31 janeiro 2009

quem não tem dinheiro...


Foi o Joaquim que, num post que eu já não consigo localizar, aqui há uns meses falava do erro que é, na generalidade dos casos, um jovem casal ambicionar comprar casa logo na altura do casamento. Fica hipotecado para a vida.

Aquilo que, na altura, me fez reflectir no post do Joaquim, não foi tanto o tema específico, mas o facto de os conselhos aos jovens, como aquele que o Joaquim acabava de dar, não serem um assunto corrente na imprensa portuguesa - jornais, revistas, rádio, TV, blogosfera. É parte da falta de sentido prático dos portugueses a que me referi em post anterior, e é uma falta da geração mais madura.

Gostaria hoje de contribuir para este assunto com um conselho aos jovens que consideram casar. Dirijo-me aos jovens do sexo masculino. As mulheres hoje em Portugal (ao contrário do que sucedia uma geração atrás, que era a minha) trabalham tanto como os homens e ganham, frequentemente, mais do que os homens.
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Se é um homem jovem e pensa casar, o meu conselho é que proceda do seguinte modo. Pergunte à sua noiva, ainda durante o namoro - o mais tardar durante o primeiro mês de casado -, quanto custa sustentar a casa: as despesas de alimentação, vestuário e calçado, a renda (prestação) da casa, as contas da água, luz, electricidade e condomínio, etc. Por outras palavras: "Quanto custa vivermos os dois?" .

tempo à sua noiva para pensar a resposta - uma semana é suficiente - mas, sobretudo, nunca largue a questão. Quando ela lhe responder - por exemplo, 1500 euros por mês - diga-lhe: "Está bem. Passarei a entregar-te esse valor mensalmente".
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No caso de ela argumentar: "Mas eu também trabalho e tenho o meu ordenado, também quero contribuir para as despesas da casa", responda-lhe: "Certamente. O teu ordenado podes utilizá-lo para os extras. Para além das despesas correntes de governar uma casa, há sempre despesas extraordinárias - medicamentos para uma doença, pagar o conserto do frigorífico, comprares uma pulseira para ti...". E acrescente: "Eu faço questão de sustentar a casa". (Esta é a frase decisiva - e não deixe de a concretizar em actos).
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Se você seguir o meu conselho, as probabilidades de que o seu casamento dure muitos anos são elevadas. Se não o seguir, as probabilidades de, mais cedo ou mais tarde, ele acabar em divórcio são consideráveis. No caso de objectar que o seu ordenado não lhe dá para sustentar a casa, eu respondo-lhe: "Olhe, meu caro, quem não tem dinheiro não tem vícios. Vai-se meter em sarilhos".

para que serve portugal? - 2

Portugal não tem um problema. Portugal é um problema. O país não tem, de há muito, qualquer sentido estratégico, nem finalidades específicas que justifiquem a sua existência como país autónomo, que verdadeiramente já não é. As funções de soberania que ainda lhe cabem - e que não foram avocadas por Bruxelas - desempenha-as mal: a segurança é cada vez mais insuficiente e insatisfatória, a educação, a saúde, a justiça não satisfazem ninguém. Em boa verdade, raramente satisfizeram, ao longo da nossa história.

Acresce que Portugal vive, de há muito também, uma crise de confiança generalizada no país e nas suas instituições. Note-se que os portugueses não confiam no governo (em nenhum governo), no parlamento, nas autarquias, nos tribunais, na procuradoria, no Banco de Portugal, etc. O problema já não é das pessoas que as ocupam: elas têm mudado, frequentemente com o voto popular, e, nos últimos anos, a desconfiança permanece. O problema é mesmo com o país, no qual já ninguém acredita.

Ser Português


Cap. IX. Qualidades da Alma Pátria
(...)
Génio de aventura
(...)
Espírito messiânico
(...)
Sentimento de Independência e Liberdade

Cap. X. Defeitos da Alma Pátria
(...)
Falta de persistência
(...)
Vil tristeza
(...)
Inveja
(...)
Vaidade susceptível
(...)
Intolerância
(...)
Espírito de imitação
(Teixeira de Pascoaes, A Arte de Ser Português)

o exemplo acabado


O génio de Cervantes foi o de ter antecipado a decadência dos povos ibéricos. D. Quixote, representando a aristocracia, é o exemplo acabado da irrelevância prática, o homem guiado pela fantasia como se ela fosse a realidade. Ao seu lado, Sancho Pança, representando o povo e o seu sentido prático, avisa frequentemente o mestre dos sarilhos em que se vai meter. Mas a aristocracia não ouve o povo. E as aventuras de D. Quixote acabam invariavelmente em desastre. Assim também com Espanha e Portugal desde a altura em que o livro foi publicado (1605), na realidade um pouco antes (vg., Alcácer Quibir, 1580).

o cavalo



"No monumento do Terreiro do Paço, o único que merece continuar a contemplar Cacilhas é o cavalo" .

(Ramalho Ortigão, As Farpas)

gentleman

Sócrates não é um gentleman, pelo menos no sentido que Burke e Popper lhe atribuíam. Leva-se demasiado a sério e não tem qualquer sentido do dever.
O primeiro-ministro José Sócrates é um representante da populaça que chegou ao poder e que se comporta com todos os defeitos e vícios desta classe. Penso que Maria Filomena Mónica afirmou isto mesmo, quando lhe chamou: “Um rapaz da província”.
A populaça é inimiga da liberdade e da chamada “sociedade aberta”. A populaça tem demasiada fé no historicismo e no racionalismo para compreender que não é possível “construir o futuro”. O futuro é o resultado da livre interacção de todos. Esta fé, que Sócrates partilha, faz com que Portugal se esteja a tornar numa sociedade menos aberta.
Por fim, Sócrates acredita no positivismo ético que conduz “à desmoralização da sociedade e, por essa via, à abolição do conceito de liberdade e de responsabilidade moral do indivíduo” (1). Para Sócrates, na República a ética é a Lei (como também afirmou Guterres). Por isso Sócrates passa o tempo a afirmar que não cometeu quaisquer ilegalidades, quando o que interessa é se cometeu imoralidades.
(1) Este post foi inspirado pela leitura do livro – A Tradição Anglo-Americana de Liberdade, de João Carlos Espada, 2008.

30 janeiro 2009

porqué te callas?












Free quê?

cabeças de vento


A característica cultural dos ingleses referida aqui, o seu realismo terreno (down-to-earth), que constitui uma das suas principais virtudes, encontra, nos seus antípodas, uma característica cultural dos portugueses, e que constitui um dos seus principais defeitos - cabeças de vento.

É por virtude desta diferença cultural que os ingleses nos passaram frequentemente a perna ao longo da história.

O cabeça de vento é aquele que não consegue aderir à realidade de forma permanente, que está persistentemente pronto a voar da realidade para outras paragens - como as da fantasia e da imaginação, o mundo do "não tem nada a ver". Na própria expressão inglesa, ele sofre de uma síndroma conhecida por Flight from Reality Syndrom.
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Cervantes imortalizou na figura de D. Quixote o cabeça de vento que é o homem ibérico.

