31 maio 2009

ouriço





Eu sou um ouriço. Toda a minha visão do mundo assenta sobre uma única ideia: nós somos indivíduos da espécie Homo Sapiens. O nosso grande objectivo é idêntico ao de todos os outros animais, com que compartilhamos a terra, sobrevivermos e reproduzirmo-nos. Ou, para usar a expressão Bíblica – Crescermos e multiplicarmo-nos.

Isaiah Berlin












Multa novit vulpes, verum echinus unum magnum.

30 maio 2009

projecto para um livro















Vamos ver o que sai daqui...

linha mestra

Como é que podemos resumir os últimos quatro anos de governo do PS? Será que é possível encontrar uma linha mestra? Eu penso que sim.
Foram quatro anos a aplicar o economicismo (o modelo E) a todas as áreas da governação. O modelo E já tinha sido aplicado na saúde pelo PSD, o “mérito” do PS foi aplicá-lo na educação, na justiça, na segurança social, etc.
As consequências estão à vista. Não creio que um hipotético governo do PSD inverta esta tendência. Ambos os partidos acreditam no economicismo.

E agora?



Há algumas semanas, a jornalista Clara Ferreira Alves publicou no Expresso um artigo particularmente crítico acerca de Mário Soares, que intitulou de "Este é o maior fracasso da democracia portuguesa".

O artigo vale pela sua contundência, mas vale sobretudo por aquilo que representa: a desfaçatez com que se fazem acusações relativas a alegadas burlas - igualmente desavergonhadas.

Actualização 16h00: Um leitor, através da caixa de comentários, chamou a minha atenção para o facto de Clara Ferreira Alves já ter desmentido a autoria do texto e que este nunca foi publicado no Expresso. Portanto, só me resta fazer duas coisas: 1) lamentar o lapso, pedindo desculpa à jornalista pela associação indevida do seu nome ao artigo em causa e; 2) evidenciar o tipo de burla a que todos estamos sujeitos na blogosfera.

credulidade

Em posts anteriores explorei a possibilidade de classificarmos os indivíduos, numa sociedade, de acordo com a sua tolerância à diferença e grau de confiança que têm uns nos outros. Daí resultou esta minha tabela.
Todas as classificações são o que são, como os comentadores imediatamente sublinharam, e esta não poderia escapar à regra, tanto mais que está muito longe das ciência concretas, sendo que, até nestas as classificações são problemáticas.
Contudo, tem tanto valor como classificarmos os indivíduos, numa sociedade, de acordo com as suas preferências políticas, esquerda ou direita, por exemplo, ou qualquer outra divisão, necessariamente artificial.
Se nos prepararmos para passar férias no Dubai, sabendo que se trata de uma sociedade com muitos intolerantes, talvez possamos evitar enfiar a língua pelas goelas abaixo da namorada, em público, ou pedir-lhe para tirar o bikini na praia, de modo a deixar vesgos os indígenas. Como o castigo para este tipo de comportamentos vai de 100 chicotadas nas costas até regressar a casa com os guizos num frasco de formol, o melhor será “não confiar”.
Em nenhuma sociedade intolerante de desenvolve um elevado grau de confiança (trust), especialmente em relação a tudo o que é diferente. Daí que, numa sociedade com muitos bárbaros o desenvolvimento económico é sempre limitado.
A credulidade está intimamente ligada à tolerância. Uma sociedade muito crédula é sempre intolerante com os incrédulos. Os decadentes, por seu lado, são muito tolerantes porque não acreditam em nada, são niilistas.
As pessoas civilizadas, penso eu, acreditam em certos princípios, mas estão sempre dispostas a conceder o benefício da dúvida. É por isso que as sociedades civilizadas podem ser muito mais caleidoscópicas e criativas.

29 maio 2009

Veto obrigatório


"O Presidente do Governo Regional dos Açores, Carlos César, defendeu o voto obrigatório como forma de proteger a democracia e aumentar a responsabilidade dos políticos", Diário Económico.

:-)))) !!!

Voto em branco


"(...) o voto em branco (ou deliberadamente nulo) é, do meu ponto de vista, um voto que me merece a maior consideração. É de alguém que se deu ao trabalho de não ir à praia, que participa na democracia mas que não se revê nos partidos e nas pessoas que se apresentam a votos. O voto em branco é um voto de protesto contra essas pessoas e esses partidos, em concreto. Mas não é um voto contra a democracia ou contra os partidos, em geral, como é a abstenção. Infelizmente, o nosso sistema eleitoral não distingue as duas situações. (...) O voto em brano (não a abstenção) é um voto politicamente consciente e deveria estar parlamentarmente representado por ninguém.", Luís Campos e Cunha na edição de hoje d' O Público.

Genica


Conferência


Ontem, estive em Lisboa a assistir a uma conferência do Financial Times dedicada ao tema "Financial Growth in Portugal". Num elenco de luxo, entre os oradores estiveram Carlos Tavares e Vítor Constâncio, entre muitas outras reputadas personalidades.

No decorrer da apresentação do Governador do Banco de Portugal foi analisada a saúde financeira da banca nacional e a validade de certos critérios contabilísticos - nomeadamente o célebre "Mark to Market" -que, embora virtuosos, exacerbaram alguns dos problemas viciosos nos balanços dos bancos (em particular, nas entidades estrangeiras). Outro tema destacado no powerpoint do senhor Governador foi a situação do mercado imobiliário português. Em traços gerais, o cenário apresentado foi o seguinte: em Portugal, nos últimos anos, não houve bolha especulativa, logo, não se justificam correcções excessivas nos preços das casas. "No boom then, no bust now" - sentenciou Vítor Constâncio.

Em relação ao primeiro tema, durante o período de perguntas e respostas após a sua intervenção, tive a oportunidade de lhe colocar duas questões: 1) se a metodologia associada aos "stress tests" realizados nos EUA fosse aplicada aos bancos portugueses, qual seria o seu grau de conforto com as actuais provisões estabelecidas pelas nossas instituições para situações de crédito mal parado? e 2) estando eu de acordo com a natureza pró-cíclica de critérios contabilísticos como o "Mark to Market", tese defendida por Constâncio, qual é a fronteira que separa a necessidade de adoptar critérios contabilísticos menos pró-cíclicos sem abdicar da transparência e da natureza fidedigna que a contabilidade deve assumir a todo o momento? Quanto à primeira pergunta, a resposta do senhor Governador foi taxativa: sente-se confortável, de resto, o Banco de Portugal também realiza "stress tests", contudo, não divulga os resultados desses mesmos testes. Quanto à segunda questão, a resposta foi mais evasiva, o que é compreensível dada a dificuldade da matéria e dado o facto de não existirem soluções perfeitas.

