31 outubro 2008

malleus maleficarum

A decadência é um fenómeno histórico complexo (Camille Paglia). Nas sua etapas finais, a virilidade definha e emerge a volúpia satânica feminina, abismo fatal que nos atrai para a bestialidade e para o não-ser.
Eva é a terra e a serpente (Paglia). O fascínio Dionisíaco que apaga a razão e nos afasta de Deus.
As Satanic Sluts interpretam este arquétipo e documentam a decadência da civilização ocidental.

privacy

A razão é insuficiente para decidirmos, tem de ser orientada pelos sentimentos e pelas emoções (tese de António Damásio). É por esse motivo que nos interessa sempre saber quem são as pessoas que protagonizam determinadas ideologias.
Tem interesse conhecer a orientação sexual dos líderes políticos? Com certeza, essa orientação vai influenciar as suas decisões futuras e portanto vai-nos afectar. E não será uma invasão inaceitável da privacidade individual? Não. Uma coisa é conhecer em abstracto a orientação sexual das pessoas, outra seria estarmos interessados nos seus comportamentos particulares ou nos seus relacionamentos.
Noutra esfera, por exemplo, tem interesse conhecer as convicções religiosas dos líderes? Sem dúvida, pelos mesmos motivos. No meu ponto de vista, as convicções religiosas são mais privadas do que as sexuais, no entanto só um tolo argumentaria que os eleitores não têm o direito de as conhecerem.
Tem algum interesse para a análise das teorias de Keynes conhecer a sua homossexualidade? Ajuda a compreender o seu posicionamento. Se Keynes fosse físico ninguém estaria interessado no assunto porque as suas teorias teriam pouco impacto político.

última oportunidade

Para indicar o nome do seu bloguer preferido. As nomeações terminam hoje e a votação começa amanhã. Até agora, os nomes indicados são: Adolfo Mesquita Nunes, André Abrantes Amaral, André Azevedo Alves, António Costa Amaral, Bruno Alves, Bruno Oliveira Santos, Carlos Abreu Amorim, Carlos Guimarães Pinto, Carlos Novais, Corcunda, Cosme, Daniel Oliveira, Dragão, Fernanda Câncio, Francisco José Viegas, Gabriel Silva, Helder (O Insurgente), Henrique Raposo, Isabela (O Mundo Perfeito), João Luís Pinto, João Miranda, Joaquim Sá Couto, João Gonçalves, José (Grande Loja do Queijo Limiano), José Mário Silva, José Pacheco Pereira, Ludwig Krippahl, Luís Grave Rodrigues, Luís Lavoura, Luís M. Jorge, Luís Novaes Tito, Manuel Azinhal, maradona, Mário Sá Peliteiro, Michael Seufert, Miguel Castelo Branco, Miguel Madeira, Miguel Noronha, Miss Pearls, Padinha, Palmira Silva, Paulo Guinote, Paulo Pinto Mascarenhas, Pedro Arroja, Pedro Picoito, Rafael Castela Santos, Ricardo Arroja, Rodrigo Adão da Fonseca, Rodrigo Moita de Deus, Rui Albuquerque, Rui Carmo, Tó Portela, Vital Moreira, Zazie.

perto da Charlotte Street


CAA, Correio da Manhã, 29.X.08, e aqui.

duas melhor do que uma



À atenção do Professor Pedro Arroja.

Live Fast, Die Young

Talvez o Joaquim esteja interessado na teoria de Hans-Hermann Hoppe sobre a preferência temporal dos homossexuais. Todos nós preferimos consumir no presente a consumir no futuro pelo simples facto de o futuro ser incerto. É por isso que, em condições de livre mercado, as taxas de juro são positivas. Existe um prémio para quem poupa. Se este prémio não existisse as pessoas preferiam não poupar.

Acontece que os homossexuais, sobretudo os masculinos, não têm, por norma, descendência. Isto implica que, na prática, o horizonte temporal dos homossexuais é mais curto. Hans-Hermann Hoppe conclui que os homossexuais têm uma preferência mais acentuada pelo consumo no presente e uma maior aversão à poupança. Keynes enquanto homossexual tinha uma preferência pelo presente e aversão à poupança. Esse enviesamento gerou uma teoria que valoriza o presente em detrimento do futuro. O lema "a longo prazo estamos todos mortos" é na verdade uma imposição da cultura gay a um mundo predominantemente heterossexual.

O que me leva a outra questão. Pedro Arroja levantou neste blog a hipótese académica de Adam Smith ser gay. Existe uma forma de testar essa teoria. Todos os economistas expressaram nos seus escritos a sua preferência pelo presente e a sua aversão à poupança. É possível, com base nisso, criar uma escala que mede a preferência pelo presente de cada pensador. Podemos criar um índice de preferência pelo presente. Aqueles que ficarem melhor classificados são os homossexuais.

Horror


Foi esta a reacção que senti ontem ao assistir ao programa "Corredor do Poder" na RTP. Como é possível termos chegado a um nível tão baixo na discussão política? O debate foi miserável. Em especial, por força das intervenções da menina do PCP e daquele estranho sujeito do Bloco de Esquerda. Aliás, a propósito desse deputado, José Soeiro, e tendo em conta a falta de substância no debate, a RTP devia ter mais cuidado com a estética com que alguns dos seus convidados se apresentam. Não é aceitável que um representante da Assembleia da República de Portugal se apresente num programa dito sério como se de um arrumador se tratasse.

fase anal

A propósito de Keynes...

A filosofia económica de John Maynard Keynes parece evidenciar uma personalidade com fortes características anal-sádicas, descritas por Freud como uma obstinação pelo controle e pela acção e que se traduz, em termos económicos, pelo intervencionismo do Estado.
Keynes era também um apóstolo da eugenia e um membro encartado da British Eugenics Society, mais uma tara desta pulsão anal-sádica.
Pulsão que, aliás, marcou toda a vida de Keynes. Na foto vemos Keynes com o seu “companheiro”, o pintor Duncan Grant.
Não tenho quaisquer dúvidas que muito boa gente partilhará com Keynes a vontade de actuar e intervir para introduzir ordem em sistemas naturalmente caóticos, como a economia. Isto, se não partilharem até outros gostos e tendências, como a eugenia.

esperam-nos bons tempos

Há um rapaz nos Estados Unidos, de seu nome Jared Bernstein, que descobriu a solução para a actual crise financeira. Anda meio mundo e a outra metade a dar voltas ao miolo e, afinal, o rapaz sabe como compor a coisa. Nesta brilhante entrevista ao Diário Económico, ele dá-nos a fórmula: "Políticas keynesianas a todo o gás", que isto "não é o momento para políticas de austeridade". Por outras palavras, numa altura em que a massa falha, o que importa é gastar ainda mais massa. Com muito investimento público a rolar, o optimismo regressa e a economia desenvolve. É fácil e barato, porque é só ligar a rotativa ou dar crédito ao povo, o que é praticamente a mesma coisa. Acontece que este rapaz é o principal conselheiro económico de Barack Obama, que vai ser o próximo presidente dos EUA, onde se prepara para distribuir muito "hope" e muita "change" pelo povo. Aguardam-nos tempos auspiciosos, não haja dúvida.

30 outubro 2008

o fim da macacada!


Veja-se a estupefacção e a expressão de desalento com que ficou este leitor do Portugal Contemporâneo, ao constatar que, contrariando o que aqui está escrito, afinal há censura de comentários no nosso blog. "É o fim da macacada!", foi o comentário que escreveu, sobre o qual o Censor-Mor passou o seu implacável lápis azul.

não, passarão!

Por algumas horas do dia de hoje, os comentadores do Portugal Contemporâneo viram cerceado o seu direito fundamental de insultar, livre e soezmente, os postadores deste blog, nas caixas de comentários.

A coisa foi, como é sabido, da inteira responsabilidade do Pedro Arroja, ao contrário do que ele escreveu neste post, tentando alijar as suas inequívocas e criminosas responsabilidades, revertendo-as para mim.