O Significado da Batata-Frita


(Tradução do post anterior)

O relatório de investigação do SIRC sobre O Significado da Batata-Frita tratou de um assunto alimentar de grande importância nacional. Noventa por cento dos ingleses são comedores de batatas fritas, a maioria cedendo à tentação pelo menos uma vez por semana, e a batata-frita é uma componente vital da herança cultural inglesa, mas pouco era conhecido, até ao estudo do SIRC, acerca da nossa relação com a batata-frita, o seu papel nas nossas interacções sociais, e o seu lugar no Zeitgeist cultural.

Batata-frita, Patriotismo e Empiricismo inglês

Embora as batatas-fritas tenham sido inventadas na Bélgica e sejam populares (sob a designação de French-fries, frites, patate frite, patatas fritas, etc.) em muitas outras partes do mundo, os ingleses tendem a vê-las como britânicas, ou mais especificamente, inglesas. O "Peixe com Batatas Fritas" é ainda considerado o prato nacional inglês. Os ingleses não são normalmente inclinados a serem patrióticos ou apaixonados acerca da alimentação, mas eles conseguem ser surpreendentemente patrióticos e entusiásticos acerca da batata-frita.

"A batata-frita é terra-a-terra", explicou um dos participantes no estudo. "É básica, é simples e agradável, e é por isso que nós gostamos dela. Nós também temos essas qualidades como povo e são boas qualidades. A batata-frita é o que nós somos - não vale a pena iludirmo-nos". Nunca me tinha ocorrido que um pedaço de batata fritada podia expressar tão eloquentemente o nosso empiricismo terra-a-terra e o realismo prático que identifiquei como características que definem o povo inglês.

Regras de Partilha da Batata-frita e sociabilidade

A batata-frita é também um importante facilitador social. Ela é o único alimento inglês que se presta à partilha, e que os códigos não-escritos de conduta nos permitem partilhar. Quando comemos batatas-fritas, comportamo-nos frequentemente de uma maneira muito social, íntima, muito pouco inglesa: todos saltando caoticamente sobre o mesmo prato ou o mesmo pacote para comermos com os dedos, tirando batatas-fritas dos pratos uns dos outros - e até metendo batatas-fritas na boca uns dos outros. ... as batatas fritas parecem promover a sociabilidade, o que para muito ingleses é parte da sua atracção - talvez porque nós temos mais necessidade de motivações e facilitadores que encoragem a comestibilidade".
(Kate Fox, op. cit.)

The Meaning of Chips


"The SIRC research report on The Meaning of Chips dealt with a food issue of great national importance. Ninety percent of us are chip eaters, the majority indulging at least once a week, and the chip is a vital part of English heritage, but little was known, until the SIRC study, about our relationship with the chip, its role in our social interactions, and its place in the cultural Zeitgeist.
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Chips, Patriotism and English Empiricism
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Although chips were invented in Belgium, and are popular (as French-fries, frites, patate frite, patatas fritas, etc.) in many other parts of the world, we found that English people tend to think of them as British or, rather more specifically, English. "Fish and Chips" is still regarded as the English national dish. The English are not normally inclined to be either patriotic or passionate about food but we found that they could be surprisingly patriotic and enthusiastic about the humble chip.
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"The chip is down to earth", explained one of our focus-group participants. "It's basic, it's simple in a good way, which is why we like the chip. We have that quality and it is a good quality ... This is what we are - no faffing about" It hadn't occurred to me that a chunk of fried potato could so eloquently express the earthy empiricism and no-nonsense realism that I had tentatively identified as defining characteristics of Englishness ...
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Chip-sharing Rules and Sociability
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Chips are also an important social facilitator. This is the only English food that actually lends itself to sharing, and that the unwritten rules allow us to share. When we are eating chips, you will often see the English behaving in a very sociable, intimate, un-English manner: all pitching in messily to eat with our fingers off the same plate or out of the same bag, pinching chips off each other's plates - and even feeding chips to each other ... chips seem to promote sociability, which for many English people is part of their attraction - perhaps because we have a greater need than other nations for props and facilitators that encourage "commensality"".
(Kate Fox, Watching the English - The Hidden Rules of English Behaviour, London: Hodder, 2004, pp. 321-22)

imaginação

sonho geral










Foto recebida de Paris, de David Laranjeira

29 janeiro 2009

The blacker the berry ...


O texto seguinte é uma tradução para inglês deste excelente texto de Pedro Arroja. A tradução é da autoria do meu tio Artur Aguiar e visa satisfazer o pedido de Carlos Pinto (aqui). Naturalmente, os autores do blogue estão autorizados a colocar esta tradução no corpo principal do blogue. Anonymous 01.29.09 - 11:49 am #

The Blacker the Berry the Sweeter the Juice

Physical affection has not traditionally been part of the Protestant culture, which, according to E. Kuehnelt-Leddihn, is a fundamentally anti-erotic culture. The Catholic culture, on the other hand, is a more passionate and erotic one, in which displays of affection is the norm.

It is my intention, within the scope of both cultures, to make a connection between the relationship of one's skin colour and the intensity of one's sex life. My thesis: The more sexual the culture, the darker the people's skin. Conversely, the more prudent the culture, the lighter the people's skin.

This statement obviously deserves an explanation: (1) in our civilization, light skin has been associated with the Protestant culture (Nordic, German, English, American, etc.), and darker skin with the catholic culture (Portuguese, Spanish, Italian, Argentine, etc.). (2) I do not intend to claim that the colour of one's skin is solely dependent on the intensity of one's sexuality. I am simply proposing that the intensity of one's sex life may influence the colour of one's complexion. I believe sexual passion is a factor, among many others that are more obvious in nature, like climate and diet, but nonetheless a factor. (3) My thesis could also be understood from an evolutionary point of view, in that the skin colour of a certain group's culture has adapted itself to the intensity of that culture's sexuality. Finally, let me define sexual intensity: emotionality, sexual curiosity and enthusiasm, passion, and desire of physical contact.

A piece of evidence that may help prove my thesis is the fact that a man whose cultural values embodies intensely physical sexual intercourse would, no doubt, enjoy having sex with these girls. It would not be a stretch to predict that in little time, the girl would, perhaps, have hickeys and bruises all over. The following day, she would not be able to go out in public. Life would be an embarrassing nightmare for a woman with this kind of fair skin if she were to have an intense sex life.

Consider now the same scenario, but this time with one of these women. Take note of the shade of their skin. No possible squeeze, sucking, or physical play could inflict any visible black-and-blue marks. Their skin is prepared, either to absorb the shock, or to camouflage it. Thus, the conclusion that skin can adapt itself, by darkening its shade, to an increasingly intense sexual culture.