Por fim, uma questão que não coloquei, na altura não me ocorreu, mas que merece ser discutida e que é muito simples: independentemente das oscilações conjunturais dos preços no sector imobiliário, quantos anos de salários custam os imóveis que, em média, os portugueses adquirem? Eu não estou na posse de dados que me permitam quantificar esta minha dúvida, mas tenho a impressão que, em média, os portugueses demoram mais anos a pagar as suas casas que a generalidade dos cidadãos da União Europeia. Se os números confirmarem esta minha impressão, então, é caso para argumentar acerca de uma bolha estrutural no imobiliário nacional. Mas pode ser que não...O melhor mesmo é procurar os números!

Ps: Pela primeira vez em Portugal, assisti a uma conferência conduzida 100% em inglês. E fiquei agradavelmente surpreendido pela fluência Shakespeariana da maioria dos oradores portugueses.

PS = PSD

Porque é que os principais partidos políticos, o PS e o PSD, se renderam à tentação economicista (modelo E) na saúde?
1.Porque têm uma perspectiva de curto prazo. Querem resolver os problemas que saltam mais à vista, no prazo de uma legislatura (4 anos). Ora as reestruturações segundo o modelo O são mais demoradas. Exemplo, as listas de espera: criar programas ad hoc para diminuir as listas de espera sempre pode dar alguns resultados no curto prazo.
2.Porque têm centenas de boys para colocar e acreditam que centralizando a responsabilidade pelas principais decisões podem colocar irresponsáveis no terreno.
Para aplicar o modelo O, o MS teria de recorrer a gestores com capacidade de liderança e pagar-lhes adequadamente. E os boys?

o PSD e o modelo E

A incrementação do modelo E, na reestruturação do SNS, começou com o PSD, há cerca de 7 anos. E continua a fazer parte dos planos deste partido.
Recorde-se aqui este texto do RAF.

o PS e o modelo E

Correia de Campos (CC) foi um dos arautos do economicismo na saúde. Todos nos recordamos dos episódios do encerramento das urgências e das maternidades que levaram à sua demissão.
CC apresentou aquelas medidas como resultando da necessidade de racionalizar e melhorar a qualidade do SNS, mas o que estava em causa, na realidade, eram tostões e cifrões.
Enquanto CC fazia a ronda dos telejornais a explicar que as maternidades com menos de X partos/ano não eram seguras, porque o pessoal não desenvolvia a experiência necessária, o Ministério da Saúde, cinicamente, promovia, ou deixava promover, nalguns hospitais de topo, o parto não assistido. No S. João, por exemplo, as grávidas podiam (e podem) optar por ter as crias sem monitorização médica. Ora quando se promove o parto não assistido, num hospital universitário, que desculpa se pode engendrar para pôr fim às maternidades que ofereciam partos razoavelmente assistidos?

o fracasso do modelo E

A aplicação do modelo E na saúde nunca poderá resultar porque o sistema de saúde (ou o SNS) não é uma empresa.
Numa empresa o economicismo pode diminuir os custos de produção, aumentar a produtividade, melhorar a qualidade dos produtos, aumentar a facturação, etc., e, por fim, melhorar o retorno do capital (ROE).
No SNS, devido à gratuitidade dos serviços, no acesso, o aumento da oferta induz um aumento da procura, anulando quaisquer ganhos obtidos. Para o financiador, o modelo E não sai mais barato, sai mais caro.
Daí que, depois de sete anos de economicismo, os gastos com a saúde já atingiram uns insustentáveis 10% do PIB.

28 maio 2009

má consciência

Este género de comparações feitas reiteradamente por padres e responsáveis da Igreja Católica (desta vez, pelo Cardeal António Cañizares, na fotografia), sobre a gravidade relativa de práticas abortivas e de abusos sexuais, são ofensivas, infames e denotam má consciência de quem as faz. Há coisas que pela sua gravidade absoluta – e um aborto e a pedofilia são dois casos exemplares -, não devem servir para comparações relativas, das quais sempre resulta o abono de uma delas. No caso das comparações feitas por padres católicos, saem sempre abonadas as práticas pedófilas.

Dado o excesso e a frequência de declarações deste teor, sempre muito veiculadas pela comunicação social, não seria pior que o Papa, sem dúvida um homem sensato cuja teologia não deve compreender nem aceitar esta relativização do pecado, mandasse calar esta gente. Ou, em alternativa, mandar publicar um índex dos pecados, hierarquizando-os do menor ao maior, do menos para o mais grave, de modo a que sempre que estejamos à beira de cometer um, possamos procurar um outro que nos alivie mais a alma.

o fim de um regime

o modelo O na saúde

Em que consistiria a aplicação do modelo O na reestruturação do sector da saúde, em Portugal?
Consistiria, em primeiro lugar, na descentralização administrativa. Todas as unidades do SNS têm de ser autónomas para gerirem os seus recursos de acordo com os interesses das populações locais. A empresarialização não foi acompanhada de autonomização, infelizmente.
Em segundo lugar, o modelo de gestão, em cada unidade de saúde, tem de evoluir, do actual modelo de “comando e controle”, para uma gestão mais matricial, mais participada.
Todos os trabalhadores têm de ser envolvidos neste processo. Todos têm de conhecer a missão da organização e “vestir a camisola”. Não podemos continuar com o modelo funcional, demasiado compartimentado e hierarquizado. São soluções do passado.
Em terceiro lugar, devem ser adoptadas todas as modernas ferramentas de gestão, desde logo as informáticas (o que aliás já começou a ser feito). E, no meu ponto de vista, toda a informação deve estar disponível ao público. Nada se passa de sigiloso nos hospitais, excepto o que diz respeito à privacidade dos doentes que deve ser absoluta.
Por fim, as populações têm de ser ouvidas e respeitadas. Aliás, também as populações devem participar, dentro do possível, em qualquer reestruturação.

o modelo E na saúde

As sucessivas mudanças que foram ocorrendo na saúde, em Portugal, privilegiaram o modelo E. O Ministério da Saúde (MS), especialmente nos últimos 7 anos (com Barroso, Santana e Sócrates), acentuou esta tendência, em detrimento do modelo O.
Porquê e como?
Se nos colocarmos na perspectiva dos governantes torna-se relativamente fácil responder ao porquê. O SNS, à medida que cresceu, foi consumindo mais recursos financeiros, mas este esforço adicional quase nunca se traduziu num aumento da produtividade, nem numa maior satisfação dos “utentes”. Pelo contrário, a procura crescia mais depressa do que a oferta, criando situações embaraçosas, como as famosas listas de espera.
A resposta (o como?) foi tentar “melhorar a produção”, através de soluções empresariais, no sentido de se obterem resultados no curto prazo (longo prazo, em política, são quatro anos). A empresarialização dos hospitais, as PPP's, os programas de combate às listas de espera, o downsizing, a subcontratação, o trabalho precário, etc., foram medidas que seguiram o modelo E.
Os resultados destas políticas foram os esperados. A “máquina SNS” debita um maior “output”, mas também custa muito mais a manter. Por outro lado, aumentaram os conflitos institucionais, aumentou a insatisfação dos profissionais do sector e institucionalizou-se uma certa desumanização.
O mais importante, porém, é que é duvidoso que os “utentes” estejam mais bem servidos.