Mas, como todos sabemos, de há uns tempos para cá, o Pedro vendeu a sua alma liberal ao diabo, perdão, à tenebrosa ICAR, que o tem utilizado nas mais infames campanhas pidescas contra a liberdade e a democracia, pelo que as suas manobras já não enganam ninguém. Esta de ser o Censor-Mor da Blogosfera Lusa (e do Portugal Contemporâneo) é apenas mais uma manobra ao serviço da retrógada ICAR, que tem que ser veementemente denunciada por todos os amantes da liberdade.

Felizmente, a democracia já brilha em Portugal há tempo suficiente para o povo conseguir separar o trigo do joio. No Portugal Contemporâneo as manobras fássistas do Pedro Arroja não passarão! A nossa aliança com a liberdade e os nossos leitores é sagrada! Reposta a boa ordem democrática, podem eles continuar a insultar-nos à vontade.

valores

Haverá valores fundamentais, em Portugal, pelos quais daríamos a vida? Pensemos um pouco, pelo menos pela liberdade, ou pela justiça?
Não, a nossa sociedade não evoluiu a esse ponto. Apenas estamos dispostos a esgadanharmo-nos pela gamela. O caso dos militares e dos juízes é paradigmático.
Os militares, numa democracia, deveriam ser a garantia, de último recurso, da estabilidade do regime. Ora o que vemos? Ameaças veladas de reviralho, transmitidas por reservistas, e tudo pela gamela.
E os juízes? Pela boca do presidente do STJ, a lamúria de que sem aumentos salariais não é possível garantir a isenção do sistema judicial (cito de cor).
Conclusão, os portugueses não reconhecem nem garantem valores supremos. Os interesses pessoais sobrepõem-se a tudo. E ainda há quem diga mal dos políticos.

ultrapassou


Com apenas mais um dia no mês de Outubro, é já seguro que o Portugal Contemporâneo ultrapassou largamente o Blasfémias no crescimento das audiências (cerca de 50% contra 1 a 2%), tornando-se provavelmente o blogue de mais vigoroso crescimento em toda a blogosfera nacional. A razão pode ter que ver com a censura sistemática nos últimos tempos que tem vindo a ser exercida naquele blogue por alguns dos seus membros. E com o facto de continuarem a defender uma forma falida de liberalismo. Além disso, o PC passou a contar com um dos melhores bloggers nacionais - João Miranda - e um dos melhores comentadores - anti-comuna.
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PS: Desculpem se eu disse alguma coisa....

Incentivos e fluxos


Nas últimas semanas, redescobriu-se o termo "poupança". Subitamente, voltámos a ouvir falar em aforro, parcimónia, moderação, contenção e sabe-se lá mais o quê. Todos dizem o mesmo. Governantes, financeiros, banqueiros, o Papa, o zé da esquina, entre tantos outros.

O problema é que, apesar do discurso, não existem incentivos concretos que conduzam à poupança. A ameaça do desemprego só se fará sentir na poupança quando os despedimentos se concretizarem. E as taxas de juro, inferiores ou semelhantes à inflação, fazem com que o aforro seja uma alternativa pior que o consumo. Por mais coloridos que sejam os alertas públicos, a verdade é que o público e as empresas só reagem perante incentivos objectivos.

Nas base destas minhas afirmações estão os dados económicos que vão sendo divulgados nos EUA. Há pouco foi apresentado o "Personal Consumption Expenditures core index", o indicador de inflação que Alan Greenspan idolatrava e que apresentou uma leitura de +2,9% ao ano. Ora, a taxa de juro do FED está em 1% desde ontem. A taxa de juro real, ajustada pela inflação, é negativa. Por isso, não há incentivo ao aforro - apenas ao consumo e à dívida. A mensagem do FED é clara: continuem a gastar, continuem a endividar, continuem como se nada fosse. Podem ver os gráficos aqui.

Enfim, o meu ponto é o seguinte: estamos a perder uma oportunidade dourada para reformar o sistema financeiro. Eu estive de acordo com a ideia de absorver e fechar o mercado de derivados de crédito, vulgo "activos tóxicos", para conter e eliminar os riscos sistémicos. Também estive de acordo com as garantias bancárias governamentais a fim de evitar as corridas aos bancos e a constatação de que, infelizmente, não existiam lá notas suficientes para cada depósito. Contudo, não posso estar de acordo com a redução das taxas de juro, para valores próximos ou inferiores aos da inflação, porque o problema não é crédito a menos. É precisamente o contrário: é crédito a mais.

Ou seja, a taxa de juro directora do banco central devia estar mais alta, bem mais alta, para atrair a poupança das empresas e das famílias. É esse o sinal que tem de ser dado. Porque também é esse o sinal que, ao direccionar mais depósitos para os bancos (ainda tão necessitados de capital), ajudará a restabelecer a inércia monetária, através da inversão dos actuais fluxos de capital, que é crucial para a concretização de uma maior prudência na gestão do risco bancário. Foi na avaliação desleixada do risco bancário que tudo começou. É aqui que tudo tem de recomeçar. Infelizmente, parece que o FED se prepara para rodar o disco e tocar o mesmo.

És tu!


As nossas caixas de comentários estão impedidas por razões que nos escapam. Ao tentar colocar um comentário obtém-se a resposta "Your comment is awaiting moderation". Eu acabo de acusar o Rui de andar a moderar - na realidade, a censurar - os comentários sem o conhecimento dos outros membros do blogue. Ele devolve-me a acusação e diz que sou eu, porque, ainda segundo ele, ultimamente deu-me na cabeça de policiar tudo o que se escreve em blogues, a tal ponto que a coisa já se tornou pública. Uma vergonha para o Portugal Contemporâneo, acrescenta.

Eu não estou certo que esta crise não vá acabar mal.

lord acton: liberdade e cristianismo

"Nos tempos da Conquista, quando os normandos destruíram as liberdades da Inglaterra, as rudimentares instituições herdadas dos saxões, dos godos e dos francos, desde os bosques da Germânia, começaram a desintegrar-se, e o novo elemento constituído pelo governo popular, que posteriormente seria introduzido pelo crescimento das cidades e a formação de uma classe média, todavia não estava activo. A única autoridade capaz de opor resistência à hierarquia feudal era a eclesiástica; e ambas hierarquias entraram em colisão quando o desenvolvimento do feudalismo ameaçou a independência da Igreja, subordinando os prelados àquela forma de dependência pessoal para com os reis que era característica do Estado teutônico.

A este conflito, que durou quatrocentos anos, devemos o surgimento da liberdade civil. Se a Igreja se tivesse submetido aos tronos dos reis que ungia, ou se a luta tivesse terminado rapidamente com a inequívoca vitória de um dos lados, toda a Europa teria ficado sob um despotismo de tipo bizantino ou moscovita. Com efeito, o objectivo de ambas as partes em luta era o poder absoluto. Mas, se a liberdade não era o fim por que combatiam, ela era certamente o meio pelo qual os poderes temporal e espiritual pediam o apoio dos povos. Como consequência das alternadas fases do conflito, as cidades de Itália e da Alemanha obtiveram as suas cartas de franquia, a França teve os seus Estados Gerais e a Inglaterra o seu Parlamento: e enquanto duro o conflito, este impediu que se afirmasse o direito divino dos soberanos. (...)

O resultado político da Idade Média foi um sistema de estados cujo poder estava limitado pela representação das classes mais fortes, por associações privilegiadas, e pelo reconhecimento de deveres superiores aos impostos pelos homens. (...)

Quanto mais se reduzia o ascendente da religião [no Renascimento], tanto mais o Estado reclamava em interesse próprio o privilégio de tratar os seus inimigos segundo os seus princípios de excepção. (...)

O clero, que tinha servido de tantos modos a causa da liberdade durante a sua prolongada luta contra o feudalismo e a escravidão, associou-se aos interesses da realeza. (...)

A idéia da liberdade religiosa é o princípio gerador da liberdade civil, e de que a liberdade civil é a condição necessária para a liberdade religiosa, foi uma descoberta do século XVII. (...)