(Many thanks to uncle Artur Aguiar and his nephew - PA)

um país em (o)caso

Portugal vive, há pelo menos dez anos, traumatizado consigo mesmo. Inexplicavelmente, o “país dos brandos costumes” transformou-se num país de justiceiros e corruptos. As injecções de adrenalina são permanentes e já ninguém consegue viver sem “casos”. Nesse período de tempo foram, que me recorde, o “Caso Vale e Azevedo”, o “Caso Caldeira”, o “Caso Moderna”, o “Caso Independente”, o “Caso Isaltino”, o “Caso da Câmara de Lisboa”, o “Caso Apito Dourado”, o “Caso Casa Pia”, o “Caso BCP”, o “Caso BPN”, o “Caso BPP, o “Caso Gondomar”, o “Caso Fátima Felgueiras”, o “Caso Portucalle”, o “Caso Furacão”, o “Caso Freeport”, só para referir os mais conhecidos. Todos eles durante anos na justiça e nos media, e muitos deles ainda por terminar. Portugal é, de facto, um caso curioso.

o segredo de justiça



A Dra. Cândida Almeida, directora do Departamento Central de Investigação e Acção Penal está na RTP. Começou por afirmar que concede a entrevista com autorização do PGR e que é "uma grande defensora do segredo de justiça" .

E que foi ela fazer à RTP? Dar uma entrevista sobre um processo (Freeport) que está em segredo de justiça.

Num sistema de justiça que se pretenda respeitável, os responsáveis da justiça não dão entrevistas. Porquê? Porque, por muito cuidadosos que fossem, acabariam sempre a violar o segredo de justiça.

e se este homem fosse ainda pgr?

" ...beer containers..."



(Em Português: aqui)

génio

O meu amigo (e mestre) Pedro Arroja previu de forma genial a evolução que o caso Freeport está a ter:
"Não precisam fazer muito. Acendam apenas um pequeno fósforo e façam-no chegar à imprensa. Os próprios portugueses se encarregarão de atear a fogueira".
PA desenvolveu um verdadeiro paradigma que permite de forma apriorística prever as reacções da tribo lusitana. Se Sócrates sair pelas traseiras e se for necessário um governo de salvação nacional, quem melhor do que PA para o liderar?

Apanhado a mentir (duas vezes)

O que poderá levar um país a aceitar pacificamente que o seu primeiro-ministro seja apanhado a mentir duas vezes na mesma semana? A primeira foi quando José Sócrates reconheceu ter estado numa reunião sobre o Freeport depois de ter dito que não esteve envolvido no processo. A segunda foi quando reconheceu que o estudo que tinha dito que é da OCDE afinal não é da OCDE.

nacional


Trata-se de um caso de humilhação nacional: um país a exigir ver as contas bancárias do primeiro-ministro de outro.

Freeport



E o Presidente da República? No que é que estará a pensar? O Governo de Santana Lopes foi derrubado por muito menos...

Quanto a Sócrates, dada a gravidade das suspeitas e a avalanche de notícias persecutórias, talvez não fosse má ideia seguir a estratégia que o Rui a. aqui sugeriu. O problema é apenas um: como em Portugal a Justiça não funciona, o estatuto de "arguido" está associado à admissão de culpa. Sócrates sabe disso. E Cavaco também!

corruptos

O Sr. Gordon Brown, que pretende agora ver as contas bancárias do nosso primeiro-ministro, é o mesmo que até à semana passada não pretendia que se tornassem públicas as despesas oficiais dos membros do parlamento. É preciso topete!
Já agora, a família real inglesa investiu no Freeport e, se estamos perante um caso de corrupção, são naturalmente potenciais corruptores, ou não?
O nosso Ministério Público poderá ter interesse em conhecer as contas bancárias da família real britânica e até constitui-los arguidos, para sua própria defesa. Não há dúvida que, se estamos perante um caso de corrupção, eles foram beneficiários.
O nosso primeiro-ministro é inocente até prova em contrário, mas a família real inglesa é beneficiária inquestionável do que os ingleses consideram uma possível “serious fraud”.
Serious?

PS: Será que Brown quer ter a família real pelos guizos? Lord Brown sounds good?

autocarro ateu

A associação de ateus e livres-pensadores é o exemplo acabado do novo fenómeno do proselitismo ateu. Ontem, os jornais davam conta de uma campanha desta associação, o autocarro ateu, que tem como mote:
“Deus provavelmente não existe, não te preocupes e desfruta a vida”.
Penso que esta campanha só pode ser um milagre porque expõe, em toda a sua crueza, a agenda destes ateístas. Deixar a cada um a interpretação do Bem e do Mal, e viver a vida sem quaisquer constrangimentos.
Um Católico identifica imediatamente as consequências desta “filosofia” de vida. Sem uma noção comum de Bem e de Mal a sociedade humana é impossível. E essa noção tem de ser transcendental para ser inquestionável e obrigar a todos. Mas não é necessário sequer ser Católico para compreender isto, basta, no meu entender, ter dois dedos de testa.
Uma última chamada de atenção, ateu e livre-pensador são termos contraditórios porque toda a liberdade vem de Deus. Mas isso serão considerações para outro post.
Senhor! Porque pusestes limitações à inteligência humana e não limitastes a estupidez?

Serious Fraud Office

O Serious Fraud Office é uma organização do governo inglês. Basta o nome para percebermos que é uma organização política. As pequenas fraudes, no RU, nem sequer são investigadas e a polícia agradece ignorá-las.
Relativamente às grandes (serious) fraudes: Eu diria que não há nenhum grande negócio, nenhum negócio que ultrapasse aí os 100 milhões de euros, que, passado a pente fino, não tenha "problemas". Daí que toda a investigação destas situações tenha elementos marcadamente políticos.
O Sr. Brown está a tentar salvar a sua pele, lá por casa. Por exemplo, Brown era íntimo amigo do CEO do RBS, um banco onde já infundiu biliões e que está envolvido em negócios problemáticos. Deve estar interessadíssimo em aparecer aos olhos da opinião pública inglesa como um impoluto, uma espécie de justiceiro à moda antiga. Uma condenação de um primeiro-ministro de um país "amigo" vinha mesmo a calhar...
Serious? You must be kidding!

PS: Os portugueses devem começar a demonstrar a sua indignação perante o RU! Eu sou tudo menos socialista, mas acho que não devemos baixar as calças.

Pierrot


Si, dans la blogosphère portugaise, j'aurais dû choisir le blogger qui a contribué le plus à faire exploser la culture catholique et à la faire remplacer par la culture protestante au pays, je ne hesiterais pas une seconde - le Pierrot des thèses.

28 janeiro 2009

Definitely, no!



A minha opinião acerca desta pretensão dos ingleses é conhecida: "No! Definitely, no!", embora o dano que eles visavam produzir esteja, na sua maior parte, produzido.

Protestantada mental


"É só ... protestantada mental em Portugal hoje em dia..."
(São Jorge, aqui)

A protestantada mental é o quadro mental que resulta da tentativa de imitar a racionalidade objectiva da cultura protestante sem conseguir libertar-se da emocionalidade subjectiva da cultura católica. A protestantada mental é uma espécie de Portuñol do pensamento - falar español em português.

a metro



Depois de ter rebatido aqui que a adjectivação possa ser um critério de avaliação de uma tese - e, em particular, da sua veracidade ou falsidade -, um leitor mais peremptório propôs um critério diferente - que as teses sejam avaliadas a metro.