E ou O

Há essencialmente dois modelos de reestruturação empresarial que, lá por Harvard, são conhecidos como o modelo E e o modelo O.

O modelo E, ou economicista, consiste numa concentração da empresa nas suas actividades mais lucrativas (o chamado core business), na alienação dos activos que não cumprem os objectivos, na redução do pessoal (downsizing) e na subcontratação (outsourcing). O sucesso das reestruturações que seguem o modelo E avalia-se pelo retorno do capital investido (ROE), em particular no curto e no médio prazo.

O modelo O, ou organizacional, consiste na reinvenção da empresa através de novos modelos de gestão, da introdução de novas tecnologias e do aumento da produção. No modelo O, os trabalhadores participam em todo este processo; dão sugestões e adaptam-se às novas realidades. O sucesso deste modelo avalia-se pelo valor dos activos da empresa, pelo valor do seu “goodwill” e pelo grau de satisfação de todos os stakeholders. O retorno do capital (ROE) é avaliado a mais longo prazo.

O modelo E, é liderado de cima para baixo, com atritos e conflitos permanentes. O modelo O emerge de baixo para cima, dentro da visão e dos objectivos da liderança.

Ao longo dos anos, em Portugal, tem sido utilizado, quase exclusivamente, o modelo E. Não só nas empresas mas também no Estado. Chegou a altura do modelo O. Nos próximos posts vou dar exemplos da aplicação do modelo E na saúde e esboçar alternativas.

27 maio 2009

BPN


O dia de ontem ficou marcado pela audiência realizada pelos deputados da Assembleia da República ao antigo presidente executivo do BPN, Oliveira e Costa, a propósito da falência do banco. A sessão prometia ser reveladora. E em certo sentido foi.

A imprensa de hoje, primeiro ponto, relata com grande entusiasmo que Oliveira e Costa desmentiu Dias Loureiro. Segundo ponto, o enigmático Joaquim Coimbra, aquele que numa ocasião anterior, perante os mesmos deputados, afirmou estar convencido de que a falta do BI (Banco Insular) correspondia a algum Bilhete de Identidade (BI) em falta - santa ingenuidade! -, agora descrito como o alegado mentor e estratega maquiavélico de uma cabala destinada a destituir o próprio Oliveira e Costa. E, por fim, terceiro ponto, Miguel Cadilhe, que voltou ao centro das atenções, alegadamente como o coveiro oficial do BPN.

Bem, a minha opinião é a seguinte: 1) a posição de Dias Loureiro é insustentável, mas já é insustentável desde a sua primeira audiência no Parlamento; 2) não compreendo como é que Joaquim Coimbra alega nunca ter estado a par do BI e; 3) foi a acção de Miguel Cadilhe que, mal tomou posse como novo presidente executivo do banco denunciou as irregularidades anteriores à PJ, acabou por despoletar o colapso do grupo, independentemente de Oliveira e Costa ter sido o principal obreiro da falência do BPN. Moral da história, o verdadeiro criminoso está na cadeia. Mas nenhum dos outros sai bem na fotografia, nem mesmo Miguel Cadilhe que, sendo um homem competente e avisado, não tinha necessidade nenhuma de se ter envolvido naquele banco complicado.

padrão ouro

Durante o dia de ontem fui trocando emails com um professor de uma destacada universidade espanhola, a propósito de um livro dele que estou a terminar.
Nesse livro, o autor afirma que “o padrão ouro não é desejável porque a expansão da economia é muito mais rápida do que a capacidade de produzir ouro" e que, "a partir de um certo limite, não existiria dinheiro para novos bens".
No meu primeiro email, expressei a minha discordância dizendo que se o padrão monetário fosse o ouro e se a procura de moeda aumentasse, o ouro valorizaria e o custo dos outros bens “desvalorizaria” (em termos relativos), encontrando-se um novo equilíbrio.
A resposta do Prof. não se fez esperar. Em vez de argumentar, o referido Prof. explicou-me que “o seu livro tinha sido revisto por dois catedráticos e por um banqueiro e que a prova do que dizia é o que o padrão ouro tinha sido abandonado”.
Sorri com esta resposta, normal para um país Católico, impensável num país Protestante. Respondi-lhe que tinha ficado surpreendido que o livro não tivesse sido revisto pelo Papa, mas que mantinha a minha opinião. A resposta seguinte foi mais apaziguadora: “espero então que gostes do resto do livro”.
Gracias.

O PS QUER IMPOSTOS EUROPEUS

Comentários para quê?
Via Público

mudança

Portugal tem de mudar. Sem mudanças, Portugal continuará lentamente a empobrecer, a população diminuirá, perderemos importância e, a médio prazo, perderemos a independência. Julgo que ninguém terá muitas dúvidas sobre estas afirmações.
O busílis da questão é como? Penso que será útil estudarmos os grandes processos de mudança que ocorreram em empresas como a GE, sob a liderança de Jack Welch, ou a IBM, com Gerstner, por exemplo, para extrapolarmos alguns princípios orientadores.
Para quem tenha interesse nesta abordagem, recomendo o livro “Managing Change and Transition”, da Harvard Business Essentials.
Em última instância, convém, porém, não esquecermos que um País não é uma empresa. É mais fácil, obviamente, transformar uma empresa.

