30 setembro 2009

uma constituição para a eternidade

Algumas almas caridosas, entre elas a de João Gonçalves, penam por aí pedindo o fim da Terceira República e o advento de uma Quarta. Uns querem que a Nova República avance para um modelo parlamentar puro, como na Alemanha ou em Itália, enquanto que outros preferem o reforço da componente presidencial, à francesa ou mesmo à americana. O João Gonçalves anunciou que explicará brevemente porque prefere a solução presidencialista. Eu gostaria que ele explicasse como conseguirá promover a modificação do regime na ordem constitucional vigente, independentemente da sua transformação no sentido do sistema de governo que prefere.

Isto, na medida em que os constituintes de 75, conscientes dos seus elevados dotes cognitivos e das suas excepcionais capacidades de adivinhação, resolveram dotar Portugal e os portugueses de uma Constituição para a eternidade. No caso vertente do sistema de governo, quem ler a alínea j) do art.º 288 (os célebres “Limites materiais da revisão”) encontrará que não é susceptível de modificação “A separação e a interdependência dos órgãos de soberania”, tal como os define a Constituição. Isto significa a perpetuação do sistema semipresidencialista, já que, no presidencialista, o governo tem origem e depende politicamente e só do Presidente da República, enquanto que no Parlamentar, ele tem origem e depende exclusivamente do Parlamento. Qualquer uma destas alterações, num ou noutro sentido, modificaria estruturalmente os princípios e regras constitucionais vigentes de separação e de interdependência dos órgãos de soberania, pelo que seria absolutamente inconstitucional. Por outro lado, qualquer modificação constitucional por via referendária é expressamente proibida no texto da Constituição, mais precisamente no seu artigo 115º, nº 4, alínea c), pelo que também essa via está excluída.

Em conclusão, ou o João Gonçalves propõe uma revolução, ou, vá lá, qualquer coisa parecida que leve a uma ruptura efectiva na ordem constitucional vigente - o que nem me pareceria mal -, ou permaneceremos como estamos. Isto é, na Terceira República semipresidencial.

a queda de um anjo

A direita indígena, sobretudo a do PSD, anda satisfeitíssima com as desventuras do Presidente da República, o cidadão Aníbal Cavaco Silva.

Ao longo de vinte e cinco anos de humilhante sujeição, durante os quais, com raríssimas excepções, não deu um pio para questionar o líder incontestável, essa direita do PSD rastejou aos pés de Cavaco, subjugou-se a Cavaco, não deu um passo sem antes perscrutar as palavras de S. Ex.ª, os silêncios de S. Ex.ª, os recados de S. Ex.ª, os esgares e os trejeitos de S. Ex.ª, para lhe tentar adivinhar as vontades e as intenções. Quando S. Ex.ª anunciou a retirada da vida política, lá para os idos de 1995, logo um coro de lamentações se ergueu. No momento imediato, todos, mas todos sem excepção, eram filhos e herdeiros de Cavaco, sugerindo intimidade com S. Ex.ª, e garantindo fidelidade aos princípios, ao pensamento e à acção de S. Ex.ª. Quando a Excelência se remeteu a um longo silêncio sobre o seu futuro político (que negava peremptoriamente poder existir), todos proclamaram em vozes circunspectas e em tom de surdina – para não sobressaltar S. Ex.ª – que ninguém – ninguém! – tinha autoridade ou legitimidade para exigir a S. Ex.ª que despertasse da letargia a que humanamente se dedicara. O tempo era de S. Ex.ª, e tudo que a pudesse importunar não seria admissível. Quando S. Ex.ª anunciou a parábola política da “moeda boa e da moeda má”, logo os inúmeros admiradores venerandos de S. Ex.ª exultaram de gozo e rejubilaram de prazer. S. Ex.ª estava viva e atenta, e pusera na devida ordem alguns seres inferiores que não lhe tinham o amor e a devoção necessários à contemplação da sua magnificência. Mas, o orgasmo total, o prazer máximo e absoluto, o delírio, o êxtase, o Nirvana chegaram – finalmente – num dia de nevoeiro, quando S. Ex.ª anunciou no Mausoléu de Belém, que anos antes mandara erguer para perpetuar a sua Glória, que regressaria ao convívio dos simples e mortais. Regressou em ombros, em apoteose, em triunfo, sobre um tapete rastejante de admiradores, discípulos e servos esperançados. S. Ex.ª vinha pôr isto na ordem!

Agora, S. Ex.ª parece outro. Já não tem aquela afirmação e autoridade que antes todos lhe viam e temiam. Já não manda, nem comanda. E há mesmo quem lhe falte ao respeito e que garanta que ele é, como Sócrates, humano, logo, mortal. Como Sócrates, o outro, claro, não o nosso que está a um pequeno passo de comprovar a sua imortalidade política, própria de uma nova e irresistível Excelência. Cavaco já sai depreciativamente nas primeiras páginas dos jornais, logo ele, que antigamente nem os lia, e faz até comunicações ao povo para os comentar, como um vulgar comentador político. Como se o povo estivesse interessado no que diz, que não fosse para o desdizer. O Cavaquencis Excelentissimus já era, e a direita do PSD tem que lhe arrear, arrear tão ou mais forte, se possível, do que a concorrência. Ao fim de vinte e cinco anos de humilhante sujeição, tem que demonstrar que tem vida própria e que não depende dele para nada. Que ele até lhe é prejudicial e que, se calhar, as eleições foram perdidas pela sua nefasta influência, já que o partido, o PÊÉSSEDÊ, não teve nisso qualquer responsabilidade. Em contrapartida, há quem ache conveniente não o apoiar nas próximas eleições presidenciais. Se bem que o melhor, o que era mesmo conveniente,caso o homem tivesse um lampejo de lucidez, seria nem se candidatar, ir-se embora, emigrar para o Pulo do Lobo, e quanto mais depressa melhor.

Esta direita sensata repele e incomoda. É um nojo.

está visto

Felizmente não podemos contar com nada de Belém. Cavaco Silva, ontem e em directo, desfez quaisquer dúvidas que pudessem subsistir sobre a sua capacidade para catalisar o salto que Portugal precisa de dar para entrar no Sec. XXI. Obrigado Sr. Presidente.
Os portugueses têm agora a oportunidade de acabar com as sobras do Sebastianismo e começarem a fazer pela vida. O futuro depende apenas de cada um de nós.

uma acusação clara

There are general improvement trends among most of the measured healthcare systems, with examples of reform making impact not only in Netherlands but in Ireland or the Czech Republic as well. There are is continuous decline in the Spanish, Portuguese and Greek healthcare systems which do not keep up with the improvement rate one can find in countries like the Netherlands, Denmark or Ireland.

Ver aqui.

Amador


A actuação do senhor Presidente da República nesta polémica das escutas tem sido de um amadorismo político total.

Cavaco Silva já tem idade - e experiência - para saber que contra teorias da conspiração não se luta nem se lhes dá importância. Pelo menos, não em público! É que as cabalas, simplesmente, não são demonstráveis ou, melhor ainda, não são objecto de prova. Assim sendo, por que carga de água se sente o PR tão pressionado a dar explicações acerca de um assunto que não é possível demonstrar nem provar? É uma tontice pegada!

Se o Presidente, ao longo das últimas semanas, se tivesse mantido publicamente imperturbável, se não tivesse demitido o seu assessor nem tivesse feito a comunicação de ontem teria feito muito melhor. Primeiro, durante a campanha, não teria desviado as atenções do eleitorado. Segundo, após as eleições, não se colocaria à frente da escolha governativa da maioria dos eleitores portugueses. Se não tivesse dado importância a esse pseudo-assunto, a suposta conspiração ter-se-ia perdido na espuma das coisas...