Uma tese (do grego, posição) pode resumir-se a uma afirmação (sujeita a confirmação ou a falsificação) e, por isso, pode exprimir-se numa simples frase, por exemplo:

"Todos os gatos são pardos".

Alguém chega à janela e aponta um gato branco ao autor da tese. Conclusão: a tese é falsa.

O autor corrige-a para:

"Alguns gatos são pardos."

Esta tese é verdadeira. E só tem quatro palavras.

a secção de necrologia


Tenho vindo a defender a tese acerca da superioridade da vida intelectual inglesa (protestante) face à portuguesa (católica). Gostaria de ilustrar a diferença neste post comparando os trabalho dos historiadores nos dois países.

Um livro de história - digamos, de um país - escrito por um historiador inglês é um livro que se centra nas ideias que, em cada momento, comandaram os destinos do país - como essa ideias nasceram, como se transformaram, como conflituaram com outras, como desapareceram e foram substituídas por outras. A atitude cultural subjacente é a de que a história de um país é feita por pessoas, que as pessoas são racionais e possuem ideias, e que são as ideias prevalecentes que acabam por comandar o seu destino colectivo. Um livro de história assim lê-se com o prazer de um romance, um enredo em que as ideias nascem, crescem, declinam e morrem.

Diferente é a perspectiva do historiador português. O seu livro de história é um inventário de factos passados, uma espécie de cemitério de acontecimentos, sem uma tese, sem um elo, sem uma ideia directora que os ligue. Lê-se com o prazer que geralmente se sente ao ler a secção de necrologia dos jornais. Comentando recentemente este facto com o Joaquim, disse-lhe: "Os livros dos historiadores portugueses são de um pobreza infinita, nunca têm uma tese". Resposta do Joaquim: "Porque eles, mesmo que a tivessem, teriam medo de a apresentar".
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Existem, obviamente, excepções no mundo de tradição católica, como o livro referido aqui. Porém, o autor vive nos EUA há muitos anos e é professor numa Universidade americana. Em Espanha, menos ainda em Portugal, alguma vez ele teria desenvolvido aquela largueza de espírito, de que fala Pessoa, e que o livro contém.

não é um critério de verdade


Eu coloquei este post, não para me divertir ou para troçar do autor(a). Mas para mostrar porque é que Portugal não poderá nunca ter uma cultura científica de massas como existe em Inglaterra ou nos outros países protestantes.
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A minha tese foi apresentada aqui. Uma tese destrói-se, ou por argumento intelectual fundado, ou por refutação empírica. Na Inglaterra ou nos EUA era muito provável que algum estudante de mestrado ou doutoramento se interessasse pela tese e a fosse testar. Seria necessário tempo, dinheiro e outros recursos. Mas o teste empírico não põe dificuldades práticas apreciáveis. Desenvolve-se um índice da côr da pele; desenvolve-se em seguida um índice da intensidade das relações sexuais entre um casal. Observa-se o valor destes dois índices numa amostra de mil casais na Suécia e outros tantos em Portugal ou Itália. Faz-se, finalmente, uma análise da regressão do índice da côr da pele sobre os seus determinantes (clima, alimentação, índice da intensidade sexual, etc). A tese é refutada se o índice da intensidade sexual não fôr estatisticamente significativo.

No caso de a tese passar o teste, ela faz notícia nos jornais. "Investigadores da Universidade Tal descobriram que quanto maior é a intensidade das relações sexuais numa cultura mais morena tende a ser a côr da pele" - e é assim que nascem os cientistas nesses países.

Aqui, a tese não é discutida, e muito menos testada. Ela é posta de lado sem qualquer argumento intelectual, muito menos empírico. Apenas pela invocação de um critério - o ridículo - que, obviamente, não é um critério de verdade. É apenas um nome que se deu à tese - e um nome não muito simpático. Reacções desta natureza são as que predominam na caixa de comentários ao post.

noção


O comentário do dia:
Anónimo, aqui, a proposito deste post:

"Falta de noção do ridículo..."

Livra!


As investigações em curso no Banco Privado Português (BPP) conheceram mais um novo episódio. A gravidade da situação continua a aumentar e ontem entrámos no domínio da investigação policial. As acusações que serviram de mote às buscas de ontem incluem branqueamento de capitais, gestão danosa, desvio de fundos para "offshore", desvio de fundos para contas de terceiros e enriquecimento indevido. No fundo, o BPP está a ser acusado de quase todos os crimes que podem ser imputados à actividade ilícitia de um qualquer banco. Tudo isto acontece uns dias depois de Fernando Ulrich, presidente do BPI, o maior credor de todos os bancos que participam no consórcio de bancos que se propunha salvar o BPP, ter lançado a mais grave acusação de todas: que este não tinha contabilidade organizada. Portanto, vamos por pontos.

Primeiro, o branqueamento de capitais. Existem regras claras quanto à entrega de valores em numerário (cash). Sempre que excede certo montante (12.500 euros), a entrega tem de ser acompanhada de um documento que identifique e ateste a origem desse dinheiro. Ou seja, a norma exige ao banco o conhecimento detalhado da actividade profissional do beneficiário da conta e, assim, todas as entregas em numerário que resultem de actividades ilícitias (tráfico de droga, armas ou outro crime qualquer) devem ser rejeitadas pelo banco. Esta particularidade da lei é delicada e só existe devido ao sigilo bancário. Por uma simples razão: se o sigilo bancário não existisse, ou se pudesse ser levantado facilmente em caso de suspeita criminal, os bancos não precisavam, eles próprios, de ser polícias. Porque convenhamos, o serviço de custódia que os bancos exercem não é compatível com a ideia de mandar embora um potencial cliente. Muito menos com a denúncia desse mesmo cliente. Por isso, esta suspeita de branqueamento de capitais, sendo muito conveniente, provavelmente, teria de ser aplicada a todos os bancos portugueses e não apenas ao BPP. Em particular, todos os bancos portugueses que nos últimos anos foram em busca do eldorado angolano.

Segundo, a utilização de "offshores". A forma mais arguta de branquear capitais passa por este tipo de jurisdições. Há, por esse mundo fora, "offshores" de primeira e "offshores" de segunda. Entre os primeiros, contam-se a Suíça e o Luxemburgo. Entre os segundo, há vários mas os mais proeminentes talvez sejam as Ilhas Caimão, as Ilhas Virgens, o Liechtenstein, o Mónaco, Gibraltar, Andorra, entre outros lugares mais ou menos exóticos. A diferença entre uns e outros diz respeito apenas à sofisticação e reputação dos bancos lá estabelecidos, sendo certo que todos os grandes bancos mundiais têm forte presença local em várias dessas zonas francas. Por exemplo, o sucesso do Luxemburgo reside no facto de ser o maior "backoffice" bancário de toda a Europa, onde vários grandes bancos internacionais abrem contas numeradas para clientes e onde, ao mesmo tempo, concentram boa parte dos seus serviços administrativos. Mas se, pelo contrário, formos a Gibraltar, provavelmente, encontraremos apenas umas quantas caixas postais e uns tantos testas de ferro. Acontece, contudo, que em quase todos os "offshore" (de primeira e de segunda) existe uma cultura de "no questions asked" que se sente não só nos bancos como nos aeroportos e afins e que, a par da reduzida fiscalidade que oferecem aos seus clientes, constituem as suas vantagens competitivas face a jurisdições mais restritas. Ora, o BPP opera em algumas dessas zonas francas, tal como todos os outros bancos portugueses.