Esta grande idéia política, que santifica a liberdade e a consagra a Deus, e que ensina os homens a valorizarem a liberdade alheia como se fosse a própria, e a defender os outros por amor à justiça e à caridade mais do que por uma reclamação de direitos, foi a alma de quanto de bom e de grande há no progresso dos últimos duzentos anos. (...)

Por volta do ano de 1770 [em Inglaterra] a situação tinha regressado quase as condições que se esperava a Revolução superasse para sempre. Foi a partir da América que as ideias de que os homens devem tratar dos seus próprios assuntos e de que o povo é responsável perante o céu pelos actos do seu Estado irromperam como um conquistador sobre os lugares que estavam destinadas a transformar, com o nome de Direitos do Homem."

Lord Acton, The History of Freedom in Antiquity and the History of Freedom in Christianity, 1987.

o vírus


A tese de Carlos Rangel (aqui) acerca do papel que a Igreja Católica desempenhou no subdesenvolvimento relativo da América Latina moderna - e que antes já tinha sido antecipada por Antero de Quental e aplicada a Portugal e Espanha (aqui) - é uma tese muito divulgada, que numa versão ou outra se popularizou sob a designação Weberiana. Mas é uma tese falsa.

Comecemos pela Península Ibérica. A Igreja já estava na Península antes de Espanha e Portugal se fundarem e, no caso, de Portugal, o país nasceu literalmente à sombra dela. Foi sob a égide da Igreja Católica, defendendo e propagando a fé católica, que os portugueses e os espanhois realizaram os Descobrimentos e as Conquistas, ascendendo ao esplendor da sua história, o qual incluiu, entre outros feitos, descobrir e civilizar a própria América Latina.

É, por isso, difícil compreender como é que tendo sido a Igreja Católica a inspirar Portugal e Espanha na grande - e única - contribuição que deram à civilização e à humanidade tenha sido ela também que a seguir os conduziu à decadência e à derrota. A menos que alguma mudança radical tivesse, entretanto, ocorrido na Igreja. Antero conhecia perfeitamente a armadilha que o seu argumento continha e por isso colocou o ênfase no catolicismo saído do Concílio de Trento.

A questão que se coloca é então a seguinte: será que o Concílio de Trento modificou radicalmente a Igreja e a sua doutrina? É o próprio Antero que dá a resposta: Não. As reformas de Trento foram superficiais, e largamente para inglês ver, como são sempre as reformas católicas. Alteraram-se alguns pontos doutrinais de menor importância para, no essencial, deixar tudo na mesma. Nem poderia, ou poderá algum dia, ser de outro modo. No dia em que a Igreja Católica aceitasse uma reforma radical, ou meramente substancial, tornava-se irrelevante - e desaparecia em menos de um século.

Segue-se que, se a Igreja era essencialmente a mesma antes e depois de Trento e se ela é justamente utilizada como argumento para explicar o esplendor pré-moderno dos dois países ibéricos, ela não pode ser ao mesmo tempo o argumento para explicar a sua decadência moderna, tanto mais quanto é certo que a Igreja passou a ter menos, e não mais, influência na sociedade.. Outra causa ou causas decisivas têm de ser procuradas para explicar esta decadência dos países ibéricos e o subdenvolvimento relativo da América Latina moderna.

A grande causa é exógena e é o conjunto das ideias que se impuseram através da Revolução Francesa e que germinavam já desde a Reforma protestante. À frente de todas está a ideia de democracia, mas o conjunto inclui outras como o republicanismo e o anti-clericalismo, o laicismo do Estado e a ideia constitucional de um governo de leis, que não de homens.

O objectivo principal da Reforma protestante foi o de retirar os padres e a Igreja da intermediação entre o homem e Deus. O homem passa a relacionar-se directamente com Deus e, para isso, os padres tinham de ser tirados do caminho. Pela sua própria natureza, a Reforma protestante é anti-clerical e é aí que se encontra a origem do anti-clericalismo moderno.

Se cada homem passa a falar directamente com Deus, ele vai exigir também poder falar com os governantes e ter uma palavra a dizer na sua escolha - daí o impulso democrático. Se cada homem - ou grupo de homens, as seitas protestantes - fala directamente com Deus e forma uma opinião ou uma corrente de opinião sobre a finalidade e o sentido da vida, ele vai também exigir que essa corrente de opinião seja aceite na sociedade numa base de igualdade com todas as outras; e que a decisão da escolha entre elas seja feita através de algum processo impessoal. É assim que surge o voto da maioria, inerente à democracia, com as seitas protestantes desempenhando o papel de precursoras dos modernos partidos políticos.

A Reforma protestante visa subtraír o homem à autoridade pessoal dos padres e, em última instância, à autoridade pessoal do Papa. Encontra-se aqui a origem da concepção protestante de liberdade. Um homem é livre quando não está sujeito a nenhuma autoridade pessoal, quando não tem de obedecer a ninguém, quando pode fazer como quer. É esta concepção de liberdade que está na origem das correntes do liberalismo moderno ou neoliberalismo.

A concepção de liberdade como subtracção à autoridade pessoal, que leva o protestantismo a rejeitar o Papa, vai também levá-lo, em nome da liberdade, a rejeitar o Rei. Daí que, depois da Igreja, a Monarquia passa a ser o alvo seguinte dos ataques protestantes. E o protestantismo vai procurar substituir o Rei, cuja autoridade é pessoal, por um Chefe de Estado cuja autoridade está baseada no processo impessoal da lei (constitucional). Este é o Presidente da República.

A laicidade do Estado, entendida no duplo sentido da separação entre o Estado e as religiões e da neutralidade do Estado em relação às religiões, é ainda a consequência lógica da diversidade de correntes de opinião, ou seitas religiosas, que emergiram do protestantismo: o Estado não pode comprometer-se com uma religião ou corrente religiosa sem que discrimine contra as outras. E o mesmo acontece com a ideia constitucional de um governo de leis, e não de homens. Na realidade, se a essência da liberdade protestante é subtraír o homem a toda a autoridade pessoal, ele não pode aceitar um governo cuja autoridade resida nas pessoas que o compõem. Pelo contrário, ele vai exigir que a autoridade do governo derive de uma uma instituição impessoal - a lei constitucional.

Portugal e Espanha não alinharam com os países do norte da Europa na Reforma protestante. Pelo contrário, Portugal e Espanha foram os baluartes da Contra-Reforma, os dois países mais importantes - e eles eram realmente importantes na época - que se aliaram à Igreja na luta contra as ideias que sopravam do Norte. É por esta razão que tais ideias nunca penetraram profundamente na cultura das nações ibéricas. Pelo contrário, foram sempre vistas como ideias inimigas. Não surpreende que as instituições e os comportamentos que essas ideias projectam nunca se tenham dado bem na Península Ibérica, nem nos países seus descendentes da América Latina.

Questão diferente é a de saber porque é que Portugal e Espanha se aliaram à Igreja, defendendo-a contra as ideias protestantes e protagonizando o movimento da Contra-Reforma. A razão mais plausível é política. À época, Portugal e Espanha eram os dois países mais poderosos do mundo e o mundo estava dividido entre eles pelo Tratado de Tordesilhas. Quem administrava o direito internacional e o direito marítimo era o Papa (outra contribuição da Igreja à Civilização: ela foi a precursora do direito internacional e das modernas instituições internacionais como a ONU). Não convinha a Portugal e Espanha colocarem-se contra o Papa, pois corriam o risco de perderem os seus respectivos impérios, que deixariam de ser reconhecidos por Roma.

Existam ou não outros factores para este alinhamento de Portugal e Espanha com a Igreja, o ponto importante é que as ideias e as instituições projectadas pelo protestantismo - democracia, constitucionalismo, republicanismo, anti-clericalismo, laicidade - permaneceram para sempre como corpos estranhos nas sociedades ibéricas, e nas suas descendentes da América Latina. São esses corpos estranhos, essa espécie de vírus, que ainda hoje as desestabilizam.