Entretanto, o PR estragou tudo! Porque o PS tem a legitimidade democrática para formar governo, ainda que minoritário. E se Cavaco se opuser, declaradamente ou de forma subreptícia, fazendo com que o Governo caia ou que não chegue sequer a ser formado, então sim, o PS poderá, de facto, fazer-se de vítima, pedindo uma maioria absoluta aos portugueses, o que, tendo em conta a debilidade das demais alternativas políticas, não seria algo demasiado extraordinário de conseguir.

a sabedoria popular

Presidente da República: Cavaco Silva
Primeiro-ministro: José Sócrates

AS ELEIÇÕES TÊM CONSEQUÊNCIAS
John McCain

acabou

O semipresidencialismo em Portugal. A partir de hoje, com as declarações do Presidente da República, qualquer hipótese de cooperação institucional, que é, no sistema em causa, a condição necessária e imprescindível para assegurar a dupla legitimidade do governo (presidente e parlamento), é absolutamente impensável. Nem nos tempos idos de Ramalho Eanes e Sá Carneiro, quando a agressividade institucional também pairou alto, se atingiu nada que se compare com isto. O sistema semipresidencialista - que é a essência de todo o nosso ordenamento constitucional e da III República - acabou hoje. O regime provavelmente também. É urgente que venha outro, embora duvide, como há dias escrevi, que ele possa nascer de parto natural.

29 setembro 2009

?

Há uma vulnerabilidade em Belém, chama-se Cavaco Silva. Capisce?

SNS entre os piores

O sistema de saúde português está entre os piores da Europa. Tempos de espera elevados e falta de acesso rápido ao médico de família atiram Portugal para o 25.º lugar entre 33 países europeus. O melhor exemplo é a Holanda.
O mais recente índice europeu do consumidor e dos cuidados de saúde elaborado pelo "Health Consumer Powerhouse", com o apoio da Comissão Europeia, mostra que Portugal não foi além dos 574 pontos em mil possíveis, o que o coloca na 25.ª posição, atrás de países como a Macedónia, a Croácia ou a Espanha.

Eis o resultado de quatro anos de fundamentalismo do PS na saúde. As pessoas que pretendem perpetuar este sistema não têm vergonha na cara.
Via JN

quatro anos

José Sócrates terá algum trabalho suplementar na próxima legislatura, mas não tanto quanto alguns supõem. As instituições estão fragilizadas, o Presidente está fragilizado, os partidos da oposição estão fragilizados. Nesses termos, o PS configura-se como um bloco político homogéneo com muito mais força e peso negocial do que qualquer outro interveniente político. Acresce que as artes da negociação e do diálogo não são inteiramente desconhecidas deste PS, em boa parte herdeiro do dialogante Guterres. O poder opera maravilhas e prodígios e não será por falta de paciência que José Sócrates o irá perder. Nem fora do seu partido, muito menos dentro dele. Preparem-se, pois, para um governo de quatro anos, ou muito próximo disso.

loja online

O BE alemão já tema sua loja de merchandising online.

Zénite


Nestas legislativas, acredito que o Bloco de Esquerda atingiu o seu zénite. E que agora o seu caminho será para baixo.

A razão que me leva a antecipar este cenário diz respeito ao facto de a base comum entre os simpatizantes do BE ser a sua agenda de assuntos fracturantes em matéria de costumes e moralidade, e não a sua ideologia política. Por outras palavras, será mais fácil encontrar pessoas de outros partidos que votem com o BE nos assuntos relativos ao aborto, às drogas e à homossexualidade, do que encontrar pessoas descontentes noutros partidos que partilhem da atitude revolucionária e trotskista preconizada pelo BE. Sobretudo, entre a população adulta, mais sensata e que constitui a fatia de leão do eleitorado. Ora, como nos últimos oito/dez anos, a agenda de assuntos fracturantes foi largamente esgotada e, em geral, adoptada pelo próprio PS, a utilidade marginal do BE neste domínio diminuirá, logo, o seu apelo aos eleitores também deixará de ser o mesmo.

Coligações?


Ainda no rescaldo das eleições e especulando acerca do que se seguirá em matéria de coligações, acredito que o PSD é bem capaz de caír na ratoeira que lhe será montada por Sócrates: o convite para um Bloco Central ou um Pacto alargado de cooperação institucional. Senão vejamos:

1) A hipotética coligação PS-CDS, tão badalada na imprensa de ontem, não deverá acontecer. Por uma simples razão: as duas agendas políticas nada têm a ver uma com a outra! A começar nos impostos, que o PS terá de aumentar para satisfazer o crescimento da despesa e os grandes projectos como o TGV, mas que o CDS quer diminuir como ficou claro na campanha eleitoral (e algo que o PSD nunca teve coragem de assumir). Qualquer cedência neste domínio, iria ferir de morte a credibilidade de Portas. E, no entanto, este domínio será um dos principais temas da próxima governação. Veja-se o que está acontecer em Espanha: ontem, já se anunciaram subidas nos impostos.

2) Pelo contrário, no caso do PSD, ainda atordoado com a derrota que teve e já com um novo golpe palaciano a ser preparado nos bastidores, o convite para o poder - através do tal Bloco Central ou de um Pacto de Regime alargado com Sócrates - seria irresistível! À superfície, seria encarado como uma forma rápida, cosmética, de limpar a pesada derrota eleitoral. Contudo, seria na realidade uma tremenda armadilha. Primeiro, porque eliminaria qualquer chance de uma regeneração interna do PSD. Segundo, porque descredibilizaria cada vez mais o PSD aos olhos da opinião pública, que passaria a ver o partido como uma espécie de Maria-vai-com-todos. Por outro lado, para Sócrates seria ouro sobre azul: dar-lhe-ia a governabilidade em todas as matérias de centro esquerda e manteria o eterno inimigo numa embrulhada interna!

Enfim, vamos lá ver o que se segue...

Doente


Nos últimos meses, tenho acompanhado com particular interesse a situação interna da Itália, no sentido de melhor compreender aquele país que para mim é um enigma. Por uma simples razão: é aquele que, em termos sociais, se afigura como o mais assimétrico da zona euro. Capaz do melhor e do pior. Infelizmente, parece-me que o pior tende a ser mais frequente que o melhor. O exemplo mais paradigmático é o seu primeiro ministro: Berlusconi, que agora à saída do G20 voltou a insistir na rábula do "bronzeado" ao referir-se ao casal Obama.

Tenho lido tudo acerca das diatribes recentes de Berlusconi e a minha conclusão é a seguinte: o homem está doente, literalmente doente, o que, tratando-se de alguém de idade já avançada (mais de 70 anos), não surpreende. Essa insanidade tem-se revelado nas declarações - cada vez mais bacocas. No esgar facial - cada vez mais infantil e permanentemente "in ah". E no autismo com que tem lidado com toda a polémica em redor das aventuras sexuais. Oxalá, a Itália se livre deste senhor. E quanto mais rápido melhor.

capitalismo de influência II

O pior é o melhor! CIP adora TS.

o preço a pagar

Uma das características mais notáveis das sociedades protestantes é a capacidade dos cidadãos se indignarem com assuntos de lana-caprina. Começam por legislar e regulamentar todos os aspectos possíveis e imaginários da vida privada, policiam-se uns aos outros, denunciam-se por dá cá aquela palha e, quando apanham alguém em falso, exaltam-se e indignam-se de uma forma incompreensível para nós.
O caso Mónica Lewinsky é um bom exemplo. Um homem poderoso, uma sirigaita a “dançar” à volta dele, um momento a sós, enfim. A história mais banal do mundo transformada de imediato numa ópera bufa.
Eu penso que esta indignação não é genuína. Os anglo-saxões são hipócritas consumados, daí o fosso que nos separa deles. Estes comportamentos soam a falso.
A capacidade de se indignarem, porém, é muito importante para o funcionamento das democracias liberais. Quem não cumpre a Lei sabe que vai andar nas bocas do mundo, vai ter a reputação arruinada e nunca mais se pode candidatar seja ao que for.
A hipocrisia talvez seja o preço a pagar pelo desenvolvimento.

os bifes estão loucos

Se uma moçoila de 15 anos, em Inglaterra, engravidar de um colega, o estado permite-lhe fazer um aborto gratuito no NHS, sem necessitar de autorização dos pais. E se a piquena pretender prosseguir com a gravidez, o estado arranja-lhe casa, paga-lhe o sustento e todas as despesas do bébé.
Neste contexto, não consigo entender este caso. Uma rapariga de 15 anos que teve um relacionamento com uma professora de música de 26 e que, depois de diversas peripécias, terminou com a condenação da referida professora (foto) a 15 meses de cadeia, por crime de violação de menor.
Eu sei que esta minha observação deve parecer totalmente insensata, mas o que é que preferirá um pai? Que uma filha adolescente se inicie no sexo com os coleguinhas da turma, da mesma idade, com a significativa possibilidade de engravidar, abortar ou até de se pirar de casa e se entregar à miséria de viver à custa da segurança social ou, em alternativa, dar os primeiros passos sexuais com uma pessoa um pouco mais atinada, mais velha e portanto mais responsável.
A professorinha não se portou bem, sem dúvida, mas terá prejudicado assim tanto a aluna que mereça prisão? Os bifes estão loucos.