Terceiro, a contabilidade. O BPP era um banco cuja estrutura, ao contrário do que sucedia com o BPN, era relativamente simples. Envolvia o banco, a holding que detinha o banco e os veículos especiais (SIV's) criados para tomar participações em entidades terceiras. A estratégia era também muito simples: captar dinheiro junto de clientes, que pudesse ser canalizado para estes veículos e que permitisse depois a tomada de participações no BCP, na Mota Engil, na Brisa, entre outros. No processo, o banco também emprestava dinheiro aos veículos que, por sua vez, era obtido através de empréstimos tomados junto de outros bancos (como o BPI, o Citigroup, o JP Morgan, entre outros) em que as garantias eram os próprios títulos accionistas entretanto adquiridos. Portanto, o dinheiro dos clientes, alavancado pelo banco, estava nos SIV's. Assim, será que, como diz Fernando Ulrich do BPI (o maior credor do BPP), estamos perante um caso de contabilidade ausente? Sinceramente, não vejo como - o dinheiro está nos SIV's. O que acontece é que estes SIV's estão registados fora do balanço, uma coisa muito diferente do que não ter contabilidade organizada, porém, ao abrigo de normas contabilísticas internacionalmente aceites na banca e praticadas por todos os bancos mundiais.

O problema do BPP sucedeu quando os mercados destaram a cair levando à desvalorização dos SIV's, à renegociação das linhas de financiamento com outros bancos e à implosão da sua política comercial que, defendida por contratos de gestão juridicamente artilhados, vendia aplicações especulativas como depósitos a prazo. Enfim, já aqui defendi a irrelevância do BPP no sistema bancário português e a sua influência nula sobre o risco de crédito da República Portuguesa. O banco pura e simplesmente não devia ter sido intervencionado. É isso que todos os bancos pertencentes ao consórcio que se propunha salvar o BPP estão a concluir. De resto, dadas as inúmeras acusações lançadas ontem sobre o BPP, a probabilidade de que nenhuma se concretize tornou-se agora muito baixa. Ou seja, está aberto o caminho para que o Banco de Portugal se decida pela liquidação do BPP. Quanto ao consórcio salvador que, entretanto, se endividou com o benefício resultante do aval do Estado, é possível que esses bancos utilizem parte dessa liquidez para outro fim qualquer. E, no final, provavelmente, ainda repartirão os poucos activos que sobrarem. Do mal o menos!

nódoas negras


A cultura protestante não gosta do contacto físico. Daí que, como afirmou E. Kuehnelt-Leddihn, seja uma cultura profundamente anti-erótica. Na cultura católica é ao contrário - ela privilegia o contacto físico e é uma cultura erótica.

Neste post, eu pretendo, no âmbito destas duas culturas, estabelecer uma tese envolvendo a relação entre a côr da pele e a intensidade da vida sexual. A minha tese é a seguinte: "Quanto mais intensa é a vida sexual numa cultura mais morenas tendem a ser as pessoas; pelo contrário, quanto menos intensa a vida sexual, mais branca tende a ser a côr da sua pele"

Algumas explicações são devidas antes de prosseguir. Primeira, é conhecido que, na nossa civilização, as pessoas de pele mais branca pertencem à cultura protestante (nórdicos, alemães, ingleses, americanos, etc.) e as de pele mais morena à cultura católica (portugueses, espanhóis, italianos, argentinos, etc.). Segunda, eu não pretendo afirmar que, numa dada cultura, a côr da pele das pessoas é exclusivamente determinada pela intensidade da sua vida sexual. Não. Aquilo que pretendo afirmar é que a intensidade da vida sexual é um factor na determinação da côr da pele - um factor a par de outros, provavelmente ainda mais importantes, como o clima e a alimentação - mas, não obstante, um factor. Terceira, a minha tese pode alternativamente ser entendida, numa perspectiva evolucionista, como sustentando que a côr da pele numa cultura se ajusta à intensidade da sua vida sexual. Finalmente, por intensidade da vida sexual eu entendo a emocionalidade, o arrebamento, o desejo de proximidade física entre os corpos.

Para provar a minha tese, considere a seguinte experiência - um homem pertencendo a uma cultura onde a vida sexual é muito intensa a ter relações sexuais com uma mulher destas e a possuí-la com a máxima intensidade. Não é difícil prever que, ao primeiro apertão, ela ficaria cheia de nódoas negras. No dia seguinte, ela não poderia saír à rua. A vida seria impossível para mulheres possuindo este tom imaculado de pele se a sua vida sexual fosse arrebatadora e intensa.
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Pelo contrário, considere a mesma experiência, mas agora realizada com uma mulher destas. Repare no tom de pele. Não há nódoa negra que lhe pegue. A pele delas já está preparada para as absorver e as disfarçar. Portanto, a côr da pele tende a adaptar-se à intensidade da vida sexual prevalecente numa cultura.

o bidé


Provavelmente uma das instituições portuguesas que mais pasma um inglês, um alemão, um americano, um finlandês, um sueco ou um norueguês é o bidé. "What is this for?" , perguntam eles com um sorriso de incompreensão na face.

Em posts anteriores, tenho vindo a defender a tese da falta de qualidade da vida privada na cultura protestante em relação à cultura católica. Agora, pergunte-se: O que será que os portugueses fazem tão frequentemente com o bidé, e eles não fazem (porque não o têm)?

distantes e frios


Retomo aqui o tema deste post. Quando um português entra em contacto com ingleses, suecos, americanos, canadianos, alemães, australianos, - aqueles que tenho designado como possuindo uma cultura protestante - a impressão que fica é a de que eles são distantes e frios.

De facto, um português caracterizou uma vez assim os americanos: "Quando conhecemos um americano, nos primeiros vinte minutos, ele conta-nos algumas coisas acerca da sua vida. Depois, podemos continuar a darmo-nos com ele durante mais vinte anos, mas nunca saberemos rigorosamente mais nada acerca da vida dele".

Estes são homens e mulheres que evitam o contacto físico, o beijinho na face ou até o aperto de mão. Nunca entram em intimidades. Não convidam para casa. Estas atitudes contrastam com as dos portugueses (católicos). Os portugueses cumprimentam de beijinho ou, pelo menos, de aperto de mão. Contam a vida toda ao primeiro contacto. São capazes de convidar hoje para jantar em sua casa uma pessoa que conheceram ontem.