26 maio 2009

cabras

Três ninfas alimentam um rebanho de cabras. Três ninfas de branco, símbolo da pureza e da virgindade, alimentam as cabras, sinónimo de maldade e de promiscuidade sexual. As cabras, também de um alvo imaculado, assumem a sua natureza selvagem. Eu sou uma cabra, que querem?
Mas há uma saída, as ninfas diferenciam-se das cabras, assemelhando-se entre si. Uma, chega a exibir o sexo, num acto de negação erótica.
Alimentando as cabras, as ninfas mantêm a sua natureza maligna apaziguada, mas têm de renunciar ao erotismo, descaracterizando-se e uniformizando-se.
Eu não sou uma cabra, eu sou uma menina, entre meninas.
Via Cocanha

orgulhosamente só

O discurso do Bastonário dos advogados é incompreensível para a populaça (bárbaros) e é inconveniente para as elites lusitanas (decadentes), vai daí – não tem qualquer futuro.
Os bárbaros não sabem o que são direitos cívicos, nem compreendem, sequer, o conceito de Estado de direito. Apenas entendem a linguagem da lealdade à tribo e aos caciques. As elites, por seu turno, sabem muito bem de que é que o Bastonário anda a falar, mas vivem da influência que exercem e das brechas que conseguem identificar no sistema. Seria suicidário, para as suas bolsas, apoiarem Marinho Pinto.
Restam as pessoas civilizadas, em número muito reduzido para contarem seja para o que for. Pessoas que, de resto, teriam de fazer algum esforço para aceitarem o Bastonário entre os seus.

cassetetonário










Os advogados deram um bastão a Marinho Pinto, mas este pensa recebeu um cassetete.

desordem na ordem

Mau serviço aos advogados e à advocacia portuguesa, o prestado ontem pelo ex-bastonário Rogério Alves, ao fazer apelos à pacificação no seio da Ordem, de modo a evitar uma crise que ela não conseguiria resolver por si. Ora, o receio da implosão da Ordem deveria ser visto como uma boa notícia e não uma notícia má. De facto, talvez assim se conseguisse terminar com o regime corporativo de representação monopolista da profissão de advogado, e avançar para um modelo de organização plural de interesses, que permitisse, mesmo até, o exercício da profissão à margem dessa corporação ou de qualquer outra. Porque a situação, tal como está, de obrigatoriedade de inscrição na única estrutura representativa da classe, perdão, digo, da profissão, faz lembrar a célebre unicidade sindical dos idos da década de 70.

a força legítima - 1

«Das actividades dos grupos de intervenção política, ou supondo que a exerciam, não tive notícias directas, mas sim oportunidade de, na vida profissional, encontrar alguns dos envolvidos. Lembro sempre o Dr. Teófilo Carvalho dos Santos, do círculo do escritório do Dr. Abranches Ferrão, e que foi um dos meus amigos mais queridos e mais íntimos.

Num dos sobressaltos da Polícia Política, que em relação ao Teófilo só não acertava nas ocasiões, por 1947 este acordou na sua casa de Alenquer com os agentes a tomar conta do automóvel e a mandar-lhe que os acompanhasse. Pediu breve tempo necessário para se arranjar, foi para a casa de banho, saiu pela janela, calcorreou os caminhos que bem conhecia, e è noite apareceu-me na casa onde vivia com os meus pais (...).

À noite deambulávamos pela cidade tomando necessárias cautelas, mas no fim de alguns meses, com a intervenção ponderada do seu irmão Dr. José Carvalho dos Santos, que fora um brilhante jovem político antes do 28 de Maio, e passara a maior parte da vida em Angola, concluímos que era necessário esclarecer a situação porque tal regime de vida era intolerável para o Teófilo. (...)

Em poucos dias comunicou-me» (o Dr. Augusto Paes de Almeida e Silva, juiz e antigo Governador Civil de Lisboa) «que se tratava apenas de o Teófilo ser testemunha num processo, que a Polícia estava um pouco humilhada pelo fiasco da diligência em Alenquer, e que o deteria por dois ou três dias, mas de´pois de ouvido seria remetido à liberdade. Trazia fixado o dia da apresentação.

Nesse dia o Teófilo rapou o bigode que deixara crescer, deixou em cima de uma estante de livros de minha casa os óculos escuros que por ali ficaram anos, fomos almoçar aos Irmãos Unidos, leivei-o no meu carro à porta da PIDE, e despedimo-nos para dali aos anunciados três dias.

À noite, quando estávamos à mesa para jantar, apareceu o Teófilo, com a boa disposição que raramente perdia, louvando a intervenção do juiz, contando que passara horas de espera para que um Inspector delicadíssimo lhe viesse pedir desculpa do incómodo, mas adiando a conversa para a semana seguintes.

Esses dias decorreram alegres, na data aprazada repetimos o cerimonial, lá ficou à porta, e só voltou dentro de um ano depois, sem inculpação nem desculpas»

Adriano Moreira, A Espuma do Tempo, Almedina, 2009, pp 132 a 134.

25 maio 2009

o que é a ordem dos advogados?

A Ordem dos Advogados é uma instituição corporativa, encostada ao estado português, que serve para proteger os supostos interesses da sua classe profissional e para limitar o acesso à profissão de milhares de licenciados em idênticas circunstâncias académicas (alguns até com mais curriculum académico) do que aqueles que por lá estão.

Transformou-se, assim, num instrumento proteccionista dos advogados instalados no mercado, em vez de ser uma entidade que fiscalizasse o exercício da profissão, que a protegesse face aos poderes de intervenção do estado e do governo, e que assegurasse aos seus associados algumas regalias pessoais decorrentes do pagamento das quotas e de outras contribuições sociais.

o dilúvio

Quando António de Oliveira Salazar morreu politicamente, em 8 de Agosto de 1968, o regime que ele fundara e dirigira pessoalmente durante 40 anos, desmoronou-se e caiu como um castelo de cartas. Marcello Caetano não soube o que fazer (ninguém no seu lugar teria sabido), o status quo não soube o que fazer, o Presidente não soube o que fazer, a oposição não soube o que fazer, os colaboracionistas do “novo” regime não souberam o que fazer. Como que por um golpe de magia, de um momento para o outro, uma cadeira pôs o país em estado de choque, parado, à espera de tudo e de coisa nenhuma. O legado final do Doutor Salazar ao país foi esse: a inexistência absoluta de instituições e a bovinização completa da vida social e política. O regime era ele, a política era ele, a decisão era dele, a autoridade e o comando, a soberania eram dele também. Enquanto ele viveu, a coisa deu para aguentar. Muitas vezes mal, quase sempre usando força ilegítima, mas foi dando. Depois dele que viesse o dilúvio. E o dilúvio chegou a 25 de Abril de 1974. Ainda hoje todos sofremos com isso.

rendas controladas



Em muitos casos, as rendas controladas são o modo mais eficiente de destruir uma cidade - exceptuando bombardeamentos.