28 setembro 2009

quem vai liderar a direita (II)


Concordo com o diagnóstico do Rui a. : Paulo Portas foi o grande vencedor das eleições de ontem e assumiu-se, de facto, como o líder da oposição de direita em Portugal. De resto, nem podia ser de outra forma. O CDS, em particular Paulo Portas, foram a melhor oposição ao Partido Socialista durante o último mandato. Escrevi-o vezes sem conta, aqui no Portugal Contemporâneo, e foi assim que conquistaram o meu voto. As coisas não acontecem por acaso e Portas foi o político que melhor apresentou, definiu e prioritizou os problemas do país.

Quanto ao futuro imediato, o CDS cometeria um erro crasso se agora formasse uma coligação com o PS. E acredito que não o fará. Por duas razões: primeiro, estaria condenado a uma posição secundária, perdendo a inércia positiva conquistada nestas eleições; segundo, perderia a independência, logo, a credibilidade necessária para se constituír no futuro como uma verdadeira alternativa de poder. Portanto, Paulo Portas não dará esse passo em falso.

A prazo, o CDS tem todas as condições para se tornar partido de governo, porque sendo o único partido de direita no nosso país será também aquele que sairá mais beneficiado quando a direita tiver uma oportunidade em Portugal. E essa oportunidade poderá não estar muito distante no tempo. Veja-se o que ontem aconteceu na Alemanha: uma coligação de direita. Veja-se o que irá acontecer no Reino Unido: a vitória da direita. Veja-se o que existe em França: a direita no poder. E veja-se o que é inevitável que aconteça muito brevemente em Espanha: o regresso da direita. Em Portugal, apesar do complexo de esquerda - que, relembre-se, no conjunto, acaba de conseguir 55% dos votos - não será diferente. Ou seja, Paulo Portas, reconhecidamente um tipo persistente, terá agora de saber esperar.

não se ganham eleições

Há uma teoria corrente em Portugal que, por ser uma meia verdade, é muito difícil de contrariar. Diz-se que os partidos não ganham eleições, os que estão no poder é que as perdem.
Esta afirmação parece verdadeira, mas é necessário analisar o contexto de cada acto eleitoral. Nestas legislativas, o PS tinha-se posto a jeito para ser corrido e os estrategas do PSD ficaram à espera de que o partido beneficiasse desta situação. Ora isto não veio a acontecer.
O PSD não se renovou e não apareceu aos eleitores com um programa credível. O resultado foi o oposto do esperado.
Os políticos do “não se ganham eleições” perderam uma oportunidade de ouro.

quem vai liderar a direita?

A grande questão que a noite eleitoral não respondeu é quem irá liderar a direita a partir de hoje? Se o CDS for para o governo, deixará inevitavelmente esse espaço ao PSD. Se resistir a essa tentação - o que não lhe será fácil - Paulo Portas e o seu partido poderão aspirar a esse estatuto. As contas são simples de fazer: o PSD, como partido, não existe. Ao longo da sua história, apenas em dois momento se mostrou relativamente unido: com Sá Carneiro e com Cavaco Silva. Fora isso, o PSD é uma agremiação de bandos, com chefes próprios e pessoal que não se mistura. As várias minorias étnicas, quando não estão no poder, digladiam-se até despojarem o líder em exercício. Em contrapartida, o CDS tem dono e fala a uma voz só. Os portugueses, sobretudo os portugueses da direita, apreciam isso. E disseram-no esta noite.

Os resultados de hoje deixaram, pois, duas tendências muito claras: que o eleitorado não confia no PSD, por um lado, e que começa a confiar no CDS, por outro. Se o CDS deixar José Sócrates em minoria no governo, eventualmente encostado à sua esquerda, o que só beneficiaria a separação das águas, e o PSD continuar como tem estado desde o fim do cavaquismo, o que é inevitável se não tiver o exclusivo da oposição à direita, Paulo Portas pode aspirar à ucdização do PSD.

Resta, obviamente, ao PSD, a ilusão sebastianista. Um líder que venha do nada, repetindo a lenda da rodagem do citroen de Cavaco à Figueira da Foz, para voltar a unir e a relançar o partido. Só que o estado de balcanização atingido pelos laranjas torna muito improvável essa hipótese. Acresce que nenhum líder se faz por geração espontânea (Cavaco esteve anos à espera da sua vez...), e que o único líder que sobra à direita, ao fim de todos estes anos de governos do Partido Socialista, é, de facto, Paulo Portas. O futuro da direita está, desde hoje, como nunca esteve, nas suas mãos. Veremos o destino que ele lhe dará.

27 setembro 2009

o futuro imediato de portas

Regressar ao governo ou liderar a oposição.

nada a acrescentar

«Esta legislatura merece estabilidade», disse José Sócrates.

«A forma de governar Portugal terá de mudar radicalmente», acabou de dizer Paulo Portas.

o outro vencedor

o único verdadeiro vencedor da noite

futuro mapa político ?

muito lucro

Do nosso leitor damal:

«creio que se o BE se coligar com o PS, a tap terá lucro este ano».

espanholada

Se o CDS conseguir manter-se à margem do próximo governo, o que, conhecendo os personagens, é pouco crível, continuando o PSD em estado vegetativo e cataléptico, pode vir a ocorrer o que aconteceu há anos, em Espanha, com a UCD e o PP.

a fazer-se ao piso

António Lobo Xavier constatou agora, na SIC, que o CDS pode ser necessário à formação do próximo governo. Governo do PS, ter-se-à esquecido.

no governo, certamente

Luís Fazenda anuncia que o Bloco de Esquerda vai decidir muitas das questões fundamentais da próxima legislatura. No governo ou na oposição?

uma reflexão sobre o mercado político

O cliente tem sempre razão.

ilusões laranja

Há por aí uma ilusão de que o PSD, caso perca as eleições de hoje, preparará dignamente a sua reconstrução, tendo em vista o ciclo eleitoral de aqui a quatro anos. Puro engano: a conversa já foi a mesma nas últimas eleições ("a reconstrução da direita", lembram-se?) e as facas já estão preparadas há muito, embora escondidas nos bolsos desde as europeias. O que o PSD fará, como sempre faz quando não está no poder, é regressar à guerra civil interna, aos homicídios sucessivos de líderes, à balcanização das suas facções, enfim, à pulhice generalizada. O PSD é um partido que só se une no poder e, às vezes, nem aí.

esconder as origens

Portugal é governado há quinze anos, quase ininterruptamente, por governos socialistas. Segundo tudo indica, vai sê-lo por mais quatro anos, perfazendo, no final, um ciclo de duas décadas. Depois, não venham dizer-nos que a crise em que estamos e a que lhe há-de seguramente suceder, é uma "crise do capitalismo". Esconder as origens é feio.

Democratic Flowers


Read this book to understand Politics in Portugal and Spain. Parts of the book here.

Homem das Cavernas


Ontem, ao longo do dia, passou uma reportagem na RTP acerca do "Homem das Cavernas", a história de um homem do distrito de Braga que nos anos 80 havia sido condenado a oito anos de prisão por homicídio, na sequência de uma disputa de terrenos com um vizinho, e que mais tarde fugiu da cadeia, tendo vivido durante 16 anos em cavernas no Alto Minho. Há cerca de dois meses fui recapturado, encontrando-se agora na prisão de Paços de Ferreira.

Quando a notícia da sua recaptura foi publicada, a história surpreendeu-me, como provavelmente a todos os que a leram. Mas revelava essa extraordinária capacidade de adaptação que caracteriza a raça humana. Entretanto, na reportagem de ontem, levantou-se um pouco o véu acerca dos motivos que terão levado o homem a enveredar pela fuga e pela vida vivida naquelas circunstâncias: o direito à sua autodeterminação sexual, conforme disse o seu advogado de defesa, que agora tentará revogar a pena de prisão.