A questão a que pretendo responder neste post é a seguinte: qual a razão porque os homens e mulheres de cultura protestante impõem estas barreiras à aproximação dos outros, ao contacto físico, à entrada na sua vida privada? A resposta está implícita neste post. Trata-se de uma atitude defensiva. A cultura protestante é uma cultura em que, comparada com a nossa, a vida privada é de muito má qualidade.
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Eles não convidam para casa porque as casas deles estão frequentemente desarrumadas e falhas de higiene. Eles não convidam para jantar porque, geralmente, não sabem cozinhar. Eles evitam o contacto físico porque frequentemente são portadores - e, por isso, receiam que os outros sejam portadores - de doenças contagiosas (*); e, no que respeita às crianças e às mulheres, porque a pedofilia e o assédio sexual são mais generalizados.

(*) Por exemplo, neste momento existe em Inglaterra uma epidemia de meningite.

protestante


Um blogue protestante: formulam-se ideias.

glocal

Uma manchete de ontem alertava para a ocorrência de 70.000 despedimentos, em apenas 12 horas. Bom, seria melhor pensarmos em emigrar para a Somália, só que lida a notícia constatamos que os despedimentos não são em Portugal...Uhff! Os despedimentos são a nível global e... Ah! Não são bem despedimentos, são intenções de despedimentos que poderão ocorrer ao longo de 2009, no contexto de reestruturações empresariais.
Esta atitude jornalística não é séria e só contribui para criar alarmismo social, contudo está a afectar a nossa perspectiva do mundo. Os jornalistas locais empolam acontecimentos globais (1), para captar a atenção dos seus leitores. Não penso que tenham sucesso nessa tarefa.
A populaça, mais influenciável e manipulável, não lê os jornais. As elites não vão atrás deste alarmismo. O resultado é apenas o descrédito da imprensa e o desvio para outros meios de comunicação social.
A máxima: “Think Globally, Act Locally”, definitivamente, não se aplica a todas as situações.

1) Outro exemplo de provincianismo.

27 janeiro 2009

... e chorar por mais


Neste post eu gostaria de voltar ao tema iniciado aqui acerca da comparação entre a cultura inglesa e a cultura portuguesa do duplo ponto de vista da sua esfera exterior ou pública e da sua esfera interior ou privada. (A comparação vale com mais generalidade para aquilo que tenho chamado a cultura protestante e a cultura católica). No post referido, afirmei a superioridade da esfera pública inglesa face à portuguesa, e a superioridade da esfera privada portuguesa face à inglesa.
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A cultura inglesa (protestante) privilegia o aspecto exterior das coisas, o público sobre o privado, a aparência sobre a substância. Esta é a cultura do apelo às massas, do proselitismo protestante e da democracia. Tudo nesta cultura parece ser melhor do que aquilo que, na realidade, é. Esta é também a cultura do marketing e das técnicas de persuasão. É uma cultura em que tudo se vende e, para vender, é necessário, em primeiro lugar, que o produto tenha uma boa aparência.
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Diferente é a cultura portuguesa (católica). Esta é uma cultura aristocrática ou de escol, que privilegia o privado sobre o público, a substância sobre a aparência. Os padres não batem às portas para angariar crentes. Pelo contrário, eles estão na Igreja de porta aberta - quem quiser entra, quem não quiser não entra. Esta é uma cultura que dispensa o marketing porque é uma cultura em que tudo se compra - até a salvação da alma. Esta cultura não apela às massas. Pelo contrário, fica à espera que as massas sejam seduzidas por ela.
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Um português que vá viver para Inglaterra ficará encantado nos primeiros tempos com o aspecto exterior da sociedade inglesa, a sua vida pública e intelectual, a sua decência e o seu civismo. Se não fôr um mero turista em visita breve, e permanecer lá muito tempo, a prazo vai-se desencantar com a falta de qualidade da vida familiar, das relações interpessoais, da alimentação e dos cuidados pessoais e pela falta de decência, e nalguns casos, absoluta brutalidade de muitos comportamentos privados.
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Pelo contrário, um inglês que venha viver para Portugal ficará, no início, horrorizado com a qualidade da vida pública - a falta de civismo, a má qualidade da vida política, intelectual e jornalística. Se permanecer por cá, a probabilidade é elevada que, a prazo, fique seduzido pela doçura das relações interpessoais e da família, pela alimentação e os cuidados pessoais, pela enorme decência dos portugueses nos seus comportamentos privados. Assim sucedeu a este inglês, ao ponto de pôr a sua experiência em livro.
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No fim, a diferença entre estas culturas corresponde à diferença entre as suas maçãs. É como comparar maçãs da Nova Zelândia (uma ex-colónia inglesa) com maçãs das Caldas da Raínha. As primeiras têm uma excelente aparência, mas não sabem a nada. As segundas, não são famosas na aparência, mas depois de as provar, é de comer e chorar por mais.
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(PS: Posto isto, não necessito elaborar sobre a resposta à questão que coloquei aqui, no seguimento do desafio colocado pelo Joaquim aqui).

o mundo sem si


Eu pretendo neste post dar uma contribuição para completar o quadro mental do provinciano traçado por Pessoa, para além da sua incapacidade de ironia. O próprio Pessoa abre a porta a esta tarefa quando refere a incapacidade de afastamento intelectual (detachment) do provinciano, a sua incapacidade para dividir-se em dois que é o resultado do desenvolvimento da largueza da consciência em que consiste a civilização.

O provinciano é incapaz de pensar para além do aqui e do agora, e de imaginar um mundo diferente. No espírito do provinciano só cabem os factos da realidade. Ele é o realista extremo. A sua incapacidade de abstracção - que lhe permitiria ver o mundo tal como ele seria sob diferentes circunstâncias - é absoluta. É esta estreiteza de espírito, esta impossibilidade de conceber a vida senão como ela é, que é a marca distintiva da mente do provinciano.
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Daí o seu pasmo quando chega à cidade perante tudo aquilo que é novo e lhe é estranho. Ele nunca imaginou que este outro mundo fosse possível, na realidade, que fosse possível qualquer mundo diferente do seu. Falta-lhe a capacidade para se afastar, para se dividir, para se ver num mundo que não é o seu. No fim, o provinciano é aquele que não consegue imaginar o mundo sem si.

Andreia ou André?

No Público de hoje, Andreia Sanches relata o sofrimento de um jovem de 15 anos:
"Foram os PIORES anos da minha vida", escreve um dos queixosos sobre o tempo que passou na escola. Como outros, este jovem de 15 anos, que se identifica como transexual, acabou por mudar de estabelecimento de ensino por causa dos ataques de que era alvo."
Ora como é que a Andreia conseguiu identificar a veracidade deste testemunho infantil? Só se foi por empatia, será que a Andreia afinal era o André?

para que serve portugal?