“In many cases rent control appears to be the most efficient technique presently known to destroy a city—except for bombing it." (Assar Lindbeck, The Political Economy of the New Left, New York, Harper and Row, 1972, p. 39)
Citação gentilmente enviada pelo Benjamin

melhor do que o Google?










Se bem percebi... Informação tratada pelas elites para a populaça.
Ver aqui um exemplo de pesquisa: Portugal

24 maio 2009

rato de biblioteca

Rato procura rata, para assunto sério, a ser tratado de preferencia por meios mecânicos.
DN

polido?

A sua opinião é que Manuela Moura Guedes, de quem é amigo, nunca diz mais do que deve?
- Eu não sei. Isso são os tribunais que têm de dizer. Eu não sou um censor da Manuela Moura Guedes.
Via DN
VPV defende que a qualidade do jornalismo deve ser definida pelos tribunais. Pelos tribunais? Nem mais... nem mais...

23 maio 2009

pobre, rico Belmiro

Ontem, Belmiro de Azevedo, numa entrevista à televisão, afirmou, entre outras coisas, que num período de crise, com elevado desemprego, era necessária mais flexibilidade laboral, nomeadamente no que diz respeito a trabalhar aos sábados.
Não atribuí, a estas declarações, qualquer intuito político. Pareceram-me apenas uma manifestação de bom-senso.
Hoje, o Público*, um jornal do grupo Sonae, de Belmiro de Azevedo, chama à primeira página o problema da Autoeuropa, sob o título: “Possibilidade de trabalho gratuito, ao sábado, volta à mesa das negociações na Autoeuropa”.
Ora, o que está em causa na Autoeuropa não é, de forma alguma, trabalhar sem remuneração. O que está em causa é não considerar o trabalho aos sábados como trabalho extraordinário.
O título parece-me, portanto, falso. Mas choca-me, sobretudo, que depois das afirmações de Belmiro de Azevedo, o Público, demagogicamente, continue a alimentar falsas expectativas.
O Público, demonstra mau senso e presta um péssimo serviço ao País, aos trabalhadores da Autoeuropa e até ao patrão do jornal.
* Título da primeira página.

perigos para a democracia







Muitos estarão a interrogar-se se não se teria já falado o suficiente sobre o caso Freeport. A humilhação permanente dos políticos pode ter um custo demasiado elevado, em termos da nossa confiança na democracia.
Texto decalcado das afirmações de Rowen Williams.

É necessário que pessoas com autoridade expliquem à populaça que a roupa suja não se pode lavar em público. Especialmente quando o cesto da roupa vem de S. Bento.

Rowen Williams

Muitos estarão a interrogar-se se não se teria já falado o suficiente. A humilhação permanente dos políticos pode ter um custo demasiado elevado, em termos da nossa confiança na democracia.
Via The Times

Rowan Williams é um distinto intelectual e é ainda o Arcebispo de Cantuária; o líder religioso da Igreja Anglicana. Hoje, num artigo do Times, Rowan Williams alerta para o perigo do enxovalho permanente dos políticos.
A leitura deste artigo recordou-me o caso Freeport. José Sócrates é o primeiro-ministro de Portugal, todas as pessoas responsáveis devem saber que o enxovalho público de Sócrates (como se esforçam por fazer alguns órgãos de comunicação social) descredibiliza a democracia portuguesa e fragiliza o País.

22 maio 2009

de nada vale

De nada valem os sacrifícios ou todo o dinheiro que se investe na educação. Quem nasce pouco inteligente será sempre pouco inteligente. E nada nem ninguém muda esse destino, defende o pedagogo inglês.
"Porque é que temos a pretensão de pensar que conseguimos tornar uma criança mais inteligente do que aquilo que Deus a fez?"
Ler mais no ionline.

futuro




O futuro de Portugal depende de sabermos estabelecer o nosso limite de tolerância para com os bárbaros e os decadentes, e de restabelecermos a confiança nas instituições sociais, que devem ser lideradas apenas por pessoas civilizadas.

21 maio 2009

civilizados

Em posts anteriores, aqui e aqui, procurei caracterizar os bárbaros e os decadentes, vamos agora aos civilizados. O que são pessoas civilizadas?
Segundo o autor que tenho vindo a citar, George Friedmam, “pessoas civilizadas são as que são capazes de balancear, nas suas mentes, pensamentos contraditórios. Acreditam que existem verdades e que as suas culturas se aproximam dessas verdades. Ao mesmo tempo, porém, admitem a possibilidade de estarem erradas. A combinação de crença e cepticismo é, por natureza, instável. As pessoas civilizadas lutam selectivamente, mas de modo eficaz”.
Eu interpretei esta definição como um modelo de tolerância e confiança. As pessoas civilizadas são tolerantes porque não se consideram os donos de verdades absolutas e, por outro lado, confiam em si próprias e na sua capacidade de suster a barbárie.
Decorre destas definições que há pessoas civilizadas em todas as culturas e que poderão ter comportamentos muito diversos, excepto no que diz respeito à tolerância e à confiança (na minha hipótese). Um muçulmano civilizado aceitará a prática de outras religiões, um bárbaro não.
Os portugueses civilizados conformam-se aos nossos costumes e tradições, aquilo que nos torna portugueses e nos distingue dos outros, mas convivem bem com a diferença. Conformarem-se com a nossa cultura significa, para a grande maioria, abraçarem os princípios do Catolicismo, mesmo que à sua maneira, sobretudo aplicando a “Regra de Ouro”: "Não faças aos outros aquilo que não gostas que te façam a ti".
Esse é o comportamento esperado de um português civilizado. Menos do que isto, em Portugal, é um certificado de barbárie ou de decadência.