A Espanha e Portugal não decaíram, e a América Latina não é menos desenvolvida que a América do Norte, por se terem tornado mais católicas. É exactamente o contrário. A Espanha e Portugal decaíram, e a América Latina é menos desenvolvida que a América do Norte, porque se tornaram menos católicas, deixando-se infiltrar pelo vírus das ideias protestantes saídas da Reforma e materializadas pela Revolução Francesa.

hope

A crise vai terminar no dia 4 de Novembro, exactamente, com a eleição do próximo presidente dos EUA. E tanto faz que seja Obama como McCain. Claro que não me refiro à crise propriamente dita, mas apenas ao interesse mediático pela crise.
Porquê? Porque vamos assistir a um realinhamento de lobbies que vão disputar o espectro mediático. E assuntos não vão faltar, desde a guerra do Iraque ao Afeganistão, do terrorismo ao rearmamento nuclear, etc.
Todos vão aparecer a cobrar os respectivos apoios ao vencedor e a crise económica passará para segundo plano. Claro que a crise vai continuar, vai é deixar de fazer as primeiras páginas dos jornais. Quem é que se vai interessar pela intervenção do FMI em Espanha, em comparação, por exemplo, com a leitura interpretativa do discurso de tomada de posse do novo presidente? Ou até com o vestido da primeira dama ou a lista de convidados para o baile inaugural.
First things first.

29 outubro 2008

Não é só lá


O excelente artigo do CAA publicado no Correio da Manhã, e reproduzido no post em baixo, sobre a sodomização à esquerda e a sodomização à direita (eu estava convencido que a sodomização era só ao centro) atraíu a minha atenção por causa daquela pequena frase que aparece no início da segunda linha: Não é só cá.

Nesta versão, ou com alguma alteração, esta frase daria um excelente título em post - pensei. Ocorreu-me então contar aos leitores um episódio verídico e pertencendo também à área da política sexual, ocorrido no final dos anos quarenta em Inglaterra quando Churchill era ainda primeiro-ministro.

A Guerra tinha acabado e o socialismo emergia triunfante nas teses esquerdistas do Partido Trabalhista. O programa do Partido, que viria a triunfar mais tarde, previa a nacionalização das grandes empresas, a nacionalização dos grandes bancos, a nacionalização das grandes propriedades, a nacionalização das grandes minas, etc..

Certa tarde, Churchill conversava amenamente com um deputado trabalhista nos Paços Perdidos do Parlamento. A dada altura, enquanto conversavam, encaminharam-se ambos para os mictórios. O deputado trabalhista entrou primeiro e foi colocar-se no mictório mais afastado do lado esquerdo. A seguir, entrou Churchill que foi colocar-se no mictório mais afastado do lado direito. Estavam agora separados por cerca de sete metros, em silêncio, naquela posição canónica de pernas abertas, mãos entre as pernas, de costas para quem entrasse.
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Foi o deputado de esquerda o primeiro a quebrar o silêncio:

-Eh, Winston, você hoje está afastadote...

-Estou ... É que vocês quando vêem qualquer coisa grande querem logo nacionalizá-la.

o sofrimento


Há diferenças entre os homossexuais de direita e de esquerda. Não é só cá. Os de esquerda aceitam-se com mais naturalidade. Em regra, os de direita não. Não se admitem a si mesmos. Não raramente, são os mais ferozes a condenar a homossexualidade em público. Uma vez, deparei com um homossexual de direita não assumido a rezar: o sofrimento interior que dele transbordava impressionou-me. Era um não querer ser o que era mas que tinha de o ser contra-vontade. Não sei se o ex-líder da extrema-direita austríaca, Joerg Haider, vivia ou não em paz consigo mesmo – mas, após a sua morte, ao vermos que era o contrário daquilo que apregoava, percebemos que temos de olhar com outros olhos para os políticos que se fartam de ensinar aos outros como devem pautar a sua vida.
(CAA, Correio da Manhã, 28.X.08, e aqui)
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Actualização às 21:50:
CAA Diz: 29 Outubro, 2008 às 9:32 pm
Pronto!
Os tolinhos do costume resolveram encharcar isto com as suas injúrias.
Uma vez mais, aviso que apagarei tudo aquilo que ultrapasse as medidas da discussão vagamente civilizada. Quem não gostar faça o favor de se ir queixar ao alucinado que gosta de policiar o Blasfémias.

quentes e boas

Num artigo recente, George Will recorda-nos três axiomas relativos às notícias e à economia.
1. Todas as notícias são económicas. Fácil de perceber, porque todas as notícias influenciam os sentimentos da populaça e o respectivo comportamento, o que por sua vez tem consequências económicas.
2. Todas as notícias económicas são más notícias. Demasiado óbvio para repetir Will, contudo, não resisto ao exemplo que dá. A inflação está a descer, má notícia porque a economia pode estar a arrefecer. A economia está a crescer, cuidado que pode vir aí inflação.
3. Todas as péssimas notícias contêm boas notícias. As crises financeiras, por exemplo, são uma oportunidade para separar o trigo do joio e consolidar o sector.
Não há nada como ler um mestre.

You're simply the best...


O Jornal de Negócios publicou hoje uma entrevista com António Horta Osório, actual presidente do Abbey Bank e antigo presidente do Santander Totta. É uma entrevista morna - demasiado genérica para o meu gosto.

Contudo, não posso deixar de realçar o excelente trabalho que o nosso António Horta Osório está a fazer à frente do Abbey Bank. Na entrevista ao JdN, o gestor destacou uma série de métricas em que a progressão evidenciada nos últimos meses é notável, em particular em face da conjuntura. A sua preocupação em posicionar-se relativamente melhor que os seus concorrentes nos vários benchmarks do sector é notória. Em suma, o homem é sólido.

Além disso, ao conhecimento que evidencia, Horta Osório junta ainda a imagem que projecta. Como dizem as gentes do Norte: está sempre impecável! É a prova de que os executivos de sucesso também podem ter uma imagem cool. E que os portugueses são tão bons quanto os melhores estrangeiros. Viva Portugal! "Heróis do mar, nobre povo, Nação valente, imortal..."

analogia


Considere uma comunidade constituída por pessoas que possuem características culturais indicadas aqui (ou as indicadas aqui e aqui, porque são todas equivalentes).

A melhor analogia que eu consigo imaginar para uma tal comunidade é uma comunidade de meninos mimados. Só pensam neles, são radicalmente egoístas, detestam-se uns aos outros, andam sempre à bulha, dão cabo de tudo e só fazem asneiras quando um adulto - a autoridade - não está presente.

Tendo em vista o bem comum da comunidade de meninos mimados, que regime proporia para a governar - um regime democrático, onde são eles a tomar as decisões, ou um regime autoritário em que é um homem adulto que toma conta deles e os governa?

Está quase


A Grécia vai ser o primeiro dos PIGS a ir ao tapete na Eurolândia. Está quase (veja aqui).

Nos últimos dias, um factor pressionante sobre a situação financeira da Grécia foi a queda do Baltic Dry Index, um índice do preço dos transportes marítimos de mercadorias por grosso. O transporte marítimo de mercadorias constitui umas das principais indústrias exportadoras da Grécia, acima do turismo.

Papel comercial


O mercado accionista registou ontem uma sessão de ganhos extraordinários, em particular nos EUA. O Dow Jones ganhou 889 pontos, naquela que foi a segunda maior subida de sempre em termos absolutos.

Na base do "rally" esteve a acção da Reserva Federal no mercado da dívida de curto prazo. Esta semana, o FED começou a adquirir papel comercial junto das empresas, financeiras e não financeiras, do sector privado. O resultado desta medida está a ser extraordinário. Só ontem foram vendidos 232 mil milhões de dólares de papel comercial - o maior volume dos últimos cinco anos. E, no segmento do papel comercial com maturidade superior a 80 dias, o FED foi o maior comprador: absorveu 90% das emissões, como poderá ver aqui .

Enquanto esta eficácia se mantiver, é provável que os mercados de acções se aguentem. Contudo, a questão filosófica associada ao tema é avaliar se o banco central deve ser, ou não, credor do sector privado. Eu acho que não. Mas isso é outra conversa e neste momento ninguém quer pensar no assunto. Por agora, vale tudo!