As empresas vão à falência em catadupa, o desemprego aumenta, a pobreza atinge níveis nunca vistos, a desconfiança em relação aos políticos e governantes é generalizada, em relação à justiça e a todos os sectores nevrálgicos do país também, a desmoralização é total e ninguém acredita seriamente que o país seja recuperável. Não existe, por outro lado, quem tenha uma ideia estratégica nacional. Por outras palavras, para que serve Portugal? Porque se justifica continuar a dizer que ele é um país soberano, uma empresa que cumpre finalidades que todos sentimos necessárias e que nenhuma outra forma de organização poderia desempenhar? Para além da nossa História, da nossa Língua e de alguma (pouca) Cultura, o que temos para oferecer ao mundo? Galos de Barcelos? Caíram em desuso. Vinho do Porto? É dos ingleses. Turismo no Algarve? Com excepção do golfe, existem centenas de outros destinos mais interessantes e baratos. Condições favoráveis às empresas estrangeiras? Já era. Portugal está a desabar como um castelo de cartas, frágil e insustentável, e ninguém sabe o que fazer. A culpa é da crise internacional? Só para nos enganarmos podemos aceitar essa justificação. A culpa é de um estado que nos tem vindo a empobrecer e a enfraquecer ao longo de décadas, e que, agora, não tem, nem pode ter, solução para a situação que criou, em troca de promessas utópicas e pouco sérias de nos trazer o paraíso para a terra.

de dividir-se em dois


"Se ... quisermos resumir numa síndroma o mal superior português, diremos que esse mal consiste no provincianismo.
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O provincianismo consiste em pertencer a uma civilização sem tomar parte no desenvolvimento dela - em segui-la, pois, mimeticamente, com uma subordinação inconsciente e feliz.
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A síndrome provinciana compreende, pelo menos, três sintomas flagrantes: o entusiasmo e a admiração pelos grandes meios e pelas grandes cidades; o entusiasmo e a admiração pelo progresso e pela modernidade; e, na esfera mental superior, a incapacidade de ironia.
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Se há característico que imediatamente distinga o provinciano, é a admiração pelos grandes meios. Um parisiense não admira Paris; gosta de Paris. Como há-de admirar aquilo que é parte dele? Ninguém se admira a si mesmo, salvo um paranóico com o delírio das grandezas. Recordo-me de que uma vez, nos tempos do Orpheu, disse a Sá-Carneiro: 'Você é europeu e civilizado, salvo em uma coisa, e nessa você é vítima da sua educação portuguesa. Você admira Paris, admira as grandes cidades. Se você tivesse sido educado no estrangeiro, e sob o influxo de uma grande cultura europeia, como eu, não daria pelas grandes cidades. Estavam todas dentro de si'.

O amor ao progresso e ao moderno é a outra forma do mesmo característico provinciano. Os civilizados criam o progresso, criam a moda, criam a modernidade. Ninguém atribui importância ao que produz. Quem não produz é que admira a produção... Se alguma tendência têm os criadores da civilização, é a de não repararem bem na importância do que criam... O provinciano, porém, pasma do que não fez, precisamente porque o não fez; e orgulha-se de sentir esse pasmo. Se assim não sentisse, não seria provinciano.

É na incapacidadec de ironia que reside o traço mais profundo do provincianismo mental. Por ironia entende-se, não o dizer piadas, como se crê nos cafés e nas redacções, mas o dizer uma coisa para dizer o contrário. A essência da ironia consiste em não se poder descobrir o segundo sentido do texto por nenhuma palavra dele, deduzindo-se porém esse segundo sentido do facto de ser impossível dever o texto dizer aquilo que diz.
...
Para a sua realização exige-se um domínio absoluto da expressão, produto de uma cultura intensa; e aquilo a que os ingleses chamam 'detachment' - o poder de afastar-se de si mesmo, de dividir-se em dois, produto daquele 'desenvolvimento da largueza de consciência' em que ... reside a essência da civilização. Para a sua realização exige-se, em outras palavras, o não ser provinciano.

O exemplo mais flagrante do provincianismo português é Eça de Queiroz ..."
(Fernando Pessoa, "O Provincianismo Português" (1928), em Richard Zenith et. al. (orgs.), Obra Essencial de Fernando Pessoa, Lisboa: Assírio & Alvim, 2006, vol. 3, pp. 374-5)

a meio da tabela

Neste post comparei a velocidade do crescimento económico em doze país da Europa para o período 1926-74, correspondente à era do Estado Novo no nosso país. Portugal foi o primeiro. Aqui faz-se idêntica comparação, mas para o período 1974-2008, correspondente à era democrática no nosso país. Portugal é quinto, a meio da tabela.

a justiça não é cega

A ideia de que existe uma justiça asséptica, isto é, totalmente isolada da política não corresponde à verdade. Gostaria de dar dois exemplos demonstrativos deste facto. A nomeação dos juízes para o Supremo Tribunal dos EUA e o Tribunal Constitucional português.
No caso dos EUA, os juízes são indigitados pelo Presidente e depois confirmados pelo Senado. Quando os Presidentes são conservadores escolhem juízes conservadores e vice-versa. Mais tarde, estas escolhas influenciam decisões em assuntos tão importantes como o aborto ou a “acção afirmativa”.
Em Portugal, o Tribunal Constitucional é essencialmente constituído por juízes eleitos pela Assembleia da República e portanto tem a marca indelével dos partidos políticos aí presentes, o contrário seria absurdo (isto em nada fere a sua desejável isenção).
Quaisquer decisões destas instâncias de último recurso, aplicam o direito, com nuances interpretativas que têm as suas raízes algures.
Vêm estas cogitações a propósito do caso Freeport. Pretender que as investigações decorram de um modo asséptico pode ser uma boa postura, mas eu pergunto: Isso será possível?
A pergunta é tanto mais pertinente quanto as actuais investigações foram impulsionadas do RU. Deverão os líderes de países soberanos ficar sujeitos à polícia e aos tribunais de outros países? Penso que não faz qualquer sentido. Um destes dias o RU nomeava os nosso governantes pela “via judicial”. É por esta razão que eu também sou contra o Tribunal Penal Internacional.
A resposta correcta a dar à bifalhada, pela polícia portuguesa, deveria ser “um excesso de zelo paralisante”, até o actual primeiro-ministro sair do governo. Se Sócrates for probo nada se perde e se não for é preferível que não se saiba, nem lá fora nem pela populaça.
A reforma da justiça, em Portugal, é a prioridade das prioridades. Sócrates conseguiu, neste domínio, o pior de dois mundos: hostilizou juízes, ministério público e polícias e, por fim, deixou tudo na mesma. Que ele se esteja a tornar numa vítima da justiça portuguesa seria de andar com as mãos na barriga se não fosse trágico para o País.
PS: Peço desculpa ao Eng. Rui Silva, prestimoso comentador do PC, por lhe estar a tirar a inocência.

26 janeiro 2009

o modelo católico


Fonte: aqui. Para opôr ao modelo protestante do Joaquim aqui.
Now, the big question: which is the best? I'll speculate on the right answer in a future post.

"Olha ... não m' alembra ..."


Uma das características mais marcantes da cultura dos ingleses é o facto de eles fazerem tudo para parecerem bem em público - e tudo inclui também omitir, manipular, distorcer e, se necessário, mentir. Por isso, quem conhece a Inglaterra no seu aspecto exterior, mas não na sua cultura íntima, não deixa de ficar impressionado pela civilidade da sua vida pública.