Preservativos nas escolas



Os deputados da Juventude Socialista concordam. Os deputados em geral concordam. Muitos professores concordam. A opinião pública concorda. Os preservativos devem ser distribuídos nas escolas. Não é estranho que os seres humanos vivam obcecados com sexo. Nem é estranho que se fale de sexo no Parlamento, na televisão e na escola. O sexo é mais interessante que a matemática, o português e a física. Preservativos nas escolas? É uma questão de prioridades. Não há razão nenhuma para que as escolas não sejam um sítio onde se pensa em sexo, se fala de sexo e se pratica sexo. Seja como for, aos 16 anos, os rapazes não pensam noutra coisa. Aquela professora de Espinho, pelos vistos também não. Poderá haver quem defenda que, perante a juvenilização da escola e do Parlamento, devia haver alguém a desempenhar o papel de educador. Não concordo. Que se eduquem uns aos outros.

i sucesso

O i está cada vez melhor, a concorrência deve estar a ganir. Eu costumava comprar todos os dias o Público, o Diário Económico e o Jornal de Negócios, mas agora compro o Público e o i.
Compro o Público pelas crónicas do MEC, gosto daquela maneira incorrecta de tratar temas incorrectos, produzindo conclusões politicamente correctas. Como bónus ainda aprendo umas coisas de português. Comprava o DE e o JN para ler notícias nacionais, que o Público aborda de modo muito faccioso, mas estes jornais estão cada vez mais enfeudados ao poder e perderam o interesse. Agora o i, é uma lufada de ar fresco...
Fiz uma mini sondagem, junto de três jornaleiras, sobre como é que vão as vendas do Público, do DE e do JN? Resultado: o Público sobra mais e os jornais económicos quase não se vendem. Uma jornaleira, mais desempenada, acrescentou – quem compra uma vez o i... continua a comprar.
O i está, portanto, a fazer um trabalho notável. Seria bom que nunca se esquecessem de quem são os clientes.

evolução cultural

As sociedades não nascem civilizadas, vão-se civilizando ao longo de centenas de anos, as mais das vezes por tentativa e erro.

No estado selvagem a cultura é bárbara. A tribo tem códigos de conduta muito estritos e é intolerante com os desvios comportamentais. Todos devem lealdade ao chefe e, apesar de confiarem uns nos outros, não respeitam as tribos vizinhas nem confiam nelas. Se assim não fosse a tribo não sobreviveria. Este padrão de comportamento pode, ainda hoje, ser observado nos gangues urbanos.

O aparecimento de verdadeiras civilizações caracteriza-se por mais tolerância social e pelo desenvolvimento de confiança nas instituições colectivas. Penso que a selecção que utilizei, nesta tabela, das variáveis tolerância e confiança é feliz porque são elementos culturais intimamente relacionados. Os indivíduos são mais tolerantes porque confiam na capacidade de intervenção das autoridades, em particular no que toca à segurança e à justiça.

Quando as instituições deixam de funcionar, de acordo com as expectativas da colectividade, passa-se da civilização à decadência. A tolerância transforma-se em laxismo, os marginais impõem de novo a lei da selva e a sociedade colapsa.

obamobile







Preço: Don't ask, don't tell.
Ver artigo relacionado do WSJ

a crise

A crise portuguesa não é circunstancial, mas estrutural. Não é consequência da famigerada “crise internacional”, que bom jeito tem feito ao governo, mas da falta de condições que o país oferece, ou não oferece, aos portugueses e aos empresários para acumularem capital e criarem riqueza. A quebra do investimento estrangeiro, a deslocalização das empresas, as falências em catadupa, o crescimento do desemprego têm pouco a ver com a crise do subprime ou com outras quaisquer que sejam alheias à nossa pungente realidade. A nossa crise deve-se ao estatismo endémico português que teve a arrogância de pretender substituir-se à sociedade e aos indivíduos. O resultado, agora, está à vista: o estado não chega e os cidadãos não têm para o substituir e também já não sabem viver sem ele. Portugal é, hoje, um país inviável, que subsiste graças ao facto de estar localizado no extremo ocidental da Europa e de existir a União Europeia. Não fora isso e as imagens dos portenhos argentinos com o panelaço de 2002 seriam idílicas comparadas com o que nos sucederia.

dos poucos


Nos comentários ao meu post anterior, levantaram-se interrogações sobre quais são os meus comentadores preferidos. Seguramente, o Miguel e o D. Costa são dois deles. São educados, condição primeira para se manter um debate intelectual. São construtivos, embora por vezes críticos. E possuem a capacidade do pensamento abstracto - uma capacidade rara nos portugueses. São, pois, dos poucos habilitados a discutir ideias.
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Quanto à maior parte dos comentários que aparecem nas caixas, a minha opinião deve ser conhecida - lixo. Mas eu serei a última pessoa a limpá-lo. Eu sinto-me feliz a pensar que o PC permanece, como laboratório, o exemplo absoluto da liberdade de expressão em Portugal - e dos resultados a que ela conduz - e, neste sentido é a maior reivindicação das teses que desenvolvi sobre este tema.
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Eu recordo um pequeno comentário que o Miguel fez há alguns meses a meu respeito e que me tocou particularmente. Já não sou capaz de localizá-lo. Dizia assim: "O Pedro Arroja é um democrata". Acho que me fez justiça. Acho que sou um democrata, apesar de ser um crítico cada vez mais feroz da democracia - e um dos muito poucos democratas que existem em Portugal (Alexandre Herculano achava que era o único do seu tempo). Porquê? Porque na blogosfera como em outros lugares nunca reclamei para mim oportunidades que não reconheça também, e frequentemente em primeiro lugar, aos outros. É claro que não reconheço esse estatuto à maior parte dos comentadores que aparecem por aqui a reivindicá-lo. Encontrar democratas em Portugal é um verdadeiro milagre. No fim, ser democrata é respeitar a regra de ouro: "Faz aos outros ...". O resto é conversa fiada.

20 maio 2009

enquanto houver um

O sindicalismo português, os sucessivos governos e maiorias parlamentares que os vão sustentando ainda não perceberam, ou não lhes interessa perceber, os malefícios que comporta, para a sociedade portuguesa dos nossos dias, uma legislação laboral marxista, à moda do princípio do século XX. E continuarão a fazer de conta que não entendem, enquanto houver um trabalhador com emprego.

não convém


Em relação à dúvida levantada pelo Joaquim aqui acerca do meu pensamento a propósito dos portugueses. Julgo que somos extremamente permissivos nos actos e extremamente intolerantes na palavra.