Top-10


Mais uma vez este ano, as melhores escolas do país são escolas católicas. As escolas ligadas à Igreja batem em massa as escolas públicas e privadas. (Ver aqui e aqui) . Não existe uma única escola pública entre as quinze primeiras do ranking do secundário.

Porque não entregar a educação das crianças em Portugal aos cuidados da Igreja, fechando essa monstruosidade que é o Ministério da Educação ou chamando a Igreja para tomar conta dele? Por preconceito, seguramente que não por preocupações de qualidade.

regulamentação

Quem regulamenta o Estado? Nos últimos tempos têm surgido tantas vozes a clamar por mais regulação para o sector financeiro que ocorre imediatamente perguntar: e o Estado? Quem regulamenta o Estado?
Esta pergunta de início parece retorcida, porque o Estado já funciona dentro de um regime legal e até constitucional próprio. Contudo, convenhamos, também a banca funcionava e funciona dentro da Lei.
O que os defensores de mais regulamentação argumentam é que, apesar da Lei, os bancos tinham demasiada autonomia e que os seus responsáveis, actuando em benefício próprio, usaram e abusaram dessa autonomia, assumindo demasiados riscos.
Ora não se poderá estar a passar o mesmo com o Estado? Estarão a funcionar em pleno todos os mecanismos de “checks and balances” que garantem o equilíbrio?
Concentremo-nos em Portugal, porque com o mal dos outros podemos nós bem. O sistema político é um oligopólio que controla o poder legislativo e o poder executivo. Os deputados são seleccionados pelo partido e na AR estão sujeitos à disciplina de voto. O PR, apesar da sua legitimidade democrática, também está associado ao oligopólio. Estamos portanto a falar de um pequeno grupo de comparsas que controlam directamente 50% da riqueza nacional e estipulam o que se faz com o resto. Que garantia temos então que não se passe, ou se venha a passar, no Estado, o que se passou na finança?
A garantia é muito simples e estou certo que os defensores de mais regulamentação para a banca a poderão dar numa penada: Nunca se poderá passar no Estado algo de similar ao que se passou na banca porque os políticos são gente impoluta e os banqueiros são uns vigaristas! Ora tomem.

28 outubro 2008

melhor bloguer 2008

Continuamos a aguardar, até ao próximo dia 31, a indicação de nomes para a votação do Melhor Bloguer de 2008. A lista actualizada dos nomeados é a seguinte: Adolfo Mesquita Nunes, André Abrantes Amaral, André Azevedo Alves, António Costa Amaral, Bruno Alves, Bruno Oliveira Santos, Carlos Abreu Amorim, Carlos Guimarães Pinto, Carlos Novais, Corcunda, Cosme, Daniel Oliveira, Dragão, Fernanda Câncio, Francisco José Viegas, Gabriel Silva, Helder (O Insurgente), Isabela (O Mundo Perfeito), João Luís Pinto, João Miranda, Joaquim Sá Couto, João Gonçalves, José (Grande Loja do Queijo Limiano), José Pacheco Pereira, Luís Grave Rodrigues, Luís Lavoura, Luís M. Jorge, Luís Novaes Tito, Manuel Azinhal, maradona, Mário Sá Peliteiro, Michael Seufert, Miguel Castelo Branco, Miguel Madeira, Miguel Noronha, Miss Pearls, Padinha, Palmira Silva, Paulo Guinote, Paulo Pinto Mascarenhas, Pedro Arroja, Pedro Picoito, Rafael Castela Santos, Ricardo Arroja, Rodrigo Adão da Fonseca, Rui Albuquerque, Rui Carmo, Tó Portela, Vital Moreira, Zazie.

a agravar


A saúde financeira dos PIGS está-se a agravar. Apresento a seguir os spreads das obrigações do Estado a 10 anos dos PIGS relativamente à Alemanha, no fecho do mercado de hoje (em pontos percentuais). Entre parentesis, estão os spreads da última sexta-feira. Quanto maior o spread mais adoentado o país está do ponto de vista financeiro. Spreads superiores a 1.00 indicam que o estado do doente começa a ser sério:
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Portugal: 0.73 (0.68)
Italy: 0.96 (0.92)
Greece: 1.22 (1.15)
Spain: 0.61 (0.61)

o fracasso do mercado e o êxito do estado


É com gravidade e circunspecção que anuncio, a todos quantos se têm entretido, nos últimos dias, a zurzir violentamente o mercado livre e o capitalismo, uma verdade inconveniente: o capitalismo e o mercado livre não existiram nunca em lugar algum, em nenhum momento. Todas as economias nacionais foram, são e provavelmente continuarão a ser objecto de múltiplas intervenções dos estados e dos seus governos, por via legislativa e por inúmeras outras formas de intervenção directa e indirecta, como a tributação. Não existindo capitalismo e mercado livre em modelo integral, o que existem são economias mais ou menos intervencionadas, mais ou menos estatizadas, consoante a força e a resistência que a sociedade civil oferece aos despautérios do poder público. Podem, por isso, os liberais dormir sossegados: o seu sistema político e económico não falhou, nunca falhou, pela evidência lapaliciana de que nunca foi integralmente posto em prática.

Mas, já que estamos com a mão na massa, devemos aproveitar para perguntar aos estatistas sobre os seus "êxitos" e os do intervencionismo que defendem e praticam. Sobre os custos que a economia e a sociedade têm que pagar pela decisão política, sempre que um senhor ministro resolve fazer mais uma estrada, inaugurar mais uma escola, beneficiar um segmento da população, criar mais uma repartição pública, uma nova secretaria de estado, contratar mais uma secretária, um director, um especialista, solicitar mais um parecer, renovar a frota automóvel do seu ministério, aumentar o IVA, cobrar mais taxas. Ou seja, onde anda a famosa redistribuição keynesiana dos (pelo menos) 50% do PIB que, por exemplo, o estado português absorve anualmente à economia privada? Em que fomos mais felizes? A nossa vida melhorou ou piorou? Os pobres já não existem? Estamos satisfeitos com a prestação de serviços públicos nas áreas da saúde, da educação, do ambiente, da justiça, da segurança, etc.? E, já agora, o famoso “pleno emprego” foi já atingido pelo nosso keynesianismo, ou, pelo contrário, o desemprego continua a galopar? Por outras palavras, a redistribuição foi eficaz, ou ficou cativa na burocracia e no clientelismo político?

Em tempos de calcular êxitos e inventariar fracassos, conviria ter presente que o que sustenta um país é a sua economia privada, e não o estado e a burocracia. Mesmo em países, como o nosso, em que o mercado está intervencionado em, pelo menos, 50%, há que convir que, apesar de tudo, o que resta dele tem-nos permitido manter uma vida razoável.

a frase


Não suscita, então, espanto o facto ... de haver vontade de combater também a ordem da liberdade, para se chegar finalmente à liberdade verdadeira.
(Joseph Ratzinger, Papa Bento XVI; bold meu; citação completa aqui)

...e depois a morte


... As nações mais inteligentes, mais moralizadas, mais pacíficas e mais industriosas são exactamente aquelas que seguiram a revolução religiosa do século XVI: Alemanha, Holanda, Inglaterra, EUA, Suíça. As mais decadentes são exactamente as mais católicas.

... Essa máquina tenebrosa de compressão, que foi o Catolicismo depois do Concílio de Trento, que podia ela oferecer aos povos? A intolerância, o embrutecimento, e depois a morte

Deflação


De acordo com um Boletim de Research da Merrill Lynch que tive agora oportunidade de ler, nos Estados Unidos o endividamento actual das empresas do sector privado representa 363% do PIB gerado por essas mesmas empresas. Trata-se de um máximo histórico, 73 pontos percentuais superior aos 290% que seria de esperar em face da tendência de longo prazo (calculada com início em 1952). Assim, os analistas da Merrill Lynch concluem que, apenas para regressar ao patamar normal, as empresas norte-americanas terão de reduzir a sua dívida em 8 triliões de dólares que, por sua vez, representa uma grandeza quase 3 vezes superior a toda a capitalização bolsista do índice Dow Jones.

