao FMI. Assim, repito o conselho que, também, aqui deixei na semana passada: o IGCP deve suspender a emissão desta semana, no qual prevê leiloar mais de 1000 milhões de euros em dívida de longo prazo, e anunciar que, afinal, não precisa de mais dinheiro. Em simultâneo, a Assembleia da República deveria acelerar e antecipar a discussão do OE2011 na especialidade. Não há tempo a perder. Estamos no fio da navalha.

a reboque

Na semana passada, a fim de alterar a minha morada fiscal, passei por uma repartição de Finanças, no centro do Porto, e presenciei uma situação particularmente caricata. A certa altura, estava eu já a ser atendido por um zeloso funcionário, ouve-se a voz de outro: "colegas, está aí a polícia!". Vai daí, vários funcionários, sem pestanejarem, saltaram de imediato das suas cadeiras e dirigiram-se para a rua, rumo aos seus respectivos veículos. Os utentes, esses, ficaram sentadinhos a olhar uns para os outros, num misto de incredulidade e curiosidade. Minutos depois, os zelosos funcionários do Fisco regressavam aos seus postos de trabalho: tinham ido pôr moedas nos parquímetros para não serem rebocados...

"O errático Passos Coelho" (*)

Durante o fim de semana, o país político ficou em choque com as afirmações de Pedro Passos Coelho, que sugeriu que se responsabilizassem os políticos, civil e criminalmente, pelas decisões económicas tomadas na condução do país. O PS, em particular, ficou indignado com a ideia de PPC (pudera!), mas a verdade é que é isso que o povo pensa que deveria acontecer a boa parte dos políticos da nossa praça.
Ora, este fim de semana li um livro chamado "Como o Estado gasta o nosso dinheiro", de Carlos Moreno, antigo relator do Tribunal de Contas, e fiquei siderado. Não sendo eu um especialista em Parcerias Público Privadas ou em Grandes Obras Públicas, não tinha, de facto, noção da dimensão do buraco financeiro (este, sim, um "buracão", como diria o outro) que a má gestão de dinheiros públicos nos trará nos próximos anos só à conta daquele tipo de projectos. Portugal é hoje o campeão europeu das PPP's em percentagem do Orçamento e, também, do PIB, e apenas em compromissos já firmados teremos todos de pagar para cima de 50 mil milhões de euros nas próximas décadas, fora eventuis "reequilíbrios" financeiros que o tempo, certamente, se encarregará de fazer surgir. Enfim, fizeram-se negócios em que todo o tipo de riscos ficaram por conta do Estado: riscos de infraestrutura, riscos financeiros e, mais extraordinário ainda, riscos de procura!! Garantiram-se, a certos privados, rentabilidades de 10, 15 e 20% ao ano por períodos de 10, 20 e 30 anos. E sucederam-se as promiscuidades entre o concedente público (Estado) e os concessionários. Numa só palavra, criminoso.
Assim, o que PPC sugeriu durante o fim de semana vai ao encontro daquilo que o povo pensa. É um facto que, se a proposta fosse introduzida retroactivamente, muitos dos seus camaradas no PSD estariam a braços com a Justiça. Mas, na ausência de outros "checks and balances", talvez não fosse uma má ideia. De resto, outra boa ideia, igualmente "fanática", seria propôr a renegociação coerciva de todas as PPP's que, de forma dolosa, vão sufocar o Estado e o país nos próximos anos com novas dívidas. Sei que este é um discurso duro, tido como fanático, mas a realidade é apenas: o Estado não pode continuar a servir de mama para meia dúzia de espertalhões que fazem disso negócio. E isto nada tem de esquerda ou de direita.
(*) Hoje, Camilo Lourenço escreve uma crónica no Jornal de Negócios, intitulada "O errático Passos Coelho", na qual eu subscrevo o título, nomeadamente o adjectivo utilizado: errático. Ou seja, na minha opinião, independentemente da bondade de certas propostas, como a de cima, PPC está cada vez mais igual a Sócrates: diz e desdiz-se. Foi assim com a "desculpa" de Maio. Foi assim com a revisão constitucional de Junho. Foi assim com os impostos do OE 2011 em Setembro. E veremos se assim não será em Novembro com esta nova "proposta" (se é que não foi um simples desabafo)...