A liberdade de acção verifica-se sobretudo na esfera privada. A intolerância sobre o pensamento e a palavra verifica-se sobretudo na esfera pública. Portugal é, portanto um país, onde existe uma grande dissonância entre aquilo que se diz em público e aquilo que se faz em privado.
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Como regra geral, não convém acreditar muito num português quando ele fala em público. Ou está a rezar orações que todos conhecem ou está a pregar princípios que não tem a mínima intenção de cumprir. O português é um pregador ou missionário que não leva muito a sério as suas próprias pregações.
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Em público, o português ou é um chato ou está a armar. Nunca fala de si em público, acerca dos seus sentimentos, das suas emoções, da sua consciência - e não o faz por medo. Em privado, a sua permissividade e imaginação (incluindo a capacidade para o desenrascanço), e o seu espíritop de liberdade, tornam-no frequentemente um tipo interessante.
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A blogosfera, que é um meio público, é ainda um excelente laboratório a este respeito. O número de comentadores interessantes que aparecem por aqui contam-se pelos dedos de uma mão. A maior parte são uns chatos inconcebíveis.

bárbaros e decadentes

Não há confiança entre os portugueses. Este estudo, divulgado em 2007, demonstrou que os portugueses não confiam uns nos outros. Ora na ausência de confiança, a civilização e a democracia não são possíveis. Este facto parece-me indiscutível.
Relativamente à tolerância tenho grandes dúvidas. PA pensa que um somos um povo tolerante, com ilhas de intolerância (se bem compreendi). Eu não tenho tanta certeza. Somos certamente tolerantes em relação aos hábitos e costumes, mas somos tão intolerantes em assuntos pessoais.
De qualquer modo, onde é que nos encaixamos na minha tabela? Nos bárbaros e nos decadentes, mas não sei bem em que proporção.

tabela cultural






Por tolerância refiro-me ao respeito pela liberdade dos outros.
Por confiança refiro-me ao crédito que estamos dispostos a dar aos nossos concidadãos (fora da tribo) e às instituições do País, como o Governo, a AR, os Tribunais, etc.

PS: Rogo antecipadamente perdão à Zazie, pela minha estupidez, imbecilidade, iliteracia e ignorância sobre o que é o sexo responsável e sensível(?).

moralistas


No post anterior, o Joaquim capta adequadamente algumas das características ainda prevalecentes na sociedade portuguesa, como a crença na exclusividade da verdade, a ideia de que o seu modo de vida é universal, a falta de consideração pela dissenção, e o julgamento moral pronto e permanente.
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Gostaria de me deter sobre este último ponto. As discussões sobre qualquer assunto entre portugueses acabam quase sempre em temas de moralidade, normalmente em recriminações morais mútuas: "Tu és isto ... tu és aquilo...". Os blogues fornecem a este respeito um laboratório precioso.
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O significado óbvio desta regularidade é o de que os portugueses, em geral, não sabem o que é a moralidade porque, se soubessem, não passavam o tempo a discuti-la. Trata-se de uma consequência da sua cultura católica. Na sua ânsia de universalidade e de adaptação a todos os povos, a moralidade católica tornou-se tão flexível e permissiva que a fronteira entre a moralidade e a imoralidade praticamente desapareceu. Isto torna-se particularmente óbvio em democracia quando o povo e os seus representantes ascendem ao poder e controlam as instituições.
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O povo de um país de tradição católica, sem uma elite no comando que lhe defina a fronteira da imoralidade, é incapaz de fazê-lo por si próprio. Daí as discussões permanentes acerca da moralidade e as recriminações morais mútuas onde desaguam todas as discussões. Os povos de cultura católica tornam-se facilmente moralistas com uma característica peculiar - a de não saberem muito bem o que é a moral. Vistos de fora, parecem mais aquilo que o historiador Will Durant viu ao caracterizar as relações entre Portugal e a Inglaterra em meados do século XVIII. "Os portugueses viam os ingleses como hereges irreformáveis, enquanto os ingleses viam os portugueses como fanáticos incultos" (citado de memória). Eu penso que a observação mantém muita actualidade.

Os


os bárbaros entre nós

Os bárbaros são indivíduos que são donos da verdade, pensam que os seus costumes e tradições são leis universais e que as outras culturas são, por assim dizer, “heréticas”.
Estão sempre dispostos a acusar e a julgar os dissidentes, em tribunais populares, ou até da opinião pública, sem qualquer respeito pelo que, nas sociedades civilizadas, se chama Direito.
Os bárbaros vivem “fechados” nas suas paróquias, com fortes laços de lealdade à tribo e aos seus caciques, a quem reconhecem uma forte autoridade. São aguerridos com os indivíduos de outras culturas, mas subservientes às suas chefias.
Penso que a relação dos portugueses com a verdade, com as tradições e, acima de tudo, com o poder, revela que ainda há muitos bárbaros entre nós. Como não andam com um B na testa, temos de os identificar por sinais mais subtis. A intolerância, o desrespeito pela Lei, que consideram abaixo dos costumes locais, e a falta de confiança (trust) nos seus concidadãos que não pertençam à tribo primitiva. Os bárbaros não reconhecem o valor das instituições sociais, prezando mais os régulos que os pastoreiam.
Olhem à volta, com atenção, e procurem estes sinais. Eles anda por aí, às manadas, em quantidades fenomenais. Procurem nos partidos políticos, nos clubes de futebol, na administração pública, na imprensa, na justiça, nos sindicatos, nas empresas. Os donos da verdade estão por todo o lado.

19 maio 2009

filme iraniano


Materiais em suporte da tese do Joaquim. Mais aqui e aqui.
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(Joaquim: Kant suffered from SBCS defined here)

frequentemente


Um intelectual Modernista é frequentemente gay.

+ Friedman

Barbarism is the belief that the mores and virtues of your tribe or village are what all of humanity should embrace, and you are ready to take fire and sword to your neighbours or foreigners to make them agree.
Civilization is the acceptance that the world is full of barbarians and that one needs to fight selectively, if barbarically, to save civilized codes of conduct.
Decadence is the belief that there is no real distinction between civilization and barbarism, and if there is, it is hardly worth fighting for.

Definições de George Friedman

numenal


Eu gostaria de dar uma contribuição ao post anterior do Joaquim. Primeiro, para especificar que a sua tese se aplica aos académicos de cultura protestante, mas não aos de cultura católica, já que estes são repetidores de ideias feitas, e não põem nada em causa. Pelo contrário, são a classe mais conservadora da sociedade.
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É na cultura protestante, como expliquei aqui, que os académicos têm o papel de agitadores. Kant, às vezes chamado o filósofo do protestantismo, é o intelectual por excelência representante desta cultura, e também o exemplo típico do decadentismo a que alude o Joaquim.
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A sua filosofia recomenda que tudo seja submetido ao escrutínio da razão, isto é, que tudo na vida seja posto em causa, tornando a vida impossível a qualquer ser humano, como salienta o Joaquim. Se a humanidade estivesse à espera dele ou das suas recomendações para se repoduzir bem iria esperar. Fugia das mulheres a sete pés, ocasionalmente, tinha uma ou outra cena de ciúmes, mas o alvo eram rapazes. Considerava que a ejaculação, tal como a transpiração, era um desperdício de energia, e que a acumulação de espermatozóides aumentava a racionalidade.
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A sua homossexualidade reprimida (como não podia ser de outro modo na altura) levou-o à sua célebre teoria do conhecimento e à distinção entre o fenómeno (as coisas tal como são apreendidas pela razão - as aparências) e o numeno (as coisas em si - a realidade), uma distinção que se aplicava em primeiro lugar a si próprio - existia o Kant fenomenal (straight) e o Kant numenal (gay).