A conclusão da Merrill Lynch é a mesma do Pedro Arroja: vêm aí tempos de Deflação.

Mercado residencial


Há pouco foram divulgados novos dados acerca do mercado imobiliário norte-americano. De acordo com o Case Shiller Index, que mede a variação média no preço dos imóveis residenciais no conjunto das 20 maiores cidades norte-americanas, em Agosto houve uma deterioração de 1% face ao mês anterior. Nos últimos 12 meses, o preço médio de um imóvel residencial baixou 17%. Entre as cidades mais afectadas, destaca-se Las Vegas: -31% face a Agosto de 2007. Por outro lado, a cidade onde os preços menos cairam nos últimos doze meses foi Dallas, onde os preços baixaram cerca de 3%.

Em Portugal, segundo os dados do Instituto Nacional de Estatística, no último ano, o preço médio das casas baixou 5%. Estes dados referem-se à avaliação bancária na habitação, ou seja, ao preço médio na base das avaliações imobiliárias realizadas pelos bancos em Portugal. Vantagens de um mercado imobiliário altamente bancarizado!

as velhas cassandras

Já começa a falhar a pachorra para o tipo de argumentos sobre a suposta crise do mercado e do liberalismo, que Vital Moreira sintetiza no artigo de hoje do Público, e que o João Miranda já desmontou neste post do Blasfémias.

De facto, a pachorra falha porque há quase trezentos anos, desde o início da primeira revolução industrial, que a conversa é sempre a mesma: o mercado é incapaz, gera mais injustiça do que justiça, mais pobreza do que riqueza. Em alternativa, os críticos do mercado exigem mais estado. A graduação do estatismo pode variar, mas é certo que se trata de um processo muito difícil de conter, uma vez iniciado.

A verdade, porém, é que a civilização ocidental contemporânea se definiu a partir da liberdade económica e do mercado, o que permitiu, em pouco mais de duzentos anos, um crescimento económico e um desenvolvimento social e humano sem precedentes. Resultados que, em idêntico período de tempo, em países potencialmente mais ricos de outras regiões, não ocorreram, exactamente por falta de liberdade económica. Negar esta evidência é negar a história recente do mundo, o que não significa que não haja sempre quem esteja disposto a fazê-lo, como é o caso de Vital Moreira.

Nestas ocasiões é bom relembrar que a história das nossas sociedades não é a da luta de classes, como Marx pretendia, nem é um cemitério de elites, como afirmava Pareto, ou sequer uma resultante da luta de poderes, como pretendia Jouvenel. Ela é o resultado da livre cooperação de milhões de indivíduos em processo de mercado, é certo que sistematicamente incomodados por protagonistas políticos com interesses pouco claros. No fim de contas, a história das sociedades ocidentais é a da liberdade contra o estatismo. E vai continuar a ser assim, por mais que as nossas velhas Cassandras profetizem o fim do mercado.

Nenhuma outra instituição


... Foi fatalidade da América Latina ser colonizada por um país que, embora admirável em muitos aspectos, começava na altura a rejeitar o espírito emergente do modernismo e a criar barreiras contra a afirmação do racionalismo, do empiricismo e do pensamento livre - isto é, contra as bases da sociedade industrial moderna e da revolução liberal, e do desenvolvimento económico capitalista.

Nenhuma outra instituição como a Igreja Católica contribuiu tanto para determinar aquilo em que a América Latina se tornou e aquilo em que ela não se tornou.

...A história da América Latina é o testemunho do falhanço do Catolicismo, por oposição ao Protestantismo, ou pelo menos da derrota da ética católica perante a ética protestante, a qual enformou o desenvolvimento dos Estados Unidos.

... A sociedade protestante da América do Norte parece mais cristã, ou talvez menos anti-cristã, do que a sociedade católica da América Latina. Ela exige dos seus seguidores um padrão de comportamento social que dita razoável boa-fé nos negócios diários, e nas relações interpessoais, e exige acção socialmente construtiva mesmo daqueles que estão na oposição.

A sociedade católica latino-americana satisfaz-se facilmente com as aparências: com a exibição de ser um bom pai, de se comportar bem, de possuír talento, honestidade, erudição, patriotismo; com a exibição exterior de radicalismo revolucionário ou de conduta sexual apropriada; com a exibição da religião. Ao mesmo tempo, esta sociedade impôs limites muitos estritos aos comportamentos socialmente permíssíveis. Apenas a influência norte-americana lhe permitiu em anos recentes ser mais tolerante em relação a padrões sociais não-conformistas.

A sociedade protestante norte-americana, em comparação, exige dos homens e das mulheres, muito mais estritamente, que façam prova daquilo que realmente são, em lugar daquilo que dizem ser. Esta exigência pragmática e do senso comum deu aos EUA o seu dinamismo, porque assegura um número constante de pessoas com experiência a desempenhar papeis dominantes em sectores chave da política nacional e do desenvolvimento.
(Carlos Rangel, The Latin Americans: Their Love-Hate Relationship with the United States, New York: H.B. Jovanovitch, 1977)

a verdade


Papa Bento XVI, então Cardeal Ratzinger, sobre a Verdade:

Pretender que as afirmações concretas de uma religião sejam verdadeiras parece hoje não apenas presunção arrogante, mas também sinal de falta de "luzes". O espírito da nossa época foi expresso por Hans Kelsen quando propõe a pergunta de Pilatos "O que é a verdade?" como a única atitude adequada, dados os problemas morais e religiosos da humanidade, para a configuração da comunidade estatal.

A verdade é substituída pela decisão da maioria, é o que ele diz, precisamente porque, na sua opinião, a verdade não pode apresentar-se como uma entidade acessível e vinculativa para todos os homens. Assim, a diversidade de culturas torna-se prova de relatividade de cada uma delas. A cultura é contraposta à verdade. Este relativismo, que hoje, como sentimento base da pessoa "iluminada", se inculca amplamente até dentro da teologia, é o maior problema da nossa época.

É também esse o motivo pelo qual actualmente a praxis é o sucedâneo da verdade e o fulcro das religiões se deslocou. Acabamos por não saber o que é verdadeiro, mas sabemos o que devemos fazer: instaurar uma sociedade melhor, o "Reino", como se costuma dizer, recorrendo a uma palavra tirada da Bíblia e utilizada em sentido utopista profano.
(in D. Tessore, op. cit., pp. 22-23)

São estes da foto


Numa tese apresentada no MIT, o autor - um académico - estudou a população de um certo país.

Ele conclui que a população é facilmente corruptível, feita de pessoas invejosas que conhecem a vergonha mas não o arrependimento. As pessoas enfatizam a sorte e as forças sobrenaturais como determinantes do futuro, muito mais do que o planeamento e o trabalho árduo. São altamente individualistas e evitam a acção de grupo, excepto quando beneficiam dela directamente. São excessivamente motivadas por preocupações acerca da dignidade e da masculinidade. Preocupam-se mais com o estatuto que herdaram do que com as suas realizações pessoais ("achievements"), e têm desprezo pelo trabalho. Acreditam que o seu progresso na vida depende mais das pessoas que conhecem, do que do seu próprio mérito. Na qualidade de superiores hierárquicos, estas pessoas são autocráticas e não delegam. Como subordinadas são submissas. A ansiedade e a raiva que acumularam na sua condição de subordinadas leva-as frequentemente a vingarem-se nos seus próprios subordinados e nos seus filhos.

Estas pessoas enfatizam o tempo presente. Elas não vivem ou trabalham para o futuro: elas contemplam a sua imagem. Um tal ênfase no presente é inimigo de uma planificação concienciosa do futuro, de compromissos ("commitments") económicos, políticos e sociais de longo prazo, da emergência de um sentido colectivo de dever - especialmente do dever de realizar trabalho produtivo -, e da promoção e cooperação desinteressada com um grupo, uma organização ou com a comunidade.

Não há uma verdadeira comunidade neste país. As pessoas não formam uma comunidade. Elas não formam um corpo, mas somente um aglomerado. A família é a única instituição de coesão social neste país, a única instituição em que as pessoas confiam, a única instituição em relação à qual as pessoas sentem obrigações e deveres e manifestam lealdade.