Este caso é muito interessante e tem todas as condições para se tornar simbólico porque põe em causa o funcionamento do sistema prisional em Portugal. Enfim, eu sou um forte defensor de justiça célere, eficaz e de penas longas - perpétuas até - em função da natureza do crime. E também acredito que certas obras públicas podiam ser realizadas com recurso às populações prisionais para lhes incutir ética de trabalho e contribuír para alguma regeneração pessoal dos presos. Mas não posso aceitar que no interior das prisões reine um clima selvagem, sem rei nem roque. E que os guardas prisionais sejam coniventes com a existência de violações sexuais (e tráfico de drogas) dentro dos estabelecimentos prisionais. A privação da liberdade já é castigo suficiente, por isso, as prisões deviam permitir que os presos mantivessem a sua própria dignidade, sem a qual não existe reabilitação possível.

Portanto, eu desejo ao advogado do "Homem das Cavernas" algum sucesso na sua iniciativa. E espero que os alvos dessa iniciativa sejam o Ministério que tutela as prisões em Portugal e o director do estabelecimento prisional onde os supostos abusos tiveram lugar. Bem sei que é tudo muito difícil de provar, mas como disse no início trata-se de um protesto simbólico. Serve para chamar a atenção para um problema gravíssimo do sistema prisional - as violações sexuais -, que toda a gente comenta, mas que ninguém assume. E que contribui para que as prisões acabem por se tornar escolas do crime em vez de locais de reabilitação e regeneração dos presos.

a pílula do dia seguinte

Foi uma noite maravilhosa, uma noite quente de Outono. A rapariga estava esplendorosa, a música convidativa, a dança sensual, o champanhe gelado. Lentamente as inibições foram desaparecendo. As inibições, a roupa e qualquer sentido de conveniência.
Amanhã vem a ressaca e a pílula do dia seguinte.
Esta imagem parece-me muito sugestiva do período político actual. Uma campanha eleitoral reduzida a um programa humorístico. Amanhã vem a factura. Pelo que está a acontecer em Espanha, podemos ter uma ideia das dificuldades que nos aguardam.

narciso

Não vi, ontem, a intervenção de Cavaco Silva, mas supus que o Presidente iria apenas exaltar o valor da democracia e a importância do voto. Enganei-me, Cavaco Silva veio falar de si:
"Pela minha parte, mantive escrupulosamente e com o maior rigor o compromisso de total isenção e imparcialidade em face dos diversos partidos."
Via DN

aviso à navegação

Para os que julgam, já muito satisfeitos, que a vitória de José Sócrates, sem maioria absoluta, será uma vitória de Pirro e que ele será desapeado do poder daqui por um ou dois anos, deixo aqui algumas advertências e outros tantos reparos.

Primeiro, quem assim pensa nada aprendeu com estes últimos quatro anos e meio, nem percebeu de que massa é feito o líder socialista. Segundo, desconhecem a natureza de Aníbal Cavaco Silva, e ignoram também que o actual primeiro-ministro, caso permaneça em funções, o tem e manterá enfiado dentro de um bolso. Terceiro, não percebem o estado do país e do controlo que sobre ele exerce o partido que nos governa, quase ininterruptamente, há quinze anos. Quarto, não entendem que se o PS ganhar, será inevitável uma maioria de esquerda no parlamento, que nunca trocará a influência (pouca ou muita) que exercerá sobre o governo socialista, por entregar o poder à direita. O PRD (para o caso de alguém saber ainda do que se trata) foi um epifenómeno, que se não repetirá no Bloco de Esquerda. Por fim, não se compreendem a si próprios, e também nada aprenderam a respeito da direita com estes quatro últimos anos, nem da sua incomensurável estupidez e capacidade de autodestruição. Isso é, aliás, o que mais assusta. Estou francamente convencido que, se o PS amanhã ganhar, daqui por quatro anos o estado da direita será ainda pior do que é hoje.

26 setembro 2009

mimados


Eu tenho vindo a seguir com muito interesse o debate sobre este artigo do The Telegraph acerca de Espanha, que cito mais uma vez. O artigo é arrasador sobre a situação e as perspectivas da economia espanhola. Porém, o que mais me tem interessado são os comentários, alguns já citados em baixo, para confirmar ou infirmar algumas teses que expus no passado.
Apreciei este comentário, por um britânico (vive em Espanha há nove anos e a mulher é espanhola):

"I live and work in Spain since 2000 in the service sector. In the nine years I have been here I have had two Spanish clients, got payed half of what I usually make and that about six month too late - on top of that I was treated like an unprofessional idiot and my opinion wasn't consulted because they knew everything better anyway. Their jobs got done but mediocre to say the least, I don't think they really care. Most of my (foreign) clients had bad experiences with local companies offering the same services I do and are happy to come back to work with me - BRILLIANT ! In my humble opinion (for which I get into trouble with my Spanish wife) a big reason for this Non Service Attitude is: The majority of the Spanish are totally spoiled by their parents (mostly the males and by their mothers and grandmothers) most professional contacts I have with Spanish woman are positive - they get doctrined that they (individual and then national) are the absolute best in the world and the rest is just well the rest - so with this attitude they have no real initiative to better themselves - just look at the majority (not all of course) of the comments here you will find extreme pride and prejudicem from the Spanish side - and if they are in a bad state they usually look for someone/thing worse to excuse this - they are just in their own way really. Still it is a great country to live in, the society values of the people are great in comparison with some more developed countries and I hope the money wave didn't spoil thing too much because changes are evident. In regards to the crisis > I don't see a crisis they are just normalizing and going from a faked 8th strongest economy (stupid money injections from the EU into a corrupt and antiquated administrative system) to where they should be, it will cost some pride and tears to go with the loss but hey in the end everyone will be happier ......... once the silly expectations are gone life will return to normal -- hopefully. Neither Zapatero nor the PP can turn this around - it was Aznar who got the money from the EU by being a persistent beggar in Brussels and those days are over, so their is no one to blame".

Este comentador teve dois clientes espanhóis: pagaram metade do preço pelo serviço e com um atraso de seis meses. A sua opinião profissional não contou, porque os espanhóis consideram que sabem tudo, e não têm prazer no trabalho. Os espanhóis são mimados pelos pais, especialmente os rapazes. As mulheres são mais responsáveis. Os espanhóis são educados na ideia de que são os melhores do mundo, portanto, não têm qualquer incentivo a melhorar. Nos comentários ao artigo feitos por espanhóis, só existe orgulho e preconceito [e eu acrescentaria, insultos ao seu próprio PM] . Quando a vida lhes corre mal, os espanhóis apontam a culpa a alguém, que não a eles. A UE está farta de injectar dinheiro no antiquado e corrupto Estado espanhol. A culpa foi do Aznar, um persistente pedinte em Bruxelas nos anos noventa. Não obstante, em muitos aspectos, a Espanha é um grande país.

com a mesma sinceridade


Eu apreciei a forma como decorreu a campanha eleitoral, com civismo por parte da população e civilidade entre os candidatos. Como o jornalista britânico citado aqui oberva "Por agora, uma estranha calma paira sobre a Península Ibérica".

Não foi uma campanha interessante do ponto de vista da discussão das ideias. Mas os portugueses não são fortes nesta matéria. Esta discussão teria começado pela questão "O que é que os portugueses pretendem que Portugal seja daqui por 10 ou 15 anos na economia, na saúde, na educação, na justiça, na segurança social, etc., ?" seguindo-se depois a apresentação e debate das diferentes propostas pelos diversos partidos. Não está na cultura nacional pôr este tipo de questões e muito menos responder-lhes. A campanha acabou a discutir ideias velhas (TGV, aeroporto, nacionalizações, etc.) e pessoas, que é aquilo que os portugueses gostam mais de fazer.

Uma campanha assente no debate de ideias teria, porém, sido largamente inútil. Portugal nunca mudou por força das ideias, mudou sempre por força das circunstâncias. E as circunstâncias que mais determinaram as mudanças em Portugal ocorreram quase sempre, em primeiro lugar, em Espanha. A Espanha pode bem vir a ser outra vez o melhor indicador avançado acerca do futuro próximo de Portugal.