todos os intelectuais são decadentes

Todos os intelectuais são decadentes. Não estou a utilizar este adjectivo como insulto, embora esteja convencido de que se o estivesse não estaria a ser injusto com a grande maioria deles.
Uso aqui decadente, no sentido que George Friedman lhe atribuiu, referindo-se a pessoas que têm uma atitude cínica sobre a vida e que consideram que “não há nada que possa ser melhor do que qualquer outra coisa”. São expoentes do relativismo e do niilismo.
Ora essa atitude, que é catastrófica a nível social, é uma qualidade notável para uma pessoa que se quer devotar ao conhecimento e dar contributos originais no campo das ciências ou das artes. Porquê? Porque os cientistas, ou os académicos, têm de pôr constantemente em causa os paradigmas dominantes e considerar as hipóteses mais estapafúrdias como verosímeis. Partem de postulados aceites como verdades (a terra é o centro do universo), falsificam-nos e propõem novas hipóteses (somos apenas um planeta de uma galáxia que nem sequer está no centro do universo).
O diabo é que esta atitude permanente de dúvida, de dúvida metódica, não pode ser aplicada no dia a dia. E se for sai disparate.
Acresce que a maioria dos intelectuais tem dificuldade em compreender as emoções humanas e em relacionar-se socialmente. Alguns têm quase um toque de autismo, que lhes granjeia epítetos do tipo “nerd” ou “rocket scientist”.
Os intelectuais fariam portanto bem se se remetessem à academia e deixassem de dar palpites sobre o modo como a sociedade se deve organizar e viver.

B,C & D III

Sobre a verdade

Bárbaros:
Nós somos os donos da verdade. (Islâmicos, fundamentalistas Evangélicos, algum Catolicismo).

Civilizados:
Temos de aceitar alguns princípios como verdadeiros, senão valia tudo. (Utilitarismo protestante).

Decadentes:
Vale tudo. (Atitude típica dos intelectuais).

B,C & D II

Sobre o casamento gay

Bárbaros:
Essas lésbicas e paneleiros deviam ser todos mortos à pedrada.

Civilizados:
Não vamos equiparar os casamentos heterossexuais aos homossexuais, mas podemos reconhecer uma união de facto. A família é a principal célula da sociedade e não deve ser adulterada.

Decadentes:

Os gays têm tanto direito a serem felizes como quaisquer outros cidadãos. A Lei não deve ser discriminatória.

18 maio 2009

frase da semana

Lá porque um gajo é puto e maluko não quer dizer que não saiba o que está a fazer.
Eng. Rui Silva
PS: Óh Rui, não me faça rir mais que eu tenho de trabalhar...

Estupidez


A notícia de hoje, acerca de uma tentativa de fraude envolvendo uma pretensa transferência de 50 mil milhões de dólares, é extraordinária. Não pela novidade, porque não é a primeira vez que certos artistas tentam vender negócios mirabolantes, mas sim pela extraordinária estupidez que é tentar transferir 50 mil milhões de dólares - 20% do PIB português - para um banco nacional sem levantar ondas.

Enfim, eu não vi o documento nem a suposta senhora me visitou, mas aposto que o documento que ela levava consigo era uma fotocópia rasurada, qual pseudo ficha técnica, facilmente detectável por qualquer jovem recém licenciado...

Convite


Hoje, às 19h, ao abrigo da minha cadeira "Gestão de Carteiras", terá lugar um seminário dedicado ao tema "Media e Mercados Financeiros" no Instituto de Estudos Superiores Financeiros e Fiscais em Francelos, Gaia. O convidado desta sessão é o Dr. Pedro Santos Guerreiro (director do Jornal de Negócios). Os leitores do PC estão convidados.

B, C & D

Sobre a distribuição gratuita de preservativos nas escolas

Bárbaros:
As mulheres nunca deviam ter ido para a escola, o lugar delas é em casa. Se eu descubro que uma filha minha se anda a deixar abusar, corro-a da porta para fora.

Civilizados:
Não sei se isso será uma boa opção. É verdade que os jovens parecem estar a iniciar a sua actividade sexual cada vez mais cedo, mas a distribuição de preservativos poderá ter um efeito contraproducente. Talvez se possa fazer uma experiência piloto nalgumas escolas.

Decadentes:
Os jovens têm todo o direito de terem relações sexuais com quem lhes apetecer. As escolas devem distribuir preservativos gratuitamente, “de preferência por meios mecânicos”.

desenrascanço



This Americam site contains the ten most valuable foreign words that English-speaking people would like to have. The winner is the Portuguese desenrascanço.

Segredo


Escreve hoje o DE que "o segredo do FC Porto é escolher os melhores e dar-lhes cobertura" . Independentemente dessa máxima também se aplicar ao futebol, penso que é no mundo empresarial que esta assume maior relevo. E é a razão pela qual a maioria das empresas portuguesas fica muito aquém do seu verdadeiro potencial. É que, em Portugal, essa cultura de mérito tem ainda poucas raízes. Assim, apesar de todos os defeitos que a gestão de Pinto da Costa possa apresentar, nomeadamente o passivo e os salários de luxo dos administradores, a verdade é que se trata de uma equipa ganhadora - em Portugal e no estrangeiro (convém não esquecer). Pior seria se ao passivo e aos salários de luxo, Pinto da Costa lhes juntasse o insucesso desportivo, como acontece, por exemplo, no Benfica de Luís Filipe Vieira.

Do futebol para as empresas, o maior defeito que encontramos em Portugal, provavelmente, devido à matriz familiar do nosso tecido empresarial, é a má relação que os empresários têm com os números. E, especialmente, a má relação que, a prazo, os empresários desenvolvem com os colaboradores que mais contribuem para esses números, em particular naquelas empresas onde o patrão está a leste da actividade operacional. Sobretudo, se esses colaboradores tiverem a franqueza (recorde-se, a qualidade mais valorizada pelo maior guru da gestão, Jack Welch) de questionar os patrões acerca deste ou daquele projecto. Nestas circunstâncias, a meritocracia é uma ilusão. Todos são dispensáveis - excepto o patrão! Porém, sendo certo que não existe ninguém insubstituível, a verdade é que alguns são menos dispensáveis que outros. É o caso da equipa de Pinto da Costa.

decadência