Qual a nacionalidade das pessoas de que fala o autor?

(Solução mais tarde na caixa de comentários, com menção do autor e do livro)

A que país pertencerá?


Certo cientista político americano viveu durante nove meses numa pequena cidade de determinado país. Ao cabo das suas observações, ele elaborou a seguinte lista de características culturais da população dessa cidade:

1. Ninguém se preocupa com os interesses da comunidade, excepto quando o seu próprio interesse está envolvido.
2. Apenas os funcionários públicos se ocupam dos assuntos públicos.
3. Existe pouco controlo sobre a actividade dos funcionários públicos e dos políticos.
4. É difícil criar organizações e mantê-las.
5. Os políticos e os funcionários públicos trabalham apenas o estritamente necessário para manterem os lugares.
6. Ninguém respeita a lei, excepto quando receia ser apanhado.
7. Funcionários públicos e políticos aceitam luvas quando não existe o receio de serem apanhados.
8. Os mais fracos da comunidade favorecem um regime forte e autoritário.
9. Quem invoca o espírito público como motivo para a acção não é levado a sério.
10. Não existe relação entre os princípios políticos formulados em abstracto e os comportamentos concretos do dia-a-dia.
11. Não há líderes nem seguidores.
12. As pessoas votam apenas quando esperam um benefício imediato.
13. As pessoas apoiam as actividades comunitárias somente quando existe um ganho directo para elas próprias.
14. As pessoas não confiam nas promessas dos partidos políticos.
15. Os políticos são vistos como corruptos e governando-se a si próprios.
16. Não há verdadeiras organizações políticas dignas do nome.
17. Os membros dos partidos políticos vendem os seus préstimos a quem pagar mais.

A que país pertencerá esta cidade?

(Solução mais tarde na caixa de comentários com indicação do autor e do livro)

patético







É triste ver a Espanha de joelhos.

factos

Em política os factos não contam para nada. É por isso que um racionalista como eu tem muita dificuldade em acompanhar os acontecimentos políticos. Quando era jovem ainda gostava de argumentar, aqui ou ali, mas, mais tarde ou mais cedo, acabamos por compreender o que afirmei de início, os factos não contam e desinteressamo-nos por discutir e argumentar.
A política é a arte de ajudar os amigos e de prejudicar os inimigos. Ora o que conta em política é, portanto, saber quantas pessoas saem beneficiadas ou prejudicadas (no imediato) por determinadas escolhas e depois contar espingardas.
Facto: a imposição de um salário mínimo obrigatório conduz a mais desemprego. Facto claro e indesmentível por qualquer economista. Adiante, um partido político promete implementar esta medida, se for eleito. Tem alguma relevância argumentar que vai aumentar o desemprego? Nenhuma! O que conta então?
O que conta é saber quantas pessoas poderão beneficiar com esta medida e quantas irão sair prejudicadas. Num país com baixos salários, a medida pode ter um impacto eleitoral positivo para o partido que a propõe. Em contrapartida, um aumento moderado do desemprego, representará poucos votos e é provável que seja possível inculpar o patronato pelo aumento do desemprego.
Tal partido pode até ameaçar os empresários com medidas retaliatórias e vir a conseguir os votos dos palermas que perderem o emprego.
Quando discutimos política devemos ter isto sempre presente. Os factos não contam, o que conta são as espingardas, ou seja – os votos.

27 outubro 2008

Que país é este?


Num livro publicado há alguns anos, um académico americano decidiu estudar um certo país. Identificou as seguintes características na cultura da sua população:
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-excessivo egoísmo, reflectido em falta de consideração para com os outros;

-excessiva preocupação com a dignidade, e machismo;

-excessiva preocupação com o estatuto, com o ser (v.g.: "Eu sou o Presidente da Junta!"; PA) mais do que com o fazer ;

-apatia, falta de empenhamento ("commitment"), e alheamento ("withdrawal");

-a crença de que uma pessoa só consegue progredir na vida através de cunhas ou esquemas ("pull" or trickery");

-corrupção institucionalizada ("a formalized, accepted, widely practiced disregard for or violation of the law and of moral standards through the use of bribery and influence in public and private occupations");

-lealdade à família alargada e às pessoas com poder, em lugar de lealdade à lei;

-ausência de cultura cívica;

-paternalismo, e até autocracia, nas relações entre patrão e seus empregados.
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O autor cita um outro que estudou o mesmo país: "(As pessoas) são imitativas ... habitualmente descontentes com os seus concidadãos; as suas atitudes são uma mistura de impaciência e de inércia; são pessoas imprevidentes, sentimentais, cheias de amor-próprio, e desconfiadas. Por detrás da pose de cinismo e sofisticação, há imaturidade".
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Que país é este?

(Solução na caixa de comentários mais tarde, com indicação do livro e do autor).

só p'ra chatear o meu pai


A liberdade como revolta pessoalizada contra a autoridade, uma característica cultural dos povos católicos a que aludi no meu post anterior, tem tido muitas descrições em Portugal. O período post-25 de Abril fornecia-as quotidianamente. Os democratas eram todos, sem excepção contra alguém - contra os fascistas, contra os patrões, contra os polícias, contra os reaccionários, contra os padres, contra os ricos, etc.

Algumas destas descrições são humorísticas. Uma das minhas preferidas ocorreu ainda durante o Estado Novo, num programa televisivo chamado Zip-Zip que fez furor na época com o Raúl Solnado, o Carlos Cruz e o Fialho Gouveia. Numa charla, o Raúl Solnado fazia de ladrão, vestido descuidadamente, de camisa aberta e boina na cabeça como convinha a um ladrão na altura, e era entrevistado pelo Carlos Cruz. A certa altura da entrevista, o Carlos Cruz pergunta-lhe:

-Mas agora, diga-me cá, porque é que decidiu tornar-se ladrão?

-Ah, isso foi só p'ra chatear o meu pai que era polícia...

Agora, a solução ao quiz do meu post anterior: Espanha. O aspecto curioso é que podia ser Portugal, México, Itália, Argentina, Costa Rica, Equador, Chile, Guatemala ou qualquer outro país de cultura católica. É só revoltas.

a state of mind


Lawrence E. Harrison abre o capítulo 7 do seu clássico Underdevelopment is a State of Mind colocando um quiz aos leitores. Traduzo do inglês:

"1. Em que país, durante o período 1814-1876, existiram sete constituições, duas guerras civis, e trinta e cinco tentativas feitas pelos militares para derrubar o governo (onze delas com sucesso)?
2. Qual foi o primeiro país que, em face do caos político e da desordem civil, estabeleceu um sistema sob o qual liberais e conservadores alternariam no poder?
3. Em que país, no início do século XX, um por cento dos proprietários rurais possuiam 42 por cento das terras?
4. Qual foi o país que teve seis revoltas camponesas e cinco revoltas urbanas entre 1827 e 1917?
5. Qual foi o país no século XX em que uma guerra civil, com intervenção estrangeira, conduziu à instauração de uma ditadura militar que durou quatro décadas?"

(Lawrence E. Harrison, Underdevelopment is a State of Mind, Boston: Madison Books, 1985, p. 132).

O argumento do Papa que citei no meu post anterior, e que ilustrei para Portugal, descreve uma característica peculiar dos povos de cultura católica, a saber, a de que a ideia de liberdade nesta cultura está associada ao sentimento de revolta - e uma revolta pessoalizada. Para as nações católicas, a ideia de liberdade é idêntica à possibilidade de se revoltarem contra uma pessoa que elas vêem como sendo aquela que lhes tolhe a liberdade. Nesta cultura, não existe liberdade sem revolta.

A história moderna de Portugal ilustra este ponto. Esta é uma história de múltiplas revoltas contra pessoas (reis, ditadores) que eram vistas como tolhendo a liberdade do povo. Tais revoltas foram quase sempre conduzidas em nome da democracia. Porém, das vezes que a democracia venceu, os portugueses nunca se sentiram livres e, em consequência, a democracia nunca durou no país, precisamente porque lhes faltava uma pessoa contra quem se revoltarem.