O paralelismo entre a história de Portugal e a de Espanha é extraordinário, e ocorreu normalmente sob a liderança de Espanha. Os dois países atingiram o apogeu na mesma altura, finais do século XV, princípios do século XVI. Viveram monarquias absolutas semelhantes e tiveram a mesma e distintiva Inquisição - a muito vilipendiada Spanish Inquisition. O Protestantismo religioso nunca entrou nem num nem outro, permanecendo ambos bastiões do catolicismo mais ortodoxo. As suas revoluções liberais diferiram em doze anos apenas (1808 em Espanha, 1820 em Portugal). Curiosamente, o termo liberal foi cunhado em Espanha nessa altura, naquele que era, para além de Portugal, o país menos liberal da Europa Ocidental (no sentido anglo-saxónico em que o termo é hoje entendido).
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A história de Espanha ao longo do século XIX é a mesma convulsão permanente entre democracia e autoritarismo que se verificou em Portugal (A solução ao Quiz apresentado aqui é "Espanha", mas, com pequenos ajustamentos, poderia ser "Portugal"). A revolução republicana em Espanha (1873) antecipou em quase quarenta anos a revolução portuguesa (1910), mas lá como cá teve os mesmos efeitos desastrosos. Por essa altura, a Espanha abandonava as suas colónias da América Latina, e Portugal já tinha abandonado a sua.
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Depois foram as ditaduras duradouras, Salazar em Portugal, Franco em Espanha, as quais terminaram quase em simultâneo (Portugal: 1974; Espanha: 1975) apenas com uma diferença favorável a Espanha - Portugal não restaurou a monarquia -, mas uma diferença que representa um mero acidente devido às hesitações de Salazar. (Se Salazar tivesse casado com a Viscondessa de Asseca é praticamente certo que ela lhe teria dado a volta - e ele sabia isso, daí a sua hesitação.Quando ela estava disponível para casar, ele hesitou; mais tarde, quando ele a procurou, ela já não estava disponível). Durante o período democrático actual, a coincidência dos ciclos políticos é notável em relação aos principais primeiros-ministros em ambos os países: Felipe Gonzalez/Mário Soares, Aznar/Cavaco Silva, Zapatero/Sócrates.

Por isso, mais do que o resultado das eleições de amanhã, importa observar o que se vai passar em Espanha nos próximos tempos. A situação económica não é brilhante, lá pior do que cá, mas o caminho não é diferente. Nos anos 30 sabe-se no que isso deu. Uma das regularidades das histórias paralelas de Portugal e Espanha é a de que os portugueses e os espanhóis são tão capazes de hoje darem vivas à democracia como amanhã são capazes de as darem a um ditador. E com a mesma sinceridade.


a lógica é uma batata

Compreendo razoavelmente quem afirma que o PS merece perder as eleições de amanhã, embora o PSD não as mereça ganhar. É uma atitude desencantada e aceitável, mas somente no plano dos bons sentimentos e das sensações afectivas. Na realidade, amanhã apenas um desses dois partidos poderá ganhar as eleições, enquanto o outro as perderá. Posto isto, deixando de lado as emoções básicas, a questão que vai ser colocada a cada eleitor é apenas uma: prefere que o PS continue mais quatro anos no governo, ou acha melhor que o governo mude para as mãos do PSD? Responder a isto que "nem um, nem outro" não é resposta, na medida em que choca violentamente com a realidade. Amanhã à noite, o governo ou é do PS ou do PSD. O resto é conversa.

séculos de experiência


Os portugueses têm uma grande tradição de se espiarem uns aos outros. Em Espanha é idêntico, na realidade, pior ainda. Foram eles os autores da célebre Spanish Inquisition, que os portugueses imitaram com a devida vénia.

Nesta matéria, não se pode subestimar o povo que inventou essa muito extraordinária instituição que é o auto-da-fé, uma instituição de tal modo genuinamente ibérica que a expressão não encontra tradução em qualquer outra Língua. É a investigação pessoal levada ao extremo procurando descortinar as intenções mais íntimas que existem no espírito de uma pessoa. Como tal exercício é praticamente impossivel, normalmente acabava numa atribuição de intenções, seguindo-se a condenação. A atribuição de intenções ficou, assim, também como outra característica da cultura ibérica.

Esta tradição de meter o nariz na vida dos outros, e meter o nariz na mais íntima espiritualidade dos outros, deixou marcas profundas na cultura ibérica. Não existem na Civilização povos mais eficazes para cheirar a vida dos outros, nos seus mais íntimos detalhes, do que os espanhóis e os portugueses. Foram séculos de experiência.

Estes são países, portanto, onde as pessoas são efectivamente espiadas ou ficam paranóicas com a possibilidade de estarem a ser espiadas. Está em curso um grande caso destes em Portugal. Também existe um em Espanha - no Barcelona F. C.:

"Poco a poco, florecen detalles de lo acontecido, con matices que varían según las fuentes. Está claro que la historia empezó en abril, cuando Joan Franquesa, vicepresidente del área institucional y de patrimonio, pidió ayuda a Xavier Martorell, responsable de seguridad de la entidad, al sospechar que podía estar siendo investigado tras filtrarse que podía encabezar la candidatura continuista de cara a las próximas elecciones.
Franquesa aceptó la idea de Oliver de someterse a una auditoria de seguridad. Semanas después, el día que pasó por el club para recoger el resultado de las pesquisas, descubrió casi por casualidad que Oliver había hecho extensiva la investigación -por 56.000 euros- a otros tres vicepresidentes (Ferrer, Boix y Yuste) sin que estos lo supieran. Días después, durante una comida organizada por Laporta en un japonés para convencerles de los beneficios que reportaría incorporar a Xavier Sala como directivo, el presidente ante la reticencia que mostraban los vicepresidentes, les pidió confianza: "¿Cómo vamos a confiar en ti si tú no confías en nosotros y nos investigas?", le soltó uno de los afectados.
Laporta, según protagonistas de la escena, montó en cólera y defendió a Oliver, en cuyo despacho terminó la comida. Allí, el ejecutivo reconoció que era todo cierto y obtuvo respuesta: uno de los damnificados le pilló por el cuello, indignado. Pero no dimitió nadie ni Laporta cesó a Oliver. En una junta posterior, un directivo pidió la cabeza del director general: "Ya ha pedido perdón, ¿qué más queréis?", le defendió Laporta, amparándose en la situación deportiva del club, que se jugaba tres títulos en un mes crucial, para exigir que el silencio sepultara lo acontecido sine die."
(Mais aqui)

para o PS, A VIDA É BELA

Amanhã vamos a votos. Os principais contendores são, obviamente, José Sócrates e Manuela Ferreira Leite. JS é o candidato das emoções e da fantasia, enquanto MFL é a candidata da razão e da realidade. Em condições normais, os portugueses nunca apoiariam um candidato que se recusa a pôr os pés na terra, mas Portugal não está a passar por um período normal.
Passámos os últimos quatro anos numa verdadeira comédia trágica, ao estilo de “A Vida é Bela” de Roberto Benigni. Tal como Guido, JS é um homem espirituoso, empenhado em entreter-nos. Há, porém, uma diferença fundamental: Guido permanece ancorado na realidade, ao passo que JS descolou-se para o País das Maravilhas que ele próprio ficcionou.
Todos temos consciência deste fenómeno, mas também sabemos que aterrar na realidade vai implicar sacrifícios. A grande aura e o apelo de JS, nestas eleições, é o ambiente de fim de festa. JS promete abrir a última garrafa de champanhe e pôr mais uma música a tocar. MFL avisa que já é tarde e que amanhã é dia de trabalho. Os portugueses que vão escolher entre JS e MFL não devem esquecer que quanto maior é a bebedeira pior é a ressaca. Resta saber se ainda estarão suficientemente sóbrios para se preocuparem com o “amanhã”.

uma moda

O comunismo já não é uma ideologia, é uma moda,

gozam


Tenho defendido neste blogue que a justiça não funciona em Portugal pela simples razão de que os portugueses não sabem fazer justiça (por virtude da sua cultura, falta-lhes sentido de justiça e mais geralmente capacidade de julgamento). Em Espanha não é diferente. Os ingleses gozam.
Esta falta de julgamento, que se traduz numa incapacidade para encontrar um equilíbrio, num extremar permanente de posições entre o oito e o oitenta, está também presente aqui. Os ingleses que, por virtude da sua cultura, possuem um excelente sentido de justiça, agora arregalam os olhos. De um sistema extraordinariamente proibitivo quanto à prisão preventiva, em que praticamente é impossível deter alguém preventivamente, passa-se rapidamente para o outro extremo, em que a prisão preventiva se converte em prisão arbitrária. É a cultura ibérica ou católica naquilo que ela tem de pior - a justiça (ou falta dela).

Las hijas de Zapatero

É um dos temas dominantes da política em Espanha. Como em Portugal, para ser interessante, tem de ser pessoalizado. São as filhas de Zapatero.

É preciso uma grande falta de julgamento - peculiar aos povos católicos do Sul da Europa e aos seus descendentes na América Latina - para que o PM espanhol, e a sua mulher, tivessem deixado fotografar as duas filhas adolescentes nestes preparos durante uma cerimónia oficial internacional.

Agora queixam-se.

tragédia


Dentre as afirmações citadas neste post, há uma particularmente interessante. Trata-se de um cidadão britânico a viver na Andaluzia e que atribui aos espanhóis uma incapacidade endémica para relembrarem a história e imaginarem o futuro. Para eles só existe o AQUI e o AGORA.

Antes de prosseguir, eu gostaria de estabelecer o facto óbvio de que os portugueses são como os espanhóis e que Portugal só é hoje um país independente porque os espanhóis deixaram. Quanto à dupla incapacidade para relembrar o passado e imaginar o futuro, ela é o fruto da incapacidade de abstracção do homem ibérico, e da sua excessiva concentração no concreto (o AQUI e o AGORA).

A História é apresentada como um conjunto de acontecimentos, de histórias e de personalidades, e sem um qualquer fio condutor, aquilo a que já chamei um cemitério de factos. Como notei aqui, os próprios historiadores são incapazes de discernir tendências nos processos sociais, em parte porque estão obsessivamente concentrados nos factos. Neste quadro de espírito, aquilo que se relembra da história é a batalha de Aljubarrota, a Patuleia ou os romances amorosos do D. José, e não que a democracia-liberal foi várias vezes tentada em Portugal desde 1820 e falhou sempre. E sempre pelas mesmas razões - as mesmas que estão a encaminhá-la agora de novo perigosamente para o fim quer em Portugal quer em Espanha.

Se não há tendências no passado, para quê procurá-las no futuro, para quê procurar modelar o futuro à nossa vontade colectiva e como acreditar que essa vontade poderá de algum modo, ainda que imperfeito, materializar-se? Não existe razão para o fazer. O futuro fica abandonado e o passado, transformado em cemitério de factos mais ou menos interessantes, deixa apenas um foco de interesses - aquilo que se passa AQUI e AGORA. Nesta cultura, as pessoas não fazem acontecer as coisas. As coisas acontecem-lhes. A vida não é um projecto. É um destino, uma fatalidade. Daí o elemento de tragédia que a acompanha

gatinho



Os resultados eleitorais vão outra vez pregar uma partida aos resultados das sondagens. A razão é a mesma que produziu o fenómeno nas eleições europeias - a cultura dos portugueses em relação ao poder. Esta é uma cultura baseada no medo, em parte porque o poder político em Portugal sempre foi retaliador. O Marquês de Pombal exemplifica, ao exagero, esta cultura. Enquanto teve poder portou-se como um mauzão, quando o perdeu portou-se como um gatinho.

O problema dos erros das sondagens não é técnico. É cultural. Quando inquiridos, muitos portugueses declaram ir votar no partido do poder quando, na realidade, não é essa a sua intenção. Não vá o diabo tecê-las. O problema é tanto maior quanto o peso do Estado é grande na sociedade e milhões de pessoas dependem do Estado para viver. Posto de forma diferente, a cultura portuguesa é uma cultura onde existe uma grande diferença entre aquilo que se diz e aquilo que se faz.

Espere para ver.


an odd calm


Citado deste artigo e dos comentários:

"For the time being, an odd calm prevails across the Iberian Peninsula".

"After living on the coast of Andalucia for 8 years, my perception is that the problem has three principal, and related, elements: 1] The greed stoked building boom. 2] The endemic inability of the Spanish to remember the past, imagine the future, or to care what is going on anywhere except Here and Now. 3] The distrust and disrespect of Government and Church, by people who were abandoned or abused by both for generations."

"In Spain, because of the partisan nature of politics, a sizeable proportion of the population are too stupid to put their survival first".

25 setembro 2009

D. Juanismo

O relacionamento do BE com a elite intelectual portuguesa é demasiado perfeito para se degradar na alcova do poder. Francisco Louçã, nestas eleições, revelou-se uma espécie de D. Juan da política. Andou por aí a arrastar a asa ao pessoal, mas quando se começou a falar em casamento, fugiu a bater com os pés no rabo.

Homens da luta


A vantagem de ficar em casa a curar uma gripe é poder passar o dia a ver televisão, filmes e séries para as quais habitualmente não tenho tempo. Antigamente, quando era mais miúdo, eram cassettes VHS e o "Agora Escolha" da saudosa Vera Roquete. Hoje, temos DVD's e TV Cabo. Enfim, vivemos num admirável mundo novo!

Esta tarde vi um daqueles programas que jamais veria não fosse estar em casa a meio do dia: o Curto Circuito do Rui Unas na SIC Radical. Enquanto fazia zapping, o programa chamou-me a atenção pelo convidado de hoje: o fantástico JEL, dos "Homens da Luta", que é o tipo mais alucinado da televisão portuguesa e que recentemente foi "convidado" a abandonar um comício do PS. Pois então, não é que o JEL nos informou de que os "Homens da Luta" não irá mais para o ar porque não há nenhuma televisão que queira o programa!?! Deve ser a tal asfixia democrática de que nos fala o PSD.

Coitado do JEL, pá! O Unas acha que na América o programa faria um sucesso. Eu também. Aliás, os "Homens da Luta" já estiveram no metro de Nova Iorque e funcionou. Portanto, para a frente camaradas, a luta continua!

Independência?


Lembram-se daquele juiz Tarzan, Rui Teixeira de seu nome? Pois bem, está a amargá-las! Embora aquele seu jeito gingão nunca me tivesse agradado, a verdade é que a coragem com que se dedicou ao caso Casa Pia foi admirável. Uma espécie de Baltasar Garzón à portuguesa!

Infelizmente, os seus esforços - bem ou mal - não deram em nada. O caso Casa Pia ficou em águas de bacalhau e Rui Teixeira foi marginalizado. Primeiro, despacharam-no para Timor. Depois, deixaram de lhe pagar os salários que lhe eram devidos em Portugal. E, agora, ao que parece, congelaram-lhe a avaliação!

Esta sequência de eventos evidencia que a Justiça portuguesa, contrariamente ao que a Constituição estipula, não é independente. "Eles" não esquecem. E quem são "eles"? São políticos. Porra, mas que raio de país...

Pilotos


Do mesmo modo que há semanas critiquei os bagageiros, também agora considero inaceitável o dano que o sindicato dos pilotos está a causar à TAP. Aparentemente, os pilotos da TAP ganham em média 8 mil e tal euros por mês - dizem os senhores que é pouco - e querem mais. Óptimo! Eu acho muito bem que cada um seja ambicioso e que procure o melhor para a sua família. Contudo, a coisa muda de figura quando estamos a falar de uma empresa - a TAP - que está tecnicamente falida, cujos capitais próprios são negativos em 200 e tal milhões de euros e que, à luz das directivas europeias, não pode ter mais injecções de capital provenientes dos cofres públicos! Portanto, a ambição dos pilotos é totalmente deslocada de qualquer razoabilidade e espírito de equipa. Se querem salários mais altos, então devem emigrar porque, por cá, o único empregador pode muito bem vir a fechar as portas...
Já agora, perdõem-me a ignorância, não podia a administração da TAP ter pedido uma ajudazinha aos pilotos da Força Aérea Portuguesa?! Ultrapassavam os problemas colocados pela lei do direito à greve - nomeadamente, essa história de não poder contratar substitutos - e punham os aviões no ar...quiçá, com voos e manobras mais agressivas que o habitual, mas um avião é sempre um avião, não?!

América

O poder da espontaneidade!

Inimputáveis


A vergonhosa investigação aos casos de cegueira no Hospital Santa Maria em Lisboa é um "case study" notável. Pior que esta só mesmo a investigação que (não) se fez a Camarate!

Ou seja, de acordo com os relatos da imprensa de hoje, as análises foram feitas OITO dias depois (!!) e apenas incidiram sobre 1 dos 6 doentes afectados...Isto é gozar com a opinião pública e com os doentes que cegaram e que, pelo menos, merecem uma explicação razoável. Até porque, pelas palavras do Presidente da Entidade Reguladora da Saúde ontem na televisão, está à vista de todos que aqueles envolvidos no assunto sabem muito bem o que aconteceu...

Enfim, há erros (profissionais e pessoais) que não se podem cometer na vida. E que têm de ser reconhecidos e sancionados de forma célere, para servirem de exemplo e para que não se repitam no futuro. Assim, seria preferível sacrificar as carreiras de quem cometeu este erro catastrófico, dando-lhes a possibilidade de daqui a alguns anos retomarem o sector (algo normal noutros países), do que tapar o sol com a peneira e ficarmos todos inseguros quanto à qualidade de certos serviços médicos em Portugal.

Escutas: uma novela venezuelana


Ora bolas Sr. Presidente da República! Mas então tanto barulho para quê? Para fazer isto mais valia ter ficar quieto.

sonho "democrático"

1 maioria, 1 Presidente, 1 SNS, 1 serviço de psicocirurgia...

lista de espera

Ainda mal se iniciaram as intervenções de psicocirurgia, em Coimbra, e já há lista de espera:

Osama Bin Laden
Húgo Chavez
Fidel Castro
Evo Morales
Manuel Zelaya
Mahmoud Ahmadinejad
Ali Hoseyni Khāmene’i
Khaled Meshaal
Muammar al-Gaddafi

protagonistas

Magalhães
Cavaco Silva
José Eduardo Moniz
Manuela Moura Guedes
Pacheco Pereira
Fernando Lima
António Mota
João Marcelino
José Manuel Fernandes
Zapatero
Carolina Patrocínio

Os grandes protagonistas das legislativas de 2009.
Lista retirada do arquivo do Blasfémias.

amansar a fera

Neurocirurgiões colocam eléctrodos no cérebro para tratar doenças psiquiátricas
Esta abordagem implica a colocação de eléctrodos no cérebro para tratar obsessivos-compulsivos. O próximo alvo serão os casos de depressão grave, que poderão arrancar já em 2010. A agressividade impulsiva é outra das possíveis aplicações desta psicocirurgia.
Via Público

Desculpem a minha ingenuidade, um tipo que se considere uma fera poderá sofrer de agressividade impulsiva? Acho que conheço um candidato para esta cirurgia e não será difícil conseguir a autorização de dois psiquiatras da oposição.

com escolha

A saúde é demasiado importante, por isso não aceito que seja tratada por burocratas partidários. A liberdade de escolha é um direito inalienável. Temos de ter um mercado a funcionar com concorrência entre públicos e privados.
Só nos faltava um regime soviético. No dia 27 vou votar num partido que seja favorável à liberdade de escolha.
Eu não ponho todos os ovos no mesmo cesto, não sou da populaça.

sem escolha

A saúde é demasiado importante, por isso não aceito que seja tratada como um negócio. A concorrência não é necessária porque tenho a garantia do Estado. O que seria dos portugueses sem o SNS...
Mais vale um monopólio de Estado do que nada. No dia 27 vou votar num partido que defenda a exclusividade do SNS.
Eu ponho todos os ovos no mesmo cesto, sou da populaça.

24 setembro 2009

Sinais de (algum) desespero


A que propósito andam os ministros do Governo da República a fazer campanha eleitoral de rua?!? Ou seja, não faltam dossiers pendentes e alguns destes senhores andam nas arruadas...enfim, que falta de sentido de Estado...

Sinais de desespero


"Ao contrário do que muita gente pensa, o PSD não é um partido de direita!", Marques Mendes, citado hoje pelo DE.

Eleições: prognósticos (antes do final do jogo!)


As sondagens que hoje têm sido divulgadas não me surpreendem. Há muito que tenho que para mim que José Sócrates será reeleito. Inicialmente, há coisa de dois anos pensava que seria com uma confortável segunda maioria absoluta. Até apostei uma Barca Velha! Mais recentemente, a crise interna e externa, associado ao desgate do executivo após quatro anos de governação, fizeram com que as bases de Sócrates tivessem estremecido, pondo até em causa a nova maioria absoluta. Esta fragilidade foi agravada pelo grave erro estratégico de promover Vital Moreira para as europeias e, também, pela extraordinária surpresa que foi a ascenção de uma figura nova no desgastado PSD, Paulo Rangel. Contudo, a inevitável tendência do PSD em dar tiros nos pés - nomeadamente, essa disparatada lista de deputados - e a inabilidade política de Ferreira Leite lá recolocaram este PSD no seu devido lugar. Nesse aspecto, esta polémica de última hora das escutas parece-me quase irrelevante.

Assim, neste momento, a hipótese da maioria absoluta do PS volta a não ser uma mera hipótese académica. Na minha opinião, tendo em conta a decepção que foi a campanha televisiva de Francisco Louçã e considerando a boa inércia do CDS, acredito que existem dois cenários mais prováveis: a) o BE e o CDS confirmam estas minhas impressões, reduzindo o incentivo ao voto útil contra o PS e retirando eleitorado ao PSD, e Sócrates vence com maioria absoluta ou; b) Sócrates vence com maioria relativa coligando-se de seguida com a CDU de Jerónimo de Sousa. Neste último cenário, Sócrates teria três vantagens: a) conquistaria a maioria parlamentar que, ao seu gosto pragmático, lhe permitiria governar com mais à-vontade; b) estaria coligado com um parceiro fraco, pois Jerónimo dificilmente poria em causa o regresso dos comunistas ao poder (inédito na Europa de hoje!) e; c) reforçaria a sua popularidade junto da opinião pública portuguesa que, tendencialmente, e apesar da sua paixão por líderes fortes, sofre de um complexo de esquerda!

Quanto ao PSD, que se afigura cada vez mais como o grande derrotado destas eleições, está prestes a perder uma grande oportunidade de voltar a ser um partido de governo. Na realidade, estas eleições fazem-me lembrar as eleições norte-americanas de 2004, em que se pensava que Bush, muito fragilizado, pudesse ser apeado por John Kerry. A campanha de Kerry ainda ganhou algum fôlego, mas que depois se esvaziou rapidamente conduzindo à reeleição confortável daquele que, decididamente, foi o pior Presidente da América de sempre. Outro exemplo recente: a releição, no ano passado, de Zapatero, ele próprio uma nulidade política que parece apostado em destruir a Espanha. Aqui em Portugal, mesmo considerando que Sócrates está bastante acima das ilustres personalidades referidas anteriormente, encaminha-se para repetir a façanha que já vimos nesses outros países. Ou seja, dada iminência da derrota, o PSD tem aqui outra oportunidade notável: reformar-se de uma ponta a outra. Neste blogue, o rui A. tem defendido repetidas vezes que Rui Rio será o próximo líder do partido. Talvez. Rio tem sabido manter-se à parte da máquina partidária laranja, o que só o tem beneficiado. Mas, a não ser que elimine os tentáculos estabelecidos dessa mesma máquina interna, Rui Rio será derrubado por outro qualquer golpe palaciano. De resto, não foi por acaso que Paulo Rangel surpreendeu pela positiva. Ora, ali estava uma figura nova, capaz, bem falante e que conquistou a simpatia e, provavelmente, a admiração do eleitorado. É isso que as pessoas querem: outra gente. Infelizmente, é o que mais falta!

sondagens

A confirmar-se esta sondagem da TVI, o PS governará à esquerda ou à direita, isto é, com o Bloco de Esquerda ou com o CDS. Se seguir a orientação maioritária do país - segundo a mesma sondagem, com quase 56% de votos à esquerda -, terá de coligar-se com o Bloco. Se pretender ficar ao centro, escolherá o CDS. É com um destes cenários que o país muito provavelmente acordará no dia 28 de Setembro.

os vícios do SNS

Portugal tem mais médicos, per capita, do que a média da OCDE e muito menos enfermeiros. Contudo, o SNS importa médicos do terceiro mundo e há desemprego entre os enfermeiros.
Um falhanço monumental do plano quinquenal?
Médicos por 1000 habitantes:
Portugal 3,4 ; OCDE 3,1
Enfermeiros por 1000 habitantes:
Portugal 4,6 ; OCDE 9,7
O que é que falha na saúde? A planificação ou o mercado?

as dicotomias virtuosas

Eu hoje sinto-me voltado para as dicotomias. Provavelmente pela benfazeja influência do Prof. Cardoso Rosas – um portento insuperável nestes domínios -, talvez por elas ajudarem o meu espírito simples a compreender a complexidade da existência e da política, talvez por ambas as razões, não sei. O que sei é que estou virado para elas, e vou, por isso, socorrer-me da técnica para tentar compreender o comportamento da esquerda e da direita nestas eleições.

Não deixa de ser impressionante a semelhança histórica dos métodos usados pela esquerda para ganhar poder e eleições. Nestas eleições, ela apostou – como quase sempre o faz – no medo do eleitorado. A técnica foi – é – a de agitar inimigos terríveis e difusos, como o regresso ao passado, a parcialidade do Presidente da República, as semelhanças da líder da oposição com António de Oliveira Salazar. A mensagem é simples: o povo português corre o perigo, se não votar na esquerda, de estagnar, de voltar aos sinistros tempos do “fássismo”, e, pior do que isso, ficará nas mãos de conspiradores inescrupolosos e imorais que atentam contra o progresso e a felicidade do povo.

Nos tempos idos da Revolução Francesa, quando estes conceitos operacionais de esquerda e direita se estabeleceram, os Montanheses usaram a mesma técnica para chegarem ao poder. Agitaram o fantasma do Rei, o pobre Luís XVI que só queria paz e sossego, do perigo austríaco, das traições sucessivas dos aristocratas e dos emigrés, inventaram armários secretos cheios de “provas” das conspirações, primeiro. Mais tarde, debelados estes “perigos”, iniciaram as purgas internas para melhor concentrarem o poder, e acusaram de conspiração e traição os próprios republicanos menos radicais do que eles, atacando os Bernardinos e os Girondinos, chegando a pôr a cabeça de muitos deles – entre os quais o célebre Danton – no cadafalso. À cabeça (literalmente falando) deste processo, estava um homem que fazia da virtude e da incorruptível honestidade (a tal “moralidade” de que nos fala o Prof. Rosas) a sua imagem de marca política: Maximilien Robespierre. Este, que já muito antes dominava praticamente a Convenção, assumiu o poder absoluto em Julho de 1794. Durante um ano, até o deceparem em Agosto de 1795, governou pelo Terror e condenou à morte milhares de cidadãos franceses. A maioria condenada em julgamentos sumários, no célebre Tribunal Revolucionário (caricatamente criado pelo próprio Danton...), presididos por juízes corruptos e com jurados comprados. Tudo em nome da virtude e da honorabilidade da República, obviamente, e honrando os vaticínios proféticos de Voltaire, que anos antes escrevera: “Esmaguemos os fanáticos e os patifes (...). Não permitamos que os possuidores de inteligência sejam dominados pelos que a não têm”. E assim foi feito.

Em contrapartida, a direita manifestava também, já nessa altura, os tiques que hoje mantém. Receosa, temerária, com medo das acusações que a Montanha lhe movia, colaboracionista até estar em jogo o próprio pescoço, deixou-se salamizar (outra técnica clássica da esquerda) e levar ao cadafalso, até à sua quase extinção.

Quando agora ouço falar na superioridade intelectual e, consequentemente, na honestidade intrínseca da esquerda, versus a arrogância moral e aristocrática da direita, e da sua ambição conspirativa do passado, vêm-me à cabeça estas coisas delirantes e exageradas. Certamente que não fazem qualquer sentido, e que não será no próximo dia 28 de Setembro que introduziremos a guilhotina no nosso sistema penal. As nossas técnicas foram sempre mais sofisticadas.

os incorruptíveis

O Prof. Cardoso Rosas tem ultimamente abusado da paciência dos leitores do i com uma abundância generosa. Mas, hoje, excedeu os limites, ao estabelecer mais uma das suas já célebres dicotomias sociológicas entre esquerda e direita, desta feita caracterizada pela falsa “moralidade” supostamente reclamada pela direita e por uma evidente superioridade intelectual da esquerda.

O ponto, de tão básico e rudimentar, é horrorosamente simples: a direita reivindicaria uma superioridade moral e ética (que não tem) sobre os seus adversários, fazendo-lhes ataques vis com o fim de lhes assinar o carácter, enquanto a esquerda, olimpicamente capaz de “resistir” a essas baixas tentações, se eleva na nobre missão de procurar uma “distribuição mais igualitária” da “riqueza” e das “liberdades” para os seus semelhantes. Saiba Deus o que possa ser a “distribuição das liberdades”, que o Prof. Rosas infelizmente não explica, embora se entretenha a exemplificar os “assassinatos de carácter” perpetrados pela direita.

Os exemplos dificilmente poderiam ser mais convincentes e academicamente rigorosos: a perseguição movida pela direita republicana ao honorabilíssimo saxofonista Clinton em assuntos absolutamente domésticos, e ao martirizado Presidente Obama, vilipendiado na net por bandos de tarados que afirmam que ele é não o Messias, não o Super-Homem, mas, nem mais nem menos, um miserável agente estrangeiro com a missão de destruir os Estados Unidos da América. Subjacente a estes exemplos está, obviamente, o nunca citado, embora muito presente, Engenheiro José Sócrates, também ele sobejamente caluniado pela “direita moral” do PSD com a sua miserável e falsa “política de verdade”

Falta, contudo, a esta bacoca genealogia da moral e da inteligência, tão subtilmente estabelecida pelo Prof. Rosas, o exemplo maior da superioridade moral na política, de que ele se deve, de resto, orgulhar: o velhinho Maximilien Robespierre, o “Incorruptível”, o virtuoso dirigente do Comité de Salvação Pública, homem acima de qualquer suspeita que apenas queria moralizar a República, e que, entre 1794 e 1795, se entreteve a guilhotinar centenas de “corruptos” sem moral. Gente estúpida de direita, sem dúvida, guilhotinada pela melhor inteligência da esquerda.

Andam por aí, de resto, alguns virtuosos que o fazem lembrar, e que sacrificadamente se sentarão ao lado do Eng. Sócrates, caso ele venha a chefiar o governo saído das próximas eleições, para generosamente se dedicarem a distribuir as nossas liberdades e riquezas.

410.000 empregos

Os serviços de saúde, nos EUA, ocupam cerca de 10% da força laboral (15 milhões de trabalhadores). Em Portugal essa cifra corresponde a cerca de 2,7% (150.000 trabalhadores numa força laboral de 5,6 milhões).
Isto significa que existe, no nosso País, um espaço potencial para a criação de cerca de 410.000 empregos na área da saúde.
É muito importante retermos este número – 410.000 empregos.
Como temos (oficialmente ) 500.000 desempregados, estes 410.000 empregos eliminariam totalmente o desemprego em Portugal (sobraria a chamada taxa de desemprego natural).
A criação de empregos na saúde não é instantânea, necessita de acompanhar o desenvolvimento económico e depende também do sistema de saúde e da estratégia para o sector.
Ora, aqui é que reside o problema. O SNS, pela sua posição de monopólio de Estado, impede, de facto, a criação de postos de trabalho na saúde.
O desemprego que começou a surgir na enfermagem, uma profissão com falta de profissionais, demonstra a perversidade do problema.

23 setembro 2009

motor de busca ideológico




BE abandona plataforma "roja" e transforma-se num motor de busca ideológico. Adopta cores da GOOGLE.