Pelo contrário, os portugueses possuem uma cultura que se compraz em fazerem-se parecer mal uns aos outros em público. Por isso, quando estes dois países entram em contacto, os portugueses não podem sentir senão apreço pela Inglaterra, e os ingleses um desprezo mal disfarçado por Portugal.

A dimensão deste contraste altera-se, e a comparação fica mais equilibrada, quando se considera a esfera privada das duas culturas (família, relações pessoais, etc. - até as relações íntimas). Aí, a qualidade da cultura portuguesa é muito superior à inglesa. Tudo se passa, então, como se os portugueses preferissem lavar a roupa suja em público, deixando a roupa limpa, toda engomadinha, em casa; ao passo que os ingleses deixam a roupa suja toda em casa, e só trazem a público a roupa limpa.
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Tome este exemplo. É um site oficial do Ministério dos Negócios Estrangeiros britânico, contendo as datas dos acontecimentos mais relevantes entre Portugal e a Grã-Bretanha. Pergunta-se: onde é que está o Ultimato Inglês de 1890, o qual levou à queda da monarquia em Portugal e lançou o país no período mais negro da sua história, durante quase 40 anos? (Veja aqui a imagem económica desse período).
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Eu estou razoavelmente convencido que, se contactar o Foreign Office e perguntar pelo Ultimato de 1890, provavelmente lhe vão responder: "Ultimatum, what do you mean? Britain is a free, democratic nation respectful of other nations' rights. There was no utimatum at all. That must be some misunderstanding by Portuguese historians." - uma resposta que o Herman José traduziria em Portugal por: "Olha ... não m'alembra...".
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(Nota. No documento do Foreign Office linkado acima, pode ver que em Setembro de 2004, o Príncipe Eduardo e a Condessa de Wessex estiveram em Alcochete na inauguração do Freeport, significando que o assunto tem alguma dimensão política em Inglaterra).

viva o modelo sueco













Via Mercado Puro

palpite


Na informação económica que tenho vindo a divulgar relativamente a Portugal (vg., aqui) e a Espanha (vg., aqui) tenho utilizado como termo de comparação um conjunto de doze países da Europa. O indicador que tenho privilegiado é o PIB per capita (rendimento médio por habitante por ano) porque esse é o indicador que os economistas tomam para medir o nível de desenvolvimento económico ou riqueza de um país.

A questão que agora coloco é a seguinte. Durante o período 1926-74 (*), qual foi o país, entre os doze países da Europa considerados, que mais se desenvolveu economicamente, aquele onde os cidadãos em média mais progrediram ou enriqueceram, aquele que pedalou mais rapidamente?

Procure dar um palpite. (Cuidado com os preconceitos, as ideias feitas e mais tudo aquilo que lhe possam ter metido na cabeça). Os países são: Austria, Bélgica, Finlândia, França, Alemanha, Grécia, Irlanda, Itália, Reino Unido, Holanda, Portugal e Espanha.
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Veja a solução aqui.
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(*) Como imediatamente reconhecerá este período de 48 anos corresponde ao período do Estado Novo em Portugal, definido pelas revoluções de 28 de Maio de 1926 e de 25 de Abril de 1974.

São Jorge


Comentário do dia:
São Jorge, aqui, a propósito deste post:

"Sacanas dos números que são fascizóides. Arre!"

para outra freguesia


Nos últimos meses, o Rui a. tem escrito de forma crítica sobre o papel crescente que o Estado tem vindo a assumir na vida portuguesa. Eu gostaria hoje de contribuír para essa discussão, tanto mais que os economistas possuem uma medida que permite quantificar o peso do Estado na sociedade - a despesa pública em percentagem do PIB (ver aqui para Portugal).

Primeiro, existe a ideia, largamente herdada da escola austríaca e da escola de Chicago de que, quanto maior é o peso do Estado na economia, menos liberal ela é. Esta ideia, sendo genericamente verdadeira, necessita de algumas qualificações, de que trato abaixo. Aceitando este critério como verdadeiro para Portugal, a conclusão a tirar é a de que, no domínio económico pelo menos, o único estado liberal que tivemos em Portugal nos últimos 60 anos foi o Estado Novo. Em 1973, o peso do Estado na economia não chegava a 20% do PIB; em 2009, a previsão é de 50% do PIB. No espaço de uma geração, o Estado mais do que duplicou (Ver aqui).

Segundo, o Rui tem apelado aos seus leitores com argumentos racionais - como é próprio da democracia - com vista à redução do peso do Estado na sociedade. É claro que os seus esforços, como resulta deste gráfico, têm saído totalmente frustrados. Quanto mais o Rui apela, mais o Estado cresce. Os esforços do Rui teriam algum efeito, no sentido de persuadir a opinião pública, em democracias como a inglesa, a australiana, a canadiana ou a americana. Em Portugal, o efeito é zero. Os povo português, como tenho vindo a argumentar, não tem o sentido da verdade, por isso, não é sensível ao argumento racional. O Rui vai ter de ir pregar para outra freguesia porque aqui não dá. É uma questão de cultura.

Finalmente, a qualificação acerca da grandeza do Estado como indicador do menor ou maior liberalismo na sociedade. Depende da cultura. Os países nórdicos, como a Suécia, a Noruega ou a Finlândia, são os que possuem o maior Estado em percentagem do PIB, e ninguém parece queixar-se de falta de liberdade. A razão é que nos países protestantes o Estado está ao serviço dos cidadãos - e não, como acontece em Portugal, os cidadãos ao serviço do Estado.

Nesses países o Estado é uma instituição extremamente poderosa para favorecer o crescimento económico e proteger os cidadãos. O Estado é um facilitador - não um empecilho - da vida dos cidadãos, e a vida, em quase todos os aspectos onde o Estado intervém, torna-se mais fácil e agradável precisamente por causa da acção do Estado.



as primeiras sete


No período a que me refiro aqui, Portugal e Espanha batiam os outros países da Europa, não somente em termos económicos. Batiam-nos também em outros sectores, por exemplo, o futebol.

As primeiras sete Ligas dos Campeões (então Taça dos Campeões Europeus) ficaram na Península Ibérica, as cinco primeiras para o Real Madrid, as duas seguintes para o Benfica.

mais feliz com o mito


Nos países de tradição católica, como Portugal e Espanha, o povo não tem o sentido da verdade - esse é um sentido reservado ao escol. Quanto ao povo, vive de ideias avulsas, coisas que lhe disseram, preconceitos, que normalmente o confortam e o tornam feliz, mas que frequentemente são falsas.

Tenho aqui falado do mito que é a ideia de que o Estado Novo empobreceu o país. Idêntico mito existe em Espanha (wherever else?) acerca do regime franquista. De pouco mais de 40% do PIB per capita europeu em 1938, o PIB per capita espanhol subiu para mais de 70% em meados da década de 70, quando o regime caíu.Veja aqui (se bem que, em princípio, eu não esteja nada convencido que você queira conhecer a verdade - pela razão de que você, quase de certeza, era mais feliz com o mito).