As nações católicas precisam de um poder político pessoalizado para se sentirem livres, o mesmo é dizer, para se revoltarem. Em democracia, estas nações não se sentem livres, porque não havendo um poder político pessoalizado, elas não têm contra quem se revoltarem. Pelo contrário, sentem-se agrilhoadas e por isso, mais cedo ou mais tarde, dão cabo da democracia. Como sempre aconteceu.

Sem o pretender, eu acabo de dar uma ajuda para a solução do quiz de Harrison. Trata-se de um país católico. Mas o leitor vai ter de identificar qual é. (Em post a publicar mais tarde fornecerei a solução. Esteja atento. Pode ficar surpreendido)

Non stop


Há uns dez anos, quando comecei a trabalhar nos mercados, defendia-se que a tecnologia e a integração económica e financeira, em breve, permitiria a criação de um mercado de acções global, transaccionável 24 horas por dia. Pois bem, essa ideia nunca se concretizou.

Existe, contudo, um mercado, associado aos índices de acções, que transacciona 23 horas e 45 minutos por dia: os futuros sobre o S&P500 - versão Mini S&P's - que representam o cabaz de títulos individuais que compõe o índice S&P500 no mercado à vista. Em fusos horários normais, estes futuros começam a transaccionar às 21h30, hora de Lisboa, através da plataforma electrónica GLOBEX, e encerram às 21h15 de Lisboa, quinze minutos depois do fecho do mercado à vista. Pelo contrário, na Europa, os futuros do Eurostoxx 50, aqueles que a nível mundial possuem maior volume de transacções, não transaccionam durante a noite e só abrem uma hora antes do mercado à vista. No Japão, os futuros sobre o Nikkei fazem o mesmo.

Em teoria, a existência de um mercado a funcionar em permanência tem várias vantagens, nomeadamente a) permitir a abertura ou encerramento de posições com maior flexibilidade e; b) antecipar de forma mais rigorosa a abertura do mercado à vista (que no caso do S&P500 acontece às 14h30 de Lisboa). Contudo, na prática, sucede que o volume de transacções dos futuros do S&P500 é muitíssimo baixo fora das horas normais do mercado à vista, em particular durante a sessão asiática até à hora de almoço na Europa quando os traders norte-americanos começam a entrar em acção. Ou seja, a fiabilidade dos futuros do S&P500 neste período de tempo é quase nula, especialmente em momentos de maior volatilidade. Os propósitos que levaram à sua introdução não estão a ser atingidos.

Esta questão está já a gerar muitas críticas nos Estados Unidos, onde vários gestores profissionais se insurgem quanto ao carácter virtual das transacções realizadas em GLOBEX. Uma solução é abolir as transacções em GLOBEX e adoptar horários semelhantes aos que existem na Europa e no Japão. Outra alternativa é exigir à bolsa onde os futuros do S&P500 são cotados, o Chicago Mercantile Exchange (CME), a admissão de mais "market makers" durante o GLOBEX no sentido de assegurar a liquidez (e a credibilidade) deste mercado.

Eu prefiro a primeira solução. Outros parecem indicar no mesmo sentido. É o caso de Walter Hellwig que afirma "It's a 24 hour watch. I check the futures when I go to bed. I check them when I get up and sometimes I even get up and check them in the middle of the night." É que, caros leitores, garanto-vos, isto não é fantasia - acontece mesmo, sobretudo quando há posições abertas!

PS.: O dia de hoje é um bom exemplo do que acabei de descrever. A ausência de volume em GLOBEX conduziu o futuro do S&P500 a um mínimo muito inferior ao que foi registado a partir do momento em que abriu o respectivo mercado à vista. Veja aqui.

soros da verdade











Have you ever wondered why billionaires like George Soros financially support politicians who say they will "increase taxes on the rich"?

impessoalidade da democracia


Papa Bento XVI, então Cardeal Ratzinger, sobre a impessoalidade da democracia:

"No passado, as instituições exprimiam-se através das pessoas. A delimitação da liberdade podia ser reportada ao arbítrio das pessoas. A liberdade querida nas grandes revoluções configurava-se como libertação do arbítrio das pessoas e como transferência do poder das pessoas para as instituições, para garantir controlo do poder e objectividade no seu exercício.

Ora, a partir do momento em que este processo se verificou, as instituições apresentam-se no seu cinzento anonimato, como um poder indeterminado e sem rosto, como Kafka o descreveu nos seus romances 'O Processo' e 'O Castelo'. Não suscita, então, espanto o facto de as instituições criadas como instrumentos de libertação serem encaradas cada vez mais como o contrário da liberdade e de haver vontade de combater também a ordem da liberdade, para se chegar finalmente à liberdade verdadeira".
(op. cit., p. 143)
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Este argumento ajuda a compreender porque é que tantas pessoas que, em Portugal, de algum modo lutaram contra o Estado Novo e pela Democracia, se encontrem hoje profundamente frustradas com a Democracia. No Estado Novo, era Salazar que concedia a liberdade e, perante qualquer delimitação da liberdade, elas protestavam contra Salazar. No regime democrático, não existe ninguém, em particular, que concede a liberdade; perante qualquer delimitação da liberdade que o Estado Democrático lhes imponha, elas não têm agora contra quem protestar. De igual modo, no Estado Novo, perante uma injustiça, elas podiam queixar-se a uma pessoa, em última instância a Salazar ele próprio. E agora, queixam-se a quem?

o grandioso concurso

A saga das nomeações para o prestigiado prémio O Melhor Bloguer de 2008, uma iniciativa do Portugal Contemporâneo, continua. Os leitores poderão, até ao próximo dia 31, indicar os nomes dos seus bloguers preferidos e sujeitá-los, assim, a uma impiedosa votação. Esse é o critério único deste notável concurso, que ainda não foi comunicado a nenhum Governo Civil, o que faremos, quando tivermos tempo.

Por enquanto, os nomeados são: Bruno Oliveira Santos, Carlos Abreu Amorim, Carlos Novais, Cosme, Daniel Oliveira, Dragão, Fernanda Câncio, Francisco José Viegas, Gabriel Silva, Isabela (O Mundo Perfeito), João Miranda, Joaquim Sá Couto, João Gonçalves, José (Grande Loja do Queijo Limiano), José Pacheco Pereira, Luís Grave Rodrigues, Luís Lavoura, Luís M. Jorge, Luís Novaes Tito, maradona, Mário Sá Peliteiro, Miguel Castelo Branco, Miguel Madeira, Miss Pearls, Padinha, Palmira Silva, Paulo Pinto Mascarenhas, Pedro Arroja, Pedro Picoito, Ricardo Arroja, Rui Albuquerque, Tó Portela, Vital Moreira, Zazie.

Mercado da dívida


A Reserva Federal iniciou hoje o seu programa de compra de papel comercial, instrumento de financiamente de curto prazo que as empresas norte-americanas utilizam em alternativa aos empréstimos bancários.

Assim, a taxa de juro, em média, exigida às 30 maiores empresas norte-americanas na emissão e venda de papel comercial a 30 dias está agora em 2,88%. Representa um prémio de risco de 138 pontos base face à taxa de juro directora que está em 1,50%. Trata-se de uma melhoria evidente neste segmento do mercado obrigaccionista, dado que, após a falência da Lehman Brothers a taxa de juro associada ao papel comercial chegou a estar a 4,28%.

Contudo, as medidas poderão não ser suficientes para travar a contracção a que assiste na emissão de papel comercial. Pela sexta semana consecutiva, as emissões baixaram novamente. Assim, o papel comercial existente no mercado de dívida representa agora um valor de 1,45 triliões de dólares - cerca de 35% abaixo do nível máximo de 2,22 triliões registado em Agosto de 2007.

Entretanto, as taxas interbancárias apresentam padrões divergentes, como poderá ver aqui. Por um lado, a Euribor e a Libor a 6 meses baixaram outra vez. Por outro, a Hibor subiu para o valor mais alto desde Setembro.

adoração II


Por falar em